A CONCILIAÇÃO, A MEDIAÇÃO E A ARBITRAGEM COMO SOLUÇÃO PARA ACORDOS Resumo: Esta pesquisa apresenta a dimensão histórica e a importância da busca pela resolução de questões e disputas entre indivíduos socialmente organizados pela forma da mediação e não somente pelas vias jurisdicionais que demandam um esforço de recursos e principalmente de tempo na sua solução. Palavras-chave: Conciliação. Mediação. Arbitragem. Abstract: This research presents the historical dimension and the importance of the search for resolution of issues and disputes between individuals socially organized by way of mediation and not only via the courts that require an effort of resources and especially time in your solution. Keywords: Conciliation. Mediation. Arbitration. Revista Olhar, Sorocaba, SP, v. 1, n. 1, p. 81 86, jun. 2016 81
1 VÁRIAS INFLUÊNCIAS, OBJETIVOS COMUNS O estudo do comportamento humano remonta à antiguidade e todas as culturas historicamente tradicionais dedicaram muita atenção a este tema. Desde o antigo Egito, passando por todas as culturas mesopotâmicas e mais recentemente pela Grécia e a antiga Roma o tema ligado às relações humanas e as negociações que tais relações envolvem sempre foram exaustivamente estudadas e aprofundadas. Sempre houve grandes influências externas, características a cada cultura, entretanto o objetivo final da compreensão deste desafiador campo centra-se na preocupação de manter o equilíbrio entre as forças sociais e pessoais em cada sociedade. A individualidade e as conquistas pessoais devem ser enquadradas no âmbito social para evitar a exploração de determinados grupos por outros. A atual configuração social da humanidade dividida entre nações soberanas espalhadas pelo globo, estabelecidas segundo uma série de critérios sociais, históricos e geográficos exige que além da criação de regras para a pacífica convivência entre as nações, cada uma tenha um conjunto de regras próprias que respeite a individualidade das pessoas assim como do ganho social pela busca de conforto e segurança de cada grupo. Foi com esta inspiração que surgiu a necessidade da criação do Direito como ciência para regular e equilibrar a convivência social em relação às obrigações e aos deveres das pessoas em relação às outras, ao Estado e atualmente até em relação à natureza. O Direito evoluiu sobremaneira e alcançou hoje alto grau de sofisticação como regente das relações entre todos os níveis de relações humanas, desde a família, a comunidade, a sociedade, as nações e os interesses globais na atualidade. Desde os tempos das regras rudimentares estabelecidas pelo código de Hamurabi refletidas no artigo que preconizava o olho por olho, dente por dente, até as mais sofisticadas leis atuais que regem as relações dos indivíduos e grupos na internet, o que não há como negar e que nunca se alterou, é o espírito de justiça e sua busca como objetivo maior na aplicação da lei sem benefícios unilaterais, que prejudiquem uns em favor de outros. Revista Olhar, Sorocaba, SP, v. 1, n. 1, p. 81 86, jun. 2016 82
Embora esta tarefa nunca tenha sido fácil e plenamente alcançada em nenhum modelo político até então aplicado, não restam dúvidas de que há uma evolução notória entre as relações humanas em nosso século, comparadas com estes primórdios da civilização humana. 2 A INSPIRAÇÃO DAS LEIS Entre todas as tentativas de estabelecimento de leis e regras justas para manter o equilíbrio das sociedades existentes, sempre houve erros e acertos e a evolução da legislatura é a prova cabal deste progresso no sentido de cada vez mais dar aos homens direitos iguais perante as sociedades em que estão inseridos. As leis na sua melhor forma consistem no artifício para estabelecer o que é certo e o que é errado perante a sociedade, com o objetivo de coibir e evitar abusos de pessoas tidas como poderosas sobre outras menos providas de poder nas mais variadas situações. Todavia, o que está por trás do estabelecimento das leis, e que serve de fonte de inspiração para qualquer legislador, é a busca pela justiça e principalmente pelo estabelecimento da conciliação entre as partes envolvidas em quaisquer questões de quaisquer naturezas. Esta conciliação pode ser alcançada por meio de acordos em que as partes se sintam atendidas em suas necessidades, em primeira instância, mas podem também chegar a ter a necessidade da intervenção legal de rábulas e de juízes com gozo pleno de direito de julgar e estabelecer os parâmetros do acordo ou do veredicto final em instâncias superiores, que neste caso não seriam passíveis de contestação. O que nos chama a atenção é que a fonte inspiradora de todo o arcabouço legal está baseada na busca efetiva do acordo que, por meio da conciliação entre as partes pode evitar uma série de desgastes físicos, de tempo e também de recursos financeiros que em certos casos nem justificariam a utilização dos recursos judiciais. É interessante observar que o cerne da questão está baseado justamente no objetivo que na maioria dos casos fica em segundo plano em função das desavenças ocasionadas pelo conflito de posições entre as partes envolvidas. Revista Olhar, Sorocaba, SP, v. 1, n. 1, p. 81 86, jun. 2016 83
