HISTÓRIA E TURISMO NA CAPITAL DO CHAMPANHA 1

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Transcrição:

HISTÓRIA E TURISMO NA CAPITAL DO CHAMPANHA 1 SILVEIRA, Vanilson Pereira 2 ; BECKER, Elsbeth Léia Spode 3 1 Trabalho de Pesquisa. Apresentado no XIV Simpósio de Ensino, Pesquisa e Extensão Sepe 2012 Santa Maria Rio Grande do Sul Brasil 2 Curso de Turismo do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil 3 Curso de Geografia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil E-mail:vanilson.silveira@gmail.com; elsbeth.geo@gmail.com RESUMO O estudo da história de Garibaldi torna-se o elemento central neste artigo, tendo por objetivo resgatar, por meio da literatura existente o processo de formação e colonização da cidade, assim como uma breve contextualização sobre os primeiros indícios do turismo e a inserção do champanha no cenário local. A metodologia consistiu na revisão bibliográfica e na abordagem conceitual da história de Garibaldi e sua relação com o champanha e o turismo. Nelas foram utilizadas a perspectiva geográfica e social da história de Garibaldi, a partir das obras de autores que descrevem o contexto da imigração e o cenário social e geográfico que viria a construir a história da cidade. Ao estabelecer a relação entre a história, a formação industrial e cultural de Garibaldi, pôde-se inferir que existe uma interação geográfica e espiritual entre estes três elementos. Palavras-Chave: Garibaldi, Colonização, Champanha. 1. INTRODUÇÃO A vinda dos imigrantes europeus e sua instalação no território rio-grandense, especialmente no local da futura cidade de Garibaldi, vieram a cumprir a intenção do governo provincial em colonizar o sul do Brasil com os imigrantes que estavam adaptados a condições hostis de clima, relevo e vegetação nativa. Assim, diante dos discursos elaborados para atrair o imigrante à nova terra, estavam as facilidades de compra de terra e de trabalho. Contudo, o cenário idealizado era outro, desde as condições insalubres de transporte da Europa até o Brasil, como também nos acampamentos que serviram de base até a construção de suas moradias. Ainda assim, os imigrantes se desafiaram e engendraram na nova condição de vida. Os primeiros imigrantes italianos chegaram a antiga colônia Conde D Eu, atual Garibaldi, e encontraram, já estabelecido, um grupo de franceses que servira de núcleo base para o povoamento da região. Com o passar dos anos, foram chegando à cidade outras levas de imigrantes, contribuindo para o aumento da população para a emancipação do município e para a construção de uma sociedade que definiu uma identidade ao lugar (GIRONDI, 2007).

A identidade de Garibaldi está fortemente assentada no seu aspecto histórico e, nesse sentido, a cidade alcançou o título de Terra do Champanha, que estabelece uma relação entre as indústrias locais, a comunidade e os turistas. Desse modo, a questão de pesquisa que se estabelece é: Quais são e como se organizam as inflexões sobre a comunidade local e sua identidade histórica introduzidas pela dinâmica industrial, especialmente, a partir da introdução do champanha? O presente estudo pretende estabelecer uma reflexão sobre a relação entre o processo de formação e colonização da cidade, bem como uma breve contextualização sobre os primeiros indícios do turismo e a inserção do champanha no cenário local. 2. METODOLOGIA A metodologia está embasada na revisão bibliográfica e na abordagem conceitual da história de Garibaldi e sua relação com o champanha e o turismo. Nelas foram utilizadas a perspectiva geográfica e social da história de Garibaldi, a partir das obras de autores que descrevem o contexto da imigração e o cenário social e geográfico que viria a construir a história da cidade. 3. DESENVOLVIMENTO 3.1 Caracterização e descrição do recorte espacial da pesquisa O município de Garibaldi está localizado na região fisiográfica da Encosta Superior do Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul, totalizando uma área de 169 Km² (figura 1). O clima mesotérmico e úmido da região define-se, conforme a classificação de Köppen, como do tipo Cfa, caracterizado como Subtropical úmido, com verões quentes, sem estação seca definida. Na estrutura geológica, predomina o basalto, e o relevo é montanhoso, característico da Serra Gaúcha: uma região recortada profundamente por rios que formam vales estreitos. As altitudes variam de 300 a 800 metros. Segundo Rambo (2000), a vegetação original do município de Garibaldi era caracterizada pelos campos e pelas florestas, dos Pinhais e Estacional Decidual. Garibaldi localiza-se próximo à capital do Estado, distando apenas 105 quilômetros de Porto Alegre, com uma população estimada em 30.692 habitantes (IBGE, 2010).

