TURISMO RURAL NA AGRICULTURA. C once ito s

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Transcrição:

TURISMO RURAL NA AGRICULTURA C once ito s FAMILIAR e P ráti ca s

Governador do Estado de Santa Catarina Raimundo Colombo Vice-governador do Estado de Santa Catarina Eduardo Pinho Moreira Secretário de Estado de Turismo, Cultura e Esporte (SOL) Filipe Freitas Mello Secretária Adjunta Simone Cristina Vieira Machado Diretora de Políticas Integradas do Lazer Juliana Silveira de Aguiar Matos Gerente de Políticas de Turismo Gisela Ribeiro Equipe Técnica Edgar Tramontim de Farias Filho Marisa Sosmaier Parceiros do Programa SC RURAL:

T954t Turnes, Valério Alécio Turismo rural na agricultura familiar: conceitos e práticas / Valério Alécio Turnes; Thaise Costa Guzzatti. - Florianópolis: Imaginar o Brasil, 2015. 144 p. : il. ; 29cm. ISBN: 978-85-61392-06-2 Bibliogra a: p. 141-144. 1. Turismo. 2. Turismo rural. 3. Agricultura familiar. 4. Desenvolvimento sustentável. I. Guzzatti, Thaise Costa. II. Título. CDD: 338.4791 20. ed. Ficha catalográ ca elaborada pela bibliotecária Alice de Amorim Borges CRB 14/865

APRESENTAÇÃO O SC Rural é um programa do Governo do Estado de Santa Catarina com financiamento do Banco Mundial que teve início em 2010, com término previsto para 2016. O Programa consiste em aumentar a competitividade das cadeias produtivas exploradas pelos agricultores familiares e as organizações - incluindo a atividade do turismo rural, cujas ações encontramse sob a competência da Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte (SOL). O programa pode ser considerado uma inovação em relação ao desenvolvimento de políticas públicas, já que reúne vários órgãos do Governo que executam ações no meio rural catarinense. A crescente demanda turística em regiões rurais do estado e o aumento do interesse por parte dos agricultores familiares em investirem nesta atividade justificam a criação deste material. O objetivo é a difusão de conhecimentos que orientem o agricultor familiar na implementação e estruturação de ações de turismo rural na agricultura familiar (TRAF), visando agregar esta atividade em sua propriedade rural. Este manual será utilizado com suporte nas capacitações que a SOL pretende realizar no estado. O investimento nesta ação foi concretizado a partir do interesse manifestado por diversas regiões que relataram necessidade de um manual que contemplasse conceitos e práticas aplicáveis do turismo rural. A estrutura do manual é abrangente e mostra um panorama geral sobre a atividade, tendo a pretensão de oferecer uma leitura acessível e direta. Agradecemos a todos os envolvidos e esperamos que os conhecimentos aqui contidos possam auxiliar nas melhores práticas de TRAF dentro do território de Santa Catarina.

SUMÁRIO SUMÁRIO CAPÍTULO 1 Noções básicas de turismo CAPÍTULO 2 Turismo rural na agricultura familiar - TRAF CAPÍTULO 3 Processo de roteirização do TRAF CAPÍTULO 4 Inovação e empreendedorismo no TRAF CAPÍTULO 5 Noções de atendimento nos serviços turísticos e hospitalidade CAPÍTULO 6 Valorização e utilização da gastronomia rural/colonial de base local e o uso de produtos orgânicos CAPÍTULO 7 Equipamentos turísticos rurais CAPÍTULO 8 Gestão sustentável do turismo rural na agricultura familiar CAPÍTULO 9 Construções sustentáveis, paisagismo, decoração rústica e artesanato CAPÍTULO 10 A importância do trabalho associativo e em rede CAPÍTULO 11 Planejamento e gestão de negócios no turismo rural 9 29 53 61 69 77 87 97 109 121 127

NOÇÕES BÁSICAS DE TURISMO 1.TURISMO Vamos começar nossa reflexão conhecendo um pouco mais sobre o turismo. Neste capítulo, vamos criar uma base em termos de conceito que permita compreendermos melhor os desafios e os potenciais do turismo e, por consequência, do turismo rural na agricultura familiar. Bom estudo!!!! CAPÍTULO 01 Turismo Rural na Agricultura Familiar: Conceitos e Práticas 9

1.TURISMO CAPÍTULO 1. NOÇÕES BÁSICAS DE TURISMO BREVE HISTÓRICO DA ATIVIDADE Você verá que logo vamos chamar estas formas de turismo de segmentos turísticos. FIQUE ATENTO! Os homens sempre viajaram. Migração da população, conquistas militares, trocas comerciais, peregrinações religiosas, dentre outros, colocaram em movimento homens desde tempos antigos. Neste sentido, pode-se afirmar que certas formas de turismo existem desde as mais antigas civilizações. Mas, foi a partir do século XX e mais precisamente após a Segunda Guerra Mundial, que evoluiu como conseqüência dos aspectos relacionados ao poder de compra das pessoas e ao bem-estar resultante da restauração da paz no mundo 1. O desenvolvimento turístico está associado, desta forma, a conquista de melhoria de salários e garantia de benefícios aos trabalhadores, como férias remuneradas e, portanto, o aumento de tempo livre; desenvolvimento de meios de comunicação em massa; evolução da infraestrutura e dos meios de transportes; os produtos da tecnologia (rádio, televisão, videocassete, CD, TV a cabo, dentre outros). Neste sentido, a popularização do automóvel e do avião, a expansão das ferrovias, a ampliação da infraestrutura de mobilidade (material - estradas, ferrovias e informação - redes de fibra ótica, satélites, antenas, internet), dentre outros, reduziram o tempo de deslocamento entre pessoas, informação, ideias e capital 2. Estes e outros fatores proporcionaram o incentivo a realização de viagens, numa sociedade em que o contato com outros povos e outras culturas passou a ser valorizado como forma de ampliar conhecimento e informação 3. 1 RUSCHMANN, 1997. 2 RUSCHMANN, 1997. 3 CAMPOS et al, 1998. 10 Capítulo 01 - Noções Básicas de Turismo

ENTÃO VAMOS LÁ... Em síntese, as pessoas passaram a viajar mais quando começaram a ter mais dinheiro, mais tempo livre... quando começou a ficar mais fácil o deslocamento (ter carro, trem, avião...)... quanto mais informação disponível sobre os locais (televisão, telefone, internet). Parece só história, não é? Mas, é importante compreender esta história para pensar o futuro! Afinal, o turista necessitará ter dinheiro para nos visitar; terá que ficar sabendo que existimos e, mais que isso, ficar motivado a gastar o seu tempo livre indo até nossa propriedade; terá que se comunicar com os proprietários dos estabelecimentos turísticos para reservar sua estadia; terá que conseguir chegar até o destino (estradas, informação, etc) e assim por diante. AGORA RESPONDA: Você já viajou para algum lugar? Faça uma reflexão e descreva sua experiência numa folha de papel. Importante contar todos os detalhes... como ficou sabendo sobre o local visitado ou a razão da viagem; como foi para chegar no destino, etc. Se você nunca viajou, reflita porque isso ocorreu e conte-nos se há algum lugar que desejaria ir. Turismo Rural Rural na Agricultura na Agricultura Familiar: Familiar: Conceitos Conceitos e Práticas e Práticas 11 11

COMEÇANDO A ENTENDER O TURISMO O turismo pode ser entendido como um fenômeno social, que promove a integração entre a dimensão econômica, cultural, ambiental e política. Assim, pode-se dizer que o turismo compreende as atividades de pessoas que viajam para lugares afastados de seu ambiente usual, ou que neles permaneçam por menos de um ano consecutivo, a lazer, a negócio ou por outros motivos 4. Podemos dizer então, como base neste conceito, que o turista é um visitante que se desloca voluntariamente por um período de tempo igual ou superior a vinte e quatro horas, para um local diferente de sua residência e do seu trabalho. No entanto, há momentos em que saímos para passear e fazemos um bate-volta. Por exemplo: vamos num domingo visitar o zoológico na cidade vizinha. Saímos de casa pela manhã e voltamos no início da noite. Neste caso, você considera isso turismo? Pois é, apesar de as vezes chamarmos de turismo, não é! Para ser turismo, um dos critérios é a permanência por 24 horas ou mais (ou seja, há necessidade de pernoite no local visitado). Mas então, como chamamos este passeio até o zoológico? O termo correto a ser usado para definir uma passeio curto, com menos de 24 horas de duração é excursão! Você lembra que no item anterior mencionamos a existência de certas formas de turismo? Pois é, vamos começar a falar sobre isso. CONTINUE ATENTO! A partir deste conceito, a atividade turística é organizada em segmentos propostos a partir do conjunto de elementos que os constituem, dando origem a uma oferta de produtos com características específicas. Cabe esclarecer que o produto turístico é o conjunto de atrativos, equipamentos e serviços turísticos acrescidos de facilidades, localizados em um ou mais municípios, ofertado de forma organizada por um determinado preço 5. O produto turístico é, então, composto por três elementos: COMPONENTES DO PRODUTO TURÍSTICOS 4 OMT, 2003, p. 20. 5 BRASIL, 2009, p. 56. 12 Capítulo 01 - Noções Básicas de Turismo

ATRATIVOS TURÍSTICOS Os atrativos turísticos podem ser definidos como elementos do produto turístico que determinam a escolha do turista para visitar uma localidade específica ao invés de outra. Consideramos atrativo turístico todo elemento material ou imaterial com capacidade própria, ou em combinação com outros, de atrair visitantes a uma determinada localidade 6. O que é um elemento material ou imaterial? Os elementos (ou bens) imateriais estão relacionados aos saberes, às habilidades, às crenças, às práticas, ao modo de ser das pessoas. Assim, podemos considerar um elemento imaterial no turismo, por exemplo, uma festa que marca a vivência coletiva da religiosidade (Exemplo: Festa do Divino, realizada na cidade de Florianópolis/SC). Os elementos (ou bens) materiais, por sua vez, são classificados como móveis ou imóveis. Entre os elementos materiais imóveis, por exemplo, podemos citar um prédio histórico (ou conjunto de prédios). No caso dos elementos móveis, estão, por exemplo, o acervo de um museu. Os atrativos turísticos dividem-se em dois grandes grupos - os naturais, ou seja, que já existiam na natureza antes da intervenção do homem e os culturais - criados pelo homem, seja a partir da natureza, seja de qualquer outra atividade humana. O quadro abaixo apresenta exemplos de atrativos naturais e culturais (criados pelo homem com e sem intenção de atrair visitantes, além de eventos especiais) 7. EXEMPLOS DE ATRATIVOS NATURAIS E CULTURAIS criados pelo homem criado pelo homem com naturais sem intenção de atrair intenção de atrair eventos especiais visitantes visitantes Praias Catedrais Parques de diversão Festivais de arte Grutas Igrejas Parques temáticos Encontros esportivos Rios Casas históricas Museus Feiras Lagos Bosques Flora Fauna Etc Monumentos Jardins históricos Etc Centros de exibição Cassinos Centros de lazer Balneários Lugares para piquenique Manifestações folclóricas Eventos religiosos Aniversários históricos Etc Parque Safari Etc Adaptado de SWARBROOKE, 1995, p. 5. apud OMT, 2001, p.122. 6 RUSCHMANN, 2004, p. 142. 7 BARRETTO, 2002. Turismo Rural na Agricultura Familiar: Conceitos e Práticas 13

EQUIPAMENTOS TURÍSTICOS Incluem todos os estabelecimentos administrados pelo setor público ou privado que se dedicam a prestar serviços básicos para o turismo, como meios de hospedagem, meios de transporte, restaurantes e similares, locais de entretenimento, agências de viagens etc. Os equipamentos turísticos são os elementos do produto turístico que não geram normalmente os fluxos turísticos, mas sua ausência pode afastar os turistas de determinada atração. SERVIÇOS TURÍSTICOS A prestação de serviços turísticos de qualidade é essencial para assegurar a satisfação do turista e garantir que as empresas possam se destacar no mercado. Os serviços envolvem vários ramos do setor turístico, entre eles: hospedagem, alimentação, transporte, agenciamento turístico, informação turísticas, passeios, atividades de lazer e entretenimento, etc. Os serviços turísticos são entendidos como atividades econômicas que criam valor e fornecem benefícios para os turistas, criando condições para que as expectativas dos seus usuários sejam atendidas 8. SEGMENTAÇÃO DO TURISMO Os conceitos acima apresentados explicam os princípios e como se organiza o universo da economia do turismo de forma geral. Todavia o setor se estrutura de forma segmentada. Segundo o Ministério do Turismo, a segmentação é entendida como uma forma de organizar o turismo, visando o planejamento e gestão, bem como as ações de mercado. 8 BRASIL, 2009. 14 Capítulo 01 - Noções Básicas de Turismo

Os segmentos turísticos podem ser estabelecidos a partir de elementos de identidade da oferta e também das características e variáveis da demanda 9. Neste sentido, entende-se a segmentação como uma divisão do mercado em grupos de indivíduos com características, necessidades e modos de atuações semelhantes, segundo seu perfil financeiro, psicológico, entre outros. Oferta e demanda são dois termos muito usados no turismo. Você sabe o que significam? A oferta, por sua vez, relaciona-se a imensa variedade de produtos e serviços turísticos que estão disponíveis no mercado. Neste caso, podemos dizer então que é necessário estar atento as necessidades e desejos dos turistas, para ter uma oferta adequada. A Demanda diz respeito aos consumidores (pessoas) do produto turístico que se deslocam em busca de locais, produtos e serviços a serem consumidos. Veja algumas motivações que levam uma pessoa a praticar o turismo: - Fugir da rotina, do seu cotidiano, das suas paisagens diárias; - Oportunidade de explorar e de avaliar seu próprio modo de ser; - Diferentes formas de lazer; - Status; - Fazer compras; - Liberdade; - Fazer novas amizades; - Partilhar atividades e momentos de lazer com parentes e amigos; - Saúde; - Descanso; - Conhecer novos lugares, costumes, culturas; - Participar de eventos; - Praticar esportes; - Crença e fé; - Ampliar informações e conhecimentos; - Aventura, entre outros. O turista deseja viver um momento especial em sua vida! 9 BRASIL, 2009. Turismo Rural na Agricultura Familiar: Conceitos e Práticas 15

PRINCIPAIS SEGMENTOS TURÍSTICOS DE SANTA CATARINA Dentre o universo dos segmentos do turismo existentes em Santa Catarina, destaca-se: TURISMO DE SOL E PRAIA Foto: Fernando Vargas e Rosicler Rieger O turismo de sol e praia constitui-se das atividades turísticas relacionadas à recreação, entretenimento ou descanso em praias, em função da presença conjunta de água, sol e calor. TURISMO RELIGIOSO É aquele motivado pela fé ou necessidade de cultura religiosa, seja através de visitação a igrejas e santuários, seja por peregrinação, romaria ou congressos. TURISMO DE AVENTURA E ECOTURISMO Foto: Markito É o turismo desenvolvido em localidades com potencial ecológico, de forma conservacionista, procurando conciliar a atividade turística ao meio-ambiente, harmonizando as ações com a natureza, bem como oferecendo ao turista um contato íntimo com os recursos naturais e culturais da região. TURISMO RELIGIOSO Foto: Joy Cletson 16 16 Capítulo 01 - Noções Básicas de Turismo

TURISMO DE EVENTOS E NEGÓCIOS Compreende o conjunto de atividades turísticas decorrentes de encontros de interesse profissional, associativo, institucional, de caráter comercial, promocional, técnico, científico e social. TURISMO DE ESTUDOS E INTERCÂMBIO Constitui-se da movimentação turística gerada por atividades e programas de aprendizagem e vivências, para fins de qualificação, ampliação de conhecimento e de desenvolvimento pessoal e profissional. Também é conhecido como turismo pedagógico. Foto: Norberto Cidade - Blumenau TURISMO HISTÓRICO CULTURAL É aquele que se pratica para satisfazer o desejo de emoções artísticas e informação cultural, objetivando à visitação a monumentos históricos, obras de artes, relíquias, concertos, musicais, museus e pinacotecas. TURISMO DE SAÚDE Constitui-se das atividades turísticas decorrentes da utilização de meios e serviços para fins médicos, terapêuticos e estéticos. Foto: Markito TURISMO HISTÓRICO CULTURAL Foto: Epa Machado Turismo Rural na Agricultura Familiar: Conceitos e Práticas 17 17

TURISMO COMUNITÁRIO São as formas de turismo propostas e gerenciadas pela população local, as quais se integram de maneira harmoniosa em diversas dinâmicas coletivas do lugar de recepção, respeitando o meio ambiente natural e social das comunidades. TURISMO DE COMPRAS Foto: Luiz Carlos Lang O turismo de compras é realizado em locais cujos produtos são reconhecidos pelos melhores preços, qualidade ou que tenham características específicas. Seus visitantes permanecem de 1 a 2 dias e, de preferência, em lojas e shoppings. TURISMO DE EXPERIÊNCIA O Turismo de Experiência é uma tendência mundial. Propõe ao turista a oportunidade de vivenciar momentos em que ele assume o papel de protagonista. O visitante pode trabalhar junto com os agricultores, pode operar máquinas e equipamentos, pode assumir papéis reais e inserir-se efetivamente na realidade visitada. Por momentos ele pode ser agricultor, chef de cozinha, piloto de automóveis etc.10 Foto: Epa Machado 10 BRASIL, 2010. TURISMO DE COMPRAS Foto: Norberto Cidade 18 18 Capítulo 01 - Noções Básicas de Turismo

ENTÃO VAMOS LÁ... Converse com seus colegas sobre outras possibilidades de segmentos de turismo. Tente responder as seguintes perguntas: como caracterizar o segmento Turismo Rural? Existe diferença entre Turismo Rural e Turismo Rural na Agricultura Familiar (ou agroturismo)? Escreva abaixo uma definição para este(s) segmento (s). Turismo Rural Rural na Agricultura na Agricultura Familiar: Familiar: Conceitos Conceitos e Práticas e Práticas 19 19

CENÁRIO ATUAL DO TURISMO Dentre os fatores já citados anteriormente, a melhoria das condições econômicas nos diferentes países tem contribuído de forma expressiva para a expansão do turismo no Brasil e no mundo. A publicação Turismo no Brasil 2011 2014, lançada pelo Ministério do Turismo e apoiada no estudo Panorama do Turismo Internacional da Organização Mundial do Turismo, mostra que o mercado de viagens representa 30% das exportações mundiais de serviços e 6% das exportações mundiais totais. Como categoria de exportação, o turismo se situa em 4 lugar, depois apenas dos combustíveis, produtos químicos e automóveis 11. O estudo retrata ainda a evolução do fluxo internacional do turismo. Os dados apresentados mostram o deslocamento de turistas internacionais: 25 milhões em 1950; 277 milhões em 1980; 438 milhões em 1990; 682 milhões em 2000, tendo atingido a cifra de 920 milhões em 2008. Em 2009, a chegada de turistas internacionais reduziu-se a 880 milhões, 40 milhões a menos que 2008, resultado do desaquecimento da economia mundial, ocasionada pela crise financeira. A OMT estima que a entrada de turistas internacionais chegue a 1,6 bilhões em 2020 12. De acordo com os dados divulgados pelo Ministério do Turismo brasileiro, por meio do Relatório Mais Turismo, Mais Desenvolvimento - Indicadores 13, em 2012, o turismo brasileiro cresceu 6%, dois pontos percentuais acima da média mundial anual. A análise realizada por Piscopo et al (2015) constata a evolução do turismo no Brasil, ressaltando que o grande destaque do crescimento do setor é decorrente do consumo doméstico das famílias, impulsionado pelo crescimento da classe média brasileira e pelo aumento dos níveis de emprego no país. O turismo interno já responde por aproximadamente 85% da receita do setor no Brasil. Ainda segundo os autores, resultados da pesquisa realizada pela WTTC (World Travel & Tourism Council) 14 demonstraram que a participação direta do turismo na economia brasileira cresceu de 24,342 (em 2003) para 76,929 bilhões de dólares (em 2012). A Argentina continua liderando o ranking de países emissores de turistas para o Brasil. Em 2012, foi registrada a entrada de 1,67 milhão de visitantes argentinos em território brasileiro um crescimento de 4,9% em relação ao ano anterior. 11 FGV PROJETOS, 2010. 12 FGV PROJETOS, 2010,p.24 13 BRASIL, 2013. 14 BRASIL, 2013. 20 Capítulo 01 - Noções Básicas de Turismo

GESTÃO DO TURISMO O turismo é uma atividade econômica complexa por envolver no seu desenvolvimento um número significativo de atores sociais e entidades privadas e públicas. O sucesso de um programa público, projeto ou empreendimento privado tem uma forte relação com os arranjos e articulações entre os diversos atores da cadeia produtiva. Ou seja, é muito difícil ter sucesso sozinho!!! Para compreendermos melhor esta afirmação, destaca-se abaixo alguns grupos e atores sociais que formam o ambiente de negócios onde a atividade turística é realizada. ATORES DO TURISMO O SETOR PÚBLICO Pode-se enfatizar a importância das parcerias entre governos, setor público e privado e terceiro setor para a construção de modelos que garantam a sustentabilidade do turismo. Neste grupo de atores podemos mencionar: Os representantes do Poder Executivo no nível federal, estadual e municipal (Ministros, secretários, técnicos etc.) Os representantes do Poder Legislativo no nível federal, estadual e municipal; Empresas públicas de capacitação e assistência técnica; Os conselhos de turismo; Escolas e universidades públicas, Outros. Turismo Rural na Agricultura Familiar: Conceitos e Práticas 21

No Brasil, a partir de 2003, passou a vigorar o Plano Nacional de Turismo (PNT). Este instrumento revela o pensamento e orienta ações do governo, do setor produtivo e do terceiro setor para as questões voltadas ao turismo sustentável. Em consequência desta política todos os estados brasileiros e um grande número de municípios elaboraram seus Planos de Desenvolvimento Turístico. De maneira geral, pode-se afirmar que o setor público pode utiilizar diversos meios e estratégias para tornar-se um parceiro no desenvolvimento do setor turístico: Legislação e Regulamentação Financiamento e incentivos fiscais Planejamento do uso do solo Avaliações de impactos ambientais A definição de áreas de Proteção Ambiental Campanhas de educação e consicentização Capacitação e profissionalização, entre outras. Para que estas e outras questões possam gerar os resultados esperados é importante que ocorra uma efetiva articulação entre os organismos públicos envolvidos. A GESTÃO PÚBLICA DO TURISMO EM SANTA CATARINA conheça mais: www.sol.sc.gov.br/ A Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte (SOL) apresenta como sua missão institucional promover o desenvolvimento e a integração das atividades turísticas, culturais e esportivas, visando a melhoria da qualidade de vida da população catarinense. A construção desta missão pressupõe a superação de diversos desafios estratégicos: Desenvolver as áreas do turismo, cultura e esporte no Estado de forma legal, equilibrada e sustentável; Gerar novas oportunidades de trabalho e renda, promovendo a eqüidade entre as regiões do Estado; Intensificar as áreas do turismo, da cultura e do esporte catarinense, interagindo suas atividades o ano inteiro; Conheça mais: http://turismo.sc.gov.br Além disso, a SOL possui como órgão vinculado a Santa Catarina Turismo S/A Santur, responsável pela promoção e divulgação do turismo catarinense. 22 Capítulo 01 - Noções Básicas de Turismo

AGORA RESPONDA: Em relação a ação do Poder Público: Você conhece o Plano de Turismo do Município onde você pretende empreender? O que ele propõe para o Turismo Rural na Agricultura Familiar? Ele serve como instrumento de apoio a decisão para os gestores municipais? Como você avalia a participação do Poder Público no desenvolvimento do turismo em nossos municípios? Turismo Rural Rural na Agricultura na Agricultura Familiar: Familiar: Conceitos Conceitos e Práticas e Práticas 23 23

O SETOR PRIVADO Neste grupo podemos incluir as empresas responsáveis pela operação de todos os serviços e atrativos ligados diretamente aos interesses turísticos. Os principais envolvidos neste grupo de atores do turismo são: As operadoras e agências de viagens, livros-guias e revistas especializadas; As empresas de transportes em geral As prestadoras de serviços, empresas que oferecem lazer e diversão, hospitalidade e alimentação etc. Este grupo é responsável pela operacionalização da economia do turismo. Além disso, pode ser responsável pela criação das características e identidade da forma como o turismo é praticado em nosso país. Pode promover: A introdução de uma cultura ambiental e de qualidade de serviços dentro dos hotéis, agências e operadoras de turismo. Criação de Códigos de Condutas e estabelecimento de padrões de operação relacionados ao turismo Promoção do desenvolvimento local e melhoria da qualidade de vida do entorno. AS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS Um outro grupo de atores digno de ser mencionado é aquele relacionado á representação dos interessses e a defesa de objetivos coletivos ou comunitários. Este grupo participa ativamente da cadeia produtiva, sobretudo no desenvolvimento de ações de apoio, qualificação e proposição de estratégias e políticas para o setor. Podem ser classificadas em quatro grupos diferentes: 1) Grupos públicos de pressão: como Tourism Concern, do Reino Unido, ou a Ong WWF, as quais exercem pressão organizada sobre o governo e a indústria, em apoio ao conceito do turismo sustentável. 2) Entidades profissionais: como Associação Brasileira de Indústria de Hotéis, (ABIH), Associação Brasileira de Viagens (ABAV), que se interessaram nos aspectos relacionados à qualidade de serviços e produtos tuirísticos. 3) Grupos de mobilização: como a Campanha para Turismo Ambiental Responsável e o Conselho Mundial de Viagens e turismo. 4) Associações, sindicatos e cooperativas dos empreendimentos turísticos. 24 Capítulo 01 - Noções Básicas de Turismo

ENTÃO VAMOS LÁ... Em relação ao setor privado, não esqueça além das empresas que têm atuação direta no turismo, existem todas as outras empresas que podem contribuir ou atrapalhar os esforços dos empreendedores turísticos... Lembre-se dos bancos locais, farmácias, lojas, oficinas etc. que se não estiverem comprometidas com um bom atendimento e serviços de qualidade podem prejudiar a imagem de nossa cidade e com isso espantar os turistas. AGORA RESPONDA: O que podemos fazer para articular estes outros parceiros potenciais??? Turismo Rural Rural na Agricultura na Agricultura Familiar: Familiar: Conceitos Conceitos e Práticas e Práticas 25 25

ENTÃO VAMOS LÁ... Lembre-se é importante mostrar para nossos vizinhos que o sucesso do empreendimento de turismo poderá contribuir para o desenvolvimento local. AGORA RESPONDA: Quais são as entidades não governamentais que atuam em nossa região e que podem contribuir para o fortalecimento do turismo local? Que argumentos você utilizaria para convencê-los? Faça uma lista com estes argumentos 26 Capítulo Capítulo 01 - Noções 01 - Noções Básicas Básicas de Turismo de

A participação das entidades não governamentais no desenvolvimento do turismo é, sem sombra de dúvidas, necessária. As mesmas exercem pressão sobre todos os outros setores, fazendo que a sociedade de maneira geral, incluindo o setor público, desperte para a importância da atividade. A COMUNIDADE LOCAL Como todos os outros atores sociais, a comunidade local também tem papel fundamental no desenvolvimento do turismo, pois é ela a anfitriã dos turistas, é nela que acontecem os principais impactos positivos e negativos decorrentes da atividade turística. Ela deveria fazer parte das discussões sobre o planejamento do turismo rural na agricultura familiar.um bom empreendedor deve procurar agregar parcerias ao seu projeto, mostrando para seus vizinhos a importância de sua iniciativa. Esta realidade, no entanto, ainda é pouco expressiva em nosso país. Poucas comunidades participam ativamente com opiniões ou poder de decisão em relação as políticas elaboradas para o turismo local. O TURISTA Um outro ator social importante quando tratamos de turismo é, evidentemente, o TURISTA. Os Bons turistas respeitam as leis e os regulamentos locais, não menosprezam as crenças religiosas, costumes e comportamentos locais. Estes turistas contribuem para o crescimento da região que visitam, valorizando e comprando artigos regionais, promovendo com isso trabalho, renda e melhoria da qualidade de vida na comunidade local. Por ser tão importante o turista também deve ser respeitado. Eles não possuem apenas deveres, eles também possuem direitos que devem ser levados em consideração: Direito de não serem explorados, pagando mais caro em relação a outro consumidor. Direito de não serem discriminados em relação a sua raça, opção sexual ou deficiência. Direito a estarem em um ambiente seguro e receberem o que de fato haviam comprado. Você lembra qual é a definição de turista. Volte na nossa cartilha e releia esta definição... Turismo Rural na Agricultura Familiar: Conceitos e Práticas 27

