PITIOSE: UMA MICOSE EMERGENTE NOS HUMANOS

Documentos relacionados
Médico Veterinário, Brasil 2. Faculdade de Veterinária, Universidade Federal de Pelotas, Brasil 3

Pitiose nasal em equino. (Nasal pythiosis in horse) Relato de Caso/Case Report

Faculdade da Alta Paulista

REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE. Prof. Dr. Helio José Montassier

3/15/2013 HIPERSENSIBILIDADE É UMA RESPOSTA IMUNOLÓGICA EXAGERADA A DETERMINADO ANTÍGENO. O OBJETIVO IMUNOLÓGICO É DESTRUIR O ANTÍGENO.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE VETERINÁRIA TRABALHO DE CONCLUSÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA

REVISTA CIENTÍFICA ELETRÔNICA DE MEDICINA VETERINÁRIA ISSN: Ano IX Número 17 Julho de 2011 Periódicos Semestral

ESPOROTRICOSE EM FELINOS DOMÉSTICOS

Ano VI Número 10 Janeiro de 2008 Periódicos Semestral PITIOSE EM EQÜINOS. LÉO, Vivian Fazolaro DABUS, Daniela Marques Maciel

DIAGNÓSTICOS SOROLÓGICO NAS INFECÇÕES BACTERIANAS. Sífilis

Coccidioidomicose. Coccidioides immitis Coccidioides posadasii

Faculdade da Alta Paulista

HIPERSENSIBILIDADE. Acadêmicos: Emanuelle de Moura Santos Érica Silva de Oliveira Mércio Rocha

SOROPREVALÊNCIA DA PITIOSE EQUINA NO RIO GRANDE DO SUL, DIAGNÓSTICO E CONTROLE DA PITIOSE EM MODELO EXPERIMENTAL

Resposta inicial que, em muitos casos, impede a infecção do hospedeiro podendo eliminar os micróbios

Surto de pitiose cutânea em bovinos 1

ZIGOMICOSE EM EQUINOS REVISÃO

(Reações de hipersensibilidade mediadas por células ou reações de hipersensibilidade tardia- DTH, Delayed-type hypersensitivity)

Prática 00. Total 02 Pré-requisitos 2 CBI257. N o. de Créditos 02. Período 3º. Aprovado pelo Colegiado de curso DATA: Presidente do Colegiado

Eficácia da imunoterapia no tratamento de pitiose facial em equino

RESSALVA. Atendendo solicitação do autor, o texto completo desta dissertação será disponibilizado somente a partir de 01/06/2018.

Efeito do ácido tânico purificado (tanino) sobre o crescimento in vitro de isolados de Pythium insidiosum

Pitiose cutânea em bovinos na região Sul do Rio Grande do Sul 1

HIPERSENSIBILIDADE DO TIPO IV. Professor: Drº Clayson Moura Gomes Curso: Fisioterapia

Imunologia. Introdução ao Sistema Imune. Lairton Souza Borja. Módulo Imunopatológico I (MED B21)

Hipersensibilidades e Alergias e doenças autoimunes

Artículos de revisión

ENFERMAGEM IMUNIZAÇÃO. Política Nacional de Imunização Parte 4. Profª. Tatiane da Silva Campos

Resposta imune inata (natural ou nativa)

Vacinas e Vacinação 24/02/2014. Prof. Jean Berg. Defesas orgânicas. Imunoprofilaxia. Imunoprofilaxia. Resistência à infecção.

MSc. Romeu Moreira dos Santos

Métodos de Pesquisa e Diagnóstico dos Vírus

Vacinas e Vacinação. cüéya ]xtç UxÜz 18/5/2010. Defesas orgânicas. Imunoprofilaxia. Imunoprofilaxia. Resistência à infecção.

