ALTERAÇÕES DAS DIMENSÕES DOS ARCOS, DO NASCIMENTO ATÉ A FASE DE DENTIÇÃO MISTA.

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Transcrição:

U FS C CCS-o UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ESTOMATOLOGIA ALTERAÇÕES DAS DIMENSÕES DOS ARCOS, DO NASCIMENTO ATÉ A FASE DE DENTIÇÃO MISTA. Glicea Cristina Neves Moritz Orientador: Prof. Dr. Ricardo de Sousa Vieira - 00 Florianópolis 2001

UPS 7,:reori J C CS- UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ESTOMATOLOGIA ALTERAÇÕES DAS DIMENSÕES DOS ARCOS, DO NASCIMENTO ATÉ A FASE DE DENTIÇÃO MISTA. Glicea Cristina Neves Moritz Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Odontopediatria, como parte dos requisitos para obtenção do titulo de Especialista em Odontopediatria Orientador: Prof. Dr. Ricardo de Sousa Vieira Florianópolis 2001

Ao meu querido pai, Olímpio, pela dedicação e carinho por todos estes anos. A voce, pai, não mais que com justiça, dedico esta vitória.

AGRADECIMENTOS 0 meu profundo agradecimento aos professores que me deram a base de sustentação intelectual para enfrentar os desafios de minha vida, com entusiasmo e com esperança de sempre dar o melhor de mim em todos os momentos. Uma homenagem especial ao prof Dr. Ricardo de Sousa Vieira por sua orientação nesta monografia. Aos meus pais, Olimpio e Dora, minha infinita gratidão por terem feito de tudo para viabilizar meus estudos sem nunca medir esforços. Ao meu esposo, Fabiano, companheiro e amigo, que sempre me deu força, apoiando-me em todos os desafios. A minha filha, Bruna, o meu profundo agradecimento por entender, as vezes até com muita dificuldade, as ausências exigidas por minha atividade. A Deus que me protege todos os dias de minha vida.

UPS C BLbflorec,, JetOrini C CS - SUMÁRIO RESUMO 6 ABSTRACT 7 1 INTRODUÇÃO 8 2 REVISÃO DE LITERATURA 10 2.1 ASPECTOS GERAIS I (1 2.2 0 PAPEL DA MAXILA 13 2.3 0 PAPEL DA MANDÍBULA 18 3 DISCUSSÃO 25 4 CONCLUSÕES 30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 31

RESUMO 0 conhecimento do desenvolvimento e crescimento craniofacial, em especial dos arcos dentários das crianças é fundamental à prevenção, ao diagnóstico e ao tratamento das maloclusões. É necessário que a maxila e a mandíbula cresçam harmoniosamente, dando como resultado uma face equilibrada esteticamente. Foi feita uma revisão de literatura sobre o crescimento dos arcos dentários em crianças, do nascimento até a fase de dentição mista e concluiu-se que: 1) a forma e o tamanho dos arcos são o resultado de influências genéticas e ambientais; 2) o crescimento da face para baixo e para frente é o resultado do crescimento da maxila e da mandíbula para cima e para trás; 3) da harmonia entre o crescimento da maxila e da mandíbula dependerá o bom desenvolvimento da oclusão dentária; 4) o tratamento das dicrepancias maxilo-mandibulares significantes devem iniciar precocemente.

ABSTRACT The knowledge of the craniofacial development and growth, in special os the dental arches in children is basic to the prevetion, the diagnosis and the treatment of malocclusion. It is necessary that the maxilla and mandible grow harmoniously, giving as result a balanced face. A revision through the literature about growth of the dental arches in children, from the birth to the phase of mixing dentition was made and was concluded that: 1) form and size of the arches are result of genetic and ambient influences; 2) the growth of the face for low anf front is the result of the growth of the maxilla and mandible for up and backward; 3) the harmony between the growth of the maxilla and mandible will depend of the good development of the occlusion; 4) the treatment of significant maxillary-mandibular discrepancies must be iniciated early.

1 INTRODUÇÃO A compreensão do crescimento e desenvolvimento craniofacial é um grande desafio aos pesquisadores que atuam nesta área, devido A. sua complexidade. Atualmente, apesar do conhecimento acadêmico já estar bastante consolidado, ainda temos uma grande carência quando se trata de relacionar os trabalhos científicos que tratam do crescimento e desenvolvimento craniofacial com as funções maiores do odontopediatra que são zelar pelo desenvolvimento adequado da oclusão e acompanhar o correto funcionamento do sistema estomatognático :sucção, respiração, mastigação e fonação. O crescimento craniofacial é bem ordenado e bastante complexo, sendo dificil analisar separadamente o crescimento de uma estrutura sem considerar sua influência em todo o mecanismo. De acordo com Thilander (1995), o crescimento e desenvolvimento craniofacial total é representado pela soma de suas diferentes partes. Em cada uma destas partes, o crescimento é variável, ocorrendo em diferentes taxas e direções. Assim, o interrelacionamento dos incrementos de crescimento poderão produzir proporções faciais harmônicas ou não. Segundo Moyers (1979) as maloclusões muitas vezes não tem causas especificas, mas em geral são alterações clinicamente significativas no crescimento e morfologia. Portanto, conhecer o padrão de crescimento e desenvolvimento craniofacial normal das crianças é fundamental à prevenção, diagnóstico e tratamento das maloclusões dentárias.