REFLITA! Que outros direitos você acha que devem ser respeitados em relação ao turista que visita o vosso empreendimento? LEMBRE-SE Já citamos anteriormente os Planos Municipais de Turismo. Eles também são instrumentos importantes de gestão do turismo nos municípios. Procure conhece-lo e discutí-lo com seus parceiros. AGORA RESPONDA: Qual é a estrutura responsável pela gestão do turismo em seu município? Como você avalia a atuação desta estrutura? Que tipo de apoio ela pode oferecer ao turismo rural na agricultura familiar? 28 Capítulo Capítulo 01 - Noções 01 - Noções Básicas Básicas de Turismo de

TURISMO RURAL NA AGRICULTURA FAMILIAR 2.TURISMO RURAL Neste capítulo vamos tratar de turismo rural na agricultura familiar. Acreditamos que você irá identificar-se com o texto e será capaz de aprimorar as idéias que estão sendo construídas e, talvez, tomar decisões de empreender nesta área. Boa leitura!!! CAPÍTULO 02 Turismo Rural na Agricultura Familiar: Conceitos e Práticas 29

2.TURISMO RURAL CAPÍTULO 2. TURISMO RURAL NA AGRICULTURA FAMILIAR BREVE HISTÓRICO As primeiras iniciativas oficiais de turismo rural em Santa Catarina aconteceram no município de Lages 1, localizado no planalto catarinense, a partir de 1984. Neste período, algumas fazendas começaram a acolher visitantes para passar um dia no campo, constituindo, na sequência, os hotéis fazenda. Hotéis-Fazenda são hotéis basicamente de lazer, com muitas das características de resorts (centro de férias que oferece entretenimento e hospedaria) porém em escala menor e quase sempre com instalações mais modestas.* Há hotéis-fazenda que recuperam parte da infraestrutura de antigas fazendas, como por exemplo casarões da época do café em Minas Gerais. Cabe destacar que nem sempre as propriedades rurais/ fazendas são produtivas. Em alguns caso, isso aconteceu no passado e o turismo aparece como uma alternativa/ substituição da atividade original. * ANDRADE, Nelson. BRITO, Paulo Lúcio. JORGE, Wilson Edson. Hotel: Planejamento e projeto. São Paulo, REV 2005. p.82. No entanto, já em 1981, Lourdes Sartor lançava o livro Turismo rural: uma alternativa de produção, apresentando iniciativas, que se aproximavam do turismo rural nos Estados do Rio Grande do Sul e em propriedades de São Paulo, ambientadas em antigos cafezais. 1 RODRIGUES, 2003; ALMEIDA, 2003. 30 Capítulo 02 - Turismo Rural na Agricultura Familiar

É importante ressaltar que o desenvolvimento do turismo rural ocorre no Brasil, ao longo dos anos, tanto em propriedades da agricultura familiar, como em propriedades da agricultura patronal. No segundo caso, os principais exemplos estão ligados as fazendas de café do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Segundo a Lei no. 11.326/2006, é considerado agricultor familiar aquele que pratica atividades no meio rural, possui área menor a quatro módulos fiscais, mão de obra da própria família, renda familiar vinculada ao estabelecimento e quando o gerenciamento da propriedade rural é feito pela própria família. Também são considerados agricultores familiares: silvicultores, extrativistas, pescadores, aquicultores, indígenas, quilombolas e assentados. A agricultura patronal representa uma forma de organização produtiva marcada pela produção em alta escala, intensiva em capital, que emprega recursos tecnológicos avançados e com forte capacidade de competir nos mercados internacionais. Está bastante associada ao termo agronegócio. No Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, o turismo rural desenvolveu-se a partir do Vale do Paraíba Fluminense. Trata-se de uma região onde a lavoura do café, no período do Brasil Império, atingiu índices máximos de produção e valorização, para, em curto espaço de tempo, se transformar no maior produto de exportação do Brasil. Com esta monocultura, os proprietários acumularam fortunas o que proporcionou a construção de residências monumentais no espaço rural. No entanto, a decadência da era do café, iniciada em 1870, decorrente de fatores como o uso indiscriminado dos recursos naturais; do fim da escravatura; da baixa dos preços do produto no mercado internacional; do endividamento dos fazendeiros, dentre outros, levou à falência muitos dos barões do café 2. Com o decorrer dos anos as propriedades rurais passaram para outros donos (herdeiros ou terceiros), os quais deram diferentes usos as mesmas, sobretudo no desenvolvimento da bovinocultura leiteira. Muitas das mansões da era do café foram abandonadas e acabaram destruídas. 2 SILVEIRA, 2007. Turismo Rural na Agricultura Familiar: Conceitos e Práticas 31

Leia mais sobre antigas fazendas do café que se transformaram em hotéis fazenda em: http:// viajeaqui.abril.com.br/ materias/10-fazendas-decafe-que-se-tornaram-hoteisde-charme No entanto, em alguns casos, o patrimônio material (casas e objetos de decoração) foi preservado. Este foi, então, aliado ao patrimônio imaterial (especialmente as praticas ligadas à cultura do café) e incorporado como atrativo, agregando valor aos empreendimentos turísticos, possibilitando geração de renda aos proprietários e o compartilhamento da cultura tradicional ligada à era do café com os visitantes 3. No caso da agricultura familiar, o desenvolvimento de atividades de turismo rural resulta, geralmente, da necessidade dos agricultores e agricultoras em garantirem sua reprodução e sobrevivência. Este novo cenário está relacionado diretamente ao fenômeno da pluriatividade na agricultura familiar e do reconhecimento da multifuncionalidade do espaço rural 4.Neste sentido, o turismo passa a ser um forte aliado para manter as famílias no campo, configurando-se como uma possibilidade para melhorar os rendimentos de proprietários rurais e valorizar os modos de vida tradicionais, a ruralidade e o contato harmonioso com o ambiente natural. Entende-se como pluriatividade da agricultura familiar quando os componentes de uma unidade familiar de produção executam diversas atividades com a finalidade de obter uma remuneração pelas mesmas, que tanto podem se desenvolver no interior como no exterior da própria exploração, através da venda da força de trabalho familiar, da prestação de serviços para outros agricultores ou de iniciativas centradas na própria exploração (industrialização em nível da propriedade, turismo rural na agricultura familiar, artesanato e diversificação produtiva), que conjuntamente impliquem no aproveitamento de todas as potencialidades existentes na propriedade e/ ou em seu entorno. Fonte: ANJOS (2003) A noção de multifuncionalidade aponta para a diversificação econômica dos territórios rurais e potencializa a valorização dos seus recursos materiais e imateriais. Ou seja, rompe com o enfoque setorial e amplia o campo das funções sociais atribuídas à agricultura familiar que deixa de ser entendida apenas como produtora de bens agrícolas. Ela se torna responsável pela conservação dos recursos naturais (água, solos, biodiversidade e outros), do patrimônio natural (paisagens), pela qualidade dos alimentos, dentre outros. Fonte: CARNEIRO; MALUF (2003, p. 19). 3 SILVEIRA, 2007. 4 MARAFON, 2006. 32 Capítulo 02 - Turismo Rural na Agricultura Familiar

LEMBRE-SE... Os agricultores buscam no turismo uma complementação da renda ou, muitas vezes, mudam a atividade original (o que não significa, necessariamente, abandonar a agricultura), configurando um novo uso do território, baseado no patrimônio histórico, cultural, arquitetônico, gastronômico etc. AGORA RESPONDA: Você compreendeu os conceitos de pluriatividade e de multifuncionalidade? Converse com seus colegas e escreva exemplos para cada um dos conceitos. Eles são importantes para compreendermos o potencial do turismo no meio rural e na agricultura familiar. Turismo Rural Rural na Agricultura na Agricultura Familiar: Familiar: Conceitos Conceitos e Práticas e Práticas 33 33

