Prescrição. Multa administrativa - A multa administrativa, desde sua imposição até a sua cobrança submetese aos princípios do direito público, e assim está sujeita à prescrição quinquenal prevista no art. 174 do CTN. Vistos, relatados e discutidos estes autos de agravo de petição, em que figuram, como agravante, FAZENDA NACIONAL, e como agravada, SPACE INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE MÓVEIS E DECORAÇÕES LTDA. Irresignada com a decisão da 5ª Vara do Trabalho de Duque de Caxias, a fls. 136/138, da lavra da juíza Raquel Fernandes Martins, que acolheu os embargos à execução da reclamada, reconhecendo a prescrição em relação ao crédito objeto da execução fiscal, declarando insubsistente a penhora de fls. 17, e extinguindo o feito com resolução do mérito, na forma do art. 269, IV, do CPC. Alega que merece reforma a decisão, que extinguiu a execução fiscal por entender ocorrida a prescrição dos créditos, nos moldes do CTN, porque a dívida não possui natureza tributária; que na verdade se trata de multa por infração à legislação trabalhista e, por isso, a ela não se aplicam as disposições do art. 174 do CTN, nem o Decreto nº 20.910/1932; que se trata de dívida ativa não tributária, inscrita nos termos do art. 39, 2º, da Lei nº 4.320/1964, que embora tenha que observar o procedimento da Lei nº 6.830/1980, em matéria de prescrição, está sujeita ao Código Civil; que o rito procedimental adotado não altera a natureza da dívida; que é aplicável o art. 177 do CC/1916 (20 anos) ou mesmo o art. 205 do atual Código Civil (10 anos); e não o art. 1º do 4841 1
Decreto nº 20.910/1932; que deve incidir a regra geral sobre a prescrição, uma vez que não existe no ordenamento jurídico nacional norma específica que regule a prescrição das multas administrativas; que a fixação do prazo prescricional não pode ser feita por analogia; que o prazo mínimo a ser considerado no caso, é de 10 anos, sem prejuízo da aplicação do art. 2.028 do CC, considerando que no período anterior à vigência do novo Código Civil, o prazo era de 20 anos e não havia transcorrido mais da metade do antigo prazo; que apenas em 03.09.1994 a Fazenda Nacional teve violado o seu direito à satisfação do crédito, portanto, a pretensão que motivaria o ajuizamento da presente ação; que a inscrição da dívida foi em 08.11.2000, com a suspensão do prazo por 180 dias, nos termos do ar. 2º da Lei de Execuções Fiscais; que foi interrompida a prescrição em 19.02.2001, com o despacho que ordenou a citação, nos termos do art. 8º, 2º, da Lei de Execuções Fiscais. Prequestiona a matéria aqui ventilada, com o objetivo de interposição de recurso especial/extraordinário na forma do art. 103, III, a e do o art. 105,III, a da C.F, e pede o provimento do recurso, nos termos em que posto. Representação ope legis. Recurso ordinário recebido como agravo de petição. O Ministério Público do Trabalho manifestou-se a fls. 161, pelo regular prosseguimento do feito, entendendo desnecessária a intervenção específica nos casos de execução fiscal (Súmula nº 189 do STJ). É o relatório. VOTO I - Conhecimento 4841 2
no feitio legal. Conheço do agravo de petição, porque tempestivo e aviado II - Mérito Trata-se aqui de execução de multa administrativa, imposta por descumprimento de preceito celetista. Tal multa administrativa, ao lado dos tributos em geral, integra a categoria de receita derivada, e sua cobrança é regida pela Lei nº 6.830/80, que prevê em seu art. 2º: Constitui Dívida Ativa da Fazenda Pública aquela definida como tributária ou não-tributária na Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, com as alterações posteriores, que estatui normas gerais de direito financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Assim, sua cobrança é feita é realizada exclusivamente em observância à Lei nº 6.830/80, que não faz distinção, para efeito de sua aplicação, dívida ativa tributária, da dívida ativa não-tributária. A única diferença existente entre a multa administrativa e o tributo é realmente a sua natureza jurídica, pois a multa possui natureza jurídica de sanção, no mais se iguala em tudo, ao conceito de tributo contido no art. 3º do CTN: Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade plenamente vinculada.. Exatamente, como os tributos, a multa administrativa resulta da lei, é compulsória, e não pode haver dispensa ou isenção sem 4841 3
expressa previsão legal e deve ser cobrada segundo o mesmo procedimento previsto para a cobrança dos tributos. Impressiona o argumento da agravante no sentido de que o rito procedimental adotado (Lei nº 6.830/80) não altera a natureza da dívida que diz não ser tributária. Mas que se trata de dívida não tributária é facilmente reconhecível, mas não significa que será aplicável apenas por isso os prazos prescricionais previstos no Código Civil destinados às relações de natureza privada, pois, da mesma, forma, trata-se de dívida ativa da fazenda pública. O argumento utilizado pela agravante cai por terra, quando a própria lei de execução fiscal prevê a igualdade entre a dívida tributária e não tributária. A multa administrativa, desde sua imposição até a sua cobrança submete-se aos princípios do direito público, e assim está sujeita à prescrição quinquenal prevista no art. 174 do CTN, como reconheceu a decisão atacada. A igualdade entre a dívida de natureza tributária e não tributária preconizada na Lei nº 6.830/80 deve ser observada também no que se refere ao prazo prescricional, assegurando-se, assim, a uniformidade, a isonomia e a sistematização da ação executiva. decisão. Assim, vêm decidido os tribunais, devendo ser confirmada a Ressalte-se, por derradeiro, que pelas razões expostas, não houve a interrupção do prazo prescricional apontada pela agravante, uma vez que o prazo de cinco anos contados a partir da notificação para pagamento do débito em 03/09/1994 (fls.72), já havia decorrido quando da propositura da execução fiscal em 19/02/2001 (fls. 06). ISTO POSTO NEGO PROVIMENTO ao agravo de petição. Sem custas, na 4841 4
forma do art. 790-A, I, da CLT. Vistos e bem examinados, A C O R D A M os Desembargadores que compõem a Quarta Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, por unanimidade, negar provimento ao agravo de petição. Sem custas, na forma do art. 790-A, I, da CLT. Rio de Janeiro, 28 de Setembro de 2010. Desembargador Federal do Trabalho Damir Vrcibradic Relator 4841 5