AUTOHEMOTERAPIA MAIOR OZONIZADA NO TRATAMENTO DE ERLIQUIOSE CANINA RELATO DE CASO.

Documentos relacionados
PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Avaliação hematológica em cães errantes da região urbana de Maringá-PR

Anais do 38º CBA, p.1478

INFLUÊNCIA DO TEMPO DE ARMAZENAMENTO DA AMOSTRA SOBRE OS PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS DE CÃES

[ERLICHIOSE CANINA]

Aspectos epidemiológicos, clínicos e hematológicos de 251 cães portadores de mórula de Ehrlichia spp. naturalmente infectados

Análise Clínica No Data de Coleta: 22/03/2019 1/5 Prop...: RAIMUNDO JURACY CAMPOS FERRO Especie...: CANINA Fone...: 0

Peculiaridades do Hemograma. Melissa Kayser

Sangue: funções gerais

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS CAMPUS JATAÍ UNIDADE JATOBÁ. Carga Horária Total Carga Horária Semestral Ano Letivo 48 hs Teórica: 32 Prática:

Medico Vet..: HAYANNE K. N. MAGALHÃES Idade...: 11 Ano(s) CRMV...: 2588 Data da conclusão do laudo.:05/08/2019

Programa Analítico de Disciplina VET362 Laboratório Clínico Veterinário

31/10/2013 HEMOGRAMA. Prof. Dr. Carlos Cezar I. S. Ovalle. Introdução. Simplicidade. Baixo custo. Automático ou manual.

ANEMIA EM CÃES E GATOS

FACULDADE DE VETERINÁRIA DEPARTAMENTO DE PATOLOGIA CLÍNICA VETERINÁRIA

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia.

ALTERAÇOES LABORATORIAIS RANGELIOSE: RELATOS DE CASOS

IPV.ESA Volume de Trabalho Total (horas): 132 Total Horas de Contacto: 60 T TP P PL Competências

Resumo: Palavras-chave: erliquiose canina, bioquímica, hematologia. Keywords: canine ehrlichiosis, biochemistry, hematology.

ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS EM CÃES POSITIVOS PARA LEISHMANIA spp. NA MICRORREGIÃO DE ARAGUAÍNA-TO.

CURSO DE FARMÁCIA Autorizado pela Portaria nº 991 de 01/12/08 DOU Nº 235 de 03/12/08 Seção 1. Pág. 35 PLANO DE CURSO

LEISHMANIOSE CANINA (continuação...)

Sergio Luiz Alves de Queiroz. Laudo. Sangue

Agente etiológico. Leishmania brasiliensis

INTERPRETAÇÃO DO HEMOGRAMA

ERLIQUIOSE CANINA REVISÃO DE LITERATURA CANINE EHRLICHIOSIS LITERATURE REVIEW

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia.

REVISTA ERLIQUIOSE CANINA

ENFERMAGEM EXAMES LABORATORIAIS. Aula 4. Profª. Tatiane da Silva Campos

Avaliação Nutricional - Profa. Raquel Simões

CYNTHIA DE ASSUMPÇÃO LUCIDI 1 ; FLÁVIA FERNANDES DE MENDONÇA UCHÔA 2

EFEITO DA AUTO-HEMOTERAPIA SOBRE OS PARÂMETROS HEMATOLÓGICO EM CÃES EFFECT OF AUTOHEMOTHERAPY ON HEMATOLOGICAL PARAMETERS IN DOGS

Universidade Federal do Paraná. Treinamento em Serviço em Medicina Veterinária. Laboratório de Patologia Clínica Veterinária

Elementos do hemograma

O sangue e seus constituintes. Juliana Aquino. O sangue executa tantas funções que, sem ele, de nada valeria a complexa organização do corpo humano

CONSCIENTIZAÇÃO DA POPULAÇÃO SOBRE MALES QUE OS CARRAPATOS PODEM CAUSAR A CÃES E DONOS

1/100 RP Universidade de São Paulo 1/1 INSTRUÇÕES PROCESSO SELETIVO PARA INÍCIO EM ª FASE: GRUPO 5: VETERINÁRIA