9 Este trabalho tem como principal objetivo conscientizar o odontopediatra sobre a importância do conhecimento do crescimento e desenvolvimento craniofacial, em especial o crescimento dos arcos dentários, seus eventos e mecanismos. E essencial que o odontopediatra esteja familiarizado com os padrões normais de crescimento e desenvolvimento, pois somente assim, poderá identificar e tratar eventuais alterações neste mecanismos.

2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Aspectos Gerais Ao nascimento, a cabeça do recém nascido responde pela metade de sua massa corporal, representando o maior impedimento à passagem da criança pelo canal do parto. A relativa falta de crescimento da mandíbula torna o nascimento mais fácil (Profitt, 1991). Segundo Ranly (1998), a cabeça do recém nascido é uma estruturas adaptada ao desenvolvimento intra-uterino e à. passagem da criança através do canal de parto. A criança, ao nascer, apresenta a face gorda e larga. Isto ocorre devido à falta de crescimento vertical do terço inferior da face. 0 crescimento da face para baixo e para frente é o resultado do crescimento da maxila e da mandíbula em direção oposta, ou seja, para cima e para trás. Isto vai resultar no deslocamento destes ossos para baixo e para frente. Estes movimentos de crescimento da maxila e da mandíbula são complementares e interrelacionados (Enlow, 1993). Para Profitt (1991), o crescimento em largura de ambos os arcos é completado em primeiro lugar, depois o crescimento em comprimento e por fim o crescimento em altura. 0 crescimento em largura tende a estar completo antes do surto do crescimento na puberdade.

11 Finalmente, o crescimento em altura dos arcos como também de toda a face, continua por mais tempo que o crescimento em comprimento. Enlow (1993) observou que o crescimento da maxila está completo antes do crescimento da mandíbula. Segundo Moyers (1979), os mecanismos de regulação do crescimento e desenvolvimento craniofacial e do indivíduo, são interações entre hereditariedade, nutrição, enfermidades, raça, clima e efeito sazonal, fatores sócio-econômicos, exercícios e tendências seculares. A hereditariedade determina o tipo genético do indivíduo. Para Profitt (1991), três circunstâncias são importantes na regulação do crescimento: nascimento prematuro (baixo peso), doenças crônicas e estado nutricional. Em relação ao nascimento prematuro, pode-se esperar que crianças prematuras e de baixo peso sei am pequenas durante o primeiro e segundo anos de vida; porém isto tende a se normalizar por volta dos três anos de idade. Doenças crônicas alteram o equilíbrio entre energia disponível e energia gasta, deixando menos suprimento energético para sustentar o crescimento. Uma nutrição inadequada têm efeito similar a uma patologia crônica. Uma nutrição correta é uma condição necessária para um crescimento normal, entretanto não é um estimulo para este crescimento. Marcondes et al (1994) acrescenta que o crescimento é influenciado também por fatores ambientais, tais como, nutrição, atividade fisica e estimulação biopsicossocial. Para os

12 autores, sem uma nutrição adequada e equilibrada em suas proporções, não haverá um crescimento normal. A falta de estimulação biopsicossocial e a carência afetiva vão provocar um conjunto de sintomas em crianças tais como irritação e choro, perda de peso e de apetite. Estas crianças vão ter o seu desenvolvimento neuropsicomotor retardado e o crescimento se detém. A atividade fisica é uma auxiliar valioso para o aprimoramento do desenvolvimento da criança, podendo estimular o seu crescimento. Para Thilander (1995), o crescimento pós natal da face é controlado por um sistema multifatorial que é influenciado intrinsicamente por fatores genéticos e extrinsicamente por fatores ambientais. 0 crescimento e desenvolvimento craniofacial é regulado por fatores genéticos, fatores hormonais e fatores nutricionais. Estes fatores vão interferir no aspecto final da anatomia craniofacial e qualquer distúrbio nestes mecanismos podem resultar num desvio do padrão de crescimento normal (Friede, 1998; Kjellberg et al, 2000). Kjellberg et al (2000) analisou o crescimento e desenvolvimento dos arcos dentários de 54 crianças do sexo masculino que possuíam deficiência na produção de hormônio do crescimento. 0 autores notaram que a deficiência de hormônio do crescimento não provoca apenas uma diminuição da altura total do indivíduo como também causa um atraso no desenvolvimento e crescimento de toda a face. A mandíbula e a maxila se mostravam significativamente retroposicionadas, especialmente a mandíbula.