Figura 1. Município de Garibaldi e sua localização no Rio Grande do Sul. Fonte: Clemente; Ungareti (1993). Adaptado. 3.2 O processo de imigração e a Colônia Conde D Eu A colonização do sul do Brasil pode ser atribuída a dois principais fatores históricos. O primeiro, ao interesse colonizador das Américas em trazer os imigrantes europeus, oferecendo facilidades para compra de terras e trabalho, e o segundo referente à necessidade da Europa de promover uma diminuição da população, devido ao cenário caótico de constantes revoluções, guerras, além do empobrecimento das zonas rurais e urbanas com a consequente falta de trabalho da população. Conforme inferem Clemente; Ungaretti, (1993, p. 13) Os Estados Unidos da América do Norte, a Argentina, o Brasil e outros países da América do Sul aproveitando-se dessa crise faziam intensa propaganda conclamando braços para o trabalho agrícola e industrial. Ofereciam facilidades de aquisição de terras e de trabalho a todos os profissionais que desejassem melhorar a vida. E de certa forma Far l América.

Nesse contexto, o Governo Imperial tinha por objetivo povoar a região sul do Brasil com os imigrantes europeus para ampliar e desenvolver o território, como também para diversificar as práticas agrícolas. Além disso, a política de povoamento era intencionalmente racista e obedecia a um antigo objetivo de D. Jõao VI de tentar branquear o país através da introdução de agricultores europeus fortes e de pela clara. (GIRONDI, 2007, p. 18). Assim, a intenção do Governo Provincial era povoar o planalto que apresentava condições geográficas não muito atrativas, já que, nas áreas de fácil acesso, o processo de povoamento já havia iniciado, principalmente pelos prussianos (alemães). Sendo assim, em 1870, o então Presidente da Província João Sertório, tratou de criar as duas primeiras colônias, denominadas Colônia Conde D Eu, hoje Garibaldi, e Colônia Dona Isabel que atualmente é Bento Gonçalves. O nome Colônia Conde D Eu era uma homenagem ao genro de D. Pedro II, e a outra, Dona Isabel, era uma homenagem à Princesa Imperial, casada com Conde D Eu. GIRONDI ( 2007). Nesse contexto, Clemente; Ungaretti ( 1993, p. 12), concluem que: O imigrante, depois de atravessar o Atlântico, chegava ao Rio de Janeiro e era confinado na Ilha das Flores, até seguir viagem para o Sul em vapores de precárias condições. Chegando a Porto Alegre era jogado em alojamentos superlotados. E depois viajava em barcos para chegar a Montenegro. E de lá até seu destino, a Colônia Conde D Eu, seguida por uma estrada, que passava no Maratá. Essa estrada era estreita e íngreme, não permitindo mais que a passagem de uma carroça, e muitas vezes, o imigrante era obrigado a carregar nas costas a bagagem, além de ferramentas e alimentos. Dependendo das condições climáticas, a viagem demorava três ou quatro dias. Foi na colônia Conde D EU que se formou o primeiro núcleo de colonização na Região Serrana do Estado. Isso se deve muito à existência de uma única estrada na época, que iniciava em Montenegro e passava por Maratá,acabando na Colônia Conde D Eu, a Buarque de Macedo, que viria a constituir a principal rota de comércio da região. Entre os anos de 1870 e 1874, começaram a chegar à colônia os primeiros imigrantes, correspondendo a um grupo de 37 colonos, todos prussianos (alemães). Contudo, mesmo antes de sua chegada, a colônia Conde D Eu já era habitada por indígenas ou bugres como eram denominados. Em 1874, chegaram as primeiras famílias suíço-francesas que serviram de núcleo-base para a colonização. O ano de 1875 marca a chegada das primeiras levas de imigrantes italianos. A população que, na época, era de 720 habitantes, atingiu, em 1876, o número de 870. Esses italianos, em sua maioria, vinham da região de Trento e trabalhavam em mutirão na derrubada da mata virgem e na organização das roças e lavouras. Plantaram parreiras e construíram suas casas de madeira (GIRONDI, 2007, p.22). Segundo Clemente; Ungaretti, (1993, p. 13):

