Depois de mais de uma década de trabalho, artistas gravam O seu Primeiro DVD A gravação do DVD na vida de um artista pode ser considerada como um novo tempo, o começo de uma carreira muitas vezes já solidificada no mercado fonográfico, pois, por meio deste trabalho, a performance do artista no palco é vista e transmitida Osiel Rangel backstage@backstage.com.br Aimportância do DVD para o mercado musical é registro de imagem da sua carreira, ainda mais se for um inquestionável. Aqui no Brasil está em livre expansão, alcançando um público inestimável. É por não basta ter só a vontade, é necessário muito mais. Voz, produto que possa mostrar sua performance musical. Mas isso que os olhos da indústria fonográfica não estão mais carisma, boa apresentação, talento, transpiração e uma fechados para importância de um produto que é uma imagem sonora em movimento, com possibilidades de ser um duzir um DVD, e, lógico, atrair o espectador. boa produção. Tudo isso é imprescindível na hora de pro- forte diferencial na carreira dos seus artistas. E não é só isso, Alguns artistas possuem todas essas características, entretanto, mesmo depois de uma longa trajetó- o DVD aquece as vendas e, principalmente, satisfaz o público que pode ter e ver em casa o seu artista preferido. ria de trabalho no meio artístico, nunca conseguiram realizar esse desejo. O cantor Jerry Diante disso, todo artista defende a idéia de possuir um Adriani, O seu primeiro DVD Para gravar um DVD, é preciso contar com profissionais responsáveis, que garantam um bom trabalho de som e imagem 66 www.backstage.com.br
com 43 anos de carreira, só gravou o seu primeiro DVD ao vivo este ano na casa de espetáculo Canecão (RJ). Jerry explica que é uma oportunidade de registrar um pouco da carreira do artista, e enfatiza que não é uma tarefa simples. É preciso contar com profissionais responsáveis, que garantam um O DVD do Grupo 14 Bis foi gravado ao vivo no Grande Teatro Palácio das Artes em Belo Horizonte tante. Algumas providências foram tomadas, como a utilização de um gerador de energia. Se faltasse luz, poderíamos perder tudo!, ressalta. Fábio explica que no show do Jerry, o som ficou distribuído em quatro partes: uma destinada ao palco, outra é o som de PA posicionado para o público, bom trabalho de som e imagem, destaca. uma para a gravação, e um quarto pequeno, mas não menos importante, uma mixagem geral direcionada Imagem e som O DVD tem um poder extraordinário, próprio da obra de arte, quando bem produzido. Ele tem a capacidade de tornar presente o ausente e próximo o distante. Ou seja, de levar o espectador para o universo da música, despertando-lhe fortes emoções. Por isso, o público costuma ser muito exigente, observando tudo: o cenário, a qualidade do som, a iluminação e o desempenho do artista. Na verdade, o espectador quer assistir e ter a sensação de estar participando do show. Para garantir o bom resultado, o cuidado com as imagens durante a gravação é um ponto muito relevante, sendo que, em gravações ao vivo, tudo pode para uma unidade móvel de vídeo. E não dá para pensar em show sem os efeitos de iluminação. Para o diretor de iluminação, Marcelo Linhares, é fundamental ter um jogo de luzes bem equilibrado, ou seja, uma cor não pode estar mais em evidência do que outra. O que não pode acontecer é deixar de alinhar as câmeras com a luz e também não bater o branco, ou seja, na localização e preenchimento do visor deve-se ter o cuidado de, ao efetuar o ajuste manual do branco, garantir que o objeto de cor branca para o qual a câmera aponta durante o ajuste receba a mesma iluminação que o objeto ou pessoa a ser gravado, explica. acontecer, e o resultado pode ser desastroso. Segundo Paulo Fontenelle, diretor de imagem e responsável pela gravação do DVD do Jerry, o principal objetivo é registrar tudo que se passa durante o show sem esquecer os detalhes que podem ser um diferencial na hora de selecionar as cenas. Nesse show, tivemos a preocupação de captar por meio de oito câmeras, desde o cantor, 15 músicos no palco, além de dançarinos e performers afirma. E ainda precisamos nos preocupar em captar as imagens que serão transmitidas por dois telões dispostos atrás do palco principal. É claro que transmitir um áudio de muita fidelidade e inteligibilidade também tem sua importância e exige cuidados. Durante uma gravação ao vivo, o som da platéia, por exemplo, não pode interferir no áudio que é produzido no palco. De acordo com Fábio Adriano, responsável pela parte do áudio do show, a gravação ocorre somente em um dia e todo cuidado com a sonorização é extremamente impor- O custo de uma produção Um dos problemas para a gravação de DVD é o seu alto custo. De acordo com o cantor, integrante da banda 14 Bis, Sérgio Magrão, foram gastos cerca de 420 mil reais na produção do DVD da banda, que mobilizou sessenta pessoas no projeto. Este é o primeiro DVD do grupo musical que surgiu, como a primeira banda de rock mineira e que já vendeu mais de 4 milhões de discos. Lançado pela Sony BMG, ele foi gravado ao vivo no Teatro Palácio das Artes em Belo Horizonte e o repertório inclui os sucessos da banda e algumas surpresas. Segundo Sérgio, a equipe de profissionais responsável pela gravação do vídeo foi a LCM Produções, uma das melhores e mais premiadas produtoras do país. A direção musical é de Marcelo Sussekind, produtor e músico de renome, colaborador, em outras ocasiões da banda 14 Bis, o que garante a certeza de que apresentaremos um DVD e www.backstage.com.br 67
