RELEVÂNCIA CONTÁBIL DA MARCAÇÃO A MERCADO DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NO BRASIL



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Transcrição:

RELEVÂNCIA CONTÁBIL DA MARCAÇÃO A MERCADO DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NO BRASIL Adolfo Henrique Coutinho Doutorando em Controladoria e Contabilidade FEA/USP E-mail: asilva@bndes.gov.br tel: 21-2172-8116 Adriana Trapp Doutorando em Controladoria e Contabilidade FEA/USP E-mail: adriana.trapp@itau.com.br tel: 11-5019-1034 Claudio Wasserman Doutorando em Controladoria e Contabilidade FEA/USP E-mail: claudiowasserman@gmail.com tel: 11-3887-8025 Jorge Vieira Doutorando em Controladoria e Contabilidade FEA/USP E-mail: jorgevcosta@terra.com.br tel: 21-3233-8562 RESUMO A mensuração contábil pelo valor a mercado tem sido, em certos casos, exigida por órgãos reguladores em várias partes do mundo, sendo que a autoridade bancária brasileira também emitiu regras que introduzem o fair value accounting para avaliação das carteiras de títulos e valores mobiliários e de instrumentos financeiros derivativos. Tendo como base as Circulares Bacen n os. 3.068/01 e 3.082/02, o presente artigo tem por objetivo avaliar a relevância da marcação a mercado realizada no Brasil. Testou-se a hipótese de igualdade entre o patrimônio líquido das instituições financeiras antes e depois do reconhecimento da marcação a mercado, com o intuito de averiguar se os seus efeitos são significativos. Também foi testado se o preço das ações de bancos listados na BOVESPA foi sensibilizado pela marcação a mercado. Para tanto, aplicaram-se, respectivamente, o teste t (paramétrico) de médias emparelhadas e o modelo de OHLSON (2005). Os resultados sugerem que, para alguns períodos, os efeitos da marcação a mercado são estatisticamente significativos, sem provocar, entretanto, um efeito relevante na explicação dos preços das ações das instituições financeiras analisadas. Palavras-chave: Marcação a mercado. Relevância da informação. Mensuração contábil. 1 INTRODUÇÃO A avaliação patrimonial é um dos assuntos centrais na Contabilidade. A mensuração pelo custo histórico ainda é requerida para a maior parte de ativos e passivos reconhecidos contabilmente. Mas não é de hoje que estudiosos se debruçam sobre o tema e apontam outras alternativas de avaliação. Reconhecidamente um dos maiores estudiosos da Contabilidade, Ray Chambers deixou um legado de inestimável valor para a comunidade contábil internacional, produto de uma vida dedicada à pesquisa em Contabilidade. Uma das preocupações mais presentes nos estudos de Chambers era desenvolver uma alternativa de mensuração contábil que pudesse superar as desvantagens do custo histórico como base de valor. A idéia do true and fair view para as demonstrações contábeis permeou vários dos seus trabalhos. Chambers relatou ter

encontrado, antes de 1844, documentos de bancos e outros tipos de negócios ingleses, em que se determinava que os ativos daquelas companhias deveriam ser avaliados pelo preço de venda corrente. Os achados de Chambers demonstram que nada tem de novo a discussão acerca de formas alternativas de avaliação de ativos. A semente plantada por Chambers gera frutos até hoje. Órgãos responsáveis pela regulação contábil em várias partes do mundo, como EUA, Reino Unido, Austrália e União Européia, têm emitido regras que requerem, em certos casos, o reconhecimento (ou a evidenciação em notas explicativas) segundo o critério de mensuração pelo fair value 1. No ano de 2001, a autoridade reguladora bancária brasileira introduziu no arcabouço normativo contábil, com a emissão das Circulares nº 3.068/01 e 3.082/02, a regra do fair value accounting como critério de avaliação das carteiras de títulos e valores mobiliários (TVM) e de instrumentos financeiros derivativos (IFD) mantidos pelas instituições sob sua supervisão. Uma possível conseqüência positiva para o mercado de capitais brasileiro reside na melhoria das informações disponibilizadas pelas instituições alcançadas pela norma, com reflexo nos preços de suas ações. Uma evidência persuasiva desse fenômeno é extremamente salutar, na medida em que confere maior grau de importância para a informação contábil e concorre para a redução de incertezas entre os agentes, o que, do ponto de vista racionalmente econômico, implica redução de custos de capital. O objetivo desse estudo é investigar se há diferença estatística significativa entre as médias dos patrimônios líquidos dos bancos com a marcação a mercado e sem a marcação, além de avaliar a relevância da marcação a mercado realizada no Brasil. Com relação à relevância, o problema de pesquisa está circunscrito a investigar, com base no Modelo de Ohlson (1995), se ocorreu alguma alteração nos preços das ações dos bancos em decorrência da contabilização da marcação a mercado dos títulos e valores mobiliários e dos instrumentos financeiros derivativos. Entre as principais contribuições desse estudo destacam-se: a) fornecer evidências empíricas sobre os impactos da avaliação pelo fair value accounting por instituições bancárias no Brasil e o grau de importância que essas informações possuem aos olhos dos investidores, tomando por base os preços das ações negociadas; b) do ponto de vista da regulação contábil, servir de base para novas ações normativas, especialmente para o mercado de capitais (leia-se instituições não-financeiras); e c) contribuir para a literatura de value relevance. O presente estudo está dividido em cinco seções. Após a introdução, é apresentada uma breve revisão da literatura sobre o fair value accounting. Na seção seguinte, é descrita a metodologia adotada na seleção das empresas analisadas, a forma de coleta e análise dos dados. Na seqüência, são apresentadas as análises dos resultados empíricos e a conclusão. 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Fair Value Accounting no Brasil No Brasil, a marcação a mercado está limitada tão-somente às instituições financeiras. Ela foi introduzida pelo BACEN (Banco Central do Brasil), por meio das Circulares nº s 3.068, de 8 de novembro de 2001, e 3.082/02, de 30 de janeiro de 2002, que estabelecem critérios 1 Na literatura internacional, as expressões marking-to-market e fair value são freqüentemente utilizadas como sinônimas. O uso da primeira implica a existência de mercados ativos com preços de mercado determinados. Já fair value possui múltiplos sentidos e não depende necessariamente da existência de mercados ativos. A rigor, mesmo que existam preços de mercado, o valor de certos ativos pode, a depender de quem avalia, não coincidir com a cotação de mercado. As expressões fair value e marcação a mercado são utilizadas como sinônimas neste artigo.

para registro e avaliação contábil de títulos e valores mobiliários (TVM) e de instrumentos financeiros derivativos (IFD) mantidos em carteira pelas instituições sob sua supervisão. A Circular nº 3.068/01, que determina os critérios para registro e avaliação contábil dos títulos e valores mobiliários, tinha o início da sua vigência previsto para 31 de março de 2002, sendo, entretanto, postergado para 30 de junho de 2002, passando a produzir efeitos em conjunto com a Circular nº 3.082/02, que estabelece os critérios para registro e avaliação de instrumentos financeiros derivativos 2. Pelos ditames da Circular nº 3.068/01, os títulos e valores mobiliários devem ser classificados, conforme a intenção da administração da instituição financeira, em uma das seguintes categorias: a) mantidos para negociação; b) disponíveis para venda; e c) mantidos até o vencimento. O esquema apresentado na tabela 1 elucida o tratamento contábil a ser dado, conforme classe de enquadramento. Tabela 1 - Tratamento Contábil da Circular nº 3.068/01 para os TVM Tipo de Classificação Forma de Mensuração Contrapartida do efeito contábil Mantidos para negociação Valor de mercado Resultado do Exercício Disponíveis para venda Mantidos até o vencimento Valor de mercado Custo de aquisição, ajustado pela curva de rendimentos esperada Patrimônio Líquido, deduzida dos efeitos tributários (*) Resultado do Exercício (*) Os efeitos tributários referem-se aos ativos ou passivos fiscais diferidos constituídos sobre os efeitos registrados diretamente no patrimônio líquido. As disposições desse normativo em muito se assemelham àquelas consignadas no pronunciamento norte-americano SFAS 115 Accounting for Certain Investments in Debt and Equity Securities. A Circular nº 3.082/02, por sua vez, estabelece que as operações com instrumentos financeiros derivativos 3 destinados a hedge 4, realizadas pelas instituições financeiras, devem ser classificadas em uma das seguintes categorias: a) hedge de risco de mercado; ou b) hedge de fluxo de caixa. O esquema apresentado na tabela 2 elucida o tratamento contábil a ser dado, conforme classe de enquadramento. 3 Entende-se por instrumentos financeiros derivativos aqueles cujo valor subjacente varia em decorrência de mudanças em taxa de juros, preço de título ou valor mobiliário, preço de mercadoria, taxa de câmbio, índice de bolsa de valores, índice de preço, índice ou classificação de crédito, ou qualquer outra variável similar específica, cujo investimento inicial seja inexistente ou pequeno em relação ao valor do contrato, e que sejam liquidados em data futura. (Art. 1º, Parágrafo 1º, da Circular No. 3.082/02). 4 Entende-se por hedge a designação de um ou mais instrumentos financeiros derivativos com o objetivo de compensar, no todo ou em parte, os riscos decorrentes da exposição às variações no valor de mercado ou no fluxo de caixa de qualquer ativo, passivo, compromisso ou transação futura prevista, registrado contabilmente ou não, ou ainda grupos ou partes desses itens com características similares e cuja resposta ao risco objeto de hedge ocorra de modo semelhante. (Art. 3º, Parágrafo 1º, da Circular No. 3.082/02).

Tabela 2 Tratamento Contábil da Circular nº 3.082/02 para os IFD Tipo de Classificação Forma de Mensuração Contrapartida do efeito contábil hedge de risco de mercado (*) Valor de mercado Resultado do Exercício hedge de fluxo de caixa (**) Valor de mercado - a parcela efetiva, em contrapartida a conta destacada do patrimônio líquido, deduzida dos efeitos tributários - qualquer outra variação, no resultado do período. (*) Instrumentos financeiros derivativos que se destinem a compensar riscos decorrentes da exposição à variação no valor de mercado do item objeto de hedge. (**) Instrumentos que se destinem a compensar variação no fluxo de caixa futuro estimado da instituição. As normas contábeis emitidas pelo BACEN não definem a forma pela qual deve ser apurado o fair value, elas apenas especificam os parâmetros para obtê-lo. Em ambos os atos, o fair value deve corresponder ao valor de mercado, estabelecido com base em critérios consistentes e passíveis de verificação, podendo, na falta do valor de mercado, ser utilizado como parâmetro: a) o preço médio de negociação no dia da apuração (ou no dia útil anterior); b) o valor líquido provável de realização obtido mediante adoção de técnica ou modelo de precificação; ou c) o preço de instrumento financeiro semelhante, levando em consideração, no mínimo, os prazos de pagamento e vencimento, o risco de crédito e a moeda ou indexador. Ainda de acordo com esses normativos, os TVM, classificados como disponíveis para venda, e os IFD, classificados como hedge de fluxo de caixa, devem ser ajustados pelo valor de mercado, no mínimo, por ocasião dos balancetes mensais e balanços. 2.2 A polêmica que envolve o Fair Value Accounting Órgãos responsáveis pela regulação contábil em várias partes do mundo têm emitido regras que requerem, em certos casos, o reconhecimento (ou a evidenciação em notas explicativas) segundo o critério de mensuração pelo fair value. Para o FASB (Financial Accounting Standard Board), fair value é o preço pelo qual um ativo ou passivo could be exchanged in a current transaction between knowledgeable, unrelated willing parties (FASB, 2004). Segundo o FASB, o objetivo da mensuração pelo fair value é estimar o preço de troca na ausência da transação real do ativo ou do passivo. Para LANDSMAN (2005), baseando-se no FASB, o fair value é o preço pelo qual um ativo pode ser negociado independentemente das entidades envolvidas na troca, assim como o preço também se iguala ao valor em uso obtido na negociação entre quaisquer outras entidades. É importante ressaltar que o conceito de fair value sofreu alterações pelo FASB ao deliberar o SFAS 157, sendo considerado o preço que seria recebido na venda de um ativo ou pago para a transferência de um passivo em uma transação regular (orderly transaction) entre participantes do mercado na data de mensuração (FASB, 2006). Em dezembro de 2000, um grupo de reguladores (The Financial Instruments Joint Working Group - JWG of Standard Setters) pôs em debate uma minuta (draft) que procurava explorar o uso extensivo do fair value accounting como base de avaliação para todos os instrumentos financeiros reconhecidos nos balanços de bancos. Para que pudesse receber críticas e fazer aperfeiçoamentos na minuta, o JWG convidou interessados para discuti-la publicamente. A minuta, numa análise concisa, propunha que todos os ativos e passivos dos bancos fossem reconhecidos por seus valores de mercado, se disponíveis, ou por seus fair values, que serviriam como uma proxy para o valor

