Tribunal de Contas da União Número do documento: DC-0879-41/00-P Identidade do documento: Decisão 879/2000 - Plenário Ementa: Acompanhamento. Ação de Cobrança movida pela Construtora Mendes Júnior. Ressarcimento de valores devidos pela CHESF relativos a juros de mercado e encargos financeiros em razão de ter sido obrigada a captar recursos no mercado financeiro, objetivando dar seqüência as obras da construção da Hidrelétrica de Itaparica, como conseqüência dos atrasos da estatal no pagamento de faturas. Determinação. Arquivamento. Grupo/Classe/Colegiado: Grupo I - CLASSE VII - Plenário Processo: 010.336/1999-0 Natureza: Acompanhamento Entidade: Companhia Hidro Elétrica do São Francisco - CHESF Interessados: Interessado: Tribunal de Contas da União Dados materiais: ATA 41/2000 DOU de 27/10/2000 INDEXAÇÃO Acompanhamento; CHESF; Empresa Privada; Ressarcimento; Juros de Mora; Encargos Financeiros da União; Mercado Financeiro; Execução de Obras e Serviços; Pagamento; Recursos Financeiros; Empresa Estatal; Sumário: Acompanhamento da Ação Declaratória movida pela Construtora Mendes Júnior Engenharia S.A., pleiteando reconhecimento do seu direito ao ressarcimento completo e atualizado, pela CHESF, dos valores relativos a juros de mercado e encargos financeiros em que teria incorrido a construtora, em razão de ter sido obrigada a captar recursos no mercado
financeiro para dar seqüência às obras de construção da Hidrelétrica de Itaparica, em conseqüência de atrasos no pagamento das faturas, determinado pela Decisão nº 420/99 - Plenário. Procedência da Ação Declaratória, já transitada em julgado. Existência de Ação de Cobrança, julgada procedente em 1º grau de jurisdição, fundamentada no Acórdão que considerou procedente a Ação Declaratória. Apelação Civil apresentada pela CHESF considerada procedente. Necessidade de a Construtora Mendes Júnior Engenharia S.A. ingressar com nova Ação de Cobrança, ainda não autuada. Determinação à CHESF e à Secretaria Federal de Controle para que passem a informar detalhadamente, nas contas anuais daquela, da situação da referida ação, bem como das eventuais providências adotadas. Determinação à SECEX-PE para que explicite, nas instruções lançadas nas Contas anuais, as informações trazidas pela CHESF e pela SFC. Arquivamento. Relatório: Trata-se de processo de Acompanhamento de ação judicial envolvendo a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco - CHESF e a construtora Mendes Júnior Engenharia S.A., determinado pela Decisão Plenária nº 420/99. 2.Rememorando os fatos, transcrevo detalhado resumo da ocorrência, apresentado pela própria Entidade, em atendimento à diligência promovida pela SECEX-PE: "a) A CHESF firmou, com a Construtora Mendes Júnior S/A, contrato para a construção da hidrelétrica de Itaparica. b) Concluída a construção da usina, a Mendes Júnior propôs contra a CHESF uma ação declaratória de seu pretendido direito de ser indenizada de todos os prejuízos que para ela teriam decorrido do atraso no pagamento, pela CHESF, de prestações devidas pelas obras da mencionada hidrelétrica. Correndo essa ação perante o Juízo de Direito da 4ª Vara Cível desta Comarca do Recife. A alegação da Mendes Júnior, nessa ação, é de que teria se socorrido do mercado financeiro para executar a obra da hidrelétrica e que os encargos moratórios pagos pela CHESF não teriam coberto os encargos pagos ao mercado financeiro, cujas taxas segundo ela, eram bastante superiores às taxas pagas pela CHESF. c) Essa ação declaratória foi julgada improcedente no primeiro grau de jurisdição e, posteriormente, julgada procedente pela 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Pernambuco, no julgamento da Apelação Cível nº 816/89, sendo Relator o Desembargador Itamar Pereira, Revisor o Desembargador Benildes Ribeiro, completando a Câmara o Desembargador Célio Montenegro, por acórdão que, em parte, transitou em julgado.