13 Para Bishara (2000), predizer como sera o crescimento facial é complexo, pois cada indivíduo têm seu padrão de desenvolvimento único, influenciado por características genéticas internas e por fatores externos, tais como, funções, doenças, hábitos e tratamento ortodõntico. 2.2 0 papel da maxila Sillman (1964) estudou as mudanças de dimensão dos arcos, acompanhando o crescimento de 65 recém-nascidos até os 25 anos de idade. Crianças com fissuras- lábio palatinas foram excluídas da pesquisa. Ele avaliou o aumento do perimetro do arco em diferentes segmentos e largura( largura intercanina, largura intermolares deciduos ou prémolares e largura posterior). 0 autor concluiu que o maior aumento da largura intercaninos da maxila ocorre no período que vai do nascimento até os 2 anos de idade (+5mm por ano). Após os 2 anos, a largura intercanina aumentou até os 13 anos. Após os 13 anos, não houve evidencia de mudança significativa. A largura intermolares deciduos tem um maior aumento no período que vai dos 5 aos 12 anos de idade (0,5 mm/ano). Após este estagio, o aumento é menor e após os 14 anos não há evidência de mudança significativa. A largura posterior da maxila mostrou um continuo aumento até os 16 anos de idade, A. partir desta idade não houve mais evidência de mudança significativa. Em relação ao comprimento da maxila, o autor observou que o maior aumento do segmento que inclui incisivos e caninos, ocorreu do nascimento até os 2 anos de idade (aproximadamente 2 mm/ano). Dos 2 aos 6 anos de idade não houve evidência de mudança. Dos 6 aos 9 anos, o aumento foi de aproximadamente 0,8 mm/ano. À partir dos 9 anos não houve evidência de mudança significativa. Em relação ao

14 comprimento que inclui os molares deciduos ou pré-molares permanentes, o maior aumento ocorreu dos 6 aos 10 anos de idade. Moyers (1979) afirma que a maxila aumenta predominantemente para trás e para cima e seu deslocamento se dá de maneira oposta, ou seja, para frente e para baixo. 0 aumento maxilar para trás é devido a aposição óssea na parte posterior da tuberosidade, aumentando as dimensões horizontais (ântero-posteriores) do arco alveolar. Ocorre também o deslocamento passivo devido ao crescimento da base do crânio que empurra a maxila para frente. A protrusão progressiva da maxila resulta mais do seu deslocamento que do seu crescimento real. Jamison et al (1982) acompanhou as variações de dimensões dos arcos de 45 crianças dos 8 aos 17 anos de idade. Os autores examinaram os seguintes parâmetros: a) altura b) dimensão linear Antero- posterior (ponto A-Ptm); c) relação ântero-posterior da maxila com a base do crânio (SNA); d) relação ântero-posterior da maxila com a mandíbula (ANB e NaPog). 0 autor ainda analisou cada parâmetro em separado para cada paciente: a) aumento total da altura dos 8 aos 17 anos; b) a média do aumento de tamanho; c) a idade em que ocorreu a velocidade máxima de crescimento; d) a idade em que a velocidade de crescimento é maior mais a idade seguinte, que é chamado como período máximo; e) as mudanças que ocorreram dois anos antes do período máximo, que é conhecido como período pré-máximo; as mudanças que ocorreram 2 anos após o período máximo, que é chamado de período pósmáximo. 0 autores concluíram que, para maxila, dos 8 aos 17 anos de idade houve um

UPSC Rihifor., C CS- () aumento significante no comprimento maxilar (A-Ptm), sendo 7,5mm para meninos e 5,1 para meninas. Houve também um aumento considerável da proeminência da maxila em relação base do crânio (SNA), 1,7' para meninos e 0,4 para meninas. Em relação à altura houve um acréscimo de 48,3 cm para meninos e 36,7 cm para meninas, em média. 15 Para Linden (1986), do nascimento até cerca de 6 a 8 meses de vida, a maxila cresce consideravelmente. Após o primeiro ano de vida, o desenvolvimento transverso e ventral da região anterior de maxila e dos processos alveolares é limitado. As regiões posteriores continuam crescendo, promovendo o espaço necessário para erupção dos molares deciduos. Araújo (1988) afirmou que a maxila apresenta um crescimento nas suturas e também um processo de aposição e reabsorção óssea (remodelação) que em conjunto provocam o deu deslocamento para frente e para baixo. As regiões da maxila que apresentam um maior aumento são a região posterior e sua parte superior, sendo assim, o seu deslocamento se da numa direção oposta, isto é para baixo e para frente. 0 aumento na região posterior se processa por aposição óssea na face posterior da tuberosidade, aumentando as dimensões ântero-posteriores da maxila. 0 crescimento da maxila está intimamente relacionado ao crescimento dos ossos aos quais ela est á ligada, especialmente, o frontal, o zigomático e o temporal. 0 crescimento na região alveolar vai depender do desenvolvimento da oclusão. Enlow (1993) acrescenta que o processo de remodelação de superficies remove osso das superficies anteriores, menos em uma pequena area da espinha nasal anterior. No palato,