Reações de Hipersensibilidade

Profa. Carolina G. P. Beyrodt

EXAMES LABORATORIAIS: IMUNOLOGIA

Acta Scientiae Veterinariae ISSN: Universidade Federal do Rio Grande do Sul Brasil

DEMODICOSE CANINA: REVISÃO DE LITERATURA

Região FC especifica Ligação com os leucócitos

TESTES ALÉRGICOS INTRADÉRMICOS COMO AUXÍLIO DO DIAGNÓSTICO DA DERMATITE ATÓPICA CANINA (DAC) Introdução

MSc. Romeu Moreira dos Santos

Antígenos e Imunoglobulinas

Ativação de linfócitos B mecanismos efetores da resposta Humoral Estrutura e função de imunoglobulinas

PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL

Anatomia patológica da rejeição de transplantes

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE VETERINÁRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS TESE DE DOUTORADO

SUSCETIBILIDADE E RESISTÊNCIA AOS ANTIFÚNGICOS

PITIOSE - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA -

Fase Pré- Clínica. Fase Clínica HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA

4ª Ficha de Trabalho para Avaliação Biologia (12º ano)

PITIOSE CUTÂNEA EM EQUINO: RELATO DE CASO. Wanessa Pires da Silva 1, Renata Vitória Campos Costa 2, Marcelo de Oliveira Henriques 2 RESUMO

Bio12. Unidade 3 Imunidade e Controlo de Doenças. josé carlos. morais

Bio12. Unidade 3 Imunidade e Controlo de Doenças. josé carlos. morais

O sistema imune é composto por células e substâncias solúveis.

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CAMPUS II AREIA-PB CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA JOSÊNIO LUCENA DE MEDEIROS LEAL

Universidade Federal Fluminense Resposta do hospedeiro às infecções virais

Profº André Montillo

Processos Inflamatórios Agudo e Crônico

ANEMIA INFECCIOSA EQUINA

FUNDAMENTOS DE IMUNOLOGIA

Mediadores pré-formados. Mediadores pré-formados. Condição alérgica. Número estimado de afetados (milhões) Rinite alérgica Sinusite crônica 32.

Anemia Infecciosa das Galinhas

SARCOIDOSE. Luiz Alberto Bomjardim Pôrto Médico dermatologista

EFEITOS GERAIS DA INFLAMAÇÃO

TÍTULO: USO DO PLASMA SANGUÍNEO EM GEL NA CICATRIZAÇÃO DE FERIDAS CATEGORIA: EM ANDAMENTO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE

FREQUÊNCIA DO TERMO NO CORPUS REUNIDO em 2012 (ocorr./textos) 7 ocorrências/2 textos

PAPILOMATOSE BUCAL CANINA

PATOGENICIDADE BACTERIANA

Módulo I: Processos Patológicos Gerais (108

1.4 Metodologias analíticas para isolamento e identificação de micro-organismos em alimentos

BIOLOGIA Sistema imunológico e excretor

TRANSFERÊNCIA REINGRESSO MUDANÇA DE CURSO 2013

Bio12. Unidade 3 Imunidade e Controlo de Doenças. josé carlos. morais

!"#$%&'()%*+*!,'"%-%./0

ESTUDO DE 15 CASOS DE DIOCTOPHYMA RENALE NA REGIÃO DE PELOTAS-RS STUDY OF 15 CASES IN DIOCTOPHYMA RENALE PELOTAS-RS REGION

Tuberculose. Prof. Orlando A. Pereira Pediatria e Puericultura FCM - UNIFENAS

FREQUÊNCIA DE NEOPLASIA EM CÃES NA CIDADE DO RECIFE NO ANO DE 2008.

