TRIBUNAL MARÍTIMO PROCESSO Nº 21.419/05 ACÓRDÃO N/T MARTA. Acidente de Trabalho com trabalhador durante a montagem de andaime no tanque do navio que se encontrava docado no estaleiro. Não configurada a ocorrência de acidente ou fato da navegação. Arquivamento. Vistos os presentes autos. Trata-se de analisar a queda de operário a bordo do N/T MARTