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FACULDADES INTEGRADAS HEBRAICO BRASILEIRA RENASCENÇA Alessandro Costa Aliny Zequim Allan Siqueira Althéa D'Almeida dos Santos Ana Paula Saganfredo Andréia Garcia de Brito Antonia Alda Camila de Belém Elisângela Barbosa Elizete Dias Fátima Cirqueira Previatto Fernando Bispo da Silva Fernando Pereira da Silva Flávio Aldo Gláucia Vieira Bem Marcelo de Oliveira Nazaré Pereira da Silva Santos Regina Braga Reginaldo Duque Sandra Regina Faria Sibele da Cruz Costa Silvana Santos Paiva Silvania dos Santos Vaz Tamires de Oliveira Silva Valéria Barbosa de Oliveira Bonifácio Vanessa Claus Wanderlei da Costa SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS São Paulo 2010

2 S U M Á R I O 1. GÊNERO CONTOS...pág.03 1.1 MARCELO DE OLIVEIRA 2. GÊNERO CONTOS...pág.14 2.1 ANA PAULA SEGANFREDO 3. GÊNERO CONTOS...pág.21 3.1 ALESSANDRO COSTA 3.2 CAMILA DE BELÉM 3.3 REGINA BRAGA 3.4 VANESSA CLAUS 4. GÊNERO CRÔNICA...pág.31 4.1 ALTHÉA D' ALMEIDA DOS SANTOS 4.2 ELISÂNGELA BARBOSA 4.3 GLÁUCIA VIEIRA BEM 4.4 REGINALDO DUQUE 4.5 SANDRA REGINA FARIA 5. GÊNERO HISTÓRIA EM QUADRINHOS...pág.39 5.1 ALINY ZEQUIM 5.2 ALLAN SIQUEIRA 5.3 FÁTIMA CIRQUEIRA PREVIATTO 5.4 WANDERLEI DA COSTA 6. GÊNERO RETÓRICA...pág.52 6.1 VALÉRIA BARBOSA DE OLIVEIRA BONIFÁCIO 7. GÊNERO POEMA...pág.61 7.1 ANDRÉIA GARCIA DE BRITO 7.2 FERNANDO BISPO DA SILVA 7.3 FERNANDO PEREIRA DA SILVA 7.4 SILVANA SANTOS PAIVA 8. GÊNERO RECEITA...pág.86 8.1 ANTONIA ALDA 8.2 ELIZETE DIAS 8.3 SILVANIA DOS SANTOS VAZ 9. GÊNERO NOTÍCIA......pág.94 9.1 FLÁVIO ALDO 9.2 NAZARÉ PEREIRA DA SILVA SANTOS 9.3 SIBELE DA CRUZ COSTA 9.4 TAMIRES DE OLIVEIRA SILVA

3 SEQUÊNCIA DIDÁTICA Gênero: Contos. Nível: Ensino Médio. Série: 2º ano. Autor: Marcelo de Oliveira.

4 Vamos nos aproximarmos um pouco mais do gênero conto com a prática da leitura narrativa perante o conto a seguir: UM APÓLOGO Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha: - Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo? - Deixe-me, senhora. - Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça. - Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros. - Mas você é orgulhosa. - Decerto que sou. - Mas por quê? - É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu? - Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu, e muito eu? - Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados... - Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e mando... - Também os batedores vão adiante do imperador. - Você é imperador? - Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto... Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou à costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana - para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha: - Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui

5 entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima. A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silencioso e ativo como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha vendo que ela não lhe dava resposta calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic e plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile. Veio à noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E quando compunha o vestido da bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha, perguntou-lhe: - Ora agora, diga-me quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá. Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência murmurou à pobre agulha: - Anda, aprende tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico. Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça: - Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária! Fonte: Contos Consagrados - Machado de Assis - Coleção Prestígio Ediouro- s/d.

6 1- Pense sobre um tema semelhante ao conto lido, que desenvolva relações de dominação entre a cadeira e a mesa.. CONHECENDO UM POUCO SOBRE O GÊNERO CONTOS O que é um conto? O CONTO: Refere-se a uma narrativa curta e que se diferencia dos romances não apenas pelo tamanho, mas também pela sua estrutura: há poucas personagens, nunca analisadas profundamente; há acontecimentos breves, sem grandes complicações de enredo; e há apenas um clímax, no qual a tensão da história atinge seu auge. No conto, tempo e espaço são elementos secundários, podendo até não existir. Além disso, os próprios acontecimentos podem ser dispensáveis. Há, por exemplo, contos de Machado de Assis ou Tchekov nos quais, simplesmente, não tem nada que acontece. O essencial está no ar, na atmosfera, na forma de narrar, no estilo. O CONTEÚDO: (conflito vivenciado pelo personagem em decorrência para ver que é mais importante alinha ou agulha). A ESTRUTURA FORMAL DO CONTO A. PARTE DO ENREDO: Apresentação, complicação ou evolução, clímax e solução ou desfecho; unidade dramática, unidade de tempo, unidade de espaço, personagens, existência ou não de diálogo, características narrativas, descritivas e dissertativas contidas no conto, enredo, foco narrativo sempre decorrente em (1ª pessoa). B. ASPECTOS: Contexto histórico, Enredo, Elementos Estruturais: Apresentação, Complicação, Clímax e Desfecho.

7 C. DOMÍNIOS SOCIAIS DE COMUNICAÇÃO: Cultura Literária Ficcional. D. ASPECTOS TIPOLÓGICOS: Narrar. E. CAPACIDADE DE LINGUAGEM DOMINANTE: Representação pelo discurso de experiência vivido, situado no tempo. Agora que já conhecemos a estrutura do gênero contos. Vamos praticar: 1) O que é um conto? 2) Observando os elementos que definem a estrutura do conto transcreva sobre cada um deles:

8 Parte do Enredo: Aspectos: Domínios Sociais de Comunicação: Aspectos Tipológicos: Capacidade de Linguagem Dominante: Vamos conhecer alguns elementos que compõe a gramática

9 Substantivo é toda a palavra é determinada por um artigo, pronome ou numeral ou modificada por um adjetivo. De acordo com a gramática portuguesa, um substantivo dá nome aos seres em geral e pode variar em gênero, número e Grau. Para transformar uma palavra de outra classe gramatical em um substantivo, basta precedê-lo de um artigo, pronome ou numeral. Exemplo: "O não é uma palavra dura". Artigos sempre precedem palavras substantivadas, mas substantivos (que são substantivos em sua essência) não precisam necessariamente ser precedidos por artigos. Quanto à formação: Dá-se o nome de substantivo a todas as palavras que nomeiam seres, lugares, objetos, sentimentos e outros. Quanto à existência de radical, o substantivo pode ser classificado em: Primitivo: palavras que não derivam de outras. Ex.: flor, pedra, jardim, leite, goiaba, ferro, cobre, uva, maçã, metal... Derivado: vem de outra palavra existente na língua. O substantivo que dá origem ao derivado (substantivo primitivo) é denominado radical. Quanto ao número de radicais, pode ser classificado em: Simples: tem apenas um radical. Ex.: água, couve, sol... Composto: tem dois ou mais radicais. Ex.: água-de-cheiro, couve-flor, girassol, lança-perfume, cachorro-quente, guarda-chuva... Quanto ao tipo: Quando se referir a especificação dos seres, pode ser classificado em: Concreto: designa seres que existem ou que podem existir por si só. Ex.: casa, cadeira. Também podem ser concretos os substantivos que nomeiam divindades (Deus, anjos, almas) e seres fantásticos (fada, duende), pois, existentes ou não são sempre considerados como seres com vida própria. Abstrato: designa ideias ou conceitos, cuja existência está vinculada a alguém ou a alguma outra coisa. Ex.: justiça, amor, trabalho, etc. Comum: denomina um conjunto de seres de maneira geral, ou seja, um ser sem diferenciar dos outros do mesmo conjunto. Ex.: lobo, pizza, mascara. Próprio: denota um elemento individual que tenha um nome próprio dentro de um conjunto, sendo grafado sempre com letra maiúscula. Ex.: João, Maria, Bahia, Brasil, Rio de Janeiro, Japão. Coletivo: um substantivo coletivo designa um nome singular dado a um conjunto de seres. No entanto, vale ressaltar que não se trata necessariamente de quaisquer seres daquela espécie. Alguns exemplos:

10 o Uma biblioteca é um conjunto de livros, mas uma pilha de livros desordenada não é uma biblioteca. A biblioteca discrimina o gênero dos livros e os acomoda em prateleiras. o Uma orquestra ou banda é um conjunto de instrumentistas, mas nem todo conjunto de músicos ou instrumentistas pode ser classificado como uma orquestra ou banda. Em uma orquestra ou banda, os instrumentistas estão executando a mesma peça musical ao mesmo tempo. o Uma "turma" é um conjunto de estudantes, mas se juntarem num mesmo alojamento os estudantes de várias carreiras e várias universidades numa sala, não se tem uma turma. Na turma, os estudantes assistem simultaneamente à mesma aula. Eles possuem alguma ação ou característica em comum em relação ao grupo. o exemplos de substantivos simples: casa, cachorro, caneta etc. Flexão do substantivo: Quanto ao gênero. Os substantivos flexionam-se nos gêneros masculino e feminino e quanto às formas, podem ser: Substantivos biformes: apresentam duas formas originadas do mesmo radical. Exemplos: menino - menina, traidor - traidora, aluno - aluna. Substantivos heterônimos: apresentam radicais distintos e dispensam artigo ou flexão para indicar gênero, ou seja, apresentam duas formas uma para o feminino e outra para o masculino. Exemplos: arlequim - colombina, arcebispo - arquiepiscopisa, bispo - episcopisa, bode - cabra, ovelha - carneiro. Substantivos uniformes: apresentam a mesma forma para os dois gêneros, podendo ser classificados em: Epicenos: referem-se a animais ou plantas, e são invariáveis no artigo precedente, acrescentando as palavras macho e fêmea, para distinção do sexo do animal. Exemplos: a onça macho - a onça fêmea; o jacaré macho - o jacaré fêmea; a foca macho - a foca fêmea. Comuns de dois gêneros: o gênero é indicado pelo artigo precedente. Exemplos: o dentista - a dentista, um jovem - uma jovem, imigrante italiano - imigrante italiana. Sobrecomuns: invariáveis no artigo precedente. Exemplos: a criança, o indivíduo (não existem formas como "o criança", "a indivíduo"). Quanto ao número: Os substantivos apresentam singular e plural. Os substantivos simples, para formar o plural, acrescenta-se à terminação em n, vogal ou ditongo o s. Ex: elétron/ elétrons, povo/ povos, caixa/ caixas, cárie/ cáries; a terminação em ão, por ões, ães, ou ãos; as terminações em s, r, e z, por es; terminações em x são invariáveis; terminações em al, el, ol, ul, trocam o l por is, com as seguintes

