VMT-Chat e Licenciandos em Pedagogia: estudo das interações virtuais na resolução de tarefas de combinatória



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Transcrição:

VMT-Chat e Licenciandos em Pedagogia: estudo das interações virtuais na resolução de tarefas de combinatória Aline Terra Salles 1 GD6 Educação Matemática, Tecnologias Informáticas e Educação à Distância Resumo do trabalho. Com o advento das tecnologias informáticas e a Internet o processo de ensino e aprendizagem ampliou seu lócus de intervenção. Ambientes virtuais de aprendizagem são incorporados as práticas educativas que não se limitam mais ao espaço-tempo determinado da sala de aula. O objetivo deste recorte da pesquisa de Mestrado em desenvolvimento é articular as idéias apresentadas por (BAIRRAL, 2007) acerca da aprendizagem matemática em Ambientes Virtuais de Aprendizagem, para analisar as interações de licenciandas em Pedagogia na resolução de problemas usuais de combinatória. O ambiente virtual utilizado foi o Virtual Math Teams (VMT-Chat) e o foco da análise está nas estratégias que emergem do grupo para solucionar a tarefa e aspectos do desenvolvimento matemático observados no discurso eletrônico. Utilizo como referencial metodológico o estudo de caso, que segundo Ponte (2006) tem como objetivo compreender minuciosamente uma entidade bem definida, expondo sua identidade e características, mais precisamente nos aspectos que interessam o investigador. Resultados iniciais no âmbito da resolução de problemas online e das interações são identificados e mostram estratégias como a árvore de possiblidades e a listagem de possibilidades, como destacado por Salles e Bairral (2013). Palavras-chave: VMT-chat. Raciocínio combinatório. Estudo de caso. Interações virtuais. Introdução: contexto do estudo Em nosso Grupo de Pesquisa, o GEPETICEM 2, analisamos a aprendizagem matemática em ambientes virtuais específicos (BAIRRAL, 2007). Esses espaços são entendidos como contextos de trabalho onde professores, alunos, investigadores interagem em múltiplas situações de aprendizagem. O VMT-Chat é o ambiente utilizado para a resolução de problemas por alunos que é cedido pela Drexel University, Philadelphia, USA. Para acessar o ambiente 3 é necessária a realização de um cadastro para gerar nome e senha de acesso. 1 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, e-mail: alinets.math@yahoo.com.br orientador: Marcelo Almeida Bairral. 2 Grupo de Estudos e Pesquisas das Tecnologias da Informação e Comunicação em Educação Matemática. 3 http://vmt.mathforum.org/vmtlobby/

Figura 1 Página para log in Fonte: Print screen da página inicial Com a obtenção do nome e senha de acesso, através do link Register for a new VMT account, é possível ingressar no site do VMT Lobby e em seguida escolher a atividade a participar. Localizado o problema a ser trabalhado é preciso clicar sobre o mesmo e fazer o download da sala virtual. Após o momento para ser conhecer o ambiente (ambientação) é proposto uma tarefa para ser resolvida com o grupo no chat. Figura 2 Tela do VMT-Chat Fonte: Print screen da página inicial É importante dizer que nesse ambiente as mensagens do chat e as ilustrações no quadro branco acontecem no processo interativo constantemente, não havendo predominância nem importância de um espaço em relação ao outro como sublinhado em Salles e Bairral (2010). Desta forma o processo interativo deve ser visto como uma conjunção (BAIRRAL;POWELL, 2008) e a inter-relação dos espaços e a natureza dual do ambiente é

