A Matriz Energética Brasileira: Situação Atual e Perspectivas. Julio Bueno

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Transcrição:

A Matriz Energética Brasileira: Situação Atual e Perspectivas Julio Bueno Agosto 2013

Sumário 1- Matriz Energética: conceito e objetivos...1 2- Matriz Energética Brasileira Atual...2 3- Principais questões da Matriz Energética Brasileira...3 3.1- Produção de Petróleo e preços dos derivados...3 3.2- Gás Natural...3 3.3- Biocombustíveis...4 3.4- Leilões de Energia Elétrica...5 3.5- Eficiência Energética...5 3.6- Sustentabilidade Ambiental...5 4- Tendências Mundiais: desafios da Matriz Energética Brasileira...6

1- Matriz Energética: conceito e objetivos A matriz energética exprime o quadro de geração e consumo de energia. É instrumento utilizado para o Planejamento Energético do País e fundamental para se estabelecer políticas que promovam a competitividade. A partir dos dados apresentados na matriz é possível ter um planejamento que assegure a disponibilidade de energia (segurança energética), com os menores custos possíveis e que seja ambientalmente sustentável. Evidentemente que essas três características, segurança, economicidade e sustentabilidade são, na maioria dos casos, contraditórias. Portanto, é necessário no planejamento energético, levar em consideração a maximização em conjunto dessas três características. O principal fator para o planejamento energético dos países é a disponibilidade dos recursos naturais existentes. Os países mais industrializados no mundo sempre utilizaram como fonte principal de geração o carvão, pois, apesar de altamente poluidor, existia e ainda existe em abundância naqueles países. Como veremos adiante, o Brasil dispõe de diversas fontes primárias de energia, o que nos leva a uma posição mundial bastante competitiva. Outra consideração que deve ser levada em conta no Planejamento Energético é o domínio tecnológico. Como o setor de energia é muito dinâmico, fontes que, em um dado momento, custam muito, ou são muito poluentes, podem se tornar muito competitivas a partir do desenvolvimento tecnológico. O Planejamento Energético deve levar em conta a necessidade de o País estar próximo das fontes de energia e de ser inovador. 1

2- Matriz Energética Brasileira Atual Uma importante consideração quando se avalia a matriz energética brasileira é que o consumo per capita de energia no Brasil ainda é muito baixo. A estimativa é que em 2012 o país consumiu 1,224 toneladas equivalentes de petróleo por habitante (tep/hab) e com intensidade energetica 0,060 tep por U$ mil de PIB. Isso é cerca de seis vezes menos do que o consumo nos EUA, 7,051 tep/hab (2010), a maior economia do mundo. Portanto, embora a questão da eficiência energética e a questão da sustentabilidade impactem o consumo, certamente as políticas de inclusão social e de redução da desigualdade levarão à necessidade de se ampliar muito a disponibilidade de energia no País. Podemos antever que o aumento da população mundial, principalmente nos países em desenvolvimento (China, Índia, América Latina e África), levará ao crescimento da demanda por habitação (programa minha casa minha vida, por exemplo), e ao aumento da demanda do setor industrial e de transporte que são os principais vetores para o crescimento do consumo mundial de energia. Abaixo está a oferta estimada de energia em 2012 (Tabela 1) Tabela 1 - Evolução da oferta interna de energia no horizonte decenal Fonte: EPE Plano Decenal de Expansão de Energia 2021 Observa-se que a Matriz Energética Brasileira comparada com os números internacionais é bastante limpa, sendo 43,1% da oferta total de energia renováveis. Em nível mundial, as energias renováveis representaram 13% da oferta total em 2010. 2

3- Principais questões da Matriz Energética Brasileira 3.1- Produção de Petróleo e preços dos derivados A produção de petróleo no pré-sal é uma das maiores oportunidades da economia brasileira. O índice de êxito, nos poços perfurados, alcançado pela Petrobras, assim como os testes de longa duração realizados até o momento, mostram que é factível atingir a produção planejada de 5 milhões de barris de óleo equivalente por dia, em 2020. A questão que fica é que política de preços para os combustíveis será estabelecida. Se a política for a de se utilizar os preços internacionais do petróleo no mercado interno, o Brasil será exportador de petróleo. Nesse caso, o petróleo e seus derivados serão tratados como commodities internacionais. Como consequência, os derivados terão preços semelhantes aos praticados no mercado internacional. Isso provavelmente levará a matriz energética brasileira a se manter limpa e as energias renováveis terão um papel cada vez mais importante, sintonizada com o mundo desenvolvido. Vale observar que nesse caso o petróleo será muito importante na obtenção de divisas. Se, no entanto, os preços dos combustíveis praticados internamente estiverem dissociados dos preços internacionais, sendo definida uma margem pelo Governo, o quadro será completamente diferente. Teremos um aumento relevante do consumo dos derivados de petróleo, tirando o espaço das energias renováveis. Evidentemente que nesse quadro é possível a limitação do consumo de alguns derivados, uma vez que a intervenção estatal assim o permitiria. Apenas para ilustrar: o consumo de etanol anidro e hidratado, em 2012, no Documento Planejamento Energético 2021, do MME, era de 22 bilhões de litros. Na realidade, por conta do controle do preço da gasolina, foi cerca de 18 bilhões de litros, aproximadamente 20% menor. Tivemos ainda que importar 1,2 bilhão de litros de gasolina. Isso mostra claramente a influência da política de preços dos combustíveis na matriz energética. 3.2- Gás Natural O País tem hoje uma oferta de gás natural inferior à demanda. Os terminais de Gás Natural Liquefeito (GNL) que foram construídos são utilizados para importação, principalmente no período em que as térmicas a gás são chamadas a operar. A exploração do pré-sal pode mudar esse quadro, aumentando drasticamente a produção de gás associado ao petróleo leve que será produzido. Isso ainda é uma possibilidade que está sendo avaliada nos testes de produção antecipada. Nesse momento, as estimativas são conservadoras, visto que equívocos anteriores, de estimativas muito otimistas para campos que 3

ainda não estavam produzindo, confundiram o mercado. Evidentemente, que se as estimativas otimistas se realizarem, a Matriz será fortemente impactada. A primeira consequência será o deslocamento do óleo combustível, que, na verdade, já aconteceu em grande escala, nos mercados do Rio e de São Paulo. Outra possibilidade relevante na matriz é, dependendo da escala de produção, o aumento da utilização do gás natural veicular, o que pode vir a impactar fortemente o mercado de gasolina e de etanol. Outro importante movimento é a ampliação do número de térmicas a gás. Nesse momento, com exceção dos produtores de gás, é praticamente impossível que outros Agentes participem dos leilões de energia elétrica com térmicas a gás. Em um quadro de abundância, isso será factível como já foi no passado. Observar que, nesse caso, haverá o deslocamento do diesel, do óleo combustível e do carvão, que o Governo Federal liberou para os próximos leilões. Também vale lembrar a possiblidade da utilização do gás natural em utilização não energética, como matéria-prima, capturando um valor agregado muito maior do que como energético. É o caso da petroquímica, em que a rota do gás natural é a única que pode prover competitividade ao Brasil nesse Setor da Economia. Outra vez a questão do preço do gás natural é um limitador do seu uso. Claro está que com o mercado interno comprador, com um único produtor, que detém a infraestrutura, e com preços livres, a utilização do gás natural, principalmente na indústria, se torna pouco atraente. 3.3- Biocombustíveis Conforme já mencionado, o modelo que o País adotar com relação ao petróleo e aos seus derivados implicará diretamente na produção e no consumo de etanol. Na verdade, hoje a crise do Setor vem impactando os níveis de produtividade, que dependem da plantação da cana-deaçúcar. O investimento deve ser contínuo para a manutenção ou o aumento da produtividade. Na verdade, a produtividade do etanol de cana vem perdendo a corrida para a do etanol de milho, oriundo dos EUA que, surpreendentemente, tem sido importado para o mercado brasileiro. Isso se deve à já mencionada crise que o Setor vivencia no Brasil, e também ao desenvolvimento genético do etanol de milho. No entanto, dado que a pesquisa genética do etanol de cana está sendo feita, e com novos investimentos na área agrícola, o etanol brasileiro voltará a ter maior competitividade do que o etanol de milho. No caso do biodiesel, embora o Programa faça sentido do ponto de vista de possibilitar a flexibilização da Matriz Energética, e de contribuir com o agronegócio, seria recomendável que fosse reavaliado. Uma das aspirações do Programa era a utilização da agricultura familiar como 4

base. No entanto, o que se verifica, é que majoritariamente a soja é a matéria-prima utilizada, que é sempre uma cultura associada a grandes plantações. Possivelmente, a melhor maneira de ajustar o Programa seja induzir o desenvolvimento regional, principalmente em regiões em que o biodiesel, por uma questão logística, se torna mais atraente economicamente do que o diesel. 3.4- Leilões de Energia Elétrica Como já mencionado, a diversificação de fontes de energia na Matriz é desejável por proporcionar flexibilidade e domínio tecnológico de diversas formas de geração. Naturalmente, que a modicidade tarifária é o maior objetivo a ser alcançado para prover competitividade e economia para os consumidores. Entende-se que, dentro de determinados limites, a competição por fonte de energia, levando em conta também regiões do País, seria desejável. Por exemplo, teria efeito extraordinário para o País a ocorrência de leilões visando à geração de energia através de resíduos sólidos, principalmente em regiões metropolitanas de grandes cidades. Outro exemplo é o de usinas solares gerando energia elétrica. Naturalmente que ainda não são competitivas. Mas seria adequado pensar em montar algumas experimentalmente para que o Brasil participe de corrida tecnológica da economicidade dessas Usinas. 3.5- Eficiência Energética Os programas de eficiência energética devem ter mais visibilidade para a sociedade. Os Setores industrial e de transporte devem ter metas a serem atingidas, buscando a eficiência energética e a consequente redução do consumo. No caso do setor residencial deve ser dada ênfase nas perdas não técnicas e a conscientização para a economia de energia. 3.6- Sustentabilidade Ambiental A obtenção de licenças para projetos relacionados à infraestrutura, em particular na área de energia, continua sendo de baixa previsibilidade no que se refere a prazos e a exigências compensatórias. A dificuldade de se conseguir licenciar Pequenas Centrais Hidroelétricas é apenas um exemplo de como o País precisa avançar nessa área. E o pior é que, ao invés de se licenciar empreendimentos de baixo impacto ambiental, inúmeras vezes, pela necessidade da disponibilidade, se licenciam, por exemplo, térmicas utilizando combustíveis fósseis. Outro exemplo são as grandes hidroelétricas que não conseguiram licença de construção de reservatórios, que possibilitariam a maximização da capacidade de geração das usinas. Essas tiveram que ser feitas a fio d água, desperdiçando parte do seu potencial. 5

4- Tendências Mundiais: desafios da Matriz Energética Brasileira Existem fatos novos que pressionarão a Matriz Energética Brasileira, principalmente relacionada à competitividade do país. Na verdade, o preço da energia, junto com o câmbio, a taxa de juros e o custo trabalhista é um dos principais formadores da competitividade do país. O setor de energia no Brasil é extremamente taxado, onerando fortemente os produtos e as empresas brasileiras. A taxação decorre do fato de o setor de energia ter pouca possibilidade de sonegar. É um dos setores que mais contribuem com as receitas estaduais uma vez que o principal imposto é o ICMS. Como as receitas públicas no Brasil estão majoritariamente concentradas na União, que arrecada cerca de 70% de toda a receita pública enquanto que o conjunto dos Estados arrecada 25% e o dos Municípios 5%, é muito improvável que, voluntariamente, haja uma desoneração da área de energia no Brasil. No caso de se conseguir realizar uma Reforma Tributária, o tema da desoneração da área de energia, com a compensação para os Estados através de outro mecanismo, deve ser colocado na Agenda. Outro grande desafio é a nova tecnologia gerada no EUA chamada de shale gas e que desembocará no shale oil. Os preços do gás natural são cerca de 3 a 4 vezes menores do que os praticados no Brasil. Na realidade, a saída dos EUA da crise de 2008 vem apontando para um desenlace inesperado: a reindustrialização do país tendo como vantagem comparativa, o preço da energia. Prevê-se que na próxima década os EUA serão autossuficientes em energia, e exportadores de gás natural. Vale observar que essa tecnologia está prestes a ser empregada em outros países, muito embora cada estrutura geológica terá que desenvolver uma tecnologia específica. A exploração do pré-sal brasileiro pode ser afetada por esse novo contexto, de redução dos preços internacionais do petróleo. O Brasil tem importantes reservas de xisto que devem ser utilizadas no contexto dessa nova realidade mundial. Importante ainda é observar que nos países desenvolvidos a intensidade energética, que mede a quantidade de energia necessária para gerar o PIB vem sendo reduzida pelo aumento da eficiência energética, em particular no Setor de mobilidade. Por fim a questão ambiental, da redução da emissão de CO2 e da intensidade de carbono, a partir de compromissos internacionais do Brasil, é outro fator que desafia o Setor Energético. Embora o País tenha uma matriz limpa, as necessidades de disponibilizar energia são cada vez maiores na medida em que o Brasil se desenvolve e reduz a desigualdade. Pelas aspirações democráticas e humanísticas da sociedade, o desenvolvimento da Matriz Energética Brasileira deve estar em sintonia com as necessidades maiores do planeta. 6

5- Bibliografia British Petroleum (BP). BP Statistical Review of World Energy, 2012; London, BP, 2013. Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Balanço Energético Nacional, 2012., Brasília, Ministério de Minas e Energia (MME, 2013) International Energy Agency (IEA). World Energy Outlook 2012. Paris, IEA, 2012. Ministério de Minas e Energia (MME).Plano Decenal de Expansão de Energia 2021.Brasília, MME, 2011 7