11 exceções: "mal" (males), "cônsul" (cônsules), "mol" (mols), "gol" (gols); terminação em il, é trocado o l por is (quando oxítono) ou o il por eis (quando parox tono). Os substantivos compostos flexionam-se da seguinte forma quando ligados por hífen: se os elementos são ligados por preposição, só o primeiro varia (mulas-semcabeça); também varia apenas o primeiro elemento caso o segundo termo indique finalidade ou semelhança deste (navios-escola, canetas-tinteiro); se os elementos são formados por palavras repetidas ou por onomatopeia, só o segundo elemento varia (tico-ticos, pingue-pongues); nos demais casos, somente os elementos originariamente substantivos, adjetivos e numerais variam (couves-flores, guardas-noturnos, amores-perfeitos, bemamados, ex-alunos). Quanto ao grau: Os substantivos possuem três graus, o aumentativo, o diminutivo e o normal que são formados por dois processos: Analítico: o substantivo é modificado por adjetivos que indicam sua proporção (rato grande, gato pequeno); Sintético: modifica o substantivo através de sufixos que podem representar além de aumento ou diminuição, o desprezo ou um sentido pejorativo (no aumentativo sintético: gentalha, beiçorra), o afeto ou sentido pejorativo (no diminutivo sintético: filhinho, livreco). Exemplos de diminutivos e aumentativos sintéticos: sapato/sapatinho/sapatão; casa/casebre/casarão; cão/cãozinho/canzarrão; homem/homenzinho/homenzarrão; gato/gatinho/gatão; bigode/bigodinho/bigodaço; vidro/vidrinho/vidraça; boca/boquinha/bocarra; muro/mureta/muralha; pedra/pedregulho/pedrona; rocha/rochinha/rochedo; papel/papelzinho/papelão; Obtida de http://pt.wikipedia.org/wiki/substantivo.

1- Classifique os substantivos que aparecem no conto. 12

2- Acreditando no processo de aprendizagem absorvido mediante os estudos referente ao gênero contos. Construa um Conto narrativo. 13

14 SEQUÊNCIA DIDÁTICA Gênero: Contos. Nível: Ensino Médio. Série: 3. Ano. Autora: Ana Paula Seganfredo.

15 GÊNERO CONTOS ASPECTOS: Contexto Histórico, Enredo, Elementos Estruturais: (Apresentação, Complicação, Clímax e Desfecho). DOMÍNIOS SOCIAIS DE COMUNICAÇÃO: Cultura Literária Ficcional. ASPECTOS TIPOLÓGICOS: Narrar. CAPACIDADE DE LINGUAGEM DOMINANTE: Representação pelo discurso de experiências vividas, situadas no tempo. O GÊNERO TEXTUAL É UM MODELO DE TEXTO, É O JEITO ESPECÍFICO QUE OS TEXTOS POSSUEM: Uma característica especifica, Uma forma própria e Um conteúdo definido. POR - QUÊ RECONHECER GÊNEROS DISCURSIVOS? Para facilitar o processo de interpretação de textos, Aguçar o conhecimento de mundo, Contribuir para a compreensão geral dos textos, Despertar a mente para a possibilidade de significados de palavras desconhecidas. No século XIX, o conto se distancia da novela e do romance, aparecem grandes escritores: Edgar Allan Poe nos EUA, Maupassant na França, Eça de Queiroz em Portugal e Machado de Assis no Brasil. Na estrutura do conto há um só drama, um só conflito, termina exatamente no clímax. A variação temporal não é importante, o passado é exposto em poucas linhas. O conto é a forma narrativa, em prosa, de menor extensão.

16 Entre suas principais característica estão: Concisão, Precisão, Densidade e Unidade de efeito. Os contos modernos são urbanos ou suburbanos, eles propuseram a renovação das formas, a ruptura com a linguagem tradicional, evita-se o rebuscamento na linguagem, a narrativa é mais objetiva. Os focos narrativos podem ser em: 1ª pessoa: personagem principal conta sua história, este tipo de narrador limita-se ao saber de si próprio, fala de sua própria vivência. 3ª pessoa: dentro deste foco, o texto pode ter: A) Narrador observador: O narrador limita-se a descrever o que está acontecendo, fala do exterior, não sabendo das emoções da personagem, descreve apenas o que vê. B) Narrador onisciente: Sabe tudo sobre a vida dos outros, seus destinos, idéias e pensamentos. Segundo Bakhtin (1981/1997), A palavra não é objeto, mas um meio constantemente ativo, constantemente mutável de comunicação dialógica. Ela nunca basta a uma consciência, a uma voz. Sua vida está na passagem de boca em boca, de um contexto para outro, de um grupo social para outro, de uma geração para outra. (p.203).

17 Agora que já conhecemos os conteúdos existentes para formação de um conto vamos nos aproximarmos mais um pouco do mesmo fazendo uma leitura do conto abaixo: UM APÓLOGO! Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha: - Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo? Deixe-me, senhora. Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça. Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros. Mas você é orgulhosa. Decerto que sou. Mas por quê? É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e muito eu? Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados... Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando... Também os batedores vão adiante do imperador. Você é imperador? Não digo isso.

18 Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto... Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou à costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha: Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima... A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile. Veio à noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe: Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência murmurou à pobre agulha: Anda, aprende tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico. Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça: Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária! Texto extraído do livro "Para Gostar de Ler - Volume 9 Contos", Editora Ática - São Paulo, 1984, pág. 59. Autor: Machado de Assis.

19 1-) Com base na leitura do conto Um Apólogo, do autor Machado de Assis, escreva algumas características de acordo com o seu entendimento sbre o foco narrativo: 2-) Observando a imagem justifique com suas próprias palavras quem você acha que representou o papel principal no desenrolar da narrativa: 3-) Cite quais foram os personagens mencionados no conto:

20 4- ) A figura abaixo servirá de tema para que você crie um conto. Procurando utilizar o foco narrativo em 3ª pessoa. Boa Narrativa!

21 Gênero: Contos. Nível: Ensino Médio. Série: 1 ano. Autores: Alessandro Costa, Camila de Belém, Regina Braga e Vanessa Claus. SEQUÊNCIA DIDÁTICA

22 Uma galinha Clarice Lispector Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã. Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio. Foi uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou o tempo de a cozinheira gritar e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou o telhado. Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão de rua. Pouco afeita a uma luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador adormecido. E por mais intima que fosse a presa o grito de conquista havia soado. Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga, pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade havia tempo de se refazer por um momento. E então parecia tão livre. Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é que havia nas suas vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se poderia contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo, como o galo crê na sua crista. Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou. Entre gritos e penas, ela foi presa, em seguida carregada em triunfo por uma asa através

das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, parecia uma velha mãe habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e desabotoando os olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava às asas, enchendo de tepidez aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal conseguiu desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos: Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! Ela quer o nosso bem! Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente. Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre nem triste, não era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão: Se você mandar matar esta galinha, nunca mais comerei galinha na minha vida! Eu também! jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros. Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a da apatia e a do sobressalto. Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchiamse de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado. Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não cantaria, mas ficaria muito mais contente. Embora nesses instantes a expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando milho era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos séculos. Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos. 23

24 Fonte :www.cadeoganso 1- Você já leu algum conto? Se já leu, relate sobre o assunto tratado, caso não tenha lido, baseie-se nas imagens anteriores e produza o seu conto:

25 O QUE É UM CONTO? Conto é uma narrativa curta e que se diferencia dos romances não apenas pelo tamanho, mas também pela sua estrutura: há poucas personagens, nunca analisadas profundamente; há acontecimentos breves, sem grandes complicações de enredo; e há apenas um clímax, no qual a tensão da história atinge seu auge, não confunda conto com lenda, história, causo,crônica etc. No conto, tempo e espaço são elementos secundários, podendo até não existir. Além disso, os próprios acontecimentos podem ser dispensáveis como, por exemplo, contos de Machado de Assis ou Tchekhov. O essencial está no ar, na atmosfera, na forma de narrar, no estilo. Origem: De o livro do mágico (cerca de 4000 a.c.), escrito pelos egípcios, até a Bíblia encontram-se textos com estrutura de contos. No entanto, a autoria deles foi perdida. O primeiro grande contista da História é tido como Luciano de Samosata (125-192). São da mesma época Lucius Apuleius (125-180) e Caio Petrônio. Do século XIV ao XIX Giovanni Boccaccio (1313-1375) ou (2000-2010) em sua obra Decameron, estabeleceu as bases do que se entende por conto. Este período é marcado por contistas célebres, como Geoffrey Chaucer (que publica os Os Contos de Canterbury), Jean de La Fontaine (autor de vários contos infantis, como A cigarra e a formiga) e Charles Perrault, de O Soldadinho de Chumbinho. No século XIX, destacam-se Honoré de Balzac, Leo Tolstoy, Guy de Maupassant e Mary Shelley. Na Alemanha, os irmãos Grimm publicam dezenas de contos infantis (muitos recontados dos originais de Perrault), incluindo Branca de Neve e Capuchinho Vermelho (português europeu) ou Chapeuzinho Vermelho (português brasileiro), enquanto Washington Irving estabelece-se como o primeiro contista estadunidense relevante. Contistas famosos em Língua Portuguesa: Eça de Queirós, mais conhecido como romancista, é referência em Portugal por seus contos reunidos para publicação em 1902, dois anos após seu falecimento, bem como Branquinho da Fonseca, cuja obra inclui diversas antologias de contos. Machado de Assis e Aluízio Azevedo destacam-se no panorama brasileiro do conto, abrindo espaço para os contistas do século XX, como Clarice Lispector, Lima Barreto, Otto Lara Resende e Lygia Fagundes Telles. A figura do contista encontra-se perdida na atualidade, em face da valorização do romance em oposição à prosa curta e à poesia enquanto gêneros literários. Um dos poucos meios em que sobrevive é a ficção científica. Conteúdo e forma: Forma: expressão ou linguagem mais os elementos concretos e estruturados, como as palavras e as frases. Conteúdo: é imaterial (fixado e carregado pela forma); são as personagens, suas ações, a história.

26 Os diálogos são de suma importância; sem eles não há discórdia, conflito, fundamentais ao gênero. A melhor forma de se informar é por meio dos diálogos; mesmo no conto em que o ingrediente narrativo seja importante. "A função do diálogo é expor." (Henry James, 1843-1916). Em alguns escritores, o diálogo é uma ferramenta absolutamente indispensável. Caio Porfírio Carneiro, por exemplo, chega ao ponto de escrever contos compostos apenas por diálogos, sem que, em nenhum instante, apareça um narrador. Em 172 páginas de Trapiá, um clássico da década de 60, há apenas seis páginas sem diálogos. Vejamos os tipos de diálogos: Direto: (discurso direto) as personagens conversam entre si; usam-se os travessões. Além de ser o mais conhecido é, também, predominante no conto. Indireto: (discurso indireto) quando o escritor resume a fala da personagem em forma narrativa, sem destacá-la. Vamos dizer que a personagem conta como aconteceu o diálogo, quase que reproduzindo-o. Essas duas primeiras formas podem ser observadas no conto "A Missa do Galo", Machado de Assis. Indireto livre: (discurso indireto livre) é a fusão entre autor e personagem (primeira e terceira pessoa da narrativa); o narrador narra, mas no meio da narrativa surgem diálogos indiretos da personagem como que complementando o que disse o narrador. Veja-se o caso de "Vidas secas": em certas passagens não sabemos exatamente quem fala é o narrador (terceira pessoa) ou a consciência de Fabiano (primeira pessoa)? Este tipo de discurso permite expor os pensamentos da personagem sem que o narrador perca seu poder de mediador. Monólogo interior: (ou fluxo de consciência) é o que se passa "dentro" do mundo psíquico da personagem; "falando" consigo mesma; veja algumas passagens de Perto do coração selvagem, de Clarice Lispector. O livro A canção dos loureiros (1887), de Édouard Dujardin é o precursor moderno deste tipo de discurso da personagem. O Lazarillo de Tormes, de autor desconhecido, é considerado o verdadeiro precursor deste tipo de discurso. Em Ulisses, Joyce (inspirado em Dujardin) radicalizou no monólogo interior. Focos narrativos: Primeira pessoa: Personagem principal conta sua história; este narrador limitase ao saber de si próprio, fala de sua própria vivência. Esta é uma narrativa típica do romance epistolar (século XVIII). Terceira pessoa: O texto é narrado em 3ª pessoa e neste caso podemos ter: a) Narrador observador: o narrador limita-se a descrever o que está acontecendo, "falando" do exterior, não nos colocando dentro da cabeça da personagem; assim não

27 sabemos suas emoções, idéias, pensamentos. O narrador apenas descreve o que vê, no mais, especula. b) Narrador onisciente conta a história; o narrador tudo sabe sobre a vida das personagens, sobre seus destinos, idéias, pensamentos. Como se narrasse de dentro da cabeça delas. PARA ENTENDER O CONTO Queres tu saber, meu rico irmão, a notícia que achei no Rio de Janeiro, apenas pus pé em terra? Uma crise ministerial. Não imaginas o que é uma crise ministerial na cidade fluminense. Lá na província chegam às notícias amortecidas pela distância, e, além disso, completas; quando sabemos de um ministério defunto, sabemos logo de um ministério recém-nato. Aqui a coisa é diversa; assiste-se à morte do agonizante, depois ao enterro, depois ao nascimento do outro, o qual muitas vezes, graças às dificuldades políticas, só vem à luz depois de uma operação cesariana. Quando desembarquei estava o C. à minha espera na Praia dos Mineiros, e as suas primeiras palavras foram estas: - Caiu o ministério! Tu sabes que eu tinha razões para não gostar do gabinete, depois da questão de meu cunhado, de cuja demissão ainda ignoro a causa. Todavia, senti que o gabinete morresse tão cedo, antes de dar todos os seus frutos, principalmente quando o negócio do meu cunhado era justamente o que me trazia cá. Perguntei ao C. quem eram os novos ministros. - Não sei, respondeu; nem te posso afirmar se os outros caíram; mas desde manhã não corre outra coisa. Vamos saber notícias. Queres comer? - Sem dúvida, respondi; vou residir no Hotel da Europa, se houver lugar. - Há de haver. Seguimos para o Hotel da Europa que é na Rua do Ouvidor; lá me deram um aposento e um almoço. Acendemos charutos e saímos. À porta perguntei-lhe eu: - Onde saberemos notícias? - Aqui mesmo na Rua do Ouvidor. - Pois então na Rua do Ouvidor é que? - Sim; a Rua do Ouvidor é o lugar mais seguro para saber notícias. As casas do Moutinho ou do Bernardo, a casa do Desmarais ou do Garnier, são verdadeiras estações telegráficas. Ganha-se mais em estar aí comodamente sentado do que em andar pela casa dos homens da situação. Ouvi silenciosamente as explicações do C. e segui com ele até um pasmatório político, onde apenas encontramos um sujeito fumando, e conversando com o caixeiro. - A que horas esteve ela aqui? Perguntava o sujeito. - Às dez. Ouvimos estas palavras entrando. O sujeito calou-se imediatamente e sentou-se numa cadeira por trás de um mostrador, batendo com a bengala na ponta do botim. - Trata-se de algum namoro, não? Perguntei eu baixinho ao C. - Curioso! Respondeu-me ele; naturalmente é algum namoro, tens razão; alguma

28 rosa de Citera. - Qual! Disse eu. - Por quê? - Os jardins de Citera são francos; ninguém espreita as rosas por fora - Provinciano! Disse o C. com um daqueles sorrisos que só ele tem; tu não sabes que, estando às rosas em moda, há certa honra para o jardineiro Anda sentar-te. - Não; fiquemos um pouco à porta; quero conhecer esta rua de que tanto se fala. - Com razão, respondeu o C. Dizem de Shakespeare que, se a humanidade perecesse, ele só poderia compô-la, pois que não deixou intacta uma libra sequer do coração humano. Aplico el cuento. A Rua do Ouvidor resume o Rio de Janeiro. A certas horas do dia, pode a fúria celeste destruir a cidade; se conservar a Rua do Ouvidor, conserva Noé, a família e o mais. Uma cidade é um corpo de pedra com um rosto. O rosto da cidade fluminense é esta rua, rosto eloqüente que exprime todos os sentimentos e todas as idéias ( ). Com base no que vimos sobre a estrutura e composição do conto responda: 1) Qual o conteúdo apresentado pelo texto? 2) Qual a forma do conto? 3)Verifique o seguinte trecho : Tu sabes que eu tinha razões para não gostar do gabinete, depois da questão de meu cunhado, de cuja demissão ainda ignoro a causa. Qual o foco narrativo em que o conto se desenvolve? 4) O foco narrativo pode influenciar na interpretação do conto? 5)Você já leu alguma obra do autor, sabe sobre a sua biografia? Se não, acesse alguns links pesquisados por você e depois faça um breve comentário sobre esse grannde escritor.

29 MAIS GÊNEROS Machado de Assis Fonte:jobertosales.wordpress.com Além do conto, existem outros gêneros que desenvolvem a narrativa : Romance: é um texto completo, com tempo, espaço e personagens bem definidos de carácter verossímil. Fábula: é um texto de carácter fantástico que busca ser inverossímil (não tem nenhuma semelhança com a realidade). As personagens principais são animais ou objetos, e a finalidade é transmitir alguma lição de moral. Epopéia ou Épico: é uma narrativa feita em versos, num longo poema que ressalta os feitos de um herói ou as aventuras de um povo. Quatro belos exemplos são O Senhor dos Anéis, de J. R. R. Tolkien, Os Lusíadas, de Luís de Camões, Ilíada e Odisséia, de Homero. Novela: é um texto caracterizado por ser intermediário entre a longevidade do romance e a brevialidade do conto. O personagem se caracteriza existencialmente em poucas situações. Como exemplos de novelas, podem ser citadas as obras O Alienista, de Machado de Assis, e A Metamorfose, de Kafka. Crônica: é uma narrativa informal, ligada à vida cotidiana, com linguagem coloquial breve, com um toque de humor e crítica. Ensaio: é um texto literário breve, situado entre o poético e o didático, expondo ideias, críticas e reflexões morais e filosóficas a respeito de certo tema. É menos formal e mais flexível que o tratado. Consiste também na defesa de um ponto de vista pessoal e subjetivo sobre um tema (humanístico, filosófico, político, social, cultural, moral, comportamental, literário, etc.), sem que se paute em formalidades como documentos ou provas empíricas ou dedutivas de caráter científico.

30 Os contos apresentam um tom (Gotlib, 1985) que moverá a ação das personagens. TERROR: Contos de terror são considerados, assim como os romances policiais e de ficção científica, categorias menores da literatura por um postulado cuja principal utilidade é o de ser desmentido pela crítica em alguns casos excepcionais. O cinema deu uma nova vida ao "ramo", mas ao mesmo tempo parece ter lhe roubado a alma, transformando o gênero em mera oportunidade para a exibição de efeitos especiais tão numerosos que lhe tiram o caráter assombroso derivado justamente da surpresa e raridade. FANTASIA: contos de fantasia se baseia principalmente em uma característica: a estranheza dos cenários (tais como outros mundos ou outras eras) e dos personagens (tais como seres sobrenaturais ou não-naturais). Normalmente, estórias desse gênero são ambientadas em mundos imaginários e se utilizam de elementos como mágica e seres místicos. FICÇÃO CIENTÍFICA: "A Ficção Científica pode ser definida como o ramo da literatura que trata das respostas do ser humano frente às mudanças sociais ocorridas em decorrência do desenvolvimento da ciência e da tecnologia". Escolha um tom (terror, fantasia, ficção) e escreva um conto, não esqueça do título que deve ser bem criativo. Titulo:

31 Gênero: Crônica. Nível: Ensino Médio. Série: 2 ano. Autores: Althéa D`Almeida dos Santos, Elisângela Barbosa, Gláucia Vieira Bem, Reginaldo Duque e Sandra Regina Faria. SEQUÊNCIA DIDÁTICA

32 Recado ao Senhor 903 Vizinho, Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal devia ser meia-noite e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito a repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor; é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a Leste pelo 1005, a Oeste pelo 1001, ao Sul pelo Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos: apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão: ao meu número) será convidado a se retirar às 21h45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois as 8h15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará ate o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada: e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas e prometo silêncio. [...] Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou. E o outro respondesse: Entra vizinho e come do meu pão e bebe do meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e a cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz. Rubem Braga.