O Hemograma. Hemograma: Interpretação clínica e laboratorial do exame. NAC Núcleo de Aprimoramento Científico Jéssica Louise Benelli

Data de liberação: 02/02/ :55

EFEITO DA CONDIÇÃO CORPORAL SOBRE A DINÂMICA DE HEMOGRAMA NO PERIPARTO DE VACAS DA RAÇA HOLANDÊS

PLANO DE ENSINO Ficha nº 1 (permanente) EMENTA

AVALIAÇÃO LABORATORIAL DA FUNÇÃO RENAL

ENFERMAGEM. DOENÇAS HEMATOLÓGICAS Parte 1. Profª. Tatiane da Silva Campos

TROMBOCITOPENIA EM ANIMAIS DOMÉSTICOS

T E R M O D E C O N S E N T I M E N T O E S C L A R E C I D O TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA TRANSPLANTE AUTÓLOGO

Propriedades e Efeitos

Estudo comparativo entre alterações hematológicas de filhotes com babesiose canina e os achados comuns em animais adultos acometidos.

Principais Doenças do Sistema Hematológico

Universidade Federal de Pelotas Núcleo de Pesquisa, Ensino e Extensão em Pecuária PAINEL TEMÁTICO: Parasitoses em cordeiros desmamados

Fluidoterapia. Vias de Administração. Fluidoterapia. Fluidoterapia. Fluidoterapia. Fluidoterapia. Enteral Via oral Via intra retal

PROTOZOOLOGIA. Filo CILIOPHORA

PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS DE CÃES APRESENTANDO CORPÚSCULOS DE LENTZ EM ESFREGAÇO SANGUÍNEO

TRABALHO CIENTÍFICO (MÉTODO DE AUXÍLIO DIAGNÓSTICO PATOLOGIA CLÍNICA)

Estudo de segurança do Trissulfin SID (400 mg) administrado em gatos jovens e adultos pela via oral durante 21 dias consecutivos.

PATOLOGIA DO SISTEMA HEMATOPOIÉTICO

REVISTA CIENTÍFICA DE MEDICINA VETERINÁRIA - ISSN: Ano XIVNúmero 27 Julho de 2016 Periódico Semestral

Análise Clínica No Data de Coleta: 08/04/2019 1/7 Prop...: MARINA LEITÃO MESQUITA Especie...: CANINA Fone...: 0

UREIA CREATININA...: Nome...: CESAR AUGUSTO CAVALARI Prontuário.: Destino...: HZS - PS (PÓS CONSULTA)

TUBERCULOSE HEPÁTICA EM CÃO HEPATIC TUBERCULOSIS IN DOG

TÍTULO: REPERCUSSÕES DA ANESTESIA DISSOCIATIVA SOBRE A MOVIMENTAÇÃO DE CÉLULAS SANGUÍNEAS EM GATOS

Relatório de Caso Clínico

CURSO DE OTOLOGIA DE CARNÍVOROS DOMÉSTICOS

EFEITOS DO PERÍODO PUERPERAL SOBRE O HEMOGRAMA E TESTE DE NBT EM VACAS GIROLANDO ABSTRACT

Análise Clínica No Data de Coleta: 03/04/2019 1/7 Prop...: REJANE MARIA DA SILVEIRA PEREIRA

Estudo de segurança do Trissulfin SID (400 mg e 1600 mg) administrado em cães adultos e filhotes pela via oral durante 21 dias consecutivos.

Abordagem laboratorial da resposta inflamatória Parte I I. Prof. Adjunto Paulo César C atuba

ERLIQUIOSE CANINA EM CAMPOS DOS GOYTACAZES, RIO DE JANEIRO, BRASIL

Análise Clínica No Data de Coleta: 05/11/2018 1/7 Prop...: JOSE CLAUDIO DE CASTRO PEREIRA Especie...: CANINA Fone...: 0

Hemoparasitas 1) DEFINIÇÃO 10/23/2017. Thais Schwarz Gaggini. Grande maioria transmitida por vetores; Carrapatos;

INSTITUTO FORMAÇÃO Cursos Técnicos Profissionalizantes. Professora: Flávia Soares Disciplina: Imunologia Aluno (a): INTERPRETAÇÃO DO HEMOGRAMA

Evaluation of the use of whole blood bags or blood components in dogs in veterinary clinics in Ribeirão Preto and region.