de mercado, e que seriam calculados utilizando-se o valor presente dos fluxos de caixa futuros dos instrumentos. O Banco Central Europeu (ECB) foi incisivo nas críticas. Preliminarmente, a instituição ressalvou que, para transações de curto prazo, a aplicação do fair value poderia ser aceitável. No entanto, para instrumentos não-negociáveis, como empréstimos, o fair value seria inapropriado. Baseou-se em três argumentos para justificar sua posição: (i) os princípios do fair value não refletem apropriadamente o modo pelo qual os bancos gerenciam sua principal atividade: a concessão de empréstimos. A essência do negócio bancário fundamenta-se em decisões de longo prazo sobre a qualidade de crédito e a concentração e o fortalecimento das relações com clientes. Bancos seriam, então, menos suscetíveis a decisões de curto prazo, que representam a base dos princípios do fair value. Assim, a introdução do fair value nos moldes propostos na minuta poderia criar incentivos para que os bancos alterassem o seu core business. Esse seria o caso se bancos decidissem por diminuir sua exposição ao incremento de volatilidade causado pelo fair value accounting, tomando medidas como, por exemplo, a redução do prazo dos empréstimos; (ii) a determinação de um adequado fair value para a carteira de empréstimos seria de complexa (se não impossível) obtenção, já que eles são instrumentos de difícil negociação justamente porque incorporam elementos que não podem ser facilmente quantificáveis de forma padronizada. Além disso, algumas informações relevantes para determinação do fair value de empréstimos (originadas da relação bilateral entre tomadores e emprestadores) nunca poderiam ser precificadas pelo mercado; e (iii) as técnicas disponíveis para estimar o fair value possuiriam problemas metodológicos, o que aumentaria o risco de erros. Esses modelos não representariam uma efetiva base confiável de comparação de fair values em relação aos empréstimos concedidos. Com isso, a aplicação do conceito de fair value sobre os empréstimos concedidos daria margem a incertezas quanto à transparência e à comparabilidade das demonstrações financeiras dos bancos. Por fim, o Banco Central Europeu argumenta que o fair value acarretaria o mesmo tratamento para os potenciais resultados positivos e negativos dele decorrentes. E isso iria contra o princípio do conservadorismo, que determina que os resultados negativos devem ser reconhecidos tão logo se manifestem, ainda que apenas potencialmente, ao passo que resultados positivos devem ser reconhecidos somente se realizados. Resultados positivos potenciais deveriam ser reconhecidos apenas para instrumentos negociáveis. Nota-se que a posição do Banco Central Europeu tem um viés claramente favorável à atividade de supervisão bancária. Nem poderia ser diferente, mas há outros pontos de vista e interesses em jogo. É senso comum que o mercado de capitais norte-americano foca-se fortemente na figura do investidor. Por isso, há muitos estudos que procuram investigar a relevância do fair value para os investidores. Em congresso realizado pela SEC (Security Exchange Commission) em 2005, houve a manifestação de que existem dois benefícios básicos para o uso do fair value em todos os ativos e passivos, quais sejam, o uso de apenas uma unidade de avaliação (não mais avaliando parte como custo histórico e parte como valor a mercado) e a redução da complexidade dos relatórios contábeis. Contudo, segundo LANDSMAN (2005), é necessário levar em consideração que existem custos envolvidos com a aplicação do fair value. Ele afirma, ainda, ser essencial que órgãos reguladores levem em conta a relevância e a confiabilidade do fair value para investidores e credores, uma vez que alguns instrumentos financeiros não podem ser avaliados com precisão suficiente para ajudá-los a prever adequadamente a posição financeira e o

potencial de ganhos. Além disso, a ausência de preços ativos no mercado para certos ativos e passivos pode levar a decisões subjetivas ou manipulações. LANDSMAN (2005) também argumenta que, se não houver valor de mercado para determinados instrumentos financeiros e na necessidade de se utilizarem modelos de avaliação elaborados por gestores da própria empresa, a assimetria de informação pode conduzir a dois problemas distintos: à seleção adversa (adverse selection) e ao risco moral (moral hazard). Uma implicação importante da seleção adversa é avaliar pelo mesmo valor empresas com instrumentos financeiros aparentemente semelhantes, mas com características distintas. Já no tocante ao risco moral, os gestores tenderão a utilizar as informações particulares que possuem para tirar vantagem manipulando as informações que serão reveladas para o mercado e órgãos reguladores. Assim, a marcação a mercado pode ser feita com maior ou menor grau de subjetividade. Na presença de mercados líquidos, a marcação a mercado poderia ser mais facilmente compreendida por investidores e órgãos reguladores. De acordo com LANDSMAN (2005), o problema da marcação fica um pouco mais complexo quando inexistem mercados ativos, como é o caso do mercado brasileiro, particularmente se os instrumentos financeiros são compostos por outros instrumentos embutidos (embedded instruments), cujos valores dependem da inter-relação das condições de default e do risco inerente ao instrumento. Nessas condições, o preço de aquisição, de venda e em uso pode diferir de acordo com a percepção de cada instituição financeira. 2.3 Resultados de estudos anteriores Na literatura internacional, os estudos que avaliam a relevância de novas práticas contábeis implementadas pelo órgão regulador são cunhados com a designação de estudos de value relevance. BARTH, BEAVER & LANDSMAN (2001) (BBL) destacam que o primeiro estudo a utilizar a terminologia value relevance foi elaborado por Amir et. al. em 1993. BBL destacam que a relevância e a confiabilidade são os dois principais critérios utilizados pelo FASB para escolha entre valores (práticas) contábeis alternativos. A literatura de value relevance busca apenas operacionalizar esses conceitos já estabelecidos pelo FASB. Um valor contábil será relevante, isto é, terá relação significativa com o preço das ações, apenas se esse valor refletir informações relevantes para os investidores na avaliação das empresas e a mensuração for suficientemente confiável para ser refletida no preço das ações. BBL reconhecem que as definições de relevância e confiabilidade são complexas e fruto de juízo de valor e podem não ser totalmente capturadas na operacionalização da modelagem da pesquisa. De acordo com BBL, entre os potenciais usuários estão os pesquisadores acadêmicos, os reguladores (SEC, FED e FASB), administradores de empresas e intermediários de informações contábeis, entre outros. Esses autores também argumentam que essa literatura não deveria ser vista como única fonte de informação para os órgãos reguladores definirem a melhor prática contábil. O objetivo é fornecer algumas evidências para as deliberações do FASB. BBL reconhecem que o processo de formulação de normas contábeis é complexo e considera outros aspectos não incorporados nos estudos de value relevance. Para BBL, o principal foco do FASB e da SEC são os investidores, apesar da preocupação também com os credores. BBL também reconhecem a importância de outros usuários das demonstrações financeiras, mas argumentam que o foco apenas nos investidores não diminui a importância da literatura de value relevance. O próprio FASB, ao deliberar o SFAS 107 Disclosures about Fair Value of Financial Instruments, estava preocupado com questões relativas à relevância e à confiabilidade das informações divulgadas pelo fair value, sobretudo se referidas informações

incrementais poderiam ter utilidade para os usuários além daquelas já existentes nas demonstrações contábeis publicadas. Entre os principias temas abordados nos estudos de value relevance destacam-se: a) obrigações pós-emprego (aposentadoria e pensões); b) títulos de dívida e capital; c) empréstimos bancários; d) derivativos; e) ativos intangíveis não financeiros; e f) ativos tangíveis de longo prazo. HOLTHAUSEN & WATTS (2001) (HW) classificam os estudos de value relevance em três categorias: a) estudos de associação relativa: comparam a associação entre o preço das ações (ou retornos) e valores contábeis calculados por novos padrões propostos em relação aos valores de padrões existentes. Em geral, concluem que a prática contábil com maior R 2 é mais relevante; b) estudos de associação incremental: verificam se determinadas práticas contábeis são úteis em explicar o valor (ou retorno) das ações (coeficientes diferentes de zero). As diferenças entre valores estimados e previstos são geralmente interpretadas como evidências de erro de mensuração nos números contábeis (nível de confiabilidade); c) estudos de conteúdo informacional marginal: verificam se um valor contábil específico adiciona informação para um grupo de investidores (short window return studies). Dos estudos analisados foi constatado que 94% estão concentrados nos dois primeiros grupos (long windows studies). HW argumentam que existem alguns problemas de implementação dos modelos, quais sejam: a) alternância na adoção de níveis de preço e retornos; b) seleção de variáveis a serem incluídas no modelo; c) tratamento do erro de mensuração. Segundo BBL, a escolha entre a adoção do nível de preço ou retornos dependente das hipóteses adotadas na questão de pesquisa e de considerações econométricas. O primeiro está interessado no reflexo sobre o valor da empresa, enquanto o segundo está voltado para o reflexo na mudança de valor da empresa em um período de tempo específico. Apesar de as duas abordagens encaminharem questões relacionadas (mas diferentes), a falha no reconhecimento dessas diferenças pode resultar em inferências incorretas. Muitos estudos de value relevance operacionalizam a confiabilidade em termos de mensuração do erro e buscam determinar a extensão de mensuração do erro em um valor contábil específico. Entre os estudos de value relevance sobre fair value dos investment securities (SFAS 107), destacam-se dois estudos [ECCHER et al. (1996) e BARTH et al. (1996)], comentados a seguir. ECCHER et. al. (1996) examinaram a relevância do fair value da evidenciação de instrumentos financeiros de 257 bancos norte-americanos, em 1992, e 279 bancos, em 1993, conforme SFAS 107. Os resultados sugerem que as evidenciações requeridas pelo SFAS 105 e SFAS 107, em conjunto, produzem uma informação mais relevante. Os resultados das análises incrementais, entretanto, também sugerem que o custo histórico das variáveis apresentou mais relevância em comparação com a evidenciação do fair value nos dois normativos. No ano de 1992, o fair value isoladamente explicou 17% da variação da relação market-to-book e aumentou para 28% quando os valores nocionais foram adicionados ao modelo. Entretanto, o R 2 ajustado subiu para 53% quando foi incluído o custo histórico. As evidências sugerem que a diferença entre o fair value e o valor contábil dos instrumentos financeiros estão significativamente associados com o índice maket-to-book. Entretanto, as evidenciações do fair value para instrumentos financeiros, que não títulos e valores mobiliários, são relevantes apenas em limitadas situações. Adicionalmente, apenas em 1992, depois de incorporar a informação do custo histórico, as variáveis de fair value estão associadas com o índice market-to-book.