Desse acórdão, a CHESF interpôs Recurso Especial, do qual o Superior Tribunal de Justiça não tomou conhecimento, por acórdão que, também em parte, transitou em julgado. d) Nos votos proferidos pelos eminentes Ministros do Superior Tribunal de Justiça, ao julgar o Recurso Especial 5.059-PE (interposto pela CHESF contra a decisão do Tribunal de Justiça de Pernambuco, que julgou procedente a ação declaratória movida pela Mendes Júnior), restou, entretanto, absolutamente clara a exigência de que a suposta captação de recursos deveria ser provada pela Mendes Júnior em sua futura ação de cobrança. e) Em 14.11.93, com pretendido fundamento no mencionado acórdão, a Mendes Júnior propôs contra a CHESF, perante o mesmo Juízo de Direito da 4ª Vara Cível desta Comarca do Recife, uma ação de cobrança da indenização que alegou caber-lhe, em decorrência daquele atraso de pagamento. f) A ação foi julgada procedente em primeiro grau de jurisdição, sendo imposta à CHESF uma condenação em montante histórico superior a R$ 1.500.000.000,00 (um bilhão e quinhentos milhões de reais), devendo esse valor, segundo a sentença 'ser atualizado até a data do efetivo pagamento, tendo como parâmetro, ainda, o mercado', sendo a CHESF também condenada a pagar honorários aos advogados da empreiteira recorrente, na base de 20% (vinte por cento) do valor do principal. g) Contra a aludida sentença foi interposta a Apelação Cível 25.981-6, tendo a Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Pernambuco, por unanimidade, acolhido a preliminar do Relator, Desembargador Carlos Xavier Paes Barreto, considerando que a prova feita nos autos afastou-se do que determinava o acórdão da ação declaratória, anulando o processo desde a realização da perícia e, ordenando o retorno dos autos à 4ª Vara, para nova produção de provas. h) A mesma Segunda Câmara ainda considerou que a perícia fora realizada por perito 'não habilitado e, nem tampouco especializado, para apresentar um resultado de conformidade com o que está definido no acórdão transitado em julgado, da Primeira Câmara Cível deste Tribunal, estando não somente imprestável para um julgamento perfeito mas nula, por ofender dispositivos legais'. i) Referido acórdão acrescentou que a indenização seria dos valores decorrentes do financiamento da obra de Itaparica, e obtidos ante a falta de pagamento, por parte da CHESF, na oportunidade contratual própria, haja vista que o acórdão proferido na ação declaratória havia
garantido à Mendes Júnior o ressarcimento dos valores decorrentes do financiamento da obra de Itaparica. Isto importa dizer que, para não se afastar dessa determinação, a perícia deveria identificar na contabilidade da Mendes Júnior os valores por ela despendidos com o financiamento da obra de Itaparica, decorrente do atraso de pagamento pela CHESF, apurando-se o custo do financiamento tomado, a remessa bancária para a obra e o gasto, sendo este, enfim, o valor a ser ressarcido, caso, evidentemente, já não tivesse sido coberto pela sistemática de juros e correção monetária com a qual a CHESF pagou à Mendes Júnior ditos atrasos j) A Mendes Júnior interpôs Recurso Extraordinário contra esse acórdão, o qual não foi admitido pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco, por falta de pagamento das custas recursais. Contra o despacho que inadmitiu o Recurso Extraordinário, a Mendes Júnior interpôs Agravo de Instrumento, que não foi provido pelo Supremo Tribunal Federal, tendo essa decisão transitado em julgado.. k) Em seguimento, a Mendes Júnior interpôs Recurso Especial para o Superior Tribunal de Justiça, havendo aquela Corte, além de não conhecer do recurso, admitiu a União federal como parte no feito, determinando que este tivesse curso não mais perante a 4ª Vara Cível da Comarca do Recife, e sim perante uma das Varas Federais da Seção Judiciária de Pernambuco. l) Contra essa decisão, na parte em que remete o feito para a esfera de competência da Justiça Federal, a Mendes Jùnior interpôs Embargos de Divergência, os quais se encontram, presentemente, com vistas para o Relator, Ministro Waldemar Zveiter, aguardando julgamento." 3.Em complementação ao resumo apresentado pela CHESF, a zelosa SECEX-PE, antes de encaminhar os autos a meu Gabinete, acrescentou ainda as seguintes informações: "a) os Embargos de Divergência foram indeferidos pelo Relator, em 22.11.1999; b) dessa Decisão, coube Agravo Regimental interposto pela construtora; c) o Agravo Regimental foi julgado em 17.05.2000, sendo-lhe negado provimento; d) em 27.06.2000, a Mendes Júnior juntou pedido de desistência dos Embargos promovidos;