SÓDIO 139 meq/l Valores de ref erência: 134 a 147 meq/l Material: Soro Anteriores:(11/10/2016): 139 Método: Eletrodo Seletiv o

Campus Universitário - Caixa Postal CEP INTRODUÇÃO

TECIDO HEMATOPOIETICO E SANGUÍNEO

Palavras-chave: Hemograma; Refrigeração; Viabilidade Keywords: Hemogram; Refrigeration; Viability

Sergio Luiz Alves de Queiroz. Laudo. Sangue

EXAME HEMATOLÓGICO Hemograma

BAIRRO NOVA VIDA LUANDA. Observaram-se raros eritrócitos em alvo.

Data da conclusão do laudo.:12/04/2019

Medico Vet..: REINALDO LEITE VIANA NETO. Data da conclusão do laudo.:25/04/2019

INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA AGUDA EM CÃES

Contagem eletrônica automatizada realizada em equipamento Sysmex XE-D 2100 Roche.

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR 1

ENFERMAGEM EXAMES LABORATORIAIS. Aula 2. Profª. Tatiane da Silva Campos

PERFIL HEMATOLÓGICO DE GATOS DOMÉSTICOS NATURALMENTE INFECTADOS POR EHRLICHIA PLATYS NA REGIÃO SUL FLUMINENSE-RJ

DOSAGEM DE COLESTEROL HDL DOSAGEM DE COLESTEROL LDL

GRUPO SANGUÍNEO e FATOR Rh VDRL. ANTÍGENO p24 e ANTICORPOS ANTI HIV1 + HIV2. Grupo Sanguíneo: "O" Fator Rh: Positivo. Resultado: Não Reagente

PSA - ANTÍGENO ESPECÍFICO Coleta: 20/11/ :05 PROSTÁTICO LIVRE. PSA - ANTIGENO ESPECÍFICO Coleta: 20/11/ :05 PROSTÁTICO TOTAL

sarna sarcóptica e otodécica

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR 1

Programa Analítico de Disciplina VET375 Clínica Médica de Cães e Gatos

SANIDADE DE CÃES COMUNITÁRIOS DE CURITIBA/PR SANITY OF NEIGHBORHOOD DOGS IN CURITIBA/PR

RESPONSABILIDADE NA CONDUTA TERAPÊUTICA EM CASOS DE LVC. Dra Liliane Carneiro Diretora do CENP/IEC/MS CRMV/PA Nº 1715

O SANGUE HUMANO. Professora Catarina

Análise Clínica No Data de Coleta: 08/04/2019 1/6 Prop...: NATHALIA RONDON BOTELHO DE CARVALHO Especie...: CANINA Fone...

18/08/2016. Anemia e Policitemia Prof. Me. Diogo Gaubeur de Camargo

Medico Vet..: REINALDO LEITE VIANA NETO. Data da conclusão do laudo.:30/04/2019

Interpretação clínica das alterações no número dos leucócitos Alterações no número de leucócitos na circulação

Análise Clínica No Data de Coleta: 05/02/2019 1/7 Prop...: RAIMUNDO JURACY CAMPOS FERRO Especie...: CANINA Fone...: 0

Eritrograma. Leucograma

LEVANTAMENTO HEMOPARASITÁRIO EM CÃES DOMÉSTICOS DE RESIDÊNCIAS DO ENTORNO DO FRAGMENTO FLORESTAL MATA DO PARAÍSO, ZONA DA MATA DE MINAS GERAIS, BRASIL

Transcrição:

AUTOHEMOTERAPIA MAIOR OZONIZADA NO TRATAMENTO DE ERLIQUIOSE CANINA RELATO DE CASO. GARCIA, C.A. 1, STANZIOLA, L. 2,ANDRADE, I. C. V. 3, NAVES, J. H.F. 3, NEVES, S. M. N.* 3, GARCIA, L. A. D. 3 RESUMO A erliquiose canina é uma das mais freqüentes doenças infecciosas nesta espécie. Sua importância deve-se principalmente a três fatores: ser uma doença grave, que pode levar a óbito; ser transmitida principalmente pelo Rhipicephalus sanguineus e ter um tratamento relativamente oneroso. A natureza cíclica de parasitemias e trombocitopenias diminui com o tempo, torna-se mais suave, e as trombocitopenias resolvem-se lentamente em associação com ocorrências esporádicas de organismos no sangue. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a eficiência da auto-hemoterapia maior ozonizada no tratamento da erlichiose canina. Uma cadela de aproximadamente dois anos de idade, sem raça definida, com diagnóstico laboratorial positivo para Ehrlichia sp., obtido através de pesquisa de hemoparasitas em sangue de ponta de orelha, foi submetida a dez sessões de auto-hemoterapia maior ozonizada. O número de monócitos antes do tratamento estava ligeiramente baixo e houve significante aumento após o início da ozonioterapia, que pode ser atribuído ao tratamento. Embora a eosinopenia não esteja ainda bem esclarecida, tem sido proposta para justificar sua ocorrência a lise intravascular de eosinófilos, seqüestro reversível em órgãos do sistema monocítico fagocitário e acentuada migração para os tecidos. Após várias sessões de tratamento os números de neutrófilos jovens encontraram-se acima dos valores de referência o que pode ser atribuído ao processo de flebite da veia jugular dadas as sucessivas punções da mesma em curto espaço de tempo. houve um expressivo aumento da contagem plaquetária. A causa infecciosa mais comum de trombocitopenia em cães é erliquiose. É um achado consistente no estágio agudo da doença. Além da aplasia de medula óssea e/ou supressão de suas atividades eritropoiéticas, leucopoiéticas e trombopoiéticas, pode ser atribuída à diminuição da meia-vida das plaquetas circulantes durante a fase aguda da infecção, reduzida agregação plaquetária devido a anticorpos antiplaquetários, efeito direto da erlíquia sobre as plaquetas circulantes ou devido ao dano endotelial e agregação das plaquetas. A ação bactericida e moduladora do sistema imunológico do ozônio pode explicar o retorno do número de plaquetas a níveis fisiológicos. 1. INTRODUÇÃO A erliquiose é causada por um grupo de microrganismos gramnegativos, intracelulares obrigatórios e pleomórficos, os quais parasitam células brancas circulantes de várias espécies de animais domésticos e silvestres, inclusive o homem (COHN, 2003). 1 Docente da Faculdade de Medicina Veterinária UFU 2 Docente do Instituto de Ciências Biomédicas UFU 3 Acadêmicos da Faculdade de Medicina Veterinária UFU Faculdade de Medicina Veterinária da UFU - Rua Ceará s/nº - Bloco 2 D Sala 2D 34 Campus Umuarama Uberlândia MG, CEP 38405-240. drvirus@famev.ufu.br