Em resumo, os resultados indicaram que as estimativas de fair value para os títulos e valores mobiliários, empréstimos, dívidas de longo prazo e instrumentos financeiros offbalance-sheet são relevantes (incrementalmente) para a amostra. É importante destacar que os autores argumentam que o nível da taxa de juros (variável exógena), fator que impacta nas estimativas do fair value, é bastante importante na avaliação da relevância da informação do fair value. BARTH et al. (1996), ao avaliarem os efeitos do SFAS 107 Disclosures about Fair Value of Financial Instruments, em termos de relevância da informação contábil produzida por bancos em notas explicativas, para os anos de 1992 e 1993, chegaram a resultados interessantes. A motivação dos autores para desenvolvimento da pesquisa junto aos bancos, em síntese, adveio de (i) a quase totalidade de ativos e passivos bancários estar contemplada pelo SFAS 107 (em média entre 92 e 97% dos ativos líquidos); (ii) haver muito ceticismo do mercado quanto à confiabilidade e à relevância das informações prestadas, em parte originado pelo fato de grande parte dos ativos contemplados pelo SFAS 107 (cerca de 60%) serem empréstimos com características extremamente peculiares que, segundo argumentado pelos críticos, limitam os modelos de avaliação; (iii) pesquisas anteriores terem chegado à conclusão de que o fair value de empréstimos não possui poder explicativo estatisticamente significativo. Os autores trabalharam com uma regressão cuja variável dependente era o diferencial entre o valor de cotação das ações dos bancos e o seu valor patrimonial e cujas variáveis independentes eram três conjuntos distintos de variáveis (itens contemplados pelo SFAS 107, itens não contemplados pelo SFAS 107 e itens potenciais competidores aos contemplados pelo SFAS 107). As conclusões desse estudo são: (i) há poder explicativo incremental para o fair value dos empréstimos bancários; (ii) o coeficiente de regressão dos empréstimos é significativamente maior em bancos com maior nível de regulação em termos de requerimento de capital, aspecto consistente com o fato de os participantes de mercado aplicarem taxas de desconto maior em bancos com solidez mais comprometida; (iii) há evidência de que o fair value dos itens de um modo geral contemplados pelo SFAS 107 possui poder de explicação sobre o preço das ações adicionalmente ao book value. A razão para terem chegado a conclusões distintas de estudos anteriores, como os de NELSON (1996) 4 e ECCHER et al. (1996), em especial no que concerne ao poder explicativo incremental para o fair value dos empréstimos bancários, refutado pelos aludidos pesquisadores, reside na especificação de suas regressões e na escolha da data de fechamento dos pregões, apesar de os três estudos cobrirem os anos de 1992 e 1993. BARTH et al. (1996) trabalharam com preços de fechamento de exercício, 31 de dezembro, e de divulgação das informações, 30 de abril, para o qual o coeficiente de regressão dos empréstimos revelou ser maior e estatisticamente significativo nos dois anos do estudo, o que é consistente com o tempo necessário para que a informação de domínio exclusivo de gestores seja difundida aos participantes de mercado pelos canais próprios. NELSON (1996) utilizou 31 de março, ao passo que ECCHER et al. (1996) utilizaram 31 de dezembro. BARTH et al. (1996) também argumentam que, pelo fato de terem se valido de variáveis adicionais às contempladas pelo SFAS 107, seu modelo de regressão mostrou-se mais robusto. NELSON (1996) e ECCHER et al. (1996) utilizaram tão-somente itens contemplados pelo SFAS 107 como variáveis do modelo. BERNARD, MERTON e PALEPU (BMP) publicaram um estudo (1995) sobre a marcação a mercado realizada em bancos dinamarqueses, que então já a utilizam por muitos anos. A primeira preocupação do estudo foi relativamente à confiabilidade do MTM (mark-to- 4 NELSON (1996) conclui que o fair value dos ativos e passivos contemplados pelo SFAS 107 não possui poder explicativo incremental para o preço da ação dos bancos, com possível exceção dos investment securities.

market accounting), particularmente devido à possibilidade de manipulação contábil, dada a subjetividade inerente àquela forma de mensuração. BMP (1995) não encontraram fortes evidências de que a marcação a mercado nos bancos dinamarqueses fosse objeto de manipulação para fins das exigências de requerimento de capital. O estudo de BMP (1995) possui uma característica muito interessante. Como o artigo procura elucidar pontos que os norte-americanos estavam questionando acerca da marcação a mercado, os autores traçam um paralelo entre os bancos dinamarqueses então usuários de longa data da marcação a mercado e os bancos americanos, que utilizavam o custo histórico. Contrariamente ao que prega o senso comum, eles encontraram evidências de que o mark-tomarket accounting produz números mais confiáveis do que os números reportados pelo custo histórico no sistema bancário americano. Basearam-se em duas constatações: (i) os preços das ações eram mais correlacionados com o book value dos bancos dinamarqueses, que incorporava a marcação a mercado, do que o book value dos bancos nos EUA, cujos ativos e passivos eram reconhecidos pelo custo histórico; e (ii) em contraste com a experiência norteamericana, os bancos vendidos em decorrência de intervenções regulatórias alcançavam preços próximos ou maiores que os registrados contabilmente. Segundo BMP (2005), mesmo bancos dinamarqueses vulneráveis a intervenções os quais presumivelmente teriam razões para superestimar os números relativos aos seus patrimônios líquidos reportariam valores que seriam estimativas conservadoras dos seus preços de venda. Outro resultado interessante do estudo refere-se à forma como a Dinamarca exercia sua política regulatória bancária. O sistema dinamarquês combinava MTM com uma política rígida de regulação bancária. Segundo BMP (2005), ambos MTM e rigidez regulatória podem ter contribuído para a redução dos custos nas soluções de falhas no sistema bancário dinamarquês. Por fim, BMG (2005) constatam que a volatilidade apresentada pelos lucros das instituições financeiras dinamarquesas era três ou quatro vezes superior à volatilidade que tinham antes da marcação a mercado. Para eles, uma maior volatilidade poderia levar à formação de colchões (cushions), uma prática então comum entre os bancos dinamarqueses de menor porte. Ressalvam, contudo, que, a despeito de a alta volatilidade refletir a realidade econômica subjacente das instituições, ela não implica ineficiência na supervisão bancária exercida sobre os bancos dinamarqueses. A extensão dos resultados para a realidade norte-americana foi, obviamente, alvo de nota pelos próprios autores. Observaram que, apesar de a experiência dinamarquesa poder ser útil numa decisão de implementação da marcação a mercado nos bancos americanos, as diferenças entre os dois países não poderiam ser menosprezadas. Número de instituições financeiras, ambiente político, natureza dos investimentos e condições de auditoria e regulação são apenas algumas das grandes diferenças que separavam as duas realidades. Além disso, a Dinamarca possuía então a marcação a mercado associada a um rígido controle exercido pelas autoridades reguladoras, o que não era, segundo os autores, uma realidade vista nos EUA, cuja história na atividade regulatória demonstrava uma atitude pouco agressiva em relação aos bancos. No Brasil, FURLANI (2005) avaliou os efeitos da alteração nos critérios de avaliação de instrumentos financeiros na volatilidade do patrimônio de referência das instituições financeiras brasileiras. Basicamente, FURLANI (2005) buscou testar se ocorreu uma variação significativa na volatilidade do Patrimônio de Referência PR (capital regulamentar), como efeito da alteração no critério de avaliação das carteiras de títulos e valores mobiliários (TVM) e de instrumentos financeiros derivativos (IFD), efetuada pelo Banco Central do Brasil, em 30 de junho de 2002 (Circulares 3.068/2001 e 3.082/2002). Neste estudo de evento foram analisadas 120 instituições financeiras no período compreendido entre novembro de 1998 e junho de 2004. Para fins de análise, as entidades