TURISMO RURAL NA AGRICULTURA FAMILIAR: CONCEITO Inicialmente, é importante reforçar que o turismo, de maneira geral, assume diferentes características em função da realidade onde o mesmo está inserido. Deste modo não se pode falar de um turismo rural, mas sim em um conjunto de práticas turísticas no espaço rural. Dentre estas práticas podemos destacar o TRAF - Turismo Rural na Agricultura Familiar. O município de Lages recebeu o título de Capital Nacional do Turismo Rural, dado seu protagonismo, desde 1984, com a atividade de turismo inicianda na Fazenda Pedras Brancas. Para conhecer mais visite: http://fazendapedrasbrancas.com.br/a_fazenda.html Atividade turística que ocorre na unidade de produção dos agricultores familiares, os quais mantêm as atividades econômicas típicas da agricultura familiar e estão dispostos a valorizar, respeitar e compartilhar seu modo de vida, o patrimônio cultural e natural, ofertando produtos e serviços de qualidade e proporcionando bem estar aos envolvidos 5. O conceito TRAF passou a ser utilizado no Brasil em 2002, a partir da articulação nacional de um conjunto de atores - governamentais e representantes de movimentos sociais do campo, que formaram a Rede TRAF. O objetivo deste grupo foi a elaboração de um conjunto de reivindicações e ações para a expansão e fortalecimento da atividade. No Estado de Santa Catarina, dado o histórico dos hotéis fazenda localizados inicialmente no Planalto Catarinense e associados a expressão turismo rural, é comum, especialmente por parte dos turistas, a confusão entre as duas modalidades - turismo rural e TRAF. Neste sentido, é importante um processo de divulgação para valorização dos conceitos e valores contidos em cada uma das ofertas turísticas no espaço rural. Não esqueça!!! O turismo rural na agricultura familiar (TRAF) é uma modalidade de turismo praticada no meio rural. Sua principal característica é a presença dos agricultores familiares no contato direto com os turistas e a agricultura familiar como principal atrativo para os turistas. TURISMO RURAL NA AGRICULTURA FAMILIAR Foto: Delos Associados 5 BRASIL, 2005. 34 34

IMPACTOS DO TURISMO RURAL NA AGRICULTURA FAMILIAR Como toda atividade, o TRAF - Turismo Rural na Agricultura Familiar gera impactos positivos ou negativos aos agricultores envolvidos e nas comunidades/municípios em que é desenvolvido. O Estudo do potencial do agroturismo em Santa Catarina, realizado em 2002 pelo ICEPA, apontou como impactos positivos gerados pela atividade e que afetam diretamente os agricultores envolvidos: A melhoria do nível de renda das famílias; A valorização das pessoas da família; A abertura de novos horizontes/possibilidades; A maior união da família e ambiente mais alegre em casa; A troca de experiências com os visitantes; A melhoria na posição social perante a comunidade; A ocupação da mão-de-obra ociosa; A substituição do trabalho árduo da lavoura. Por outro lado, como impactos que afetam negativamente os agricultores envolvidos, foram apontados: A sobrecarga de trabalho, especialmente nos finais de semana e em datas festivas; A falta de tempo para visitar parentes e vizinhos; A inveja por parte de membros da mesma comunidade; A falta de apoio do poder local; Os custos elevados de manutenção da atividade; A interrupção na rotina da produção 6. Este mesmo estudo identificou com principais desafios a serem superados pelos agricultores que querem entrar na atividade: a dificuldade de obter recursos financeiros para fazer os investimentos necessários e para disponibilizar novos serviços; a falta de apoio de órgãos públicos e privados para divulgar a atividade; problemas relacionados à deficiência de infraestrutura (estradas, sinalização, energia elétrica etc); a sazonalidade; dentre outros 7. Portanto, o turismo rural na agricultura familiar deve manter o princípio da interação entre meio ambiente, comunidade local e turista, de forma harmônica e sustentável, garantindo a integridade do binômio homem-natureza. 6 TOREZAN et al., 2002. 7 TOREZAN et al., 2002. 35

ENTÃO VAMOS LÁ... Você percebeu que a atividade turística traz compensações para você e a família, mas também implica em novos desafios a serem superados. Troque idéias com seus colegas e tente identificar quais os impactos positivos e negativos que você mais valoriza. impactos positivos sobre a família impactos negativos sobre a família EXPLIQUE PORQUE? 36 Capítulo 02 Capítulo - Turismo 02 - Rural Turismo na Rural Agricultura na Agricultura Familiar

ENTÃO VAMOS LÁ... Como já mencionado anteriormente, o TRAF é uma atividade que pode transformar de forma expressiva a realidade das comunidades rurais. Abaixo, apresentamos algumas alterações que devem ser consideradas quando iniciamos estas atividades 8 : impactos positivos sobre a comunidade impactos negativos sobre a comunidade Possibilidade de diversificação da renda no meio rural Criação de novos postos de trabalho e empregos Estimulo a preservação e valorização do patrimônio natural Valorização do patrimônio cultural, estimulando a preservação da cultura local por meio de seu resgate e valorização Melhoria na infraestrutura básica local, o que consequentemente, colabora com a qualidade de vida; Criação de novos polos turísticos, pois o turismo rural contribui para a descentralização do fluxo turístico nos destinos já consagrados Contribuição para a formação educacional do homem do campo, por meio da capacitação para o trabalho Desenvolvimento do espírito de participação e parceria na comunidade rural Interação social e cultural dos moradores das grandes cidades com os agricultores e vice-versa Aumento do preço da terra agrícola Controle da atividade por intermediários, diminuindo o retorno financeiro para o proprietário Abandono das atividades agropecuárias Importação de produtos de fora da comunidade. Degração ds recursos naturais, históricos e culturais do meio rural Aparecimento de reações de desconfiança ou até rejeição aos visitantes por parte da comunidade local Carência de pessoal especializado no meio rural Alterações negativas na rotina do dia a dia das comunidades Ocupação dos melhores empregos por pessoas externas à comunidade 8 Disponível em: http://www.portaleducacao.com.br/educacao/artigos/29322/impactospositivos-e-negativos-do-turismo-rural#!1. Acesso em: 10 de agosto de 2015. Analise o quadro e destaque os impactos que você julga mais prováveis de serem identificados na sua comunidade. Comente as razões de vossa escolha. Turismo Rural Rural na Agricultura na Agricultura Familiar: Familiar: Conceitos Conceitos e Práticas e Práticas 37 37

BOAS PRÁTICAS DE TURISMO RURAL NA AGRICULTURA FAMILIAR Vamos aproveitar para conhecer algumas inciativas de turismo rural. Nelas você vai perceber a importância do pioneirismo, da inovação, a integração das atividades agropecuárias e turísticas e do associativismo. Existem muitas experiências, seja no Estado de Santa Catarinareferência nacional em TRAF segundo o Ministério do Turismo-, ou em outros estados da federação, que apresentam elementos distintos que merecem análise por parte dos agricultores, técnicos, gestores e outros atores interessados em fomentar a atividade em suas propriedades e/ou localidades. Você sabia que Santa Catarina é reconhecida pelo Ministério do Turismo como uma referência nacional em turismo rural na agricultura familiar??? Na análise das experiências que serão apresentadas verificamos que, muitas vezes, os segmentos turísticos se complementam na composição da oferta, ou seja, um estabelecimento de turismo rural pode agregar, por exemplo, atividades de ecoturismo, turismo de saúde ou outros segmentos. Destaque-se também que existem experiências isoladas, ou seja, agricultores que empreenderam sozinhos em suas comunidades/ municípios e outros que constituíram ou se integraram em projetos coletivos. Nesta cartilha optou-se em apresentar experiências coletivas. No que diz respeito as experiências internacionais, será abordado o caso da França, um dos países pioneiros na atividade em termos mundiais e que apresenta cooperação com iniciativas catarinenses. EXEMPLOS NO ESTADO DE SANTA CATARINA Nesta cartilha vamos destacar alguns casos que julgamos ilustrativos da realidade do TRAF em Santa Catarina, no Brasil e no mundo. Vamos começar mostrando o caso da Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia. Em seguida vamos conhecer duas experiências de TRAF no município de Joinville/SC, o projeto Estrada Bonita, iniciativa mais antiga da em Santa Catarina, e o Projeto Viva Ciranda. Complementando você irá conhecer o Caminho da Roça, roteiro turístico organizado em Concórdia/SC. 38 Capítulo 02 - Turismo Rural na Agricultura Familiar

A ASSOCIAÇÃO DE AGROTURISMO ACOLHIDA NA COLÔNIA A Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia, vinculada a Rede Francesa Accueil Paysan, foi fundada em Santa Catarina no ano de 1999, tendo como área inicial de abrangência os municípios das Encostas da Serra Geral, a saber: Santa Rosa de Lima (sede), Anitápolis, Rancho Queimado, Rio Fortuna e Gravatal. A motivação para o desenvolvimento do projeto deu-se devido a busca de alternativas - econômicas e sociais, por parte de agricultores familiares locais que viviam um período de agravamento das condições de sobrevivência no campo. Já havia, à época, um processo de fomento a produção de alimentos orgânicos e o processamento mínimo destes para a entrega em supermercados da região, como alternativa ao cenário decadente da cultura do fumo, então hegemônica no município. Esta atividade, ainda pioneira no estado, passou a atrair visitantes - geralmente técnicos e agricultores, interessados em conhecer esta forma de produção de alimentos. Como nos município não haviam restaurantes e hotéis, vislumbrou-se mais uma oportunidade para os agricultores - o agroturismo. Você Sabia que o agroturismo é utilizado como sinônimo de turismo rural na agricultura familiar? No entanto, há uma diferença importante entre as duas atividades... o agroturismo pressupõe organização entre agricultores, ou seja, trabalho em grupos associativos A avaliação feita à época pelos técnicos que acompanhavam estes agricultores é que havia oportunidades para o desenvolvimento turístico - necessidade da oferta de serviços de hospedagem e alimentação no meio rural; belezas naturais e paisagísticas; riqueza e diversidade cultural, além da expansão da demanda turística, por parte de habitantes urbanos, dentre outras. Por outro lado, vários desafios se colocavam, especialmente: infraestrutura precária - das propriedades e dos municípios (leia-se, em termos de infraestrutura municipal, a péssima condição das estradas, a falta total de sinalização, a ausência de comunicação - telefone e internet no meio rural, a energia elétrica monofásica, etc), empobrecimento dos agricultores e descrédito da agricultura, baixa autoestima dos agricultores, avanço da degradação da natureza (uso indiscriminado de venenos, corte da mata nativa e implantação de reflorestamentos de pinus e eucalipto, implantação de PCH - Pequenas Centrais Hidrelétricas e destruição dos rios da região), dentre tantos outros. Turismo Rural na Agricultura Familiar: Conceitos e Práticas 39