Conde D Eu, Dona Isabel, Caxias do Sul e Silveira Martins foram os principais centros da colonização italiana, que a partir de 1876, se desenvolveram rapidamente. Em poucos anos essas regiões foram ocupadas e trabalhadas pelos imigrantes e seus descendentes. Assim, os imigrantes italianos foram construindo suas casas, cultivaram parreiras para elaboração do vinho e aos poucos foram reconstruindo suas vidas. Buscavam conforto através da religião e ergueram as primeiras capelas que eram usadas para a reza do terço, pois a fé católica é um dos traços marcantes da cultura italiana.em 1878, fase colonial, já morava, em Conde D Eu, cerca de três mil pessoas sendo, na maioria, italianos. Depois de uma viagem cansativa e longa, os imigrantes eram abrigados em barracões, em condições insalubres, até que seus lotes de terra fossem demarcados e suas casas erguidas, a mortalidade infantil, nesses alojamentos, era alta, e as condições de vida, precárias. Posteriormente, a Colônia foi elevada à categoria de freguesia de São Pedro. Em 13 de abril de 1884, as duas colônias foram emancipadas e, a partir de 1890, se ergueram as construções que hoje formam o Centro Histórico do município. Pelo Decreto n 327, de 31 de outubro de 1900, Antonio Augusto Borges de Medeiros, Presidente do Estado do Rio Grande do Sul, elevou Conde D Eu a Vila e município autônomo, sob o nome de Garibaldi (Clemente; Ungaretti, 1993, p. 18). 3.3 O turismo e seus primeiros indícios da cidade de Garibaldi A implantação da ferrovia em Garibaldi, 1917, contribuiu decisivamente para o desenvolvimento do comércio, da indústria e dos primeiros indícios da atividade turística na região. O principal atrativo para os turistas era o clima (invernos com ocorrência de neve e verões brandos) e o relevo (de serras). Em decorrência, os investimentos públicos e privados destinavam-se à hospedagem e ao entretenimento dos turistas. Segundo Girondi (2008, p. 62): [...] quando junto com o trem chegam os turistas ou veranistas, chegam também as pessoas que por indicação médica procuravam a Serra Gaúcha para tratarem doenças pulmonares. A cidade oferecia uma boa rede hoteleira como o Hotel Casacurta, Hotel Faraon, Hotel do Comércio, Pensão familiar da Dona Emilia Dornelles e Pensão Farroupilha. Com o passar dos anos, o turismo se consolida, tendo como principal evento, da década de 70, a

