6 RELATÓRIO CONSOLIDADO DE ANDAMENTO DO PBA E DO ATENDIMENTO DE CONDICIONANTES CAPÍTULO 2 ANDAMENTO DO PROJETO BÁSICO AMBIENTAL Anexo 12.3.4 4 Parecer IEC
Seção de Parasitologia Laboratório de Leishmanioses Prof Dr Ralph Lainson PARA: Gerência de Saúde, Norte Energia S.A. Att: Dr. José LB Ladislau Em resposta à solicitação de leitura e apreciação de um recorte do último relatório consolidado proveniente do Centro de Estudos Ambientais, Base de Resgate de Fauna UHE Belo Monte, Biota Projetos e Consultoria Ambiental Ltda, julgamos oportuno pontuar os seguintes esclarecimentos: 1- A respeito do primeiro parágrafo, em que o relatório apresenta os resultados de sorologia positiva para Leishmaniose em animais silvestres. Ainda que se subentenda que a protozoose investigada seja a Leishmaniose Visceral Americana (LVA), é válido esclarecer que pouco se sabe a respeito da resposta imune à infecção por Leishmania (Leishmania) infantum chagasi em animais silvestres. A falta de conjugados específicos para cada grupo de animal investigado compõe uma das maiores limitações para inferir na infecção a partir de um diagnóstico sorológico. Recentes estudos em canídeos silvestres apontam os testes ELISA indireto tanto com conjugado de proteína A como anti IgG de cão potenciais diagnósticos para a infecção. Entretanto reiteram que o desenvolvimento de conjugados espécie-específicos devem ser almejados para padronização de sorotestes mais precisos e designados para as diferentes espécies silvestres (FERREIRA et al., 2013). Deste modo, sugere-se para a confirmação da circulação do parasito nas diferentes espécies da mastofauna analisada, o uso de provas moleculares com uso de oligonucleotídeos específicos a partir de biópsias de pele, ou ainda o isolamento do parasito em meio de cultura, como vem sido preconizado como referência pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2006).
2- A respeito do segundo e terceiro parágrafo Os transmissores da LVA (Lutzomyia longipalpis e ou Lu. cruzi) até o momento não foram registrados durante as pesquisas de campo em nenhuma das 12 áreas estudadas pela equipe de entomologia de flebotomíneos do Laboratório de leishmanioses Prof Dr Ralph Lainson (IEC/ SVS/MS). As espécies de vetores incriminados ou suspeitos na transmissão da Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) registradas até a última excursão com relatório consolidado foram ilustradas em um mapa (carta de vetores) que vem sendo atualizada a cada excursão de campo e consta nos apêndices dos relatórios (ver apêndice 1). Ressalta-se que o papel da transmissão de Leishmania (V.) braziliensis e L. (V.) naiffi por Lu. davisi na Amazônia vem sendo discutido ao longo dos últimos 10 anos (GIL et al., 2003; SOUZA et al., 2010) e a presença de 2 exemplares desta espécie de flebotomíneo terem sido encontrados naturamente infectados na área de influência da UHE de Belo Monte sugerem a participação do mesmo da transmissão da LTA (SILVA et al., 2013). 3- A respeito do quarto parágrafo Em relação aos animais domésticos, cuja sorologia apresentou prevalência aproximada de 24,1%, acreditamos que estes dados necessitem de maiores esclarecimentos, visto que os dados apresentados indicam uma prevalência muito significante. Em um inquérito sorológico canino realizado pelo nosso laboratório em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde, verificou uma soroprevalência de 37,2% em uma localidade do município de Barcarena (PEREIRA, 2005). Contudo, é válido ressaltar que este estudo foi realizado em uma área endêmica, de transmissão de infecção humana e de alta densidade vetorial desta protozoose. Sendo então, importante enfatizar que o sorodiagnóstico baseia-se na detecção de anticorpos anti-leishmania em soros, porém a sensibilidade e especificidade destas reações sorológicas podem ser prejudicadas pela ocorrência de reações cruzadas. A este respeito, deve ser salientada a importância de utilizar um antígeno espécie-especifico e informações sobre a técnica sorológica empregada. Entretanto, ressalta-se que não se descarta a presença do vetor nestas áreas, visto que nossa investigação entomológica não abrangeu as áreas indígenas, majoritária procedência dos referidos animais (cães).