Os agricultores das Encostas da Serra Geral resolveram aproveitar as potencialidades e tentar superar os desafios. Iniciaram, a partir de 1998, a implantação do Agroturismo no território. Desenvolveram com o apoio técnico e também em cooperação com à França, uma metodologia de trabalho composta das seguintes etapas: 1) Definição da área de atuação, diagnóstico das características locais e estabelecimento de parcerias com o Poder Público local; 2) Um termo de cooperação deve ser assinado entre entidades interessadas em cooperar com o projeto e um multiplicador municipal deve ser designado para o acompanhamento e desenvolvimento das ações para implementação do agroturismo em cada município. 3) Realização de ações de sensibilização: é necessário identificar e sensibilizar agricultores para a proposta agroturística. Ao final do processo, dos participante da etapa, aqueles que realmente se interessam pelo agroturismo devem constituir o GAM - Grupo de Agroturismo Municipal. Multiplicador municipal é, no âmbito da metodologia da Acolhida na Colônia, um técnico ligado a uma das entidades parceiras do município em que o agroturismo irá se desenvolver e designado para atuar no projeto. Este técnico é capacitado para aplicar as etapas da metodologia da Acolhida na Colônia, com vistas a constituição de um circuito (ou roteiro) agroturístico e certificação das propriedades rurais integrantes. ACOLHIDA DA COLÔNIA Foto: Delos Associados 40 Capítulo 02 - Turismo Rural na Agricultura Familiar

4) Realização do DRP - Diagnóstico Rápido Participativo das propriedades rurais: 5) Implantação dos negócios de agroturismo: a orientação para a implantação dos negócios e da evolução, ou seja, a família não deve se endividar para montar o seu negócio, vez que o retorno ao investimento no turismo é lento. Para realização dos investimentos os agricultores podem optar em utilizar os recursos próprios, acessar o Fundo Generosidade (fundo de financiamento próprio da Acolhida na Colônia) ou apresentar um projeto ao Pronaf - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar. Você já conhece o Pronaf? O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) financia projetos individuais ou coletivos, que geram renda aos agricultores familiares. O acesso ao Pronaf começa com a decisão da família em adquirir o crédito, seja para o custeio da safra ou atividade agroindustrial, seja para o investimento em máquinas, equipamentos ou infraestrutura de produção e serviços agropecuários ou não agropecuários, como no caso do turismo. O primeiro passo é procurar o sindicato rural ou a empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), que em Santa Catarina é a Epagri, para obter a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP). Em seguida, o/a agricultor/a deve procurar um agente financeiro que atua com o Pronaf para apresentar sua intenção de obter o financiamento. O/a agricultor/a também pode solicitar a visita de um técnico de Ater para elaborar um Projeto Técnico de Financiamento. Este projeto será encaminhado para análise de crédito e aprovação do agente financeiro. Para conhecer mais visite: http://www.mda.gov.br 6) Implementação de um programa de capacitações em temas variados (atendimento ao turista; organização da propriedade rural; culinária; jardinagem e paisagismo; etc), visando preparar os agricultores para o acolhimento de visitantes. Turismo Rural na Agricultura Familiar: Conceitos e Práticas 41

7) Associativismo e certificação das propriedades: o GAM, grupo informal, deve se organizar em associação legalmente constituída (Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia). A Acolhida na Colônia possui um instrumento chamado caderno de normas, onde estão estabelecidos os critérios e regras para cada tipo de serviço oferecido. 8) Promoção e comercialização: após ganharem o direito de uso da marca, as propriedades associadas precisam implementar a sinalização de suas propriedades, conforme o manual da associação. Na sequência são incluídas no website, facebook, material impresso e central de reservas (escritório) e passam a ser comercializadas pela associação. conheça mais: www.acolhida.com.br Como resultado do processo de desenvolvimento do agroturismo, inicialmente nas Encostas da Serra Geral, atualmente a Acolhida está presente em 25 municípios catarinenses e possui 130 propriedades rurais em operação. Os agricultores desenvolvem atividades de hospedagem, alimentação, venda de produtos, atividades de lazer, educacionais, dentre outros. A Acolhida na Colônia foi escolhida pelo Ministério do Turismo em 2007 como destino referência no segmento rural para o país. Em 2015 iniciou a sua expansão para fora de Santa Catarina, certificando 10 propriedades rurais do município carioca de Casimiro de Abreu/RJ. Cabe aqui destacar os princípios que orientam a Acolhida na Colônia: 1. O agroturismo é parte integrante das atividades do estabelecimento rural e se constitui num fator de desenvolvimento local; 2. Os agricultores desejam compartilhar com os turistas o ambiente onde vivem, sendo que a recepção e convívio dos mesmos deve ocorrer num clima de troca de experiência e respeito mútuo; 3. O agroturismo deve praticar preços acessíveis; 4. Os serviços agroturísticos são planejados e organizados pelos agricultores familiares, que garantem a qualidade dos produtos e serviços que oferecem. 42 Capítulo 02 - Turismo Rural na Agricultura Familiar

O PROJETO ESTRADA BONITA Distante 23 km do centro da cidade de Joinville / SC maior cidade do estado e situado as margens da BR 101, o projeto Estrada Bonita teve início em 1993 9. Trata-se de uma região de bela paisagem, onde o verde, os riachos e cachoeiras de águas cristalinas são abundantes. Nesta comunidade rural moram agricultores, em sua maioria descendentes de imigrantes alemães, que tradicionalmente dedicaram-se ao cultivo da cana-de-açúcar e a fabricação do melado, açúcar mascavo, dentre outros derivados. Tais atributos, aliados a cortesia no atendimento e a bela paisagem, fizeram com que as pessoas que por aí viajavam buscassem as propriedades rurais para adquirir os produtos dos agricultores. A partir da análise do fluxo e da demanda a Fundação 25 de Julho, entidade vinculada a Prefeitura Municipal de Joinville, em parceria com a Secretaria de Turismo do município, iniciou um programa com vistas a organizar a cadeia produtiva do turismo na comunidade de Rio Bonito, atual Estrada Bonita. Foto: Marquito conheça mais: www.estradabonita.com.br Cadeia produtiva do turismo pode ser entendida como cadeia produtiva o sistema constituído por atores e atividades interelacionadas em uma sucessão de operações de produção, transformação, comercialização e consumo em um entorno determinado. Fonte: LACAY et al, 2010, p. 3. Existem 13 propriedades que integravam o projeto, sendo 7 de agricultores 10. A proximidade de grandes centros urbanos, especialmente Joinville e Curitiba, impulsionou a especulação imobiliária, possibilitando que empreendedores urbanos implantassem negócios naquela localidade, a exemplo de alguns equipamentos de hospedagem e alimentação lá instalados. Os agricultores inseridos no conceito do turismo rural na agricultura familiar, oferecem aos visitantes a possibilidade de adquirir o melado, açúcar, biscoitos, geléias, cachaça, mudas de flores, pescaria; visitas pedagógicas, dentre outros produtos e serviços. 9 BERTOLDI, 2000. 10 GUZZATTI, 2010. Turismo Rural na Agricultura Familiar: Conceitos e Práticas 43

O PROJETO VIVA CIRANDA 11 O Projeto Viva Ciranda foi iniciado em 2009, a partir da iniciativa do Poder Público municipal de Joinville focado no sentido de (re)dinamizar o turismo no espaço rural que passava por um período de abandono e de descrédito, sobretudo por parte dos agricultores envolvidos historicamente em atividades turísticas. Após as discussões iniciais, dentre as diferentes oportunidades e soluções elencadas, a que pareceu mais oportuna foi a iniciativa do turismo pedagógico, visto que não necessitaria de grandes investimentos nas propriedades rurais e, principalmente, pela facilidade de operacionalização e mercado potencial em Joinville e região. O cenário para o desenvolvimento da atividade era favorável, sendo Joinville a maior cidade do estado de Santa Catarina, com 515.250 habitantes em 2010 12. A distância média das propriedades integrantes do projeto de turismo rural com o centro da cidade era de 15 km, ou seja, facilmente as escolas poderiam levar seus alunos para aulas no meio rural. Além disso, com relação ao número de alunos, Joinville possuía um total de 129.876 alunos em 2009. 11 GUZZATTI et al, 2014. 12 IBGE, 2010. PROJETO VIVA CIRANDA Folder de divulgação. PMJ. 44