CD com qualidade internacional, como nosso público merece, ressalta. Outro grupo popular, mas que também produziu o seu primeiro DVD, foi a banda The Fevers, com quatro décadas de sucesso. O show, que teve a direção de JC Marinho, foi gravado em Recife, com produção musical de Liebert Ferreira (músico da banda) e convidados especiais Renato & Seus Blue Caps (Wooly Bully, Garoto Que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones e Menina Linda, homenageando os anos 60) e os Pholhas (Forever). O grupo composto por Luiz Cláudio (vocalista), Liebert Ferreira (contrabaixo e vocais), Rama (guitarra e vocais), Miguel Ângelo (teclados e vocais) e Otavio Henrique (bateria), teve neste show a participação dos músicos Rick Ferreira (guitarra, violão e pedal steel) e do Maestro José Lourenço (teclados). Para nós, tudo foi especial, a interação entre a banda e o público no espaço onde gravamos, o Com o DVD, o espectador pretende assistir e ter a sensação de estar participando do show repertório com a retrospectiva de boa parte dos sucessos de nossa carreira, a captação do áudio, imagem, cenário e iluminação, tudo feito por alguns dos melhores profissionais do país comemora a banda. Divulgação do grupo De fato, o DVD é um produto que oferece novo espaço de visibilidade, desperta o prazer de ouvir e também de assistir durante muito tempo. Ele já traz consigo a possibilidade de unir o som e a imagem num só produto, comenta o músico Marcelo Sussekind, que também é produtor e engenheiro de som. Ele explica que produzir um DVD hoje pode ser uma porta de entrada para o artista conseguir divulgar o seu trabalho. Quem também concorda é o diretor e produtor José Carlos Marinho que afirma que o DVD pode se tornar uma vitrine para o artista, e destaca: O show poderá ir onde o povo está, em todo o Brasil, de norte a sul, e também no exterior. DVD revigora o mercado de CD O seu primeiro DVD 68 www.backstage.com.br O crescimento da venda de DVDs é uma realidade, contrariando a atual estatística pessimista das vendas de CDs. De acordo com Jorge Lopes, diretor de vendas da EMI Music Brasil, a venda de DVDs tem crescido a cada ano. Esse ano ficaremos, pelo menos, 5% acima do ano passado, afirma. Na opinião do responsável pela coordenação para DVD (A&R Nacional) da Universal Music, Marcelo Vilella, o DVD é um formato que ainda tem uma longa estrada de vendas pela frente. Ainda teremos grandes novidades nesta linha. A entrada dos novos formatos Blu-Ray e HD-DVD no mercado brasileiro vão mudar o cenário do mercado e o nível de qualidade, conclui Marcelo Vilella. Mesmo com a atual situação do mercado fonográfico, o CD ainda tem força para estimular a compra do DVD, segundo Marcelo Vilella, que também ressalta: O DVD hoje não é só imagem bonita e áudio simplesmente. Para o alto nível de exigibilidade do público atual, oferecemos imagens em alta definição, áudios em vários formatos, legendas em diversos idiomas e um item que temos adotado por um bom tempo aqui na Universal: cifras para violão. Músicos e até as pessoas que compram os livros ou revistas em jornaleiro para aprender a tocar têm elogiado bastante essa iniciativa. Para Jorge Lopes, mesmo com a influência do DVD, o público mantém a sua fidelidade. Sem dúvida de que o DVD é hoje um grande atrativo e influencia o consumidor na decisão de comprar o CD. Porém, acredito que o CD, por si só, tem seus próprios consumidores, fala. A produção de vídeo clip ainda não perdeu seu lugar para os shows ao vivo das produções de DVD, na visão de Jorge Lopes: O vídeo clip é mais direcionado e usado como ferramenta de Marketing. Marcelo Vilella acredita que tem espaço para todos. O que está acontecendo é que a maioria dos CDs e DVDs estão sendo gravados ao vivo, sendo assim, o DVD já faz parte do vídeo para divulgação. Entretanto, no caso de trabalhos em estúdio, o vídeo clip é uma ótima ferramenta, avalia. De acordo com Marcelo Vilella, o primeiro passo de um artista para a gravação de um DVD é a escolha de um bom repertório e em seguida cuidar para que a captação de vídeo e áudio sejam realizadas perfeitamente com profissionais gabaritados. A gravadora fica envolvida em toda parte de produção e técnica do projeto.
