Publicação Científica do Curso de Bacharelado em Enfermagem do CEUT. Ano 2010 (16). Edição 32 Lívia Kelly da Silva 1 Patrícia Gleyce Cardoso de Carvalho 1 Veridiana Maciel Holanda 1 Selônia Patrícia Oliveira Sousa 2 Márcia Andrea Lial Sertão 3 Esta edição traz como foco de pesquisa a coqueluche, uma doença microbiana do sistema respiratório inferior, na qual o microrganismo causador da patologia é um cocobacilo gramnegativo pequeno, aeróbico obrigatório que fixam-se especificamente a células ciliadas na traquéia, primeiro impedindo sua ação e progressivamente destruindo-as. A partir da publicação da matéria Cientistas: bactérias se adaptaram à vacina da coqueluche vejamos as características clínicas e epidemiológicas da doença, seus aspectos clínicos e laboratoriais, bem como um breve panorama epidemiológico mundial e nacional da doença. Cientistas: bactérias se adaptaram à vacina da coqueluche 4 Pesquisadores acreditam que bactérias causadoras de coqueluche estão se adaptando às vacinas que previnem a doença. A constatação surge após a morte de 13 bebês nos Estados Unidos e na Austrália, em uma epidemia considerada a pior desde a criação da vacina, nos anos 50. As informações são do site da revista New Scientist. A principal causa da epidemia é a falta de distribuição de vacinas, porém cientistas enxergam a possibilidade da adaptação das bactérias. A imunidade à doença diminui com o passar do tempo, portanto crianças mais velhas e adultos infectados podem passar a coqueluche para bebês, quando estes não foram vacinados ainda. Segundo Frits Mooi, do Instituto Nacional Holandês de Saúde Pública, disse ao site da New Scientist, bactérias de coqueluche que circulam no ar estão se tornando mutantes para evitar as vacinas e produzindo mais toxinas que combatem a imunidade. Figura 1 - Bordetella pertussis agente causador da coqueluche. 1 Acadêmicos do 3º Período de Enfermagem do CEUT 2 Acadêmica do 8º período de Enfermagem do CEUT e monitora do Observatório Epidemiológico 3 Professora da disciplina de epidemiologia do CEUT e orientador do Observatório Epidemiológico 4 Fonte: www.noticias.terra.com em 26 de setembro de 2010. 1
Figura 2 Campanha Nacional contra tríplice bacteriana (difteria, tétano e coqueluche - DTP). Governo Federal Ministério da Saúde do Brasil Características Clínicas e Epidemiológicas Descrição: Doença infecciosa aguda, transmissível, de distribuição universal. Compromete especificamente o aparelho respiratório (traquéia e brônquios) e se caracteriza por paroxismos de tosse seca. Sinomínia: Tosse comprida ou tosse de cahorro. Agente Etiológico: Bordetella pertussis. Bacilo gram-negativo, aeróbio, não-esporulado, imóvel e pequeno, provido de cápsula (formas patogênicas) e de fímbrias. Reservatório: O homem é o único reservatório natural. Modo de Transmissão: Ocorre, principalmente, pelo contato direto de pessoa doente com pessoa suscetível, através de gotículas de secreção da orofaringe eliminadas por tosse, espirro ou ao falar. Período de Incubação: Em média, de 5 a 10 dias, podendo variar de 1 a 3 semanas e, raramente, até 42 dias. Período de Transmissibilidade: Estende de 5 dias após o contato com um doente (final do período de incubação) até 3 semanas após o início dos acessos de tosse típicos da doença (fase paroxística). Em lactentes menores de 6 meses, o período de transmissibilidade pode prolongar-se por até 4 a 6 semanas após o início da tosse. A maior transmissibilidade da doença ocorre na fase catarral. Susceptibilidade e imunidade: A suscetibilidade é geral. O indivíduo torna-se imune nas seguintes situações: - após adquirir a doença: imunidade duradoura, mas não permanente; 2
- após receber vacinação básica (mínimo de 3 doses) com DTP ou DTPa: imunidade por alguns anos. Em média, de 5 a 10 anos após a última dose da vacina, a proteção pode ser pouca ou nenhuma. Aspectos Clínicos e Laboratoriais Manifestações Clínicas: A coqueluche evolui em três fases sucessivas, descritas abaixo. Fase catarral com duração de 1 ou 2 semanas; inicia-se com manifestações respiratórias e sintomas leves (febre pouco intensa, mal-estar geral, coriza e tosse seca), seguidos pela instalação gradual de surtos de tosse. Fase paroxística geralmente afebril ou com febre baixa. Apresenta como manifestação típica os paroxismos de tosse seca, que se caracterizam por crise de tosse súbita incontrolável, rápida e curta (cerca de 5 a 10 tossidas, em uma única expiração). Fase de convalescença Esta fase persiste por 2 a 6 semanas e, em alguns casos, pode se prolongar por até 3 meses. Infecções respiratórias de outra natureza, que se instalam durante a convalescença da coqueluche, podem provocar o reaparecimento transitório dos paroxismos. Diagnóstico Diferencial: Deve ser feito com as infecções respiratórias agudas, como traqueobronquites, bronquiolites, adenoviroses, laringites, entre outras. Diagnóstico Laboratorial: Realizado mediante o isolamento da B. pertussis através de