16 entretanto, a remodelação de superfícies adiciona osso enquanto é reabsorvido osso do assoalho nasal. Para Thilander (1995), o deslocamento da maxila para baixo e para frente resultará no deslocamento dos ossos adjacentes: nasal e orbital. 0 crescimento transversal em largura ocorre principalmente devido 6. deposição óssea na sutura palatina mediana. 0 aumento em altura da maxila na regido alveolar ocorre devido 6. erupção dentária. Para Toledo (1996) ha uma direção predominante de crescimento para trás e para cima, que faz com que a maxila se desloque para frente e para baixo. Na tuberosidade ocorre o processo de aposição óssea, que concorre para aumentar o comprimento do processo alveolar. 0 crescimento vertical está intimamente relacionado ao crescimento das órbitas e das fossas nasais. 0 crescimento em altura do processo alveolar está relacionado com o desenvolvimento e a erupção dos dentes. Segundo Guedes-Pinto (1997), a tuberosidade e o processo alveolar são os principais locais de crescimento maxilar, permitindo deste modo, um ganho em largura e comprimento do arco. Com relação ao crescimento anterior em lateralidade, a sutura palatina mediana é o local de depósito ósseo que vai permitir este aumento de dimensão. 0 primeiro surto de crescimento em lateralidade ocorre do nascimento até os 2 anos de idade, sendo que 50% deste ganho ocorre durante os seis primeiros anos de vida. Durante os primeiros anos de idade, o crescimento do processo alveolar sera mais acentuado no sentido vertical, de tal forma que

17 os germes dentários sejam envolvidos pela cripta óssea, ocorrendo também um ganho na dimensão vertical do terço inferior da face. Ao comparar o crescimento maxilar de crianças com fissura lábio palatinas com o crescimento maxilar de crianças normais, Friede (1998) afirmou que nestas últimas, o aumento em largura da maxila ocorre devido ao crescimento sutural. Ranly (1998) afirmou que aproximadamente a metade do aumento da dimensão do palato ocorre durante a erupção dos dentes deciduos. Deste modo, a forma típica de ferradura do palato do recém-nascido é perdida aos 3 anos de idade. 0 crescimento em altura do osso maxilar acontece devido à aposição de osso nos bordos livres do processo alveolar, quando há o irrompimento de novos dentes. Bishara (2000) estudou as mudanças no crescimento de indivíduos entre os 5 e 25 anos de idade, nos seguintes parâmetros craniofaciais: comprimento maxilar, comprimento mandibular e relação maxilo-mandibular (ANB). A medida da altura total foi usada como indicativo da maturidade esqueletal e também foi avaliada. 0 autor dividiu o grupo de estudo em três estágios: 5 a 10 anos, 10 a 15 anos e 15 a 25 anos. Em relação à altura, o autor notou que a maior taxa de crescimento no sexo masculino ocorreu dos 10 aos 15 anos (44%) e no sexo feminino ocorreu dos 5 aos 10 anos (54%). 0 mesmo ocorreu em relação à taxa de crescimento da maxila: 42% dos 10 aos 15 anos no sexo masculino e 49% dos 5 aos 10 anos no sexo feminino.

18 Ross- Powell, Harris (2000) selecionaram 52 crianças afro-americanas (25 do sexo masculino e 27 do sexo feminino), para seus estudos sobre o crescimento do segmento anterior dos arcos dentais, dos 3 aos 18 anos de idade. Na maxila, a profundidade anterior foi calculada pela distancia do angulo mesial do incisivo central superior até a linha que corresponde à cúspide do canino superior, paralela à rafe mediana. A largura intercanina foi calculada pela distancia entre as cúspides dos caninos superiores direito e esquerdo. A profundidade do segmento anterior da maxila não mudou durante a fase de dentição decidua, mas aumentou bastante quando ocorreu a erupção do incisivo permanente superior. Este aumento ocorreu mais cedo no sexo feminino. A largura intercanina aumentou consideravelmente, especialmente dos 9 aos 11 anos, quando ocorreu a erupção dos caninos permanentes superiores. A largura intercanina aumentou cerca de 2,5 mm durante a dentição decidua. Outros 5 mm foram ganhos durante a fase de dentição mista até os 18 anos de idade. 2.3 0 papel da mandíbula Sillman (1964) acompanhou o crescimento dos arcos de 65 recém-nascidos até os 25 anos de idade. Em relação ao crescimento mandibular, o autor concluiu que o maior aumento da largura intercanina ocorreu do nascimento até os 2 anos de idade (3,5mm). Os 2 aos 6 anos quase não houve evidencia de mudança. Dos 8 aos 12 anos houve um grande aumento de dimensão e após os 12 anos não houve evidencia de mudança significativa. A largura intermolares deciduos mostrou um maior aumento dos 4 aos 12 anos de idade (0,2 mm/ano),