O seu primeiro DVD Francis Hime O maestro e compositor Francis Hime, entre um intervalo e outro de seus shows pelo Brasil, falou à Backstage como foi o processo de gravação e escolha das músicas de seu mais novo CD e primeiro DVD, lançados pela gravadora Biscoito Fino. Neste bate-papo, o músico ainda fala sobre pirataria e de como a internet pode ajudar na divulgação do trabalho do artista I Backstage Este foi seu primeiro DVD. A idéia o agradou? Francis Hime Me agradou bastante. Eu gosto mais de fazer show, o que não acontecia no início da minha carreira quando eu tinha pânico de subir no palco. Hoje em dia eu adoro e realmente me sinto muito à vontade, e isso acabou redundando nessa idéia de gravar o primeiro CD e DVD ao vivo. Fiquei bem feliz com o resultado. Backstage Qual foi o processo de escolha das músicas para esse DVD? Francis Procurei traçar um painel bastante amplo e representativo da minha carreira sem propriamente ser um disco retrospectivo, porque neste caso teria que postar certas músicas, como a primeira de todas Sem Mais Adeus. Construí esse roteiro gosto muito de fazer roteiro, tanto para mim como para outros artistas procurando dar ritmo ao show e partindo de músicas, as mais variadas, de diferentes épocas, com vários parceiros. Escolhi a primeira e a última música. A partir daí fui recheando e completando o roteiro, dando ênfase, prestando bastante atenção e privilegiando o ritmo do espetáculo. Backstage Você interferiu diretamente ou contou com a colaboração de outras pessoas? Francis Elaborei esse roteiro sozinho e fui construindo. Claro, depois 70 www.backstage.com.br Entrevista Danielli Marinho backstage@backstage.com.br troquei idéias com amigos, com a Olívia, com parceiros sobre o formato, sobre próprio roteiro. Mas parti de uma estrutura, desenhei pensando no ritmo do espetáculo. No show eu abro um espaço bastante grande para improvisos, para a participação dos músicos. Nos ensaios teve uma troca muito intensa, com sugestões e solos aqui e ali de trabalho bastante coletivo. Backstage Percebe-se que há algumas músicas do CD Arquitetura da Flor neste novo trabalho. Quando fez o Arquitetura já pensava em alguma coisa ao vivo? Francis Estava amadurecendo essa idéia, porque sempre gostei muito de trabalhar em estúdios, mas nem passava pela minha cabeça fazer uma gravação ao vivo, até porque antigamente não existiam esses recursos tecnológicos e também porque eu não me sentia à vontade no palco. De uns tempos pra cá isso mudou muito e comecei a pensar nessa possibilidade. Quando fiz o Arquitetura da Flor, ainda não estava pensando nisso, apesar de a formação instrumental possibilitar bastante a apresentação ao vivo. Venho trabalhando com esse formato mais enxuto, mais despojado, que permite explorar os detalhes das melodias, das harmonias com mais intensidade. Então, de certa forma, no Arquitetura da Flor já existia um embrião instrumental dessa idéia do show ao vivo. Backstage Você acredita que o DVD acaba se tornando o cartão de visitas do músico hoje em dia? Francis O DVD ganha cada vez mais espaço e de certa forma é um cartão de visitas no sentido de que dá uma idéia para os promotores de shows de seu rendimento, de seu resultado, de sua presença no palco. Às vezes, você tem artistas que funcionam muito bem em estúdios, mas não tão bem no palco. Então, nesse sentido, o DVD é um cartão de visitas sim até para te apresentar para as pessoas que não te conhecem ainda, sua performance no palco. E o DVD ocupa cada vez mais espaço mercadológico, aumentando a empatia de vendas em relação ao CD. Backstage E essa questão de associar a imagem à música? Francis Imagem hoje é fundamental. A imagem é a idéia da coisa dramática. Você gravar um DVD que não tenha o segmento dramático, não tenha a centelha do show, não tenha o ritmo do show, não dá resultado. Você tem que unir esse dois elementos: a música e o aspecto dramático. O roteiro e o ritmo do show são fundamentais. Não deixar os brancos, ter um encadeamento que funcione bem. Isso já é importante no CD (o roteiro), no DVD, então, fica fundamental.
