CONCLUSÃO Aos 22 dias do mês de Fevereiro de 2016, faço estes autos conclusos ao Juiz de Direito Alencar das Neves Brilhante. Eu, Mirilandes Corrêa da Paz - Escrivã(o) Judicial, escrevi conclusos. Vara: 1ª Vara Cível Processo: 0000960-91.2015.8.22.0017 Classe: Procedimento Sumário Requerente: Zarelli e Fernandes Ltda Requerido: Centrais Elétricas de Rondônia S/A - CERON SENTENÇA Vistos. Trata-se de ação de reparação por danos materiais proposta por ZARELLI E FERNANDES LTDA em desfavor de CENTRAIS ELÉTRICAS DE RONDÔNIA S/A CERON. Aduz o requerente que após várias quedas de energia e retomadas bruscas, teve vários equipamentos eletrônicos danificados pela instabilidade da energia fornecida pela requerida. Informa que os danos foram reparados pela assistência técnica o que por meio de laudo técnico comprovou que os danos foram motivados pela queima de componentes com características de sobre tensão típica de rede elétrica. Aduz o requerente que tentou resolver o problema administrativamente, porém não logrou êxito. Com a inicial juntou documentos (fls.3/17). Realizada audiência de conciliação, esta restou infrutífera (fl.25). A requerida apresentou contestação, alegando que no dia informado pelo requerente não constam registros de comunicação de problemas elétricos nos sistemas da Eletrobrás Distribuição Rondônia efetuados pelo requerente. Dessa forma, pugna pela improcedência do pedido em virtude da excludente de responsabilidade da requerida e da inexistência de danos morais (fls.27/33). A parte autora deixou transcorrer o prazo sem apresentar impugnação (fl.52). Foi oportunizado as partes prazo para especificarem provas (fl.53), ocasião em que parte autora apresentou rol de testemunhas (fl.54), mantendo-se inerte a parte requerida (fl.55). Relatei. Decido. Do julgamento antecipado O processo está regular e em ordem. As partes são legítimas e estão bem representadas. Não há preliminares a examinar ou nulidades a declarar. A matéria que envolve a lide é eminentemente de direito, bem como não há necessidade de produção de outras, daí decorre a possibilidade do julgamento antecipado da lide, nos termos do artigo 355, inciso I, do NCPC. Pág. 1 de 6
Passa-se, pois, de imediato ao exame da questão de mérito. Da responsabilidade do réu O caso em exame trata-se de ação de indenização fundada no artigo 186 do código civil brasileiro, que dispõe: aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. O autor pleiteia a reparação por danos materiais em virtude de danos causados a equipamentos eletrônicos pela instabilidade da energia fornecida pela requerida. A indenização por ato ilícito, como dito, tem por fundamento a existência de prejuízo ante uma ação, omissão voluntária, negligência, ou imprudência. Destarte, o ingrediente indispensável à caracterização da obrigação indenizatória é a culpa. Dessa forma: DANO MORAL E DANO MATERIAL - INDENIZAÇÃO - REQUISITOS. A indenização por danos materiais e morais requer a demonstração da satisfação, cumulativa, dos seguintes requisitos: a) conduta do infrator; b) dano sofrido pela vítima; c) nexo de causalidade entre o dano e a conduta; e d) dolo ou culpa do ofensor. Ausente quaisquer dos requisitos não cabe indenização. Recurso ordinário não provido, por unanimidade. (TRT-24, Relator: NICANOR DE ARAÚJO LIMA, Data de Julgamento: 14/04/2010). Consta nos autos que em razão de diversas quedas de energia e retomadas bruscas, no início do ano de 2015, a parte autora teve diversos equipamentos eletrônicos danificados. Alega a parte autora que o laudo técnico produzido informa que os danos foram motivados pela queima de componentes com características de sobre tensão típica de rede elétrica. Na contestação a requerida alega ausência de responsabilidade por sua parte, aduzindo que no dia informado pelo requerente, não houve registros de comunicação de problemas elétricos, bem como não houve nenhuma ocorrência registrada em nome do requerente, não havendo a prática de atos ilícitos de sua parte que ensejassem a condenação ao pagamento de danos. Analisando as provas acostadas aos autos, especialmente o Laudo Técnico (fl.10), verifico que o ocorrido