PLANO DE CURSO. 1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO Curso: Bacharelado em Enfermagem Disciplina: Imunologia Básica

Enfermidades Micóticas

PNEUMONIAS ATÍPICAS Testes Moleculares GENÉTICA MOLECULAR GENÉTICA MOLECULAR

Retrovírus Felinos. Fernando Finoketti

IMUNOLOGIA Aula 3: ANTICORPOS

Tópicos de Imunologia Celular e Molecular (Parte 2)

Ano VI Número 10 Janeiro de 2008 Periódicos Semestral ESPOTRICOSE FELINA. DABUS, Daniela Marques Maciel LÉO, Vivian Fazolaro

Células envolvidas. Fases da RI Adaptativa RESPOSTA IMUNE ADAPTATIVA. Resposta Imune adaptativa. Início da RI adaptativa 24/08/2009

Toxoplasmose. Zoonoses e Administração em Saúde Pública. Prof. Fábio Raphael Pascoti Bruhn

CRONOGRAMA E CONTEÚDO PROGRAMÁTICO Assunto Turma Docente

Diagnóstico Laboratorial de Infecções Virais. Profa. Claudia Vitral

Heterologous antibodies to evaluate the kinetics of the humoral immune response in dogs experimentally infected with Toxoplasma gondii RH strain

03/03/2015. Acúmulo de Leucócitos. Funções dos Leucócitos. Funções dos Leucócitos. Funções dos Leucócitos. Inflamação Aguda.

Resposta imune adquirida

PROGRAD / COSEAC Padrão de Respostas Biologia

Agente etiológico. Leishmania brasiliensis

Pitiose em ovinos nos estados de Pernambuco e Bahia 1

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

Unidade Curricular: Processos Patológicos Gerais Período: 3º Currículo: Co-requisito: Grau: Bacharelado EMENTA

SISTEMA IMUNITÁRIO ou IMUNOLÓGICO. O sangue e as defesas corporais

ESTUDO DE CASOS DE LEPTOSPIROSE NO HOSPITAL VETERINÁRIO DA UNIJUÍ 1 CASE STUDY OF LEPTOSPIROSIS IN THE UNIJUÍ VETERINARY HOSPITAL

Receptores de Antígeno no Sistema Imune Adaptativo

ITL ITL. Itraconazol. Uso Veterinário. Antifúngico de largo espectro FÓRMULA:

Transcrição:

PITIOSE: UMA MICOSE EMERGENTE NOS HUMANOS VICARIVENTO, Nathália Bruno PUZZI, Mariana Belucci ALVES, Maria Luiza Discentes do Curso de Medicina Veterinária da FAMED UNITERRA Garça SP ZAPPA, Vanessa Docente do Curso de Medicina Veterinária da FAMED UNITERRA Garça SP RESUMO A pitiose é uma enfermidade do tecido subcutâneo causada pelo Pythium insidiosum. Epidemiologicamente a pitiose está intimamente relacionada com o contato dos animais e humanos com águas contaminadas pelo agente, onde produz zoósporos móveis que constituemse na forma infectante do Pythium insidiosum. A enfermidade em eqüinos caracteriza-se principalmente pelo desenvolvimento de lesões subcutâneas ulcerativas e granulomatosas com presença de massas branco-amareladas, chamadas de kunkers. Já nas outras espécies a formação dos kunkers não é observada. A doença destaca-se pela dificuldade no tratamento. Atualmente a utilização de imunoterápicos constitui-se na alternativa de terapia, com resultados animadores. Palavras-chave: pitiose, Pythium insidiosum, zoósporos, cavalo. ABSTRACT Pythiosis is a granulomatous disease of the subcutaneous tissue caused by the Pythium insidiosum. Epidemiologically pythiosis is intimately related with the contact of the animals and human with contaminated waters for the agent, where it produces motile zoospores which are in the infectious form of the Pythium insidiosum. The disease in horses characterizes itself mainly for the development of ulcerative and granulomatous subcutaneous injuries with presence of whiteyellowish masses, calls of kunkers. Already in the other species the formation of kunkers is not observed. The illness is distinguished for the difficulty in the treatment. Currently the use of immunotherapy consists in the alternative of therapy in equines, with encouraged results. Keywords: pythiosis, Pythium insidiosum, zoospores, horse. 1- INTRODUÇÃO Pitiose é um quadro infeccioso de localização cutâneo-subcutânea e eventualmente sistêmica, de ocorrência em homens e animais, particularmente em eqüinos que permanecem em contato direto com água represada como pântanos, charcos e alagados, podendo acometer também bovinos, cães, peixes e humanos (KNOTTENBELT & PASCOE, 1998; MARQUES et al., 2006; REIS & NOGUEIRA, 2002).