Backstage Você acha que o DVD acaba mostrando mais um pouco do trabalho? Francis Sem dúvida, porque ali você expõe de uma maneira muito espontânea o seu trabalho, sujeito às imperfeições e aos erros. Você vê uma coisa mais verdadeira e que comunica muito mais. No disco, você não consegue comunicar tanto quanto no DVD. Backstage E a questão do tamanho? No DVD há a música Musa da TV, que no CD não há. Francis É, nós cortamos. Na verdade, nem sei o porquê. Acho que foi por questão de tempo mesmo. Hoje em dia, as pessoas gravam em torno de 14 músicas e o ouvinte já não presta tanta atenção. Já no DVD isso não acontece. Dependendo do ritmo do espetáculo, você pode ter 30 canções que podem render bem. Eu não gosto de muito longo e acho que esse show ficou com um tempo bem adequado. Backstage Tem algum motivo especial do show ter sido no Sesc Pompéia? A questão de o palco abrir para os dois lados do público influenciou na escolha do local? Francis Particularmente gosto muito do Sesc Pompéia, sobretudo pelo fato de ter dois lados. De certa forma, isso desestabiliza e te obriga a ter uma relação mais dinâmica e improvisada, e acho um desafio. Backstage Falando um pouco da produção musical. Você opinou sobre o processo de iluminação e sonorização? Francis Trocamos algumas idéias, mas, basicamente, deixei a cargo dos técnicos responsáveis. Participei bastante da parte musical, do roteiro, do ritmo do espetáculo. No som eu trabalhei bem de perto na mixagem e na masterização. Acompanhei tudo e interferi bastante. Participei intensamente do começo ao fim. A gente gravou o show em apenas um dia. Normalmente são dois. Tivemos que refazer uma ou outra, como Pivete, mas não tivemos que repetir muita coisa, porque estava todo mundo empenhado e motivado. Às vezes, o show é aquela coisa que não se controla muito. Mas essa energia que você concentra por ser só um dia é muito mais intensa do que quando você tem dois ou três dias. Backstage A idéia é apresentar o mesmo show do DVD ou haverá algo diferente? Francis Eu tenho feito esse mesmo show com pequenas alterações, incluí Meu Caro Amigo, Vai Passar, mas basicamente é o mesmo show que temos mostrado. Backstage Você acredita que os recursos da internet, como My Space e You Tube, ajudam a divulgar ou são só uma maneira de as pessoas obterem música de graça? Francis Ajudam a divulgar e muito. A internet é uma ferramenta indispensável e uma aliada. Tem problemas de se estabelecer em critérios, direitos autorais, isso ainda não está muito bem equacionado, mas o fundamento é importantíssimo. Backstage Pirataria. Qual o caminho para acabar com isso? Francis Há vários caminhos. Acho que pode ser combatida com um conjunto de medidas, dentre as quais, a repressão ao pirata, mas também na busca pela contenção de preço de discos e DVDs para tentar baratear e aproximar o preço dos produtos piratas. Nesse sentido, existe uma iniciativa importante, uma PEC, para imunização dos discos e DVDs, dos fonogramas, de modo que acarretaria uma diminuição de cerca de 30% do preço final do produto nas lojas. Backstage Você acredita em punição? Francis Acredito. É uma das medidas. Não sei se é possível uma repressão eficaz, mas teoricamente você inibe um pouco. É um dos caminhos.