aconteceu pela queima de componentes com características de sobre tensão típica de rede elétrica, tendo em vista a instabilidade da energia elétrica fornecida pela requerida. No caso dos autos, o autor cumpriu seu ônus processual e trouxe provas convincentes sobre os danos causados em razão das quedas de energia, fato demonstrado pelos documentos juntados às fls.10/16. Por outro lado, o requerido não trouxe prova contundente sobre a sua alegação. Além do mais, é comum a instabilidade elétrica nesta cidade, sendo frequente as quedas de energia, acarretando diversos problemas à população. Dessa forma, o nexo causal entre o fato danoso e o prejuízo sofrido está comprovado, pois Pág. 2 de 6
em razão das quedas de energia e retomada bruscas que o requerente sofreu os danos patrimoniais. Ademais, a questão envolve matéria que tem sido apreciada de forma recorrente nas Turmas Recursais, decorrente de problemas de tensão da rede elétrica administrada pela requerida. Existente, no caso, típica relação de consumo, de modo que a responsabilidade do fornecedor de serviço público é objetiva, independendo de culpa, nos termos do art. 14 do Código de Defesa do Consumidor. A demanda, portanto, responde pelos danos causados aos equipamentos de seus usuários, por defeito no serviço, comprovados o dano e o nexo de causalidade, a não ser que comprove fato de terceiro ou culpa exclusiva do consumidor, o que aqui não se verifica. A jurisprudência manifestou-se no seguinte sentido: Ainda nesse entendimento: RECURSOS INOMINADOS. CONSUMIDOR. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS EM DECORRÊNCIA DE QUEDA NA REDE DE ENERGIA ELÉTRICA. ELETRODOMÉSTICOS DANIFICADOS. DEVER DE REPARAÇÃO POR DANOS MATERIAIS. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO DECORRENTE DA MÁ PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. LUCROS CESSANTES SEM COMPROVAÇÃO DO EFETIVO PREJUÍZO. SENTENÇA MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. NEGADO PROVIMENTO AOS RECURSOS. (Recurso Cível Nº 71005716196, Quarta Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: José Ricardo de Bem Sanhudo, Julgado em 26/02/2016). (TJ-RS - Recurso Cível: 71005716196 RS, Relator: José Ricardo de Bem Sanhudo, Data de Julgamento: 26/02/2016, Quarta Turma Recursal Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 03/03/2016). CONSUMIDOR. REPARAÇÃO DE DANO. QUEIMA DE APARELHOS ELETRÔNICOS OCASIONADA POR QUEDA NO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA EMPRESA FORNECEDORA FRENTE AO CONSUMIDOR. É devida a reparação dos danos causados pela sobretensão na rede de energia elétrica, mormente quando o dano e o nexo causal restaram devidamente demonstrados. Diante do fato de que os aparelhos eletrônicos do autor sofreram avarias, decorrentes da oscilação da tensão da rede elétrica, caracterizada se mostra a responsabilidade objetiva da ré. NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO. (Recurso Cível Nº 71001247717, Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Heleno Tregnago Saraiva, Julgado em 31/05/2007) (TJ-RS - Recurso Cível: 71001247717 RS, Relator: Heleno Tregnago Saraiva, Data de Julgamento: 31/05/2007, Primeira Turma Recursal Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 12/06/2007). Assim, os danos causados ao consumidor em decorrência de quedas na rede de energia Pág. 3 de 6
elétrica devem ser reparados pela empresa fornecedora de energia. Configurada o dever de reparação do requerido, passa-se ao exame das verbas indenizatórias. Perdas e Danos Materiais O pedido do autor esta disciplinado pelo artigo 402 do código civil brasileiro, que diz: Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar. Segundo Maria Helena Diniz, o dano material vem a ser a lesão concreta, que afeta um interesse relativo ao patrimônio da vítima, consistente na perda ou deterioração, total ou parcial, dos bens materiais que lhe pertencem sendo suscetível de avaliação pecuniária e de indenização pelo responsável. O dever de indenizar o dano material, como dito anteriormente, esta baseado no trinômio: nexo de causalidade; efetivo dano e; ato ilícito, ou seja, deve essa lesão ser