Em Belo Horizonte, Costa e colaboradores (1973) relataram pela primeira vez a doença no Brasil. Posteriormente, foi relatada acometendo aproximadamente 20% dos cães atendidos em hospitais e clínicas veterinárias de Estados das regiões Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste (LABARTHE et al., 2003; MOREIRA et al., 2003). A natureza cíclica de parasitemias e trombocitopenias diminui com o tempo, torna-se mais suave, e as trombocitopenias resolvem-se lentamente em associação com ocorrências esporádicas de organismos no sangue (GREENE, 1990). Em alguns casos, uma diminuição transitória na contagem de leucócitos totais ocorreu concomitantemente com a parasitemia, mas geralmente os valores não se encontram abaixo da escala de referência para cães. Uma suave anemia normocítica normocrômica pode ocorrer durante o primeiro mês de infecção (GREENE, 1990). O tratamento constitui-se principalmente de antibioticoterapia e tratamento de suporte. Seu custo e os possíveis efeitos colaterais produzidos pelos antibióticos estimulam pesquisas que culminem com o desenvolvimento de novas técnicas e agentes que possam minimizar tais custos e efeitos indesejáveis. De acordo com Sartori (1994), as indicações específicas para uso tópico do ozônio são infecções de pele por: vírus como Herpes simplex e Zoster; infecções bacterianas como impetigo, ectima contagioso por estreptococos B-hemolíticos e Staphylococcus aureus; infecções fúngicas incluindo Tinea por Trichophyton spp, Candidíase e Tinea versicolor; infecções por protozoários especialmente Leishmanioses; infecções parasitárias incluindo Escabioses por Sarcoptes scabei, Pediculoses e Larva Migrans Cutânea de Ancylostoma brasiliensis; condições multifatoriais da pele como acne, psoríase, eritemas, pênfigo e dermatites herpetiformes, além de condições inflamatórias da pele tais como dermatites, eczemas e urticárias. O ozônio pode ser usado no ambulatório veterinário para tratamento das seguintes situações: conchectomia (lavagem prévia com ozônio e aplicação de óleo ozonizado na ferida cirúrgica); retorno de anestesia em 30 segundos (20 ml de ozônio em concentração de 20µg/mL via insuflação retal); traumatismos (óleo ozonizado para uso tópico e lavagem posterior com água ozonizada); distúrbios gastroentéricos não parasitários (ingestão de 20 a 50 ml de água ozonizada no 1ª dia e 2 a 3 ml/dia de óleo ozonizado); nas otites médias (aplicação de óleo ozonizado seguida de pequena auto-hemoterapia realizada com 2 a 3 ml de sangue ozonizado misturados a 5 ml de ozônio em concentração de 20µg/mL durante 3 a 4 dias). Observa-se diminuição da dor: como terapia coadjuvante em laminites (20.000 µg de ozônio em 1000 ml de sangue antes da anestesia e após cirurgia, repetindo 5 a 6 vezes); na paralisia pós-parto dos bovinos (30 mg de ozônio/1.500 ml de sangue); na metrite pós-parto (500 ml de água ozonizada seguida de aplicação local por 2 dias de 1 a 2 ml de óleo ozonizado) (BOCCI, 2000). O objetivo do presente trabalho foi avaliar a eficiência da auto-hemoterapia maior ozonizada no tratamento da erlichiose canina. MATERIAIS E MÉTODOS Uma cadela de aproximadamente dois anos de idade, sem raça definida, com diagnóstico positivo para Ehrlichia sp. obtido através da visualização de mórulas em microscópio óptico à partir de sangue de ponta da orelha do animal,

foi submetida a autohemoterapia maior ozonizada. Em cada sessão da terapia foram utilizados 80mL de sangue da veia jugular, coletados em bolsa de transfusão de sangue estéril contendo 13mL de citrato de sódio a 3,8% (380mg/mL). O volume de sangue (80mL) foi calculado com base no peso vivo do animal (considerando que o volume total representa 8% do peso vivo), e correspondeu a 5% do volume total de sangue haja vista que o animal possuía 20 kg de massa corporal. A mistura oxigênio-ozônio foi adicionada à bolsa contendo sangue em uma proporção de 1:1. Para produção do ozônio, foi utilizado gerador com capacidade de produção de 0,00023 g/minuto, alimentado por ampola de oxigênio com 99,5% de pureza, a uma pressão de aproximadamente 250 Kgf/cm 2 num fluxo de 3 litros/minuto. Após ozonização e constante homogeneização, o sangue foi reintroduzido no animal pela veia jugular ou radial. Este processo foi realizado de duas a três vezes por semana. Antes das sessões de autohemoterapia, foram colhidas amostras de sangue para realização de hemograma completo e dosagem de Alanina Amino Transferase (ALT). Colheram-se também amostras de urina, via sonda uretral, para realização de urinálise e uma gota de sangue, via punção venosa com agulha na ponta da orelha do animal, com vistas à pesquisa de hemoparasitas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Tabela 1 Valores da série vermelha do hemograma antes e após tratamento com auto-hemoterapia maior ozonizada. Série Antes Após Valores normais Vermelha Hemácias x 10 6 /mm 3 5,50 7,51 5.5 a 8.5 Hemoglobina (g%) 12,1 15,8 12 a 18 VG (%) 38,0 49,2 37 a 55 VGM (µm 3 ) 69 66 60 a 77 HGM (pg) 22,0 21,0 19 a 23 CHGM (%) 31,8 32,1 31 a 34 RDW (%) 14,9 13,7 14 a 17 Tabela 2 Valores da série branca do hemograma antes e após tratamento com auto-hemoterapia maior ozonizada. Série Branca Antes Após Valores normais Leucócitos totais/mm 3 5900 11000 6000 a 18000 Neutrófilos 118 770 0 a 540 jovens/mm 3 Neutrófilos segmentados/mm 3 3717 4730 3600 a 13860 3835 5500 3600 a 14400 Eosinófilos/mm 3 59 2200 120 a 1800 Monócitos/mm 3 177 550 180 a 1800 Linfócitos/mm 3 1829 2750 720 a 5400