O agente etiológico da pitiose pertence ao Reino Straminipila, Classe Oomycetes, Ordem Pythiales, Família Pythiaceae, Gênero Pythium e espécie P. insidiosum. Estudos taxonômicos mais aprofundados, baseados em análises de sequenciamento de gene do RNA ribossomal de P. insidiosum, confirmaram que os membros da classe Oomycetes são filogeneticamente distantes dos membros do Reino Fungi e estariam relacionados de maneira mais próxima das algas que dos fungos (ALVES, 2006; KRAJAEJUN et al., 2002; SATURIO et al., 2006). A enfermidade nos eqüinos caracteriza-se pela formação de granulomas com infiltrações de eosinófilos, com a presença de massas necróticas denominadas de kunkers além de provocar um quadro infeccioso na pele e tecido subcutâneo (KNOTTENBELT & PASCOE, 1998; REED & BAYLY, 2000; RODRIGUES & LUVIZOTTO, 2000; SATURIO et al., 2006). Os caninos são a segunda espécie mais atingida e as infecções caracterizam-se pela formação de piogranulomas gastrintestinais e cutâneos. Nos bovinos ocorre como uma doença cutânea e nos felinos apresenta-se com quadro clinico de arterite, queratite e celulite periorbital (KRAJAEJUN et al., 2002; SATURIO et al., 2006). Nas espécies não domésticas, o Pythium insidiosum foi reconhecido como causa de doença pulmonar primária num jaguar, além de lesões cutâneas e gastrintestinais em um urso e, também, como causa de lesão mandibular subcutânea em um camelo (SATURIO et al., 2006). Devido à evolução rápida, os animais acometidos, caso não sejam tratados no início da afecção, geralmente entram em debilidade progressiva, que culmina com a morte (REIS & NOGUEIRA, 2002). Não há predisposição por sexo, idade ou raça e a fonte de infecção são os zoósporos ambientais, não havendo relatos de transmissão direta entre animais e entre animais e homens (REED & BAYLY, 2000). A doença está amplamente distribuída por todo o território brasileiro sendo mais prevalente em áreas tropicais, subtropicais ou temperadas. Em todos os relatos há associação entre ambiente úmido e temperatura elevada, que são as

condições ideais para o desenvolvimento do agente etiológico, o Pythium insidiosum (REIS & NOGUEIRA, 2002; SATURIO et al., 2006). As condições ambientais são determinantes para o desenvolvimento do organismo em seu ecossistema. Para haver a produção de zoósporos são necessárias temperaturas entre 30 e 40ºC e o acúmulo de água em banhados e lagoas (RODRIGUES & LUVIZOTTO, 2000; SATURIO et al., 2006). 2- CONTEÚDO O ciclo baseia-se na colonização de plantas aquáticas, que servem de substrato para o desenvolvimento e reprodução do organismo, formando os zoosporângios. Os zoósporos livres na água, movimentam-se até encontrar outra planta ou animal, onde se encistam e emitem tubo germinativo, dando origem a um novo micélio e completando seu ciclo. Uma substância amorfa é liberada pelo zoósporo após o seu encistamento como um adesivo para ligar o zoósporo a superfície do hospedeiro e permitir a formação de tubo germinativo. Com relação à infecção existem duas teorias de que os cavalos em contato com águas contaminadas podem atrair os zoósporos, os quais germinariam a partir de uma pequena lesão cutânea e a possibilidade de penetração dos zoósporos através dos folículos pilosos (MENDOZA et al., 1993; SATURIO et al., 2006). A maioria dos casos de pitiose humana foi observada na Tailândia, sudeste da Ásia e esporadicamente, nos EUA, Austrália, Haiti e Nova Zelândia. Dois fatores contribuem para importância da pitiose humana na Tailândia a prevalência de pessoas talassêmicas e a presença de grandes áreas alagadiças utilizadas para agricultura (SATURIO et al., 2006). As infecções por Pythium insidiosum em humanos, podem apresentar-se de três formas. A primeira forma são lesões granulomatosas no tecido subcutâneo de pacientes talassêmicos, a segunda é a forma sistêmica, caracterizada por desenvolvimento de artrite crônica, trombose arterial e gangrena, atingindo geralmente a extremidade dos membros inferiores de pacientes talassêmicos e a