certa, sendo absolutamente necessária a comprovação do dano efetivamente suportado pela vítima, não podendo trabalhar com simples hipóteses. O dano material exige prova bastante de sua ocorrência e a fixação de indenização a ele correspondente, deverá ser feita com base nos elementos trazidos aos autos acerca da extensão dos prejuízos sofridos. APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - AUSENTES OS REQUISITOS PARA REPARAÇÃO DO DANO INEXISTÊNCIA DO CONSTRANGIMENTO ALEGADO UTILIZAÇÃO DAS MÁXIMAS DA EXPERIÊNCIA PREVISTAS NO ART. 335 DO CPC PROPAGANDA ENGANOSA NÃO RESTOU COMPROVADA - AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DOS FATOS CONSTITUTIVOS DO DIREITO - ÔNUS QUE CABIA À AUTORA - ART. 333, I, DO CPC - ATO ILÍCITO INOCORRENTE. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. RECURSO IMPROVIDO. SENTENÇA A QUO MANTIDA. I O dever de indenizar assenta-se no trinômio ato ilícito, nexo causal e dano. Ausentes quaisquer dos requisitos mencionados, afastado está o dever de indenizar. II Em conformidade com o disposto no art. 335 do CPC o Juízo pode se utilizar das máximas da experiência, que se assemelham aos fatos notórios e independem de prova, para justificar o seu convencimento. III O ônus da prova incumbe ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito, na forma do art. 333, I. Deixando o autor de cumprir o ônus que lhe competia, inarredável o desacolhimento da pretensão indenizatória. IV - Nos termos do voto do relator, à unanimidade, recurso conhecido e improvido. (TJ-PA - APL: 201330216777 PA, Relator: LEONARDO DE NORONHA TAVARES, Data de Julgamento: 09/12/2013, 1ª CÂMARA CÍVEL ISOLADA, Data de Publicação: 18/12/2013). Nos autos o nexo de causalidade e a culpa do requerido foram comprovados através do Laudo Técnico (fl.10). Pág. 4 de 6
Na petição inicial, o autor postulou a condenação do requerido ao pagamento de danos materiais, que alega ter sofrido, equivalentes: a) Frete do leitor biométrico catraca 9600 digitais no valor de R$ 726,30; b) Reparo do leitor biométrico catraca 9600 digitais no valor de R$ 1.750,00; c) Assistência técnica de internet, modem, roteador, cabos e conectores no valor de R$ 300,00; d) Aquisição de 01 Computador Spacebr e 01 monitor no valor de 1.223,70. A prova acostada aos autos são notas fiscais (fls.11/14) que comprovam a alegação do autor, sendo então de seu direito receber pelos gastos em decorrência dos danos causados, o importe de R$ 4.000,00 (quatro mil reais). Salienta-se que a correção monetária, no tocante aos danos materiais, deve incidir a contar do seu desembolso, os juros legais correm a contar do evento danoso, conforme Súmula 54 do STJ. Nesse contexto, reconheço a culpabilidade da requerida e condeno-a ao pagamento de indenização por danos materiais e despesas processuais e honorários advocatícios. DISPOSITIVO Ante o exposto, e pelo que dos autos constam, com fulcro no art. 487, inciso I do novo código de processo civil, JULGO PROCEDENTE os pedidos formulados na inicial, por ZARELLI E FERNANDES LTDA contra CENTRAIS ELÉTRICAS DE RONDÔNIA S/A CERON. CONDENO Centrais Elétricas de Rondônia S/A Ceron a pagar a Zarelli e Fernandes Ltda o valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais) a título de danos materiais decorrentes do incidente, atualizados monetariamente e com juros legais a partir do evento danoso. Condeno ainda a requerida ao pagamento das custas e dos honorários advocatícios em 20% (vinte por cento) do valor da condenação, nos termos do artigo 85, parágrafo 2º do código de processo civil. Sentença publicada e registrada automaticamente pelo sistema de informática. Intime-se. Transitada em julgado, caso o autor não promova a execução, arquive-se. Alta Floresta DOeste-RO, quinta-feira, 31 de março de 2016. Alencar das Neves Brilhante Juiz de Direito RECEBIMENTO Aos dias do mês de Março de 2016. Eu, Mirilandes Corrêa da Paz - Escrivã(o) Judicial, recebi estes autos. REGISTRO NO LIVRO DIGITAL Certifico e dou fé que a sentença retro, mediante lançamento automático, foi registrada no livro eletrônico sob o número Pág. 5 de 6
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