19 sendo que após os 14 anos não houve evidência de mudança significativa. 0 aumento da largura posterior da mandíbula seguiu o mesmo padrão que o observado na maxila, porém este aumento é menor. Em relação ao comprimento, o maior aumento do segmento que inclui incisivos e canino, ocorreu do nascimento até os 2 anos de idade. Dos 2 aos 6 anos não houve evidência de mudança significativa. Dos 6 aos 10 anos houve um discreto aumento e após os 10 anos WA houve evidência de mudança significativa. Moyers (1979), afirma que a mandíbula parece crescer para frente e para baixo, no entanto, o crescimento real ocorre em uma enorme variedade de direções regionais. Existe uma tendência de crescimento para cima e para trás acarretando no deslocamento de toda a mandíbula em uma dire* oposta, isto 6, para baixo e para frente. 0 crescimento para trás da mandíbula serve para recolocar o ramo mandibular em uma direção progressivamente posterior. Isto proporciona duas funções de crescimento: a) produz um alongamento do corpo mandibular, b) está associado a um movimento de toda a mandíbula para frente por deslocamento. No lado vestibular do processo coronóide, ocorre reabsorção óssea e na superficie lingual há uma grande aposição de osso. No lado vestibular do ramo inferior recebe aposição de osso, enquanto o lado lingual é bastante reabsorvido. Este conjunto de mudanças de crescimento em diferentes regiões produz um deslocamento de toda a mandíbula para frente e para baixo. A aposição óssea no bordo inferior do corpo mandibular é discreto parece estar limitado aos ajustes de contornos e de espessura cortical. Os aumentos no lado alveolar estão relacionados com a função de suporte e dos movimentos dentários. A largura

20 intercaninos aumenta ligeiramente devido a inclinação distal dos caninos deciduos para o espaço primata. Jamison et al (1982) analisou as mudanças que ocorrem na maxila e na mandíbula, entre os 8 aos 17 anos de idade. Em relação á mandíbula, o autores avaliaram a relação antero-posterior da mandíbula com a maxila (ANB e NaPog). Os autores concluíram que as relações maxilo-mandibulares mudaram bastante entre os 8 e 17 anos. Os ângulos ANB e NaPog mudaram negativamente (-0,6 para meninos e -0,1 para meninas; -3,8 para meninos e - 3,6 para meninas, respectivamente), indicando um aumento da proeminência da base mandibular e do mento. Para Linden (1986), o crescimento transverso precoce da mandíbula pode ser atribuído principalmente a presença da sinfise mentoniana. À medida que a sinfise se mineraliza, o que ocorre aos 6 meses de idade, o crescimento transversal da mandíbula se acaba. Do nascimento até os 8 meses de idade, ocorre um acentuado desenvolvimento ventral da mandíbula, o que a leva para uma posição mais anterior em relação a maxila. Para Araújo (1988), o crescimento no côndilo associado com a aposição óssea no bordo posterior do ramo, contribui para o aumento no comprimento da mandíbula e quando associado ao crescimento alveolar, contribui para o aumento em altura do corpo mandibular. 0 crescimento adicional nas extremidades do rebordo posterior da mandíbula, aumenta a distancia entre os pontos terminais. Os dois ramos também divergem, de baixo para cima, de

21 modo que o crescimento aposicional na chanfradura coronóide, processo coronóide e c8ndilo, também aumenta a dimensão superior (largura) entre os ramos. Com o desenvolvimento da dentição, o crescimento da regido alveolar aumenta em altura o corpo mandibular. 0 crescimento na regido de c8ndilo apresenta uma direção para trás e para cima, provocando um deslocamento de toda a mandíbula para baixo e para frente. Profitt (1991) diz que uma das principais características do crescimento mandibular é um aumento do queixo (mento). Esta mudança de contorno do mento ocorre devido principalmente à absorção óssea que ocorre numa área bem acima do mento, entre este e a base alveolar, e também devido à pequena adição óssea no mento Thilander (1995) afirma que o crescimento da mandíbula para frente e para baixo é o resultado de seu deslocamento, assim como o que ocorre na maxila. Isto é devido à aposição óssea em direção oposta, ou seja, na bordo posterior do ramo, com simultânea reabsorção óssea no contorno anterior. Devido à precoce fusão da sinfise mentoniana, o crescimento pósnatal em largura da mandíbula é reduzido. 0 deslocamento da mandíbula está associado à sua rotação, que depende da direção do crescimento condilar. Se houver uma predominância de crescimento na parte anterior do c8ndilo para cima, provocará uma rotação mandibular no sentido anti-horário. Em indivíduos onde ha predominância de crescimento na parte posterior do ctindilo para trás, vai ocorrer uma rotação mandilular no sentido horário.