Destaca-se as ações e estratégias priorizadas na estruturação do projeto: a) seleção de propriedades rurais: motivar proprietários de diferentes localidades do município que trabalhassem com atividades agrícolas e pecuárias diversas, possibilitando a estruturação de roteiros diversificados; b) Organização das atividades pedagógicas nas propriedades rurais, resultando na criação de um roteiro pedagógico das propriedades rurais cujo conteúdo orienta para cada etapa da vivência - momento inicial de apresentação, o desenvolvimento das atividades lúdicas e pedagógicas definidas para a propriedade e uma atividade final de revisão de conteúdos vivenciados. c) Ações de criação de uma identidade visual do projeto e um intenso trabalho de divulgação junto à mídia e escolas da região. Além disso, um material de promoção do projeto, composto por DVD, folder e website foi produzido para auxiliar os agricultores na comercialização dos serviços turísticos. Você sabe o que é um roteiro turístico? Pense sobre o assunto... Logo ele será abordado nesta cartilha. O projeto Viva Ciranda envolvia, em 2014, 13 propriedades distribuídas em 5 regiões rurais. Além do pagamento de uma taxa de visita (duração média de três horas), as escolas divulgam os produtos a disposição para venda nas propriedades rurais (mel, melado, ovos, legumes, bolachas, etc.). A receita financeira auferida com a venda direta de produtos é, frequentemente, maior que aquela proveniente da taxa de visitação. PROJETO VIVA CIRANDA Folder de divulgação. PMJ. 45 45

CAMINHO DA ROÇA CONCÓRDIA/SC 13 No ano de 2002 por iniciativa do Departamento de Turismo da Prefeitura Municipal de Concórdia um grupo de agricultores familiares visitaram a Acolhida na Colônia, projeto exitoso de agroturismo em Santa Rosa de Lima em SC. Após a visita, com o interesse de alguns agricultores familiares em trabalhar um roteiro de agroturismo o assunto foi levado ao Conselho Municipal Municipal de Turismo que obteve a aprovação para que fosse implantado. Na época foi feita uma parceria com o curso técnico em turismo com ênfase em agroturismo do Senac Concórdia. Após meses de trabalho e várias reuniões com a comunidade, os alunos apresentaram o diagnóstico realizado e o nome sugerido para o roteiro foi Caminho da Roça. Com a provação unânime dos membros presentes,no dia 17 de julho de 2002, numa reunião ocorrida na comunidade de Lageado dos Pintos, fui fundada oficialmente a Associação de Agroturismo Caminhos da Roça. Após um período de capacitação e preparação das propriedades o Roteiro foi lançado oficialmente no ano de 2005. Nestes 10 anos de atividade o Caminho da Roça recebeu milhares de turistas. Foram centenas de excursões, tanto de turismo de lazer com missões técnicas e cientificas. Atualmente o Caminho da Roça é um roteiro de agroturismo referência no Oeste de Santa Catarina com produtos diversificados, um leque de opções, excelente gastronomia, e agricultores familiares preparados para receber desde grupos familiares que se deslocam de automóvel como grupos de turismo de lazer e missões técnicas. CAMINHO DA ROÇA www.caminhodaroca.tur.br 46

EXEMPLO NACIONAL - RIO GRANDE DO SUL O CASO DO PROJETO CAMINHOS DE PEDRA O projeto Caminhos de Pedra está localizado no distrito de São Pedro, 20 Km de município de Bento Gonçalves/RS. Esta localidade abrigava, aproximadamente, 600 famílias em 2002, distribuídas em 7 comunidades 14. A região foi colonizada por imigrantes italianos que preservaram suas características originais devido, especialmente, a falta de recursos financeiros para a modernização 15. Esta foi a razão principal para às casas de pedra do final do século 19 não terem sido substituídas por construções de concreto. Neste contexto, a cultura local, o excelente patrimônio arquitetônico, as tradições, o meio ambiente, dentre outros fatores, conferiram um grande potencial turístico para a região 16. É neste contexto que o roteiro Caminho de Pedras surge em 1993, devido a iniciativa do proprietário do hotel Dall Onder, situado na cidade de Bento Gonçalves, Sr. Tarcísio Michellon. Este hoteleiro precisava oferecer novos atrativos aos hóspedes, buscando, desta forma, aumentar o tempo de permanência dos turistas em seu estabelecimento 17. Tempo de permanência é uma noção bastante importante no turismo. Está relacionada a duração da estadia do visitante em determinado destino turístico. Em geral, quanto maior a permanência do visitante no destino, melhor para o desenvolvimento da atividade turística. Por exemplo, quando pensamos num hotel... Se o visitante fica duas noites, o hotel terá menos gastos para preparação do quarto para um novo hóspede, além de ter que investir menos recursos para captar novo visitante. Quando o tempo de permanência começa a cair é um indicativo de que o destino está em decadência, afetado, quem sabe, por outros destinos mais atrativos nas proximidades. A comunidade de São Pedro possuía uma grande beleza arquitetônica (destaque para as casas de pedra), grande sequência de propriedades com atrativos (rodas d água, ferrarias, etc), proximidade da cidade e abundância de água. Após um trabalho de planejamento e envolvimento da comunidade, o projeto Caminho de Pedras foi organizado como um circuito, onde 23 propriedades estão abertas a visitação. Encontram-se cantinas de vinho, uma fábrica de massas, um tear, uma ferraria, dentre outros atrativos 18. 14 LOURENÇO, 2002. 15 SILVA, 2000. 16 LOURENÇO, 2002. 17 LOURENÇO, 2002. 18 SILVA, 2000. Turismo Rural na Agricultura Familiar: Conceitos e Práticas

EXEMPLO NACIONAL - CEARÁ CASO: A PRAINHA DO CANTO VERDE Você já percebeu que existem muitos exemplos de turismo rural na agricultura familiar espalhados pelo Brasil. Uma iniciativa muito interessante e reconhecida nacional e internacionalmente é a Prainha do Canto Verde. Esta comunidade localiza-se no litoral leste do Estado do Ceará, no menor distrito do município de Beberibe, um lugar pouco habitado e conhecido como Paripueira que fica a 126 km de Fortaleza. O texto abaixo, escrito pelas pesquisadoras Mendes e Coriolano, conta-nos um pouco da história da Prainha:... As mulheres são rendeiras e os homens, pescadores, especializados na pesca da lagosta e agricultores. Esta comunidade possui um estilo de vida original, por viver próximo ao mar e a natureza. Nas últimas décadas o lugar passou a atrair visitantes, sobretudo aqueles que desejam conhecer a luta do homem do mar, uma comunidade consciente que luta para preservar sua cultura litorânea. Canto Verde em um primeiro momento reagiu contra o turismo, considerando-o predador, depois de estudos e reflexões começou esboçar um modelo de turismo próprio e mais adequado para o lugar, um turismo participativo. Canto Verde é uma colônia de pescadores. Ali, residem poucas famílias, muitas delas interligadas, pois os casamentos são entre essas poucas famílias. De acordo com informações dos moradores a vila é constituída por 1.200 habitantes, cerca de 196 famílias espalhados em 185 casas de alvenaria, taipa ou palha espalhadas nesse território que foram construídas ao longo do tempo. A vila é bastante original, não há interferência de planejadores externos, os próprios moradores pensaram o lugar, sem zoneamentos e sem ruas. As casas simplesmente se espalham pelo lugar, à vontade de cada um. Nos últimos anos, após a organização da comunidade em associação, vem procurando fazer um planejamento urbano, ou um traçado para as futuras ruas. Casas simples e rústicas, típicas de pescadores. Algumas mais modernas possuem varanda de entrada e seus terrenos são mais extensos. O lugar é uma mistura de natureza e cultura nativa, ou seja, predomina o espaço natural modificado pelas poucas ações do homem. Assim a luz elétrica compete com o luar. A iluminação pública está na área principal e na maioria das casas, conseguida em 1998, através do Projeto São José, resultado de reivindicações mobilizadas pela Associação Comunitária. Contudo, a iluminação natural, predomina e ainda é possível contemplar a luz do luar, curtir os ambientes românticos da paisagem de uma praia com mar aberto, calmo e ambiente agradável. As principais manifestações culturais da comunidade são representadas pelos costumes, crenças, artes, festas e o próprio modo de viver. A regata ecológica realizada no último final de semana do mês de novembro é uma das principais festas. Esse evento tem por objetivo conscientizar a população sobre a problemática ambiental. Essa comunidade recebeu o Prêmio To Do 1999, na Feira de Turismo de Berlim, Alemanha em março de 2002, o projeto de turismo foi considerado socialmente responsável, e também, o prêmio TOURA D OR 2000 por melhor filme documentário sobre turismo comunitário. Desse modo, passou a ser procurada por intelectuais para estudos e para o turismo cultural, além de tornar-se palco de vários eventos. Conheça mais: www.propgpq.uece.br/semana_universitaria/anais/.../sociais_36.doc 48 Capítulo 02 - Turismo Rural na Agricultura Familiar