estudadas foram segregadas em três grupos: (1) as instituições financeiras públicas federais; (2) as instituições financeiras privadas de grande porte; (3) as demais. Os resultados obtidos demonstram que ocorreu um aumento de volatilidade no PR no período analisado nos três grupos de empresas estudadas. Entretanto, o autor conclui que o estudo não permite afirmar que a modificação apurada na evolução no PR real total decorreu das alterações na regulamentação dos padrões contábeis referentes à avaliação das carteiras de TVM e IFD, pois podem existir outras causas para as variações apuradas no período considerado, como, por exemplo, alterações no nível de provisões da carteira de operações de crédito. 3 ASPECTOS METODOLÓGICOS A parte empírica deste estudo divide-se em duas partes: a primeira procura investigar se há diferença estatística significativa entre as médias dos patrimônios líquidos dos bancos com a marcação a mercado e sem a marcação. A segunda parte verifica se o preço das ações de bancos listadas na BOVESPA foi de alguma forma sensibilizado pela marcação a mercado (value relevance). 3.1 Teste de diferenças de médias No teste das diferenças de médias, a amostra foi composta por 184 bancos comerciais e múltiplos que operam no Brasil. Todos os dados foram coletados do SISBACEN (Sistema do Banco Central do Brasil), por semestre, de junho de 2002 a junho de 2006. Cabe ressaltar que nem toda a marcação a mercado pôde ser verificada. Só a marcação a mercado que possui conta segregada no COSIF (plano contábil das instituições financeiras, padronizado pelo Banco Central) pôde ser objeto de estudo. Boa parte dos derivativos possui a contrapartida contábil da marcação a mercado feita diretamente em receitas e despesas, sem um COSIF específico que permita a sua separação. Por essa razão, restringimo-nos a verificar o impacto da marcação que possua COSIF específico, a saber: 6.1.6.00.00-9 ajuste a valor de mercado TVM e instrumentos financeiros para os títulos disponíveis para venda, efetuado diretamente no patrimônio líquido, sem transitar por resultado. Essa conta é a soma de duas outras: - 6.1.6.10.00-6 Títulos disponíveis para venda - 6.1.6.20.00-3 Hedge de Fluxo de Caixa 7.1.5.90.00-6 ajuste positivo ao valor de mercado dos títulos e valores mobiliários negociáveis, efetuado transitando pelo resultado; 8.1.5.80.00-6 ajuste negativo ao valor de mercado dos títulos e valores mobiliários negociáveis, efetuado transitando pelo resultado. Dessa forma, o teste de médias consistiu em comparar os patrimônios líquidos dos bancos com a marcação a mercado reconhecida nas contas acima e sem essa marcação. O patrimônio líquido do mês de junho de 2002 com a marcação (COM06/2002) foi comparado com o mesmo patrimônio líquido sem a marcação (SEM06/2002); o patrimônio líquido do mês de dezembro de 2002 com a marcação (COM12/2002) foi comparado com o mesmo patrimônio líquido sem a marcação (SEM12/2002) e assim por diante. Para verificação da significância das diferenças entre o patrimônio líquido com a marcação a mercado e o patrimônio líquido sem a marcação a mercado, foi realizado o teste t (paramétrico) de médias emparelhadas. A hipótese testada nesse estudo é a seguinte:

H o : não existe diferença entre patrimônio líquido das instituições financeiras no Brasil antes e depois do reconhecimento dos efeitos da marcação a mercado de títulos e valores mobiliários (TVM) e instrumentos financeiros derivativos (IFD). H 1 : existe diferença entre patrimônio líquido das instituições financeiras no Brasil antes e depois do reconhecimento dos efeitos da marcação a mercado títulos e valores mobiliários (TVM) e instrumentos financeiros derivativos (IFD). 3.2 Teste de value relevance da marcação a mercado Para avaliar empiricamente a relevância da informação contábil, foi utilizado o modelo de OHLSON (2005), que concilia a informação contábil prestada por uma dada companhia com o seu valor de mercado (preços negociados). A equação do modelo é a que segue: v t = bv t + τ = 1 R f τ E a [ x ] t + τ (1) Onde v t é o valor da firma no momento t; bv t é o patrimônio líquido em t e o termo mais à direita após a igualdade representa a expectativa dos lucros futuros trazidos a valor presente por uma taxa livre de risco. O critério de seleção para compor a amostra foi o de que a instituição financeira tivesse preço de ação em até 3 dias do fechamento do final do semestre e do final do ano. O Modelo de Ohlson (1) foi reescrito para atender aos objetivos deste estudo: Pr eço it PL * MTM = + 1 2 + AbnEar Qde Ações + Qde Ações α β β t= R + u t 0 it it it it 1 (2) As variáveis utilizadas na equação (2) são identificadas abaixo: a) Preço da Ação it : cotação da ação do banco i nos semestres t (2002 a 2004) para a janela D+3 (data de encerramento semestral das demonstrações contábeis); quando houver mais de uma classe e espécie de ação, será utilizado o papel mais líquido; b) Patrimônio Líquido por Ação (PL) it : patrimônio líquido na data t do banco i sem a marcação a mercado das contas 6.1.6.00.00-9, 7.1.5.90.00-6 e 8.1.5.80.00-6, conforme mencionado no item 3.1; c) MTM por ação it : marcação a mercado das contas indicadas no item (b), acima; d) Lucro Anormal por Ação (LA): somatório dos lucros anormais 5 dos dois semestres subseqüentes (equivalentes), calculados com base na taxa do CDI 6 do período, e descontados a valor presente pela taxa de 6% 7. Segundo o critério adotado, foram identificadas 7 instituições financeiras abertas com cotação em bolsa, com preço para a janela de evento utilizada (3 dias do encerramento das demonstrações contábeis semestrais de 2002, 2003 e 2004). A coleta dos dados ficou restrita aos dados disponibilizados na base de dados da Economática (preço por ação, patrimônio líquido por ação e lucro por ação). 5 Foi utilizada como proxy para cálculo do lucro anormal a diferença entre o valor obtido pela aplicação da taxa do CDI periódica (semestre) sobre o valor patrimonial da ação em t e o lucro realizado em t+1. 6 Optou-se pela utilização da taxa do CDI, pois segundo CARVALHO (1993) referida taxa poderia ser considerada como o custo de oportunidade das instituições financeiras. 7 Considerou-se como taxa livre de risco taxa de juros de remuneração da caderneta de poupança.