22 Segundo Toledo (1996), ao nascimento os ramos mandibulares são curtos e o clindilo da mandíbula é pouco desenvolvido. Durante o primeiro ano de vida, o crescimento mandibular é generalizado, caracterizando-se por aposição óssea em todas as superfícies, principalmente no processo alveolar, no bordo posterior do ramo e bordo inferior do corpo. Após o primeiro ano de vida, o crescimento é mais seletivo. No bordo posterior do ramo e no processo alveolar, ocorre um considerável aumento aposicional. Concomitantemente, ocorre reabsorção no bordo anterior do ramo, aumentando o comprimento do processo alveolar. Na mesma época, o processo coronóide mostra intensa atividade de crescimento. 0 crescimento no ciindilo mandibular contribui para o crescimento do ramo para Vas e para cima, determinando também a direção geral do crescimento mandibular. A aposição óssea no bordo posterior e o reabsorção no bordo anterior movimentam progressivamente o ramo para trás, produzindo um alongamento do corpo e promovendo, ao mesmo tempo, o crescimento em largura. 0 crescimento aposicional nas extremidades da mandíbula provoca uma expansão em comprimento e largura. 0 aumento em altura do corpo mandibular é fortemente influenciado pelo crescimento do processo alveolar, que por sua vez, está relacionado com o desenvolvimento e erupção dos dentes. Para Guedes-Pinto (1997), o crescimento da mandíbula em largura ocorre quase sempre antes dos 9 meses de idade, devido ao fechamento da sinfise mentoniana. Os principais locais de crescimento da mandíbula situam-se no dindilo, processo alveolar e no bordo posterior do ramo, sendo que no bordo anterior do ramo ha um processo de reabsorção óssea que vai permitir um ganho no comprimento do arco, sendo o ciindilo o principal responsável pelo

23 deslocamento anterior e inferior da mandíbula. Ranly (1998) afirma que a mandíbula ao nascimento é formada por dois ossos unidos pela sinfise mentoniana. Ao 3 anos de idade, a mandíbula atinge aproximadamente1/3 de seu crescimento e metade de seu eventual tamanho. 0 mento move-se muito rapidamente para anterior durante os três primeiros anos. Por poucos meses após o nascimento, ocorre uma expansão na sínfise mentoniana, que se fecha antes do primeiro ano de vida. Para Alexander et al (1999), as mudanças no tamanho e superficie da mandíbula é o resultado do processo de remodelação óssea, isto 6, em certas regiões da mandíbula ocorre um processo de aposição óssea e em outras regiões ocorre o oposto, reabsorção. Segundo Ferreira et al (1999), o crescimento da mandíbula está intimamente ligado ao crescimento e desenvolvimento das estruturas vizinhas. 0 corpo da mandíbula do recémnascido cresce e alonga-se mesialmente e distalmente, através de um padrão de remodelamento. Na face vestibular da região anterior do corpo ocorre aposição de osso. Para o autor, a posição mais retrusiva da mandíbula no recém-nascido é uma posição normal, que ocorre em razão das fossas cranianas anteriores situarem- se logo acima do complexo nasomaxilar. Como o desenvolvimento das fossas cranianas anteriores é precoce, o complexo naso-maxilar é levado a uma posição mais protrusiva que a mandíbula.

24 Bishara (2000) analisou diferentes parâmetros de crescimento entre 5 e 25 anos de idade. Na mandíbula, as mudanças no comprimento mandibular no sexo masculino foram de 34% dos 5 aos 10 anos, 39% dos 10 aos 15 anos e 27% dos 15 aos 25 anos. No sexo feminino, as mudanças no comprimento mandibular foram 48% dos 5 aos 10 anos, 41% dos 10 aos 15 anos e 11% dos 15 aos 25 anos. Analisando a relação maxilo-mandibular (ANB), algumas diferenças foram notadas. No sexo masculino, houve um decréscimo no ângulo ANB: 31% dos 5 aos 10 anos, 6% dos 10 aos 15 anos e 63% dos 15 aos 25 anos, enquanto no sexo feminino houve um acréscimo no ângulo ANB no último período (28%). Ross-Powell, Harris (2000) analisaram as mudanças na profundidade do segmento anterior da mandíbula e a largura intercanina em 52 indivíduos afro-americanos dos 3 ao 18 anos de idade. A profundidade do segmento anterior da mandíbula não mostrou alguma alteração durante a fase de dentição decidua, entretanto, a profundidade anterior da mandíbula teve um aumento de aproximadamente 2 mm dos 6 aos 10 anos. A largura intercanina aumentou aproximadamente 4 mm dos 3 aos 10 anos, um aumento considerável ocorreu dos 3 aos 5 anos antes da erupção dos dentes permanentes. A largura intercanina não apresentou mudança significativa após os 11 anos de idade.