inauguração da primeira Estação Artificial de Esqui do Brasil28, fato que colocou Garibaldi nas rotas turísticas do país [...]. Mais tarde, devido a problemas de administração, a Estação de Esqui foi desativada, mas a atividade turística consolidava-se, cada vez mais, com outros atrativos, motivada pela cultura local, especialmente, aquela oriunda dos imigrantes italianos. Culturalmente, a italicidade é uma das características mais marcantes da região expressa pela forte religiosidade e pelo cultivo da uva. Atualmente, o turismo é relacionado ao modelo de gestão voltado para o desenvolvimento da cidade, apresentando-se organizado em quatro rotas: Rotas das Cantinas, Estrada do Sabor, Rota Religiosa AeTernun e a Rotas dos Espumantes. Essa última compreende um roteiro que contempla as sete principais empresas do setor vinícola do município: Vinícola Peterlongo, Chandon, Georges Aubert, Vinícola Garibaldi, Vinícola Courmayeur, Rossani e Adolfo Lona Vinho e Espumantes. Além da degustação de vinhos e espumantes, o visitante pode acompanhar todo o processo de elaboração da bebida. Notoriamente, outro aspecto importante na cidade é seu calendário de eventos que compreende as mais diversas manifestações religiosas e, a cada dois anos, é comemorada a Fenachamp, Festa Nacional do Champanha (PREFEITURA MUNICIPAL DE GARIBALDI, 2012) Garibaldi também é um dos um dos maiores polos produtores de frango de corte do país e, dentre as empresas instaladas na região, estão a Indústria Pena Branca S/A, Frigorífico Chesini, Frigorífico Nicolini, além de outras empresas do setor. Como forma de ressaltar esse importante segmento econômico, a cidade realiza todos os anos o Festival do Frango e do Vinho. Possui ainda um importante e reconhecido setor metalúrgico com destaque para a empresa Tramontina Garibaldi S.A Indústria Metalúrgica, consolidando-se como uma cidade de grande diversidade econômica e cultural, baseada na história e na indústria. 3.4 A introdução do champanha no cenário de Garibaldi Historicamente, por influência dos imigrantes italianos, o município de Garibaldi coloca-se entre os pioneiros, no Brasil, no desenvolvimento de bebidas e, entre elas, especialmente, os vinhos. Desde cedo há, também, uma preocupação na divulgação dos produtos, na promoção da imagem por meio de eventos e exposições como, por exemplo, referido em Girondi (2007, p. 24):

Para desenvolver a vitivinicultura no município, Aurélio Porto 1 promoveu a primeira Exposição de Uvas de Garibaldi, nos dias 24 a 26 de fevereiro de 1913, onde compareceram 133 expositores de uvas, com 38 diferentes variedades, e 20 expositores de vinhos. Em 1914, realiza a segunda Exposição de Uvas, nos dias 12 a 15 de fevereiro, onde participaram 268 expositores. A abordagem da história do vinho e do champanha remete ao contexto histórico da introdução da uva pelos italianos e ao pioneirismo de alguns empreendedores, precursores no ramo das bebidas, a exemplo, o italiano Manoel Peterlongo, que se destacou pelo pioneirismo e pela ousadia, pois desejava produzir, em Garibaldi, o primeiro champanha do país. A família de Peterlongo vinha da região de Trento, no Tirol italiano, notória na produção de vinhos e de outras bebidas derivadas da uva. O desejo e o sonho de Peterlongo tornou-se realidade em 1915, quando foi responsável pela produção do primeiro champanha do Brasil, utilizando o mesmo método francês de produção, chamado champenoise (VINÍCOLA PETERLONGO, 2012). A bebida champanha conquistou de imediato fiéis admiradores e consumidores. Além disso, tornou-se uma bebida charmosa, comemorativa e, por isso, especial. Esse imaginário coletivo acompanharia o champanha, que seria eleito, também, a bebida dos românticos. Assim, as bolinhas e as borbulhas dessa bebida exótica conquistaram o mundo e, atualmente, também emprestam seu charme à cidade de Garibaldi, que se insere na história e na cultura como a Capital Nacional do Champanha. Essa titulação é justa quando consideradas as conjunturas históricas, culturais e econômicas de Garibaldi. Também, a partir do pioneirismo de Manoel Peterlongo na elaboração do primeiro champanha genuinamente brasileiro, o município abriga um grande número de vinícolas que produzem a bebida, segundo registro de Carraro (2008, p. 63): A indústria vinícola, a partir de 1924, passa a formar a base da economia do município, com grandes vinícolas conhecidas em todo o país, tais como: a Cooperativa Garibaldi (a maior da América do Sul, no gênero, fundada em 1936), a Cooperativa Tamandaré, a Vinícola 1 Aurélio Porto- foi o 3º Intendente no período de 1910 1917. Nasceu em Cachoeira do Sul, em 1879,descendente do herói farroupilha Jacinto Guedes. Faleceu em 1945. Foi intendente de Garibaldi e Montenegro.Dirigiu e redigiu vários jornais, lançou os Fundamentos do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande dosul, e mais tarde, da Academia Sul- Riograndense de Letras. Foi escritor, jornalista, ensaísta, genealogista e orador, teatrólogo e um dos mais notáveis historiadores do Rio Grande do Sul. Preocupou-se com o social,fundou escolas, construiu novas estradas, melhorou a energia elétrica e telefonia. Em 1913, compôs a letra do Hino às Uvas, com música do Maestro Francisco Zani. (GIRONDI, 2007, p. 25).