Para avaliar a relevância da informação contábil empiricamente, será utilizado o coeficiente de resposta (response coeficient) da variável a ser analisada isoladamente no caso a marcação a mercado registrada no patrimônio líquido dos bancos, conforme modelo de regressão proposto. Objetivamente, será observado se o coeficiente de regressão da marcação a mercado (MTM) é estatisticamente significativo e, conseqüentemente, se há algum incremento informacional com os efeitos das Circulares Bacen nº s 3.068/01 e 3.082/02. Em decorrência de limitações com o tamanho da amostra, e pelo fato de ser utilizada a mesma amostra temporalmente, a técnica estatística da Regressão Linear Múltipla Clássica RLMC não é apropriada. A análise de dados em painel é uma técnica que serve aos propósitos do trabalho, sobretudo considerando a conjugação de dados de cross section com dados de séries de tempo. 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS EMPÍRICOS Na análise da significância das diferenças das médias entre o patrimônio líquido com a marcação a mercado e o patrimônio líquido sem a marcação, foram obtidos os seguintes resultados apresentados na Tabela 3: Tabela 2 Teste de diferenças entre as médias do PL com a marcação e sem a marcação por semestre Período t Df Sig. (2-tailed) jun/02-3,897 183 0,0000 dez/02-2,94 183 0,0040 jun/03 0,943 183 0,3470 dez/03 2,112 183 0,036 (*) jun/04-0,215 183 0,8300 dez/04 2,419 183 0,017 (*) jun/05 1,085 183 0,2790 dez/05 2,105 183 0,037 (*) jun/06 1,13 183 0,2600 * rejeita-se ao nível de significância de 5%. Tabela 3 Resultado da comparação de médias dos patrimônios líquidos com e sem a marcação A tabela 3 demonstra que, a um nível de 5%, houve diferença significativa entre as médias nos períodos de 06/2002, 12/2002, 12/2003, 12/2004 e 12/2005. Para os demais períodos, aceita-se a hipótese de que as médias são as mesmas, ou seja, a MTM não faz com que os patrimônios líquidos desses anos difiram significativamente. Notadamente, nos dois primeiros semestres findos após a vigência das Circulares Bacen nº s 3.068/01 e 3.082/02, os efeitos da marcação a mercado foram estatisticamente significativos. Adicionalmente, é importante destacar que no segundo semestre dos exercícios analisados os efeitos da marcação a mercado foram estatisticamente significativos, enquanto no primeiro semestre dos exercícios analisados não há diferença, exceto para o primeiro semestre de 2002. Na análise da relevância da marcação a mercado, com base no modelo de Ohlson, foram obtidos os seguintes resultados:

Tabela 4 Relevância da Marcação a Mercado para as Instituições Financeiras (Modelo de Ohlson dados sintéticos) Pr eço it PL * + MTM + = + Qde Ações α0 β1 β2 β3 Qde Ações it t = 1 AbnEar R it t + u it Regressão Regressões em Cross Section Painel Efeito dez/02 Jun/03 Dez/03 Jun/04 Dez/04 Aleatório Efeito Fixo Jun/02 Combinada (a) N (obs.) 41** 6 7 7 7 7 7 41 41 N (dados) R2 0,8447 0,9870 0,9563 0,9985 0,9040 0,9747 0,9711 0,7968 0,6829 Teste F 0,0000 0,0026 0,0143 0,0000 0,0203* 0,0011 0,0063 0,0000 0,0000 valor-p Constante 0,031 0,690 0,835 0,997 0,447 0,370 0,993 0,292 0,000 PL* 0,000 0,007 0,357 0,003 0,856 0,944 0,234 0,000 0,000 MTM 0,000 0,002 0,122 0,001 0,498 0,295 0,137 0,000 0,212 LA 0,585 0,063 0,285 0,139 0,912 0,696 0,182 0,031 0,000 (a) excluído o Sudameris, em jun/02. * rejeita-se ao nível de significância de 5%. Pela regressão combinada, a princípio, a conclusão a que se é levado a chegar é que a MTM é estatisticamente significante, sendo por via de conseqüência value relevant. Analisando individualmente as cross sections, ao longo dos 6 semestres estudados, a MTM passa nos semestres Jun/02 e Jun/03, sendo rejeitada nos semestres Dez/02, Dez/03, Jun/04 e Dez/04. Considerando o resultado do teste de Breush Pagan e pela natureza dos dados (cross section vs. time series), é indicado o modelo de dados em painel com efeito fixo. Por ele, a MTM não é estatisticamente significante. A tabela a seguir apresenta a análise da relevância da marcação a mercado segregando os efeitos reconhecidos diretamente no patrimônio líquido daqueles registrados no resultado do período.