UPS c ccs-0 3 DISCUSSÃO 0 crescimento craniofacial pré-natal e pós natal é um processo continuo, interrompido momentaneamente pelo choque do nascimento. A cabeça do recém-nascido é uma estrutura adaptada ao desenvolvimento intra-uterino (Ranly, 1998), e para Profitt (1991) a cabeça é o maior obstáculo ao nascimento. 0 fato de as fontanelas serem grandes e não calcificadas, permite um alongamento e estreitamento da cabeça, facilitando a passagem do recém-nascido pelo canal de parto. Uma significante retrognatia mandibular é uma característica marcante do recémnascido. Segundo Profitt (1991), esta falta de crescimento mandibular também torna o nascimento mais fácil, uma vez que um queixo pronunciado e calcificado dificultaria o nascimento. A criança, ao nascer, apresenta a face gorda e larga, com uma relativa falta de crescimento do terço inferior. Para Enlow (1993), isto sera compensado através da direção do crescimento craniofacial para baixo e para frente. A maxila e a mandíbula crescem para cima e para trás, o que vai provocar o deslocamento destes ossos para baixo e para frente, aumentando deste modo, o terço inferior da face. Segundo Enlow (1993), estes movimentos da maxila e da mandíbula são complementares e interrelacionados, e é dificil analisar seus crescimentos separadamente.

26 As épocas do crescimento em largura, comprimento e altura dos maxilares não são coincidentes. Existe uma seqüência definida para os três planos de espaço, quando o crescimento está completo, ou seja, quando o crescimento cai para uni ritmo lento que caracteriza os adultos normais. Para Profitt (1991), o crescimento está completo na seguinte ordem: em primeiro o crescimento em largura, depois o crescimento em comprimento e por fim o crescimento em altura, tanto para maxila quanto para a mandíbula. Enlow (1993) acrescenta que o crescimento da maxila se completa antes do crescimento da mandíbula. 0 crescimento facial é controlado por urn sistema multifatorial que é influenciado por fatores intrinsicos (genéticos) e extrinsicos (ambientais). Para Moyers (1979), Thilander (1995), Fried (1998) e Kjellberg et al (2000), os fatores intrinsicos são transmitidos geneticamente e são hereditários. Estes fatores hereditários podem ser modificados por fatores ambientais locais, tais como, hábitos (respiração bucal, sucção prolongado, outros) e função. Para Profitt (1991), o nascimento prematuro e de baixo peso, doenças crônicas e estado nutricional são fatores ambientais extrinsicos que vão intervir no crescimento. Marcondes et at (1994) acrescenta a estes fatores ambientais extrinsicos a atividade fisica e a estimulação biopsicossocial. Bishara (2000) afirma que o tratamento ortodiintico também influencia o crescimento craniofacial. 0 crescimento da maxila é principalmente o resultado de seu deslocamento. Para Moyers (1979), Araújo (1988), Toledo (1996) e Guedes-Pinto (1997), a maxila se desloca para baixo e para frente à medida que é depositado osso na porção posterior da tuberosidade; este é

27 o chamado deslocamento primário. 0 deslocamento secundário e passivo da maxila ocorre devido ao crescimento da base do crânio que empurra a maxila para frente (Moyers, 1979). Segundo Araújo (1988), o crescimento da maxila está intimamente relacionado aos ossos aos quais ela está ligada, principalmente os ossos frontal, zigomático e temporal. A maxila expande em lateralidade em conseqüência da deposição óssea que ocorre na sutura palatina mediana (Araújo; 1988; Thilander, 1995, Guedes-Pinto, 1997; Friede, 1998). 0 crescimento na região alveolar depende do desenvolvimento e da erupção dos dentes (Araújo, 1988, Thilander, 1995, Guedes-Pinto, 1997; Friede, 1998). Isto vai fazer com que os germes dentários sejam envolvidos pela cripta óssea, havendo também um aumento na dimensão vertical do terço inferior da face. Para Linden (1986), o crescimento em altura na regido posterior continua por mais tempo, a fim de promover o espaço necessário para a erupção dos dentes posteriores. A mandíbula é muito rudimentar ao nascimento e seu crescimento é semelhante ao crescimento da maxila, isto 6, a mandíbula se desloca para frente e para baixo como resultado de seu crescimento para trás e para cima. Para Araújo (1988) e Guedes-Pinto (1997), a aposição óssea na região de ceindilo é a principal causa do deslocamento da mandíbula para frente e para baixo. Ocorre também aposição óssea no bordo posterior do ramo, com concomitante reabsorção óssea no bordo anterior do ramo (Moyers, 1979; Araújo, 1988; Thilander, 1995, Guedes-Pinto, 1997). 0 crescimento no c6ndilo associado ao crescimento no bordo posterior do ramo, contribui para o aumento no comprimento mandibular (Araújo, 1988). Para Toledo (1996), a aposição óssea no bordo posterior do ramo em conjunto com a