e) em 04.07.2000, o Relator homologou o pedido de desistência da parte autora; f) como não houve recurso, o processo foi encaminhado em 09.08.2000 ao setor de expedição para baixa definitiva ao TJ/PE; g) ainda não há notícias da autuação do processo de Cobrança pela Seção Judiciária da Justiça Federal em Pernambuco, conforme determinado pelo STJ." 4.Em sua Instrução, a SECEX-PE destacou: "12. Importante comentar a mudança de rumo sofrida por esse processo de cobrança movido pela Mendes Júnior. Em sentença proferida na primeira instância da Justiça Estadual de Pernambuco, a CHESF foi condenada a ressarcir à Mendes Júnior um montante superior a R$ 1,5 bilhão, ainda a ser atualizado até a data do pagamento, utilizando o 'mercado' como parâmetro, além dos honorários advocatícios de 20% sobre o valor principal. 13. Com a Apelação Cível movida pela CHESF, o processo foi remetido ao TJ/PE, que, unanimemente, entendeu que a perícia realizada na 1ª instância havia se afastado do que fora determinado pelo acórdão na Ação Declaratória. Foram, assim, anulados todos os atos do processo, desde a perícia, e determinado o retorno dos autos à primeira instância para nova produção de provas." 5.Aduzindo que o prazo de finalização de um processo de cobrança executiva é normalmente longo, tornando desaconselhável a manutenção da atual sistemática de acompanhamento, a Unidade Técnica propôs, em pareceres uniformes, que "seja determinado à CHESF que passe a informar em suas contas anuais prestadas a esta Corte o andamento do processo de Cobrança em curso na Justiça Federal/PE, movido pela empresa Mendes Júnior Engenharia S/A", arquivando-se o presente processo. É o Relatório. Voto: Como se verifica, a CHESF vem adotando todas as providências a seu cargo no intuito de, senão eliminar, ao menos reduzir o prejuízo que lhe foi imposto por força de decisão judicial. Importante salientar que com o reconhecimento, pelo Superior Tribunal de Justiça, do interesse da União no feito, também a Advocacia-Geral da União passa nele a atuar, ampliando sua representatividade processual e bem como as possibilidades de que a CHESF venha, ao final, ser bem sucedida no
processo de que se trata. 2.Concordo com as conclusões da SECEX-PE, no que concerne à inconveniência de manter-se aberto este processo de acompanhamento por tempo indefinido, em vista do cenário de longo prazo que se vislumbra para o término das ações judiciais que nele se discutem. Creio que o acompanhamento do assunto nas contas anuais da CHESF em nada prejudicará a efetividade das eventuais ações que tenha esta Corte que adotar. Ante o exposto, manifesto-me de acordo com os pareceres e VOTO no sentido de que o Tribunal adote a deliberação que ora submeto ao Colegiado. T.C.U., Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 18 de outubro de 2000. ADHEMAR PALADINI GHISI Ministro-Relator Assunto: VII - Acompanhamento Relator: ADHEMAR GHISI Unidade técnica: SECEX-PE Quórum: Ministros presentes: Humberto Guimarães Souto (na Presidência), Adhemar Paladini Ghisi (Relator), Marcos Vinicios Rodrigues Vilaça, Bento José Bugarin, Valmir Campelo, Adylson Motta, Guilherme Palmeira e o Ministro-Substituto José Antonio Barreto de Macedo. Sessão: T.C.U., Sala de Sessões, em 18 de outubro de 2000 Decisão: Os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão Plenária, diante das razões expostas pelo Relator, DECIDE: 8.1. determinar à Companhia Hidro Elétrica do São Francisco - CHESF e à
Secretaria Federal de Controle que passem a informar, detalhadamente, nas Contas Anuais daquela, a situação da Ação de Cobrança movida pela Construtora Mendes Júnior Engenharia S.A. contra a dita Companhia, fundamentada no Acórdão que considerou procedente a Ação Declaratória que reconheceu o seu direito ao ressarcimento completo e atualizado dos valores relativos a juros de mercado e encargos financeiros em que teria incorrido a empresa, em razão de ter sido obrigada a captar recursos no mercado financeiro para dar seqüência às obras de construção da Hidrelétrica de Itaparica, em conseqüência de atrasos no pagamento de faturas; 8.2. determinar à SECEX-PE que explicite, nas instruções lançadas nas contas anuais da CHESF, as informações referidas no item 8.1 supra; 8.3. arquivar o presente processo.