terceira por ceratite podendo ou não ser associada à talassemia. As lesões podem-se apresentar na região periorbital e o aspecto histopatológico é similar ao das infecções em eqüinos (LEAL et al., 2001; SATURIO et al., 2006). A evolução habitualmente é grave, com índice de óbito de 47% naqueles com comprometimento vascular, expressa, em geral, por necrose de extremidades e úlceras cutâneas crônicas (MARQUES et al., 2006). Existem técnicas para o diagnóstico e monitoramento de resposta imunológica como as técnicas de imunodifusão em gel de ágar (ID), fixação do complemento (FC) e um teste de hipersensibilidade intradérmica (TI) (RODRIGUES & LUVIZOTTO, 2000; SATURIO et al., 2006). O teste de ELISA é eficiente para o diagnóstico da pitiose e possui especificidade semelhante à ID, porém com melhor sensibilidade. A técnica de ELISA tem sido empregada como um método seguro e eficaz para o diagnóstico precoce em humanos e animais e permite também o monitoramento da resposta humoral em animais infectados e em tratamento por imunoterapia (ALVES, 2006). O sequenciamento gênico com amplificação do RNA ribossomal, através de PCR (reação de polimerase em cadeia) também é uma ferramenta poderosa para detecção e identificação de P. insidiosum (REIS & NOGUEIRA, 2002). O sucesso das diferentes formas de tratamento é variável e, em muitos casos influenciados pelo tamanho e duração da lesão, idade e estado nutricional do animal. O tratamento de infecções causadas pelo Pythium insidiosum em animais e humanos é complicado pelas características singulares do agente. O P. insidiosum difere dos fungos verdadeiros na produção de zoósporos móveis e na composição de sua parede celular. Os fungos verdadeiros possuem quitina em sua parede, enquanto o Pythium contém celulose. A membrana plasmática não contém esteróides, como o ergosterol, que é o componente-alvo de ação da maioria das drogas antifúngicas. Devido a essas características, não existe droga antifúngica eficiente contra o P. insidiosum. Diversos protocolos para o tratamento da pitiose têm sido utilizados, principalmente em eqüinos, incluindo tratamento químico (antifúngicos), cirúrgico e de imunoterapia (SATURIO et al., 2006).

A imunoterapia surgiu como uma alternativa concreta para o controle da doença e tem apresentado resultados animadores. Acredita-se que os antígenos citoplasmáticos expostos ao sistema imune dos animais via vacinação originariam uma resposta humoral e celular capaz de combater a infecção natural. A hipótese que explica os efeitos curativos dos imunoterápicos contra pitiose, baseada em dados de humanos e eqüinos, encontra-se bem descrita. Quando o hospedeiro entra em contato com zooporos de P. insidiosum, este forma um tubo germinativo que penetra mecanicamente no tecido. Uma vez nos tecidos, as hifas liberam exoantígenos que liberam IL4 (interleucina 4) estimulando a atração dos linfócitos T auxiliar que por sua vez induzem a produção de mais IL4 e IL5. As IL4 regulam a expressão de linfócitos T que por sua vez estimulam células B para produção de IgE, IgM e IgG que podem ser detectadas por testes de diagnóstico. As IL5 e IgE desencadeiam a mobilização de eosinofilos e mastócitos para o local da lesão. Estas células vão degranular (são responsáveis pelas lesões teciduais) sobre as hifas de P. insidiosum que, mais tarde, irá desenvolver os kunkers na pitiose eqüina, somente. As hifas de P. insidiosum multiplicam-se no interior dos kunkers onde produzem exoantígenos em grande quantidade; um evento que, no final, bloqueia a resposta imune. Quando os imunógenos do imunoterápico são injetados no hospedeiro com pitiose, os antígenos que estão presentes são distintos daqueles da infecção natural e irão ativar mediadores de células mononucleares como resposta imune (CMI) composta por linfócitos T e macrófagos que danificam e destroem a hifa de P. insidiosum (KRAJAEJUN et al., 2000). As explicações para cura induzida pela imunoterapia são apenas propostas, baseadas nas características clínicas, histopatológicas e sorológicas da infecção e seu tratamento (SATURIO et al., 2006). 3- CONCLUSÃO A pitiose é uma micose que, nos últimos anos, vem merecendo destaque na micologia clínica tanto veterinária como humana. Agora não é, tão somente,