Conforme demonstrado na tabela 2, o número de monócitos antes do tratamento estava ligeiramente baixo e, não é de praxe se constatar esta observação em casos de erliquiose, que provoca monocitose. Houve significante aumento após o início da ozonioterapia, que pode ser atribuído ao tratamento e permaneceu dentro dos valores de referência citados por Meinkoth e Clinkenbeard (2000). A eosinopenia observada antes do tratamento é uma alteração leucocitária atribuída à ação dos corticosteróides e catecolaminas liberadas pela glândula adrenal no período de estresse da infecção aguda. Embora o mecanismo responsável pela eosinopenia não esteja ainda bem esclarecido, tem sido proposta para justificar sua ocorrência a lise intravascular de eosinófilos, seqüestro reversível em órgãos do sistema monocítico fagocitário e acentuada migração para os tecidos (MENDONÇA et al., 2005). Após a oitava, nona e décima sessões de tratamento os números de neutrófilos jovens encontraram-se acima dos valores de referência. Tal fato pode ser atribuído ao processo de flebite da veia jugular sofrido pelo animal dadas as sucessivas punções da mesma em curto espaço de tempo, o que se fez necessário no processo de ozonioterapia. O baixo valor de monócitos encontrado após a sexta sessão de ozonioterapia não possui significado clínico relevante. Tabela 3 Valores da plaquetometria antes e após auto-hemoterapia maior ozonizada. PLAQUETOMETRIA ANTES APÓS VALORES NORMAIS Contagem de Plaquetas /mm 3 26.000 198.000 200.000 a 500.000 VPM (µm 3 ) 7,8 7,7 6.7 a 11.1 Nota: Volume Plaquetário Médio (VPM). Conforme demonstrado na tabela 3, houve um expressivo aumento da contagem plaquetária. Segundo Thrall e colaboradores (2004), a causa infecciosa mais comum de trombocitopenia em cães é erliquiose. A trombocitopenia é descrita habitualmente em cães com erliquiose sendo importante para o diagnóstico da doença. É um achado consistente no estágio agudo da doença. Alguns mecanismos são propostos para explicar esta alteração. Além da aplasia de medula óssea e/ou supressão de suas atividades eritropoiéticas, leucopoiéticas e trombopoiéticas, pode ser atribuída à diminuição da meia-vida das plaquetas circulantes durante a fase aguda da infecção, reduzida agregação plaquetária devido a anticorpos antiplaquetários, efeito direto da erlíquia sobre as plaquetas circulantes ou devido ao dano endotelial e agregação das plaquetas (KUEHN; GAUNT, 1985; TRESAMOL; DHINAKARAN; SASEENDRANATH, 1995; WANER et al., 1997 apud MENDONÇA et al., 2005). A ação bactericida e moduladora do sistema imunológico do ozônio (BOCCI, 2000) pode explicar o retorno do número de plaquetas a níveis fisiológicos. Avaliando-se a tabela 4 percebe-se alteração nos resultados da pesquisa de hemoparasitas após o início do tratamento. Antes do tratamento