cultura de material colhido de nasorofaringe, com técnica adequada. A coleta do espécime clínico deve ser realizada antes do início da antibioticoterapia ou, no máximo, até 3 dias após seu início. Tratamento: A eritromicina (de preferência o estolato) é o antimicrobiano de escolha para o tratamento da coqueluche, visto ser mais eficiente e menos tóxico. Esse antibiótico é capaz de erradicar o agente no organismo em 1 ou 2 dias, quando seu uso for iniciado durante o período catarral ou no início do período paroxístico, promovendo, assim, a diminuição do período de transmissibilidade da doença. Vigilância padrão da coqueluche no Mundo Coqueluche, causada pela Bordetella pertussis, é uma das principais causas de morbidade e mortalidade infantil. Há evidências de uma alta carga de coqueluche em países em desenvolvimento. Ele continua sendo um dos principais causas de mortes evitáveis por vacinação. Estima-se que 50 milhões de casos e de 300 000 mortes ocorrem todos os anos, as taxas de letalidade em países em desenvolvimento são estimados para ser tão elevada quanto 4% em lactentes. A alta cobertura da imunização com uma vacina eficaz é o esteio da prevenção. A justificativa para a vigilância da coqueluche é o de acompanhar o impacto do sistema de imunização, identificar áreas de alto risco e detectar surtos (que deve ser investigado) (Gráfico 1). Nos países onde a cobertura é de moderada a vigilância, simplesmente baixa deve acompanhar a melhoria da cobertura e diminuindo a incidência de coqueluche. Uma vez que a cobertura vacinal é alta e a incidência de coqueluche é baixa, a vigilância deve ser reforçada para compreender a epidemiologia em mudança da doença e, portanto, para orientar a política de vacinação. Bordetella pertussis, o que provoca doença mais branda, em geral, e não é responsável por uma mortalidade significativa, não é uma prioridade para a vigilância, na maioria dos países no presente (Gráfico 2). 3
Gráfico - 1 - Cobertura global de casos notificados anualmente, 1980-2009 Gráfico - 2 Cobertura vacinal pela tríplice bacteriana (DTP) em lactentes, 2009 4
Situação Epidemiológica da Coqueluche no Brasil Em populações aglomeradas, condição que facilita a transmissão, a incidência da coqueluche pode ser maior na primavera e no verão, porém em populações dispersas nem sempre se observa esta sazonalidade. Não existe uma distribuição geográfica preferencial nem característica individual que predisponha à doença, a não ser presença ou ausência de imunidade específica. A morbidade da coqueluche no país já foi elevada. No início da década de 80 eram notificados mais de 40 mil casos anuais e o coeficiente de incidência era superior a 30/100.000 habitantes. Este número caiu abruptamente a partir de 1983, mantendo, desde então, tendência decrescente. Em 1990, foram notificados 15.329 casos, resultando em um coeficiente de incidência de 10,64/100.000 habitantes, a maior taxa observada na década. Em 1995, registraram-se 3.798 casos (coeficiente de incidência de 2,44/100.000 habitantes) e, a partir de então, o número de casos anuais não excedeu 2.000, mantendo-se com coeficiente de incidência em torno de 1/100 mil habitantes. Em 2008, o número de casos confirmados foi de 1.344 casos/ano e o coeficiente de incidência (CI) foi de 0,71 /100.000 habitantes (Gráfico 3). Desde a instituição do Programa Nacional de Imunizações, em 1973, quando a vacina tríplice bacteriana (DTP) passou a ser preconizada para crianças menores de 7 anos, observa-se um declínio na incidência da coqueluche, muito embora as coberturas vacinais iniciais não fossem elevadas. A partir dos anos noventa, a cobertura foi se elevando, principalmente a partir de 1998, resultando em importante modificação no perfil epidemiológico desta doença (Gráfico 1). Entretanto, nos últimos anos, surtos de coqueluche vêm sendo registrados, principalmente em populações indígenas. Gráfico - 3 Coeficiente de incidência da coqueluche e cobertura vacinal pela DTP2 O grupo de menores de um ano concentra cerca de 50% do total de casos (Gráfico 4) e apresenta o maior coeficiente de incidência (Gráfico 5). Isto se deve, provavelmente, à gravidade do quadro clínico nesta faixa etária, o que, por sua vez, leva à maior procura dos serviços de saúde e maior número de casos diagnosticados. A letalidade da doença é também mais elevada no grupo de crianças menores de um ano, particularmente naquelas com menos de seis meses de idade, que concentram quase todos os óbitos por coqueluche. 5
Gráfico - 4 - Número de casos de coqueluche, por faixa etária. Brasil, 2000 a 2008 Referências Gráfico - 5 - Coeficiente de incidência de coqueluche por faixa etária. Brasil, 2000 a 2008 BRASIL, Ministério da Saúde. Guia de Vigilância Epidemiológica. 7 ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. TORTORA, G. J; FUNKE, B. R; CASE, C. L. Microbiologia. 8 ed. Porto Alegre: Artumed, 2005. WHO World Health Organizations. Whooping cough. Veneza, 2010. 6