importante para o desenvolvimento do raciocínio matemático como sublinhou Çakir et al. (2009). Esta implementação foi realizada com três turmas do curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ/Maracanã), mas especificamente durante a disciplina Educação Matemática para crianças, jovens e adultos II e está em sintonia com o seguinte propósito da sua ementa: aplicação do conhecimento matemático na resolução de problemas na vida cotidiana visando o desenvolvimento do raciocínio lógico matemático mediante situações a serem trabalhadas com os alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental. Ao contrário do raciocínio geométrico ou algébrico, adoto a concepção de que o raciocínio combinatório assume as singularidades da incerteza e da probabilidade. Como o VMT funciona com a organização de salas em pequenos grupos, para cada turma (Edumat_T1, Edumat_T2, Edumat_T3) foram criadas 6 salas virtuais. Cada sala foi constituída de três a quatro alunos além da professora/pesquisadora. Figura 3 Tela mostrando as salas abertas para Turma 1 (Edumat_T1) Fonte: Print screen da tela com as salas virtuais Os participantes não conheciam o ambiente virtual. Eles interagiram (no mês de dezembro de 2012) em atividades de combinatória através dos bate-papos com duração total aproximada de 6h, divididas em três sessões. Cada sala é constituída uma unidade de análise. Selecionei uma parte de uma unidade de análise, isto é um grupo, para investigar porque neste todos os seus participantes estiveram presentes nas três sessões implementadas. O olhar está focado nas heurísticas emergentes das interações dos sujeitos em busca da solução do problema. Terminada a sessão é possível gerar um documento com toda a transcrição escrita de cada participante, inclusive de seus feitos no quadro branco

(whiteboard) através do real player, uma ferramenta da plataforma que permite revisitar o processo interativo dos interlocutores na resolução do problema. Com esses dados debruçarei a minha análise por intermédio da análise do discurso. Problemas propostos Para as implementações selecionei algumas tarefas que explorassem o raciocínio combinatório. Algumas foram retiradas e adaptadas do trabalho Della Nina, Menegassi e Silva (2009), por exemplo: Tarefa 1: Um código é formado por figuras geométricas em sequência. Com um quadrado, um triângulo, um retângulo e um círculo, queremos formar códigos diferentes. Quantos códigos diferentes podemos montar: a)com três figuras distintas? b)com três figuras distintas e o círculo no centro? c)com três figuras distintas, sendo o quadrado e o retângulo nas extremidades? d)com as quatro figuras? Quadro1 Primeira tarefa proposta Fonte: Adaptado de Della Nina, Menegassi e Silva (2009) Escolhi este exemplo para dar início ao conjunto de sessões porque é uma atividade de arranjo simples, isto é, onde a ordem das figuras importa na construção de cada código. O primeiro item pede por todas as possibilidades de códigos formados por três figuras tendo como espaço amostral as quatro opções. Os itens seguintes eram restrições da mesma atividade e o item d pede as possibilidades de códigos formado por 4 figuras. Propor esse tipo de atividade no VMT permite que o aluno utilize diferentes formas de registro para solucionar o problema através das mensagens gráficas e textuais. Abaixo segue o quadro que sintetiza as atividades realizadas de acordo com as sessões virtuais e os aspectos conceituais das atividades. Encontros Problema Aspecto Conceitual 0 Realização de Cadastro Cadastro realizados em sala e a distância 1 Tarefa dos códigos Arranjo simples e com restrições 2 Tarefa da salada de frutas Combinação simples e combinação com restrições 3 Tarefa livre para criação A elaboração e resolução de uma tarefa correlata as realizadas.