objeto de estudo em eqüinos, mas também, em todos os animais que possam entrar em contato com o agente em ambientes alagados, inclusive os humanos. A pitiose é considerada uma doença emergente indicando que a existência de métodos diagnósticos seguros e eficazes são fundamentais para o monitoramento dessa enfermidade em nosso país. 4- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, S.H.; LEAL, A.T.; LEAL, A.B.M.; SANTURIO, J.M.; LÜBECK, I.; GRIEBELER, J.; COPETTI, M. V. Teste de ELISA indireto para o diagnóstico sorológico de pitiose. Pesq. Vet. Bras. Rio de Janeiro, 2006, v.26, n.1, p. 33-35. KNOTTENBELT, D.C.; PASCOE, R.R. Afecções e distúrbios do cavalo, São Paulo: Manole, 1998, 1 ed, p. 290-291. KRAJAEJUN, T.; KUNAKORN, M.; NIEMHOM, S.; CHONGTRAKOOL, P.; PRACHARKTAM, R. Development and evaluation of an in-house enzyme-linked Immunosorbent assay for early diagnosis and monitoring of human Pythiosis. Clinical and Diagnostic Laboratory Immunology, 2002, v. 9, n. 2, p. 378-382. LEAL, A.B.M.; LEAL, A.T.; SANTURIO, J.M.; KOMMERS, G.D.; CATTO, J.B. Pitiose eqüina no Pantanal brasileiro: aspectos clínico-patológicos de casos típicos e atípicos. Pesq. Vet. Bras. Rio de Janeiro, 2001, v.21, n.4, p. 35-38. MARQUES, A.S.; BAGAGLI, E.; BOSCO, S.M.G.; CAMARGO, R.M.P.;. Pythium insidiosum: relato do primeiro caso de infecção humana no Brasil. Anais Brasileiros de Dermatologia. 2006, v. 81, n.5, p.483-485. MENDOZA, L.; HERNANDEZ, F.; AJELLO, L. Life cycle of the human and animal oomycete pathogen Pythium insidiosum. Journal of Clinical Microbioly. 1993; v. 31, n.11, p.2967 2973.

REED, S.M.; BAYLY, W.M. Medicina interna eqüina. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000, 1 ed, p. 260-461. REIS, J.L.; NOGUEIRA, R.H.G. Estudo anatomopatológico e imunoistoquímico da pitiose em eqüinos naturalmente infectados. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. Belo Horizonte, 2002, v.54, n.4, p. 22-25. RODRIGUES, C.A.; LUVIZOTTO, M.C.R. Zigomicose e pitiose cutânea em eqüinos: diagnóstico e tratamento. Rev. Educ. Contin. São Paulo, 2000, v.3, n.3, p. 3-11. SANTURIO, J.M.; ALVES, S.H.; PEREIRA, D.B.; ARGENTA, J.S. Pitiose: uma micose emergente. Acta Scientiae Veterinariae, 2006, v. 34, p. 1-14.