OUTROS PROJETOS DE TRAF NO BRASIL Além destes projetos apresentados podemos indicar uma série de outros, onde você poderá encontrar informações e idéias que poderão inspirá-lo. Pege seu computador e faça uma viagem a cada um deles. Boa viagem!!! iniciativa Estado endereço web Circuito Sabiá PR www.circuitosabia.com.br INICIATIVAS DE TURISMO RURAL NA AGRICULTURA FAMILIAR - TRAF EXISTENTES NO BRASIL Estrada do Sabor/ Garibaldi RS www.garibaldi.rs.gov.br Circuito de Cananéia SP www.cananeiatur.com/roteiros.htm Agrotur/Venda Nova do Imigrante ES www.agroturismovendanova.com.br Circuito das Frutas SP www.circuitodasfrutas.com.br O CASO FRANCÊS: TURISMO SOBRE UMA BASE ASSOCIATIVA A França é o primeiro país do mundo pelo número de turistas estrangeiros acolhidos, recebendo cerca de 83 milhões de visitantes em 2014. Estima-se que o turismo contribua 7,3% para o PIB do país e que gere cerca de 2 milhões de postos de trabalhos diretos e indiretos 19. O turismo francês constitui-se como oportunidade de desenvolvimento econômico para muitas regiões rurais onde a agricultura enfraquecida tende a desaparecer e onde os centros urbanos se esvaziam das suas indústrias tradicionais. É o meio de manter no campo uma população que pode encontrar no local um complemento da renda, mas também os serviços públicos essenciais. É, enfim, uma atividade que pode exercer um papel importante na proteção da natureza 20. 19 Disponível em: http://www.brasil.rfi.fr/franca/20140622-primeiro-destino-turisticomundial-franca-quer-atrair-100-milhoes-de-visitantes. Acessado em: 10 de agosto de 2015. 20 LAURENT et al, 1998, p. 127. Turismo Rural na Agricultura Familiar: Conceitos e Práticas 49

O desenvolvimento de atividades de turismo no espaço rural na França inicia de forma organizada na década de 1950, em meio ao ritmo de crescimento das grandes metrópoles. Neste sentido, problemas econômicos, políticos e sociais que afligem os habitantes das cidades os levam a procurar referências em uma sociedade que eles acreditam estar livre da crise. A evolução dos valores sociais e a difusão de modelos individualistas quebram os fundamentos do turismo de massa para a realização de um turismo de descoberta e de qualidade. O meio rural francês atrai por sua extensão, pela variedade das paisagens, pela riqueza de seu patrimônio, pela diversidade de seu território, pela vivacidade das tradições, pela qualidade dos sistemas de circulação e comunicação, pela valorização da natureza e da cultura, pela importância da sua história, pela hospitalidade de seus habitantes. De certa maneira, isto é uma justificativa para o desenvolvimento e o sucesso do turismo no espaço rural na França 21. A ORGANIZAÇÃO DAS ATIVIDADES ATRAVÉS DE ASSOCIAÇÕES Na França, a partir do momento que obrigações legais e administrativas são respeitadas, qualquer pessoa pode se lançar numa atividade de turismo rural e dar a ela o nome que desejar. No entanto, esta independência encontra algumas limitações, sendo que a principal é, geralmente, de cunho financeiro. Não se têm recursos (especialmente subsídios) para realização de melhorias necessárias na propriedade rural para o desenvolvimento da atividade, para a divulgação (nacional e internacional) e a comercialização 22. 21 MOINET,1996. 22 MOINET,1996. GÎTES DE FRANCE (Pousadas da França) www.caminhodaroca.tur.br BIENVENUE À LA FERME (Bem-vindo a fazenda) www.bienvenue-a-la-ferme.com ACCUEIL PAYSAN (Acolhida na Colônia) www.accueil-paysan.com/en 50 Capítulo 02 - Turismo Rural na Agricultura Familiar 50

Geralmente por estes motivos os agricultores se organizam numa associação. Buscam desfrutar dos benefícios oferecidos por ela, bem como receber o logotipo que o caracterizará frente aos visitantes. Para isso é necessário o comprometimento com regras estabelecidas pela associação e que são a garantia da qualidade de seus produtos e serviços. Estas regras tranquilizam os consumidores e os estimulam a comprar os produtos e desfrutar dos serviços da marca coletiva. As associações realizam vistorias periódicas para preservar e garantir o valor de sua marca. Elas garantem apenas os aspectos técnicos. A recepção, a cortesia, a gentileza e a convivência são fatores essenciais para o sucesso da atividade e uma das melhores referências para novos turistas. Uma outra atribuição das associações francesas é a organização de circuitos que visam oferecer aos turistas atividades externas às propriedades onde estão hospedados. Isto faz com que eles permaneçam mais tempo na região e fiquem com a impressão de que ainda não conheceram tudo. Trata-se de uma estratégia para ampliação do tempo de permanência no destino. No domínio do turismo rural francês, o agrupamento dos agricultores é feito em diversas associações. As mais impotantes são: Gîtes de France, Bienvenue à la Ferme e Accueil Paysan. Cada uma propõe, assegura e promove atividades específicas para seus associados. A Accueil Paysan possui cerca de 800 propriedades associadas na França. Além disso, como estratégia de valorizar os pequenos agricultores, contribuindo para que tenham uma melhor qualidade de vida, abriu a possibilidade de outros países aderirem a sua marca. Neste sentido, 40 países já integram o guia de divulgação da entidade, incluindo o Brasil (Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia). A adesão é voluntária, sendo que o futuro integrante procura a associação que mais se aproxime de seus ideais e que proporcione as melhores condições de venderem seus produtos. Turismo Rural na Agricultura Familiar: Conceitos e Práticas 51

ENTÃO VAMOS LÁ... Você já ouviu falar na expressão desertificação social? Em geral, quando falamos em desertificação lembramos dos desertos formados por vários fatores, entre eles, variações climáticas e as atividades humanas. A desertificação social e humana está relacionada sobretudo aos processos de êxodo rural. Por inúmeros motivos (condição precária de infraestrutura no interior, dificuldades de acesso a educação e serviços básicos, dificuldades de geração de renda, etc.), a população rural deixa o campo, rumo as cidades. As comunidades rurais vão ficando cada vez mais reduzidas e até mesmo o que já era difícil fica mais precarizado. Como manter uma escola aberta com 5 alunos? No caso francês, zonas inteiras estão ameaçadas com este fenômeno. AGORA RESPONDA: E em Santa Catarina, especialmente no seu município, o que está ocorrendo? Como pensar alternativas para este cenário? Existe êxodo rural na sua região? 52 Capítulo 02 Capítulo - Turismo 02 - Rural Turismo na Rural Agricultura na Agricultura Familiar

PROCESSO DE ROTERIZAÇÃO 3.ROTRERIZAÇÃO CAPÍTULO 03 Turismo Rural na Agricultura Familiar: Conceitos e Práticas 53

3.ROTERIZAÇÃO CAPÍTULO 3. PROCESSO DE ROTERIZAÇÃO ETAPAS BÁSICAS PARA ESTRUTURAÇÃO DE ROTEIRO TURÍSTICO RURAL 1 Roteirizar é uma forma de organizar e integrar a oferta turística do País, gerando produtos rentáveis e comercialmente viáveis. A roteirização é voltada para a construção de parcerias e promove a integração, o comprometimento, o adensamento de negócios, o resgate e a preservação dos valores socioculturais e ambientais da região. Lembre-se! A prática do turismo rural na agricultura familiar deve ser orientada pelo estabelecimento de parcerias e articulações entre os diversos atores envolvidos. O sucesso solitário é mais difícil de ser alcançado. Neste tópico, tenha sempre presente o papel do associativismo e da cooperação entre os agricultores. TURISMO RURAL Vera Cruz, Rio Grande do Norte Na verdade, a roteirização pode ser compreendida como uma atividade de planejamento da atividade turística. Neste sentido, pode ser apresentada como um conjunto de etapas que irão gerar um projeto a ser implementado pelos atores de uma região envolvidos no setor. O que é um roteiro turístico? Roteiro turístico é um itinerário caracterizado por um ou mais elementos que lhe conferem identidade, definido e estruturado para fins de planejamento, gestão, promoção e comercialização turística 2. 1 Adaptado de AAAC. Formação de condutores locais. Acolhida na Colônia Associação de Agroturismo. Santa Rosa de Lima/SC. 2013 (Apostila). 2 BRASIL, MTur, 2009. 54 Capítulo 03 - Processo de Roterização

O processo de roteirização é, portanto, uma forma de ordenar um conjunto de atrativos turísticos de temática específica para promoção e comercialização no mercado, tornando-o opção diferenciada de produto turístico. A organização de um roteiro visa aproveitar as complementariedades e estabelecer sinergias entre os atrativos. O roteiro permite oferecer mais opções ao turista, aumentar o tempo de sua permanência e sua satisfação. Desta maneira, a roteirização, em sua concepção e método, é entendida como um processo mercadológico direcionado a gerar um produto específico o roteiro turístico. Busca-se organizá -lo enfatizando a tematização o que pode assegurar a identidade única do roteiro. Destaque-se que é importante entender que a segmentação,a partir da oferta e da demanda dos grupos de indivíduos, constitui-se em uma estratégia para a estruturação de produtos e consolidação de roteiros turísticos e destinos, a partir dos elementos de identidade de cada região. Importante destacar que uma região pode contemplar um ou vários roteiros. Um roteiro pode estar presente em uma ou várias regiões. Os roteiros e os destinos turísticos podem constituir um produto turístico 3. MAPA DO ROTEIRO DA UVA E VINHO Rio Grande do Sul Destino turístico: local, cidade, região ou país para onde se movimentam os fluxos turísticos. Produto turístico: conjunto de atrativos, equipamentos e serviços turísticos acrescidos de facilidades, ofertados de forma organizada por um determinado preço. O processo de roterização deve possuir um caráter participativo, estimular a integração e o compromisso dos envolvidos em todas as etapas de modo a constituir-se em um instrumento de inclusão social, resgate e preservação dos valores culturais e ambientais existentes. 4 3 MORAES, 2011, pg. 7. 4 ALMEIDA, 2006. Turismo Rural na Agricultura Familiar: Conceitos e Práticas 55