Elabore uma crônica com algumas características do texto Recado ao Senhor 903 cujo tema seja Meu vizinho. 33

34 CONHECENDO O GÊNERO A crônica é uma narrativa informal ligada à vida cotidiana, com linguagem coloquial, breve com um toque de humor, crítica e reflexão, além dessas, veja outras características : - Narrativa informal, familiar, intimista: Entra vizinho e come do meu pão e bebe do meu vinho - Uso da oralidade na escrita: linguagem coloquial: Quem fala aqui é o homem do 1003. - Sensibilidade no contato com a realidade: Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. - Síntese; - Uso do fato como meio ou pretexto para o artista exercer seu estilo e criatividade; - Dose de lirismo; - Natureza ensaística; - Leveza; - Diz coisas sérias por meio de uma aparente conversa fiada: Ou melhor; é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. - Brevidade; - É um fato moderno: está sujeita à rápida transformação e à fugacidade da vida moderna.

35 Observe as escolhas linguísticas e a análise da linguagem da crônica de Rubem Braga. 1) Intenção e linguagem: O narrador-personagem da crônica ou remetente da carta ao vizinho reconhece que faz barulho e por isto pede desculpas. Veja, assim, as palavras e afirmações que usou para construir essa ideia: "consternado, desolado, lhe dou razão, O regulamento do prédio é explícito, Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso, Peço desculpas e Prometo silêncio". No entanto, por meio de ironias, o narrador reconhece sua falta, mas explicita que não concorda com a situação, uma vez que a aborda também de outro ângulo, problematizando as relações entre as pessoas e não simplesmente aceitando a situação como algo imutável. E faz isso, especialmente, quando: - ironiza a estrutura dos prédios em que as pessoas ficam empilhadas, perdendo o contato humano; - refere-se a todos os vizinhos, incluindo ele próprio, pelo número do apartamento e não pelo nome; - critica o isolamento e a distância entre as pessoas cujas vidas estão limitadas pelas normas que cerceiam o convívio humano; - sonha com outra relação mais humana e fraterna, entre as pessoas. Leia o texto abaixo e responda à questão seguinte: O ladrão entra numa joalheria e rouba todas as jóias da loja. Guarda tudo numa mala e, para disfarçar, coloca roupas em cima. Sai correndo para um beco, onde encontra um amigo, que pergunta: - E aí, tudo jóia? - Que nada! Metade é roupa... I. Com relação ao texto, é correto afirmar: ( ) O efeito de humor do texto é causado pela ambiguidade da expressão tudo jóia. ( ) A expressão tudo jóia pode ser classificada como um arcaísmo da língua portuguesa. ( ) A expressão sai correndo caracteriza um pleonasmo da língua portuguesa. ( ) O ladrão, ao responder ao amigo, agiu de forma jocosa e sarcástica. ( ) O amigo sabia o que o ladrão carregava na mala.

36 2) Ironia e humor O narrador usa uma fina ironia quando fala de si mesmo e dos motivos das reclamações do vizinho: "Todos esses números são comportados e silenciosos: apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua." Verifique ainda como o uso do elemento "apenas", usado duas vezes intensifica a sua exclusão em relação aos demais moradores do prédio. O excesso de referência a números acaba por criar um efeito de humor e crítica social: "Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão: ao meu número) será convidado a se retirar às 21h 45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois às 8h 15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará ate o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305." Tal efeito de humor tem a ver com: - o contraste entre uma situação e outra: os que mantêm silêncio e pessoas, como o narrador, que não o fazem; - o inesperado: o texto parece se encaminhar para um sentido e bruscamente aponta para outro. 3) Uso de verbo: Quando o narrador quer sonhar com outra situação em relação, não só à sua vizinhança, mas também à vida na cidade grande, ele constrói essa ideia usando verbos no pretérito imperfeito do subjuntivo. "Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: 'Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou'. E o outro respondesse: 'Entra vizinho e come do meu pão e bebe do meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e a cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela'. E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.

37 III. O que indica a utilização dos verbos no pretérito imperfeito do subjuntivo no fragmento do texto acima Recado ao Senhor 903. ( ) impossibilidade; ilusão; engano ( ) sonho; devaneio; fantasia ( ) realidade; fato; existência ( ) possibilidade; desejo; hipótese 4) Uso dos artigos: Releia os trechos: "Quem fala aqui é o homem do 1003.". Foi usado o artigo definido (o), quando o narrador refere-se a si mesmo, particularizando, dessa forma, um indivíduo, entre outros. "Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse (...). E o outro respondesse (...)" Há artigo indefinido um (referente a homem), quando foi introduzido um elemento ainda não citado no texto, generalizando-o. Há artigo definido o (referente a outro), quando novamente se tem um indivíduo já citado, particularizando-o.