Considerações finais Assim como apresentado no recorte do relatório apreciado, concordamos que a transmissão das leishmanioses é pretérita na região, visto diversos estudos terem sido desenvolvidos neste fragmento da transamazônica por mais de 40 anos apontando esta doença, juntamente com a malária, como um dos maiores desafios na implantação da rodovia que hoje tangencia a obra em questão. Entretanto, ressaltamos que o principal problema em destaque é a forma dermotrópica da doença (LTA), pois o presente estudo de vetores carreado pelo IEC (monitoramento da transmissão da LTA) aliado a prévios registros de pelo menos duas espécies de Leishmania dermotrópicas e os dados das notificações do Sinan apontam para uma transmissão INTENSA na região há mais de 25 anos. Deste modo, concluímos que há necessidade de uma investigação mais aprofundada a respeito da circulação da L. (L.) infantum chagasi na área da UHE Belo Monte, em especial nas áreas apontadas com soroprevalência canina. Desde já agradecemos a confiança entre Norte Energia S.A e Laboratório de Leishmanioses Prof Dr Ralph Lainson (IEC/ SVS/ MS). É nosso parecer Thiago Vasconcelos dos Santos Resp. Entomologia-Laboratório de Leishmanioses Prof Dr Ralph Lainson (IEC/SVS/MS) Luciana Vieira do Rego Lima Resp. Sorologia- Laboratório de Leishmanioses Prof Dr Ralph Lainson (IEC/SVS/MS)
REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral. 2ª. ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2006. FERREIRA, P.R.B.; LARANJEIRA, D.F.; OLIVEIRA, L.S.; MALTA, M.C.C.; GOMES, M.C.; BASTOS, B.L.; PORTELA, R.W.; BARROUIN-MELO, S.M. Teste de ELISA indireto para diagnóstico sorológico de leishmaniose visceral em canídeos silvestres Pesq. Vet Bras. 33(4): 528-34, 2013. GIL, L. H.S et al. Recent observations on the sand fly (Diptera: Psychodidae) fauna of the State of Rondônia, Western Amazônia, Brazil: the importance of Psychdopygus davisi as a vector of zoonotic cutaneous leishmaniasis. Mem. Inst. Oswaldo Cruz 2003, vol.98, n.6, pp. 751-755. LIMA, L.V.R ; CARNEIRO, L.A. ; CAMPOS, M. B.; CHAGAS, E.J.; LAURENTI, M.D.; CORBETT, C. E.P. ; LAINSON, R.; SILVEIRA, F.T. Canine visceral leishmaniasis due to Leishmania (L.) infantum chagasi in Amazonian Brazil: comparison of the parasite density from the skin, lymph node and visceral tissues between symptomatic and asymptomatic, seropositive dogs. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, v. 52, p. 259-265, 2010. PEREIRA, ELZA ALVES. Leishmaniose visceral no município de Barcarena, Pará: importância do comportamento da enzootia canina por Leishmania (Leishmania) chagasi e de outros fatores para a infecção humana. 2005. 145 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Pará, Núcleo de Medicina Tropical, Belém, 2005. Curso de Mestrado em Doenças Tropicais. SILVA, F. M. M. ; SANTOS, T. V. ; SANTOS, L. A. S. ; LEÃO, E.F. ; BRANDAO, R. C. F. ; SILVEIRA, F. T.. Phlebotomine sand fly fauna (diptera: psychodidae) and natural flagellate infections in american cutaneous leishmaniasis endemic area under the influence of Belo Monte hydroelectric plant at state of Pará, Amazonian Brazil. In: WorldLeish 5 - Fifth Worl Congress on Leishmaniasis, 2013, Porto de Galinhas. WorldLeish 5 - Abstract Book, 2013. p. 928. SOUZA, A.A.A.; SILVEIRA, F.T.; LAINSON, R.; BARATA, I.R.; SILVA, M.G.S.; LIMA, J.A.N.; PINHEIRO, M.S.B.; SILVA, F.M.M.; VASCONCELOS, L.S.; CAMPOS, M.B.; ISHIKAWA, E.A.Y. Fauna flebomínica da Serra dos Carajás, Estado do Pará, Brasil, e suaimplicação na transmissão da leishmaniose tegumentar americana. Revista Pan-Amazônica de Saúde.v.1, n.1, p.45-51, 2010.
APÊNDICE Distribuição das espécies de valor epidemiológico registradas durante todas as coletas já realizadas na vigência do deste projeto e respectivas espécies de Leishmania possivelmente envolvidas [ ]. Lu. complexa [L. (V.) braziliensis] Lu. davisi [L. (V.) braziliensis, L. (V.) naiffi] Lu. ubiquitalis [ L.(V.) lainsoni] Lu. flaviscutellata [L. (L.) amazonensis] Lu. paraensis [L. (V.)shawi] Lu. migonei [L. (V.) braziliensis] Lu. whitmani [L. (V.) braziliensis, L. (V.) naiffi] Lu antunesi [L. (V.) lindenbergi] Lu. umbratilis [L. (V.) guyanensis]