Armando Peterlongo (produtor do famoso champagne que leva seu nome), a Carraro - Brosina & Cia. (produtora dos vinhos Palácio), a Vinícola Riograndense e a Granja Santo Antônio (dos irmãos Maristas). Além dessa importante atividade econômica atrelada à produção de vinhos e do champanha, a cidade integra a região do Vale dos Vinhedos, que representa uma das mais expressivas regiões do Brasil na produção vitivinícola. CONCLUSÃO A história, permeada pela geografia e pela cultura, sempre exerceu uma forte influência no imaginário da humanidade e na construção de sua identidade com os lugares onde as populações se estabeleciam. Ao estabelecer a relação entre a história, a formação industrial e cultural de Garibaldi, pôde-se inferir que existe uma interação geográfica e espiritual entre esses três elementos. A história dos imigrantes constituiu o embasamento cultural e a técnica agrícola, especialmente dedicada às viticulturas. Foram os imigrantes que forneceram os aportes econômico e industrial para a cidade, que foram marcados pela memória de acontecimentos do passado e por novas relações, desencadeadas, muitas vezes, por meio de revitalizações e pela introdução de novas tecnologias de industrialização. Juntas, história, memória, novas tecnologias e identidade promovem e geram uma atratividade do local, não apenas para aqueles que ali vivem, mas também para os que residem nos bairros e para quem vem de fora, os visitantes e os turistas. Nesse sentido, torna-se importante estudar a história que é sempre composta de acontecimentos, mitos e lendas que reproduzem a evolução das civilizações e das sociedades e, assim, realizar estudos específicos de cidades que criaram o turismo atrativo a partir de festas temáticas, eventos e exposições, com o uso da história e do imaginário. Na sequência desse estudo, pretende-se analisar o processo de formação da imagem turística da Terra do Champanha, Garibaldi, e sua relação com a construção do imaginário. REFERÊNCIAS CARRARO, Carlos. HISTÓRIA DO ENOTURISMO NA SERRA GAÚCHA: Análise dos municípios de Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Flores da Cunha, Garibaldi e Veranópolis 1910 a 1995. 2008. 185 f. Trabalho de conclusão de curso (Graduação). Garibaldi RS: FISUL-Faculdade de Integração de Ensino Superior do Cone Sul, 2008.

CLEMENTE, Elvo; UNGARETTI, Maura. História de Garibaldi: 1870 1993. Porto Alegre, RS: Edipucrs, 1993. GIRONDI, Elenita; SANT ANA, Elma. Garibaldi: a cidade e o herói. Caxias do Sul:Maneco, 2007. IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2010. Disponível em http://www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=430860. PREFEITURA MUNICIPAL DE GARIBALDI. Disponível em www.garibaldi.rs.gov.br. Acessado em: 09, maio, 2012. RAMBO, Balduíno. A Fisionomia do Rio Grande do Sul. São Leopoldo: Unisinos. 2000. VÍNICOLA PETERLONGO. Disponível em http://www.peterlongo.com.br/pt/. Acessado em: 08, junho, 2012.