38 PRODUÇÃO FINAL A partir dos conceitos apresentados crie uma crônica utilizando diferentes classes gramaticais. Após concluir o texto faça uma análise descritiva e argumente as escolhas do léxico para a construção do texto literário.

39 Gênero: HQ s. Nível: Ensino Fundamental II. Série: 8ª série. Autores: Aliny Zequim, Allan Siqueira, Fátima Cirqueira Previatto e Wanderlei da Costa. Sequência Didática

40 Questionário Pessoal 1) Você já leu alguma história em quadrinhos? 2) Quais são as suas prediletas? 3) Qual o seu autor predileto? 4) Você gosta da linguagem usada nas histórias em quadrinhos? Explique.

Vamos iniciar com um exercício de criatividade. Imagine a continuação desta história, solte sua imaginação e DIVIRTA-SE! 41

42 Conhecendo as Histórias em Quadrinhos As histórias em quadrinhos são enredos narrados quadro a quadro por meio de desenhos e textos que utilizam o discurso direto, característico da língua falada. Assim, justifica-se a pesquisa pelo interesse de demonstrar como as estratégias de organização de um texto falado são utilizadas na construção da história em quadrinhos, que possui em seu texto escrito, características próximas a uma conversação face a face, além de apresentar elementos visuais complementadores à compreensão, tornando este estudo bastante prazeroso, pois a leitura de uma HQ causa no leitor um determinado fascínio devido à combinação de todos esses elementos. Não são somente as palavras que transmitem ideias ou comunicam um pensamento. As imagens também falam e as histórias em quadrinhos utilizam duas formas de comunicação: uma visual e outra com palavras. O desenho e o colorido conseguem traduzir, juntamente com a escrita, o que o autor da história em quadrinhos quer transmitir. O texto constitui uma expressão própria em sua relação com os elementos visuais. Bem mais que uma tradução literal da imagem, o texto nas Histórias em Quadrinhos se exprime por intermédio do discurso direto, do diálogo, de pensamentos e reflexões, além de outras formas narrativas exteriores ou vinculadas à ação.

43 Elementos das Histórias em Quadrinhos Balões O balão é o recurso gráfico utilizado para tornar visível algo naturalmente ausente na literatura: o som. Através do balão o artista consegue uma instigante visualização espacial do som. O balão seria o recurso gráfico representativo da fala ou do pensamento, que procura indicar um solilóquio, um monólogo ou uma interação conversacional. O quadrinho necessita do balão para a visualização das palavras ditas pelas personagens. Diferente da literatura, mesmo a ilustrada, os quadrinhos não precisam indicar ao leitor qual personagem está falando. Esta é a função dos balões que, com seu apêndice, conforme explicaremos mais tarde, informam a quem está lendo qual personagem está falando ou pensando aquelas palavras. Balão de diálogo Balão de pensamento Balão de grito Balão de diálogo - é utilizado para o diálogo entre os personagens. Metáfora Visual Balão de pensamento - possui o contorno ondulado, como em forma de nuvem, formado por pequenos arcos ligados. Balão de grito O balão de grito pode vir tremido ou parecido com o balão de diálogo, mas o que realmente o diferencia é o negrito das palavras ou o fato de elas estarem em um tamanho maior que as outras.

44 Metáfora Visual são metáforas em desenhos para indicar um sentimento ou um acontecimento. Ex: um coração saltando do peito com sinal de paixão, notas musicais indicando um assovio, raiva, etc. Linguagem Verbal Visual (icônica) Sendo um sistema de significação que utiliza dois códigos em interação, parte da mensagem das histórias em quadrinhos é passada ao leitor por meio da linguagem verbal. Esta vai aparecer principalmente para expressar a fala ou pensamento dos personagens,a voz do narrador e os sons envolvidos nas narrativas apresentadas,mas também estará presente em elementos gráficos,como cartazes,cartas,vitrines etc.a fim de integrar a linguagem verbal à figuração narrativa,os quadrinhos desenvolveram diversas convenções específicas à sua linguagem,que comunicam instantaneamente ao leitor o status do enunciado verbal.assim,os textos verbais que representam formas de comunicação dos personagens,internas ou externas,aparecem nos quadrinhos envoltos por uma linha circular,próxima à cabeça do(s) que as expressam. A imagem desenhada é o elemento básico das histórias em quadrinhos. Ela se apresenta como uma seqüência de quadros que trazem uma mensagem ao leitor, normalmente uma narrativa, seja ficcional (um conto de fadas, uma história infantil, a aventura de um super-herói etc.) ou real (o relato/reportagem sobre fatos ou acontecimentos, a biografia de um personagem ilustre etc.). À linguagem icônica estão ligadas questões de enquadramento, planos, ângulos de visão, formato dos quadrinhos, montagem de tiras e páginas, gesticulação e criação de personagens,bem como a utilização de figuras cinéticas,ideogramas e metáforas visuais. Exemplos Linguagem verbal