Tabela 5 Relevância da Marcação a Mercado para as Instituições Financeiras (Modelo de Ohlson dados analíticos) PL * MTM _ PL MTM s Abn + u Qde Ações Qde Ações + _ Re = Qde Ações + 2 Pr eçoit α0 + β1 + β2 β3 β4abn1 + β5 it it Regressão Regressões em Cross Section Painel Efeito dez/02 Jun/03 dez/03 Jun/04 Dez/04 Aleatório Efeito Fixo Jun/02 Combinada (a) N (obs.) 41** 6 7 7 7 7 7 41 41 N (dados) R2 0,8553 NA 0,9987 1,0000 0,9987 0,9997 0,9930 0,8426 0,6854 Teste F 0,0000 NA 0,0105 0,0006 0,0201* 0,0012 0,0014 0,0000 0,0000 valor-p Constante 0,073 NA 0,974 0,306 0,274 0,411 0,589 0,942 0,000 PL* 0,000 NA 0,513 0,737 0,399 0,043 0,683 0,000 0,000 MTM_PL 0,000 NA 0,208 0,187 0,077** 0,501 0,175 0,000 0,414 MTM_Res 0,549 NA 0,110 0,026* 0,082** 0,386 0,249 0,469 0,231 LA1 0,630 NA 0,890 0,469 0,258 0,390 0,472 0,966 0,727 LA2 0,481 NA 0,646 0,106 0,409 0,177 NA 0,584 0,013 (a) excluído o Sudameris, em jun/02. Devido ao grande número de variáveis e ao pequeno número de observações, a regressão não foi rodada no pacote estatístico utilizado. * rejeita-se ao nível de significância de 5%. ** rejeita-se ao nível de significância de 10%. Pela regressão combinada, a princípio, a conclusão que se é levado a chegar é a de que a MTM com efeito no PL é estatisticamente significante, sendo por via de conseqüência value relevant, ao passo que a MTM com efeito no resultado não é. Analisando individualmente as cross sections, ao longo dos 6 semestres estudados, apenas em jun/03 a marcação a mercado registrada no resultado do período (MTM_RES) é significativa, para um nível de significância de 5%. Considerando o resultado do teste de Breush Pagan e pela natureza dos dados (cross section x time series) é indicado o modelo de dados em painel com efeito fixo. Por ele, as variáveis MTM não são estatisticamente significantes. De acordo com as evidências estatísticas (painel com efeito fixo) apresentadas nas tabelas 4 e 5, a marcação a mercado não demonstrou ser uma variável estatisticamente significativa na explicação dos preços das instituições financeiras analisadas. Entre as possíveis razões para obtenção desses resultados, podem-se citar: (i) A limitação na base de dados, com poucas instituições financeiras abertas com liquidez; (ii) O fato de a teoria econométrica de dados em painel ter sido construída para um t (dados de time series ) pequeno e n (dados de cross section ) grande. Na base de dados utilizada têm-se t =6 e n =7; e (iii) O possível erro de medição da MTM, por conta de um possível reconhecimento dos efeitos da marcação a mercado em conjunto com outros itens, especialmente no caso do IFD.

5 CONCLUSÃO O objetivo desse estudo foi avaliar a relevância da marcação a mercado realizada no Brasil. O teste empírico foi divido em duas partes: a primeira procurou investigar se há diferença estatística significativa entre as médias dos patrimônios líquidos dos bancos com a marcação a mercado e sem a marcação. A segunda parte verificou se o preço das ações de bancos listadas na BOVESPA foi de alguma forma sensibilizado pela marcação a mercado (value relevance). Os resultados dos testes de médias dos patrimônios líquidos com e sem a marcação a mercado demonstraram que, a um nível de 5%, houve diferença significativa entre as médias nos períodos de 06/2002, 12/2002, 12/2003, 12/2004 e 12/2005. Notadamente, nos dois primeiros semestres findos após a vigência das Circulares Bacen nº s 3.068/01 e 3.082/02, os efeitos da marcação a mercado foram estatisticamente significativos. Adicionalmente, é importante destacar que no segundo semestre dos exercícios analisados os efeitos da marcação a mercado foram estatisticamente significativos, enquanto no primeiro semestre dos exercícios analisados não há diferença, exceto para o primeiro semestre de 2002. No teste da relevância da marcação a mercado, as evidências estatísticas (painel com efeito fixo) apresentadas nas tabelas 4 e 5, demonstraram que a marcação a mercado não é uma variável estatisticamente significativa na explicação dos preços das instituições financeiras analisadas. Na análise dos dados em cross section observa-se a relevância da marcação a mercado para os semestres de jun/02 e jun/03. Diferentemente do teste de médias, o teste de relevância da marcação a mercado apresentou algumas limitações que podem ter afetado significativamente os resultados obtidos, são elas: (i) a limitação na base de dados, com poucas instituições financeiras abertas com liquidez; (ii) o fato de a teoria econométrica de dados em painel ter sido construída para um t (dados de time series ) pequeno e n (dados de cross section ) grande; e (iii) o possível erro de medição da MTM, por conta de possível do reconhecimento dos efeitos da marcação a mercado em conjunto com outros itens, especialmente no caso do IFD. Ademais, outra limitação da pesquisa está relacionada com a possibilidade de nem toda a marcação a mercado ter sido considerada na estatística por não existir uma conta COSIF específica para a contrapartida contábil da marcação a mercado para alguns derivativos. Esse foi um dos grandes óbices para que se pudesse conduzir este trabalho: a ausência de informações publicamente disponíveis, segregadamente identificadas. Os dois testes possuem enfoques diversos e, por isso, talvez pudessem ser vistos como de interesse particular de um tipo ou de outro de usuário da informação contábil. O estudo referente à diferença entre as médias dos patrimônios com e sem a MTM poderia ter maior importância, por exemplo, para o Banco Central. Nos períodos em que as médias diferiram significativamente, a autoridade monetária poderia investigar as razões pelas quais os bancos reconheceram a marcação em tal volume e se essa marcação poderia estar sendo utilizada para manipulação do capital mínimo exigido. Quanto ao estudo de value relevance, por seu turno, o interesse poderia ser de interesse de investidores e de analistas, por duas razões principais: para verificar se o mercado precifica a marcação nas ações dos bancos, bem como com o intuito de investigar se a marcação é utilizada para gerenciamento de lucro. A partir deste estudo, abrem-se avenidas pelas quais futuras pesquisas podem se encaminhar. A possibilidade de gerenciamento de lucro e de patrimônio mínimo exigido, por exemplo, pode ser investigada, o que muito contribuiria para o entendimento da marcação a mercado no Brasil.

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