3 O DESAFIO MAIOR DA CONCILIAÇÃO, MEDIAÇÃO E ARBITRAGEM As teorias apresentadas pelos autores Ury (2001) e Fisher (1994) considerando a negociação como uma técnica a ser desenvolvida e utilizada na sua plenitude, entretanto sempre com a inspiração da conciliação e da mediação em prol de interesses comuns a serem descobertos ao longo do processo de relacionamento entre as partes, pode ter na figura do mediador ou do agente conciliador, figuras chave para a obtenção de sucesso, sem a necessidade de se chegar às vias legais. O grande desafio, portanto, é experimentar exaurir esforços nesta etapa, pois seguramente sempre há margem para o acordo entre as partes, em caso de interesses comuns. A grande dificuldade do mediador é descobrir em conjunto com as partes quais interesses são de fato comuns e quais podem ser colocados à mesa de negociação para o desenvolvimento de um acordo em que as partes atendam os seus interesses. A mediação, portanto, é não somente uma etapa no processo de negociação, mas também a possibilidade, atualmente legal de buscar a conciliação dos interesses das partes envolvidas, antes de se buscar as vias judiciais, que no caso brasileiro, devido à complexidade das leis e normas jurídicas vigentes, torna o pleito inviável em várias situações. 3.1 O Segundo grande desafio Motivar e conquistar os envolvidos em disputas pessoais, organizacionais ou grupais a buscar um acordo prévio antes de recorrer aos meios judiciais, é em verdade o primeiro grande desafio a ser vencido, entretanto há um segundo desafio que às vezes se torna mais instransponível ainda. Em nosso país, por força da história política e jurídica desde a formação do nosso Estado até nossos dias, além do natural corporativismo das categorias jurídicas envolvidas, desde advogados, legisladores, vogais e juízes, há um descrédito por parte das pessoas que possa haver outra forma de resolução de questões entre partes que não seja regida e ditada pelos instrumentos jurídicos estabelecidos. Revista Olhar, Sorocaba, SP, v. 1, n. 1, p. 81 86, jun. 2016 84
Os instrumentos da mediação e da arbitragem são relativamente desconhecidos em nosso país, e sua prática ainda é ínfima em função das suas potencialidades em um país da dimensão do Brasil. Este é o grande desafio a ser vencido e transposto com o objetivo de tornar as práticas de conciliação, mediação e arbitragem comuns e recorrentes em nossa sociedade, pelo crédito dado a elas tanto pela sociedade quanto pelas classes jurídicas em nosso país. 4. A MEDIAÇÃO E A ARBITRAGEM COMO SOLUÇÃO Nestes próximos anos, com a necessidade do pronto retorno do sistema judiciário às demandas da sociedade em tempo sensivelmente menor, recorrer às práticas da mediação e da arbitragem será sem sombra de dúvidas, a solução para esta situação em que o sistema jurisdicional brasileiro se encontra na atualidade. Com a inequívoca lentidão na resolução de questões judiciais em todas as instâncias, seja por força das interpretações das leis, seja pelo acúmulo de processos e demandas judiciais em nosso país, o artifício da arbitragem estabelecida pela Lei 9.307/96, alterada recentemente pela Lei 13.129/2015, assim como a mediação regida pela Lei 13.140/2015, podem ser o alento tão bem vindo para desafogar o sistema judiciário, ou principalmente, resgatar a prática da mediação e arbitragem entre pessoas interessadas originalmente em ter suas pendências resolvidas da forma mais rápida possível. É esperado com grande expectativa também que o novo Código de Processo Civil que entrará em vigência a partir de 2016, seja também um marco, para de forma exponencial, alavancar a prática dos métodos extrajudiciais de solução de conflitos. Com esta situação poderemos retomar a essência do processo de busca de identidade de interesses entre as partes envolvidas para se chegar a um acordo comum, que pode naturalmente recorrer a estas práticas como forma de agilizar e baratear a solução de demandas de vários extratos da sociedade hodierna. Revista Olhar, Sorocaba, SP, v. 1, n. 1, p. 81 86, jun. 2016 85
REFERÊNCIAS COLAIÁCOVO, Juan Luis e Cynthia. Negociação, mediação e arbitragem. São Paulo: Forense, 1999. FISHER, Roger; URY, William. Como chegar ao sim. São Paulo: Imago, 1994. URY, William. Supere o não. São Paulo: Best Seller, 2001. WANDERLEY, Waldo. Mediação. Brasília: MSD, 2004. Angelo Pêpe Agulha Escola Superior de Administração, Marketing e Comunicação - ESAMC Sorocaba São Paulo. Contato: angelo.agulha@esamc.br Artigo recebido em março de 2016 e aprovado em maio de 2015 Revista Olhar, Sorocaba, SP, v. 1, n. 1, p. 81 86, jun. 2016 86