28 reabsorção óssea no bordo anterior, produz um crescimento em largura. Segundo Thilander (1995), associado ao descolamento da mandíbula está a sua rotação, que depende da direção do crescimento condilar. Uma rotação no sentido anti-horário (para frente) ocorre devido ao crescimento na parte anterior do côndilo para cima; uma rotação no sentido horário (para trás) ocorre devido ao crescimento na parte posterior do côndilo para trás. A aposição óssea na região da sinfise mentoniana é muito reduzida, visto que o seu fechamento ocorre precocemente. Linden (1996) afirma que a sinfise mentoniana se fecha aos 6 meses de idade, para Guedes-Pinto (1997), a sinfise mentoniana se fecha até os 9 meses de vida. Assim como ocorre na maxila, o crescimento na região alveolar vai depender do desenvolvimento e erupção dos dentes (Moyers, 1979; Araújo, 1988; Toledo, 1996; Guedes-Pinto, 1997). Profitt(1991) acrescenta que o aumento na região do queixo (mento), ocorre mais devido reabsorção óssea numa Area situada acima do mento do que devido à aposição óssea na região do mento. De uma maneira geral, pode-se afirmar que as mudanças nas dimensões dos arcos dentários precedem a erupção dentária e ha uma semelhança nas mudanças de dimensões entre a maxila e a mandíbula. Para Ross-Powell, Harris (2000), as mudanças na largura e na profundidade anteriores dos arcos na fase de transição de dentição decidua para dentição mista, são devido à erupção dos dentes permanentes, que possuem uma largura mésio-distal maior que a dos dentes antecessores deciduos.

29 0 surto de crescimento é único para cada paciente e não pode ser previsto através de padrões de altura ou de radiografia carpal. Para Jamison et al (1982), as relações maxilomandibulares são similares clinica e estatisticamente nos três períodos de crescimento (prémáximo, máximo e pós-máximo), portanto não se justificaria adiar o tratamento de discrepâncias Antero-posteriores. Para Bishara (2000), o tratamento de discrepâncias Anteroposteriores deve ser iniciado assim que o ortodontista acredite que o tratamento seja indicado, e não deve ser adiado para um esperado surto de crescimento puberal.

4 CONCLUSÕES 0 tamanho e a forma dos arcos denários não são estáticos, eles mudam sistematicamente com a idade nos diferentes estágios de dentição decidua, mista e permanente. Com base na literatura consultada, pode-se concluir que: 1) A forma e o tamanho dos arcos dentários são o resultado de influências genéticas e ambientais. 2) 0 crescimento da face para baixo e para frente é conseqüência do crescimento da maxila e da mandíbula em direção oposta, ou seja, para cima e para trás. 3) Da harmonia entre o crescimento da maxila e o crescimento da mandíbula dependera o bom desenvolvimento da oclusão dentária. 4) 0 tratamento das discrepâncias maxilo-mandibulares significantes deve ser iniciado precocemente e não deve ser adiado até um surto de crescimento puberal.

,3 2, 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALEXANDER, S. et al. Posterior vertical bite opening: a new paradigm in dentofacial orthodontic therapy. J. Clin. Ped. Dent., Boston, v.23, n. 4, p.295-300, 1999. ARAÚJO, M. C. Ortodontia para clínicos. 4.ed. São Paulo: Santos, 1988. P.29-46. BISHARA, S. E. Facial and dental changes in adolescents and their clinical aplications. Angle Orthod., v. 70, n.6, p. 471-483, Dec., 2000. CARAPEZZA, L. I. Pediatric malocclusion: early treatment versus late treatment. J. Clin. Ped. Dent., Boston, v.21, n. 1, p. 97-98, 1997. ENLOW, P. M. Crescimento Facial. 3.ed. São Paulo: Artes Médicas, 1993. FERREIRA, S. L. M. et al. Dinâmica do crescimento intero-posterior da mandíbula: aplicações em odontopoediatria. J.B.P., Curitiba, v. 2, n. 10, p. 411-418, 1999. FRIEDE, H. Growth sites and growth mechanisms at risk in cleft lip and palate. Acta. Odontol. Scand., Oslo, n. 56, p. 346-351. GUEDES-PINTO, A. C. Odontopediatria. 6.ed. Sao Paulo: Santos, 1997. P. 70-77. JAMISON, J. E. et al. Longitudinal changes in the maxilla and the maxillary-mandibular relatioship between 8 and 17 year of age. Am. J. Orthod., St Louis, v. 82, n. 3, p. 217-230, Sep., 1982. KARLSEN, A. T. Longitudinal changes in class I subjects with moderate mandibular skeletal protusion. Angle Orthod., v.68, n. 5, p. 431-438, 1998. KJELLBERG, H. et al. Craniofacial morphology, dental occlusion, and dental maturity in boys of short stature with or without growth hormone deficiency. Eur. J. Oral Set, Copenhagen, v. 108, p.359-367, June, 2000. LINDEN, F. P. G. M. Desenvolvimento da dentição. São Paulo: Quintessence, 1986, p.23-58. MARCONDES, E. et al. Pediatria Básica. 7.ed. Sao Paulo: Sarvier, 1986, p. 40-68. MC DONALD, R. E.; AVERY, D. R. Odontopediatria. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara - Koogan, 1995, p.446-461. MOYERS, R. E. Ortodontia. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara- Koogan, 1979, p.1-97.

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