foram encontradas mórulas de Ehrlichia sp. em monócitos e plaquetas. Após o início da ozonioterapia, todos os resultados foram negativos para o referido achado. Estes resultados negativos podem ser atribuídos tanto à ação bactericida do ozônio sobre a erlíquia quanto ao fato de que a presença de mórulas ocorre geralmente apenas nas duas primeiras semanas pós-infecção e em menos de 1% das células infectadas; por isso a ausência de mórulas não exclui a possibilidade de infecção (ELIAS, 1991; MUTANI & KAMINJOLO, 2001 apud PEDROSO, 2006). Tabela 4 Presença ou ausência de mórulas de hemoparasitas antes e após tratamento com autohemoterapia maior ozonizada em um cão. Variável pesquisada ANTES APÓS 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª 9ª 10ª Mórulas + - - - - - - - - - - Segundo Garcia-Navarro (2005), a proteinúria renal pode ser de origem fisiológica e caráter transitório ou por uma lesão renal, constante e caracterizada pelo aparecimento de cilindros no sedimento. A tabela 5 mostra que o animal padecia de uma lesão renal que foi revertida após a segunda sessão de tratamento e pôde ser confirmada devido à presença de proteinúria aliada à presença de cilindros granulosos. Tabela 5 Resultados da urinálise antes e após tratamento de auto-hemoterapia maior ozonizada. ELEMENTOS ANORMAIS ANTES APÓS VALORES NORMAIS Albumina P++ - - Acetona - - - Glicose - - - Hemoglobina - - - Sais Biliares - - - Pigmentos Biliares P++ P+++ - Urobilinogênio - - - Cilindros granulosos + - - A presença de pigmentos biliares observada na tabela 5 constitui um achado inespecífico. Normalmente, a presença de pigmentos biliares na urina é

indicativa de lesão hepática, porém, esta não pôde ser confirmada, pois os níveis de ALT e fosfatase alcalina mantiveram-se dentro dos limites de normalidade. CONCLUSÃO Pode-se concluir que a auto-hemoterapia maior ozonizada foi eficaz na reversão do quadro clínico e laboratorial de erlichiose em uma cadela. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOCCI, V. Ossigeno-ozonoterapia. Comprensione dei meccanismi di azione e possibilita terapeutiche. Milão, 2000, 324 p. COHN, L. A. Ehrlichiosis and related infections. Vet Clin Small Anim, n.33, p.863-884, 2003. COSTA, J.O. et al. Ehrlichia canis infection in dogs in Belo Horizonte Brazil. Arq. Esc. Vet. Univ. Minas Gerais, v.25, p.199-200, 1973. GARCIA-NAVARRO, C. E. K. Manual de Urinálise Veterinária. Editora Varela, São Paulo, 2005, 95 p. GREENE, E. C. Infectious diseases of the dog and cat. W. B. Saunders Company, Philadelphia, 1990, p. 415-417. LABARTHE, N. et al. Serologic prevalence of Dirofilaria immintis, Ehrlichia canis and Borrelia burgdorferi infection in Brazil. Vet. Ther., v.4, p.67-75, 2003. MEINKOTH, J. H.; CLINKENBEARD, K. D. Normal hematology of the dog. In: FELDMAN, B. F.; ZINKEL, J. G.; JAIN, N. C. Schalm s veterinary hematology. Philadelphia: Lippincott Willians e Wilkins, 2000. p. 1055 1063. MENDONÇA, C. S., MUNDIM, A. V., COSTA, A. S., MORO, T. V. Erliquiose canina: alterações hematológicas em cães domésticos naturalmente infectados. Journal Bioscience, Uberlândia - MG, v. 21, n. 1, p. 167-174, jan/april 2005. MOREIRA, S.M. et al. Retrospective study (1998-2001) on canine ehrlichiosis in Belo Horizonte, MG, Brazil. Arq. Bras. Méd. Vet. Zoot., v.55, p.141-147, 2003. PEDROSO, T. C. Eficácia da doxiciclina e da combinação com o dipropionato de imidocarb no tratamento de Ehrlichia canis em cães.2006. 65f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2006. SARTORI, H.E. Ozone the eternal purifier of earth and cleanser of all living beings. Michigan, Life Science Fundation, 1994. THRALL M. A., et al. Veterinary Hematology and CLinical Chemistry. Editora Lippincott Williams & Wilkins, Philadelphia, 2004.