Quadro 2 tarefas x sessão virtual Fonte: Elaborado pela autora Após a coleta de dados, sigo através da leitura e releitura de todo material submergindo ainda mais em todo contexto com o olhar sensível para as múltiplas realidades construídas entre os participantes e o ambiente virtual de aprendizagem. Aprendizagem Matemática Virtual: como analisar interações virtuais? Avaliar, nivelar, mensurar a aprendizagem de um indivíduo é um processo bastante complexo, principalmente porque é transversal a cognição do sujeito. Para analisar interações virtuais é necessário explicitar como entendo o processo de aprendizagem nesses ambientes. A construção do conhecimento acontece de forma hipertextual e coletiva através das interações entre seres humanos e mídias, e suas transformações durante o processo. Corroboro com Bairral (2011) quando afirma que a aprendizagem nesses ambientes é analisada através das diferentes formas de participação dos sujeitos envolvidos e toda a construção hipertextual realizada por eles. Sendo assim, afirmo ser importante o estudo das interlocuções que ocorrem em cenários virtuais, isto é, analisar as diferentes formas de participação dos interlocutores. Outro aspecto que julgo relevante é a análise das heurísticas emergentes, ou seja as estratégias construídas colaborativamente para solucionar um problema matemático. Com esses dois pilares, busco por aspectos da aprendizagem matemática virtual na construção hipertextual criada pelos sujeitos através das diferentes formas de participar e matematizar, isto é, argumentar, formular, conjecturar, questionar, na criação de estratégias para solucionar a atividade proposta. A metodologia adotada nesse estudo é do tipo estudos de caso, investigação que tem sido usada na área de Educação, e tem aumentado a sua popularidade em pesquisas de Educação Matemática. Segundo Ponte (2006), o principal intuito do estudo de caso é compreender com profundidade uma entidade bem definida, expondo sua identidade e características, mas precisamente nos aspectos que interessam o investigador. Essa entidade bem definida pode ser uma pessoa, uma instituição, um curso,... ou qualquer unidade social (PONTE, op. cit., p.2) que é investigada, sobretudo com base em uma particularidade de uma situação supostamente única ou especial.

Portanto, a importância de delimitar o estudo decorre de não ser possível dar conta de explorar o fenômeno em todos os ângulos, por isso o recorte é fundamental para se conseguir alcançar os objetivos do estudo de caso como destacado por Ludke e André (1986). Para uma maior credibilidade do estudo em uma pesquisa qualitativa há a importância de se obter os dados utilizando instrumentos de coleta distintos. Uma das características desse tipo de estudo é a grande variedade de instrumentos e estratégias de obtenção dos mesmos, assumindo formatos específicos e envolvendo técnicas de recolha e análise de dados diversas (PONTE, op. cit.). Para coleta de dados utilizei: um questionário inicial, as transcrições geradas de cada sessão virtual, as imagens geradas no whiteboard do ambiente, os registros da pesquisadora. O questionário inicial possibilitou traçar perfis superficiais dos sujeitos da pesquisa. As transcrições das mensagens escritas no ambiente junto as imagens geradas no quadro branco são os principais dados coletados. O diário de campo do pesquisador relata os meus olhares diante das sessões já que minha observação era participante. Análise do chat O grupo selecionado para essa análise estava formado pelos alunos cujos VMT screen names 4 eram: Je, Ne e Na 5 mais a professora/pesquisador: alinets. Essa análise refere-se a uma parte da primeira sessão virtual desse grupo. Observei recorrentemente as mensagens escritas e suas referências no quadro branco. A seguir temos três exemplos de fragmentos: Índice Autor Mensagem 51 alinets Postei uma atividade, já visualizaram 52 Na sim 53 Je Sim! 54 Ne Agora sim Utilização do quadro branco e sem postagem escrita por 2 minutos. 57 Na Je, já está pensando? 58 Je Estou... 59 Na Tá fazendo o que? 60 Na Ne não vejo as suas mensagens cadê vc? 61 Ne To desenhando gente 62 Ne Je ve se eu estou no mesmo raciocínio q vc? 63 Je Está sim 64 Na Não estou entendendo o que vocês estão fazendo, me expliquem? 65 Je Estamos tentando visualizar quais sequenciais são possíveis 66 Na Agora entendi 4 Nome de identificação no ambiente. 5 Opto não revelar os nomes dos alunos participantes.

67 Ne Sim, só não estou seguindo sequencia de cor 68 Je Não precisa 69 Ne Não é melhor fazer primeiro de uma figura depois de outra? 70 Ne Pra que a cor Je? 71 Na Meninas, não seria mais fácil se a gente,sabendo que iremos usar três figuras que só tem três lugares para elas se posicionarem 72 Na Se multiplicar a quantidade de figuras pela quantidade de espaços que elas ocupariam? 73 Je Podemos tentar 74 Ne ok 75 Ne Só que com desenho é melhor de visualizar Quadro 3 Fragmento das mensagens escritas início da tarefa (Je, Ne e Na) Fonte: transcrições das mensagens escritas geradas pelo VMT-Chat Logo após a postagem da tarefa, os alunas começaram a refletir sobre ela havendo um silêncio nas mensagens escritas por 2 minutos. Na pergunta para Je se ela está pensando e pergunta a Ne o que está fazendo (Na, 57 e 59). Nesse momento Ne está tentando resolver sozinha desenhando no quadro branco ( To desenhando gente ) e faz referência ao quadro branco ao perguntar para Je se está seguindo o mesmo raciocínio que ela (Ne, 62) que confirma em seguida (Je, 63). Esse raciocínio está explícito apenas no quadro branco, haja visto que elas não mencionaram que estratégia elas usariam para solucionar o problema. Por esta razão Na pede por explicação: Não estou entendendo o que vocês estão fazendo, me expliquem? (Na, 64) para então ser explícito no chat escrito que elas (Ne e Je) estavam tentando visualizar as sequências possíveis. Percebo que elas estavam criando uma série de desenhos para enxergar a formação dos códigos. Ne desenhava as sequências sem ordenar e percebeu que poderia se perder na formação dos códigos, então ela pergunta se Não é melhor fazer primeiro de uma figura depois de outra?. Suas colegas não respondem, mas Na sugere outra estratégia que parece esboçar o Princípio Fundamental da Contagem (Na, 71 e 72). Je e Ne acatam sua sugestão, contudo Ne afirma que o desenho é melhor para visualização (Ne, 75). O início da tarefa é um momento em que as alunas estudam o problema, observam as condições inicias dadas e esboçam suas primeiras estratégias. Nesse fragmento percebo negociações geradas nas trocas discursivas. Duas estratégias até esse ponto são identificadas: criação das sequencias de códigos através dos desenhos das figuras e um esboço (defino esboço porque a aluna não deixou muito claro como realizaria o cálculo. Na, 71 e 72) do princípio fundamental da contagem. Índice Autor Mensagem 91 Na Cada figura se repetirá na mesma posição 3 vezes certo?

92 Je Mas vejam os desenhos 6 93 Je O quadrado já apareceu mais de três vezes na mesma posição 94 alinets Humm.. legal Je 95 Na Eu não estou conseguindo acompanhar essa bagunça que as duas estão chamando de desenho 96 Ne Sugestão vamos desenhar tudo de novo???????? 98 Je Estou tentando organizar 101 Ne Bagunça kkkkk é puro raciocínio 102 Ne Acho que seria melhor desenhar todas as possibilidades do quadrado e depois que elas se esgotarem partimos para outro desenho!!! 104 Ne Gente!!!!!! 105 Ne É melhor começar do zero!!!!! 106 Ne Estamos perdendo tempo!!!! 107 Na Da para alguma das duas me explicar, estou só olhando desenhos enfileirados Quadro 4 Fragmento das mensagens escritas da primeira sessão (Je, Ne e Na) Fonte: transcrições das mensagens escritas geradas pelo VMT-Chat No fragmento ilustrado anteriormente destaco as interlocutoras dando prosseguimento a resolução do problema. No índice 91 Na pergunta se cada figura do espaço amostral se repetirá três vezes na mesma posição. Em seguida, a aluna Je pede para que suas colegas vejam sua lista de possibilidades (ainda incompleta) ilustrada através dos desenhos (92, Je), e percebam que uma figura aparece mais que três vezes na mesma posição. Retornei as mensagens gráficas e o desenho no quadro branco o qual ela se referia, ou seja: Figura 4 Primeira heurística observada: listagem de possibilidades Fonte: Print screen da tela do ambiente A estratégia utilizada pela aluna Je era a listagem de possibilidades. O desenho feito por ela não fazia sentido para suas colegas (95,Na e 96, Ne). Elas sugerem uma nova organização além de começar do zero (96 e 105, Ne). No índice 102, Ne sugere uma nova estratégia para fazer essa lista de possibilidades: Acho que seria melhor desenhar 6 Ênfase da autora.

todas as possibilidades do quadrado e depois que elas se esgotarem partimos para outro desenho!!!. Indice Autor Mensagem 193 Je Se observarem fiz as possibilidades de termos o retângulo na primeira posição 194 Je E depois tem a do quadrado 195 Je E até então temos 12 possibilidades 196 Je Então se colocassem o círculo e depois o triângulo, teríamos mais 12 197 Ne Então o retângulo aparece 6x em cada posição, ok? 198 Je Sendo assim a resposta poderia se 24 199 Ne Ok Je 200 Ne Entendi Quadro 5 Fragmento 3 das mensagens escritas da primeira sessão (Je, Ne e Na) Fonte: transcrições das mensagens escritas geradas pelo VMT-Chat A aluna Je pede novamente que suas colegas vejam seu desenho (193, Je). Ela fez todas as possibilidades para o retângulo iniciando na primeira posição e depois testou para o quadrado. Percebendo que cada uma resultava em 6 códigos diferentes e juntas formavam 12 possibilidade de códigos, generalizou o total de possibilidades sabendo que faltava testar para mais duas figuras (círculo e triângulo). A representação gráfica desse fragmento está ilustrada a seguir: Figura 5 Segunda heurística observada: árvore de possibilidades Fonte: Print screen da tela do ambiente Nesse momento a aluna Je reorganizou o desenho utilizando a estratégia de uma árvore de possibilidades. Porém, antes de terminar os esquemas de todas as soluções ela fez uma relação da quantidade de possibilidades com os duas organizações esquemáticas (esquema iniciando com o retângulo e um outro iniciando com o quadrado) e, então, ampliou para o que faltava. Resultados iniciais

Esse quadro apresentado no XI Encontro Nacional de Educação Matemática 2013 (ver SALLES E BAIRRAL, 2013), sintetiza alguns resultados iniciais observados: Da resolução de problemas online Heurísticas observadas no chat analisado Aspectos do Raciocínio Matemático Explícito no quadro branco Explícito no discurso escrito - Listagem de possibilidades - Primeiro todos de um formato até esgotar as possibilidades e depois outro formato! (116, Ne) - Árvore de possibilidades - 6 combinações x 4 figuras (137, Ne) - Se observarem fiz as possibilidades de termos o retângulo na primeira posição e depois tem a do quadrado e até então temos 12 possibilidades então se colocassem o círculo e depois o triângulo, teríamos mais 12. (193-196, Je) Da interação online Explícito no quadro branco Explícito do discurso escrito - Sugestão vamos desenhar tudo de novo??????? - esquema inicial de desenhos (96, Ne) Organização, solicitação e negociação - dúvidas sobre o que está sendo feito - reelaboração de estratégia através de novos esquemas - confirmação de resposta - sugestão para solucionar através de números ao invés de desenhos. - solicitando negociação - justificando a ausência de comunicação pelas mensagens escritas - Tentei organizar mais são muitas possiblidades (112,Je) - Cada uma faz uma coisa e eu fico só olhando sem entender nada, para de desenhar e me explica o que vocês estão pensando, por favor!!! (115,Na) - Primeiro todos de um formato até esgotar as possibilidades e depois outro formato! (116, Ne) - Acredito que cada forma pode repetir a mesma posição 6 vezes, o que acham? (118, Je) - Não, esquece esses desenhos vamos usar números (120, Na) - em silêncio??? Compartilha com o grupo as ideias, vc não esta sozinha na sala (189, Na) Quadro 6 : Aspectos da resolução de problemas e interações online Fonte: Salles e Bairral (2013) Identifiquei estratégias de resolução explícitas no quadro branco que são comuns nesse tipo de atividades: a listagem de possibilidades e a árvore de possibilidades. Mas observo também no discurso escrito uma heurística utilizando o princípio multiplicativo como no caso do índice 137 (Ne) 6 combinações x 4 figuras, que surgiu através de uma generalização de um esquema desenhado no quadro branco, onde as alunas perceberam que fixando uma figura numa mesma posição era possível realizar 6 combinações diferentes. Quanto à comunicação online, analiso que em momentos que há ausência das mensagens escritas (mesmo quando há modificações no quadro branco), os outros participantes pedem

pela colaboração como no índice 189, escrita pela aluna Na: em silêncio??? Compartilha com o grupo as ideias, vc não esta sozinha na sala. Todavia, no que diz respeito as formas de registros dos interlocutores, a análise ratifica que a natureza discursiva do VMT- Chat propiciou aos participante desenvolver inscrições no quadro branco que auxiliaram no entendimento coletivo e na resolução do problema (POWELL e LAI, 2009). Percebo a resolução de problemas como um campo fértil para o ensino e a aprendizagem da matemática em cenários virtuais. No levantamento bibliográfico realizado no documento de qualificação (SALLES, 2013) mostra o quanto é escasso pesquisas na área de ambientes virtuais de aprendizagem e que envolvam tarefas de raciocínio combinatório. Defendo que atividades de combinatória podem ser exploradas nesse tipo de ambiente, pois elas estimulam a criatividade mediante as diferentes possibilidades de representação para solucionar um problema, conforme ilustrado na análise. Encontrei heurísticas explícitas tanto no quadro branco como nas mensagens escritas, o que reforça a ideia que os dois espaços discursivos do VMT (quadro branco e chat escrito) são vistos como uma conjunção (ÇAKIR;ZEMEL;STAHL, 2009). Não há um espaço mais importante que o outro. Reitero que é na negociação que há uma maior troca discursiva e é nesse momento que surgem as estratégias elaboradas pelos participantes para solucionar um problema matemático, conforme sublinhado por Salles e Bairral (2010). Referênciais Bibliográficas BAIRRAL, M. A. Discurso, Interação e Aprendizagem Matemática em ambientes virtuais a distância. Rio de Janeiro: Edur, 2007. BAIRRAL, M. A.; POWELL, A. B. Analysing High School Students Interacting at Distance with VMT-Chat on Taxicab Problem. Anais do II SIPEMAT, Recife, 2008. Em CD-ROM. DELLA NINA, C. T.; MENEGASSI, M. E. J.; SILVA, M. M. DA Análise combinatória: experiências de sala de aula. Boletim Gepem(55), Rio de Janeiro, 195-208, 2009. ÇAKIR, M. P., ZEMEL, A., & STAHL, G. The joint organization of interaction within a multimodal CSCL medium. International Journal of Computer-Supported Collaborative Learning, 4(2), 115-149, 2009. LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. PONTE, J.P. Estudos de casos em educação matemática. Bolema, 25, 105-132, 2006.

POWELL, A. B.; LAI, F. F. Inscription, mathematical ideas, and reasoning in VMT. In: G. Stahl (Ed.), Studying Virtual Math Teams (pp. 237-259). New York: Springer, 2009. SALLES, A. T. Aprendizagem no VMT-Chat: um estudo de caso focado no raciocínio combinatório de licenciandos em pedagogia.texto de qualificação, UFRRJ, RJ, 2013. SALLES, A. T.; BAIRRAL, M.A. Esquece esses desenhos vamos usar números : um estudo inicial focado na resolução de um problema de combinatória por estudantes de pedagogia em um ambiente virtual. In: Anais do XI Encontro Nacional de Educação Matemática (XI ENEM): Em CD-ROIM. Curitiba, 2013. SALLES, A. T.; BAIRRAL, M.A. Interações e aprendizagem matemática: um estudo de interlocuções em VMT-Chat. In: Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática (X ENEM). Em CD-ROM. Salvador, 2010.