MITO, TRAGÉDIA E FILOSOFIA:

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Transcrição:

Aluno: Série/ano: 6º Turma: Turno: Professor: Data: / / MITO, TRAGÉDIA E FILOSOFIA: A filosofia nasceu na Grécia por volta do século VI a.c. Nesse período, as cidades gregas passavam por um grande desenvolvimento econômico, político e cultural. Foi exatamente nesse contexto que se deu a passagem do saber mítico para o pensamento racional. Contudo, não houve um rompimento brusco com todos os conhecimentos do passado. Muitos filósofos gregos compartilhavam várias crenças míticas, enquanto desenvolviam o conhecimento racional que caracteriza a filosofia. A filosofia de Platão se fez à base de mitos. Para esse filosofo grego, o mito era o conhecimento da realidade. Na verdade, tanto o mito quanto a filosofia tinham como função explicar os questionamentos sobre o sentido da vida, a natureza humana e o universo, justificando, desse modo, as normas políticas, éticas e religiosas de uma determinada sociedade. PARA REFLETIR: OS MITOS, Os mitos frequentemente falam de acontecimentos fantásticos, mágicos. É por isso que muita gente pensa e diz que mito é invenção, mentira, ficção; mas para os povos que contam, donos das historias e para quem souber decifrar sua linguagem poética, os mitos são uma história verdadeira, uma explicação sobre o mundo, sobre o que é viver, sobre a origem da humanidade, sobre o aparecimento da agricultura, da caça, das plantas, das estrelas, do homem e da mulher, do fogo, do sol, da lua, de tudo o que alguém poder imaginar. (MINDLIN, Betty. O primeiro homem e outros mitos dos índios brasileiros. São Paulo: Cosac e Naify,2001, p.7.) O MITO Antes da filosofia, todas as coisas eram explicadas por meio da crença em seres e forças sobrenaturais que agiam sobre o mundo, governando os acontecimentos e o destino dos homens. As crenças mitológicas e religiosas existem desde os tempos mais remotos. Os povos primitivos acreditavam que as doenças, a morte, os fenômenos naturais (tempestades, enchentes, secas, maremotos) e até mesmo o destino das pessoas dependiam da vontade dos deuses. Procuravam, por isso, agir de modo a não lhes provocar a ira, para não serem por eles castigados. Assim sendo, tudo que acontecia de bom ou de ruim tinha como explicação a vontade dos deuses. Por tudo isso, era também comum supor a existência de vários deuses, cada um com um poder diferente, ao que chamamos de politeísmo. Um mito é a narrativa sobre a origem de alguma coisa (origem dos astros, dos homens, das plantas, dos animais, do bem e do mal, da morte, das guerras e etc.). O mito narra a origem das coisas por meio de forças sobrenaturais. Ele narra como seres sobrenaturais fizeram a realidade começar a existir.

Por meio do mito, o homem primitivo procurava entender o mundo, afugentar o medo e a insegurança. Visto ser uma forma ingênua e fantasiosa de entender o mundo, o mito preenchia o desejo do homem de querer que as coisas acontecessem de forma que pudesse satisfazer seus anseios e suas ambições. O objetivo do mito era fornecer aos homens uma resposta e uma explicação satisfatória aos seus questionamentos acerca do mundo. Às vezes é difícil distinguir os mitos das lendas dos contos populares. Quando as historias explicam as origens das coisas e se acredita que elas tenham ocorrido num passado remoto (mítico), num momento anterior ao próprio tempo, qualificam-se de mitos. As lendas, seja lá o que elas descrevem, geralmente se referem e situam-se no tempo histórico. UMA VISÃO MITOLÓGICA DO MUNDO Existem perguntas que o ser humano tenta responder e não consegue. As mais antigas dessas perguntas são: como é que as coisas surgiram? De que são feitas e como foram feitas as coisas que existem no mundo? Se nós investigarmos, poderemos descobrir, por exemplo, de que é feito e como surgiu o caderno que temos em nossas mãos, a caneta, o lápis, as paredes da sala, a janela etc. Todas essas coisas foram feitas pelo homem que, como sabemos, aprendeu a criar objetos, transformando a matéria-prima encontrada na natureza. Mas a própria natureza não foi criada pelo homem e, então, quem criou ou de onde surgiu a natureza? Quem fez os homens, os Estatua de Zeus animais, as plantas, o céu e o mar? Como e de que todas essas coisas foram feitas? Tentando responder a essas perguntas, ao longo da história, as pessoas passaram a desenvolver uma série de teorias baseadas na crença da existência de seres sobrenaturais. A ideia de que algum ser, dono de uma inteligência superior, criou o mundo parece natural porque se nós, com a nossa inteligência, podemos criar coisas e se não fomos nós que criamos o mundo, ele deve ter sido criado por um ser dotado de uma inteligência superior à nossa. Mas que ser é esse? Como ele se originou? Onde ele se encontra? Por que, de que e como ele fez o mundo? Foi tentando responder essas perguntas que surgiram os chamados mitos de criação. Muitos povos formularam explicações sobre a origem do mundo. Alguns povos se referiam aos deuses como seres criadores do mundo, outros entenderam que não houve um momento de criação porque o universo sempre existiu, há ainda povos que desenvolveram a crença que Deus é o próprio universo e há, ainda, culturas que acreditaram que o mundo surgiu com a morte de Deus. Os gregos tinham uma visão mitológica para explicar a origem do mundo e do homem. Para eles, todas as coisas aparentemente inexplicáveis eram sobrenaturais e decorrentes da ação dos deuses. Ao longo dos séculos, os gregos foram repassando para as gerações mais novas a história de seus deuses e heróis. Contudo com o surgimento da filosofia, a mitologia foi bastante criticada pelos filósofos, que viam os deuses e os heróis como sendo frutos da imaginação do homem. Por volta do século VI a.c. o mundo grego passou por um fabuloso desenvolvimento cultural. Muitas cidades foram fundadas. A democracia atingiu o seu ponto máximo. Os filósofos, a partir da explicação filosófica, tentaram provar que as explicações mitológicas não poderiam ser confiáveis. Os homens passaram a formular suas questões filosóficas sem ter de recorrer aos mitos e passaram a construir um pensamento baseado na experiência e na razão.

A MITOLOGIA GREGA Atena Hades Hermes Poseidon Os gregos, como a maioria dos povos antigos, eram politeístas. Os deuses gregos tinham características humanas, tanto na forma física como no comportamento e nos sentimentos, tinham qualidades, mas também tinham defeitos, pois sentiam raiva, ciúmes, inveja e as mais diversas emoções. Embora dotados de sentimentos e paixões humanas, ao contrário dos homens, porém, tinham poderes sobrenaturais, eram imortais e permaneciam eternamente jovens. Quando possuídos de ódio eram quase sempre vingativos, perversos e implacáveis. O monte Olímpia, a montanha mais alta da Grécia, era considerada a morada dos deuses. Acreditava-se que no alto do monte eles se reuniam, comiam, bebiam, cantavam, dançavam e se divertiam. Cada deus grego tinha atributos específicos. Os mais famosos eram Zeus, o mais poderoso, o deus dos deuses, era o senhor dos céus; Hera, sua esposa, a protetora do casamento; Deméter, a deusa da agricultura; Poseidon, o senhor dos mares; Afrodite, deusa do amor sensual; Atena, deusa da sabedoria; Ares, deus da guerra; Apolo, deus da adivinhação, da verdade, da música e da medicina; Ártemis, deusa da caça e protetora da vida selvagem; Hefaísto, deus do fogo e dos metais; Hermes, condutor da alma dos mortos e mensageiro dos deuses; Dionísio, deus do vinho e da embriaguez. Além dos deuses, os gregos acreditavam que nas origens de sua história viveram pessoas nascidas da união de um deus com um mortal, os semideuses, que foram heróis responsáveis por feitos e ações extraordinárias. Dentre os semideuses, os mais famosos foram: Teseu, Hércules, Prometeu, Perseu e Édipo, que enfrentaram e venceram monstros terríveis para libertar seus povos. O MITO NO MUNDO DE HOJE dia? Será que nos dias atuais ainda existem mitos? Em que sentido poderíamos falar de mitos hoje em Quando ligamos a televisão, nos deparamos com muitas figuras míticas: os astros do cinema e da televisão, os esportistas, alguns políticos e certos personagens de filmes que desejamos imitar, pelo simples fato de serem considerados especiais.

Nos desenhos animados e nos quadrinhos, algumas figuras chamam a atenção das crianças. São os super-heróis: Homem-Aranha, Batman, Super-homem, entre outros, que estimulam o desejo e os anseios que existem no inconsciente delas. No mundo real, ninguém tem a habilidade do Batman, nenhum homem pode subir pelas paredes feito o Homem-Aranha ou voar como o Super-homem. Ayrton Senna, por sua coragem, tornou-se um mito para o mundo do automobilismo Mas no mundo imaginário das crianças, os superheróis são seres dotados de superpoderes, que encarnam o bem e a justiça. Na verdade eles são os únicos capazes de proteger os homens do mundo cruel e desumano, onde reina a violência e a corrupção. Mas não são só os super-heróis dos filmes e dos quadrinhos que podem ser considerados mitos. Algumas pessoas de carne e osso tornam-se ídolos de uma geração e são tratados como verdadeiros mitos. Na nossa sociedade, como em qualquer outra, existem valores que se deseja que todos possuam. Esses valores podem ser a beleza, a bondade, a coragem, a inteligência, ou mesmo a habilidade para cantar ou jogar futebol, por exemplo. E algumas pessoas encarnam tão bem esses valores que se tornam modelos de comportamento para todos, é como se fossem verdadeiros heróis. São como dissemos, pessoas especiais, pois são tão competentes naquilo que fazem que parecem possuidores de superpoderes, verdadeiros fenômenos de competência e habilidade. Elvis Presley, Che Guevara, Pelé e Ayrton Senna são alguns exemplos de pessoas desse tipo. Na verdade, nossos ídolos, mortais ou imortais, são mitos na medida em que são modelos perfeitos para tudo aquilo que a nossa sociedade aceita como valores a serem seguidos. Há outro sentido para o termo mito, que é a ideia de algo que não corresponde à própria realidade, como é o caso, por exemplo, da expressão: o mito da neutralidade cientifica. Você deve ter notado que o sentido de mito hoje é completamente diferente do sentido original. Quando falamos de mito em nossos dias não estamos falando de narrativas fabulosas sobre a origem do mundo ou dos deuses, mas de pessoas ou coisas que julgamos modelos. A CONSCIÊNCIA TRÁGICA E A FILOSOFIA Antes do surgimento da filosofia, predominou o período da chamada consciência trágica. A tragédia, como o próprio nome já diz, é uma forma de drama, em que o conflito entre o personagem e a transgressão à lei, aos deuses, ao destino, ou à sociedade estão sempre presentes. Sua origem é incerta, mas há indícios que suas raízes estão ligadas à danças e honra ao deus grego Dionísio (deus do vinho e das festas). A presença do coro conjunto de cidadãos que entoam, cantam, descrevem a tragédia é frequente. O herói representa os valores religiosos e a aristocracia (classe bem-sucedida). O objetivo da tragédia é revelar o sentido trágico da responsabilidade, é promover uma reflexão, um ensinamento.

A tragédia existiu num curto período da história, e seus autores mais famosos foram Ésquilo (525-456 a.c.), Sófocles (496-406 a.c.) e Eurípedes (480-406 a. C.). Eram autores do teatro grego. O conteúdo de suas peças era retirado dos mitos. O exemplo maior foi a tragédia Édipo-Rei de Sófocles. Depois do surgimento da filosofia, os homens passaram a utilizar a razão para compreender o mundo e orientar suas ações. Não esqueça! A palavra filosofia vem do grego Φιλοσοφία, de philos (φίλος), e sophia (σοφία). A primeira é uma derivação de philia (φιλία) que significa amizade, amor fraterno e respeito entre os iguais; a segunda significa sabedoria ou simplesmente saber. Daí podemos concluir que: filosofia é o amor pelo saber e o filósofo é o amigo do conhecimento. IMAGINAÇÃO E FANTASIA Qual é a criança que nunca imaginou um mundo sempre bonito, cheio de brinquedos maravilhosos? Quem nunca imaginou uma casa diferente, num país diferente? Por meio da imaginação, podemos chegar a qualquer parte do mundo. MAS O QUE É A IMAGINAÇÃO? A imaginação é a condição do desejo que temos de criar uma verdade. Assim, o artista imagina a sua verdade na obra de arte. A criança imagina a sua verdade no faz de conta e cria um mundo ideal. Não podemos nos esquecer de que o homem é um ser imaginário, pois ele é capaz de inventar o novo, a partir de sua imaginação criadora. São dois os principais sentidos da imaginação: a reprodutora e a criadora. A IMAGINAÇÃO REPRODUTORA A imaginação reprodutora é aquela que reproduz imagens anteriormente percebidas. Não podemos confundir essa forma de imaginação com memória, já que ambas existem muitas diferenças. A memória é uma lembrança do passado, ao passo que a imaginação reprodutora, apesar de utilizar nossas experiências adquiridas, não se situa no tempo, pois é capaz de reproduzir imagens relativas ao passado, ao presente ou ao futuro. Quando a imaginação reprodutora chega a fazer parte de nossas relações cotidianas, nos faz acreditar na presença do objeto representado, como acontece muito nas alucinações e nos sonhos. De acordo com a filósofa brasileira Marilena Chauí (2005), a tradição filosófica sempre deu prioridade a imaginação reprodutora, considerada como um resíduo da percepção, isto é, a imagem é o que sobrou do objeto percebido, que permanece retido em nossa consciência. A imagem seria um rastro ou um vestígio deixado pela percepção. IMAGINAÇÃO CRIADORA O homem é o único que tem a capacidade de representar objetos pelo pensamento, por isso só ele é capaz de usar a imaginação criadora. Portanto, o que torna o homem um ser muito especial é a capacidade que ele tem de inventar o novo a partir das imagens que estão pintadas em seu cérebro. A imaginação criadora, a partir da combinação de imagens antigas, procura formar novos conjuntos de imagens presentes nas artes, nas ciências, nas técnicas e na filosofia. Ela é, pois, uma maneira complexa de se apresentar a atividade consciente, combinando, assim, certos elementos que são armazenados pela imaginação reprodutora, com os quais realiza sínteses imaginativas inteiramente novas. Ela é um tipo de imaginação ativa e reflexiva, pois eleva o ser humano em suas atividades espirituais, sendo auxiliada pela percepção, pela memória e pelas ideias existentes. Quando uma criança representa objetos pelo pensamento, ela cria um mundo de fantasia. Ora, não só para a criança, mas para qualquer ser humano é impossível pensar sem fantasia. O homem é um ser que vive sempre imaginando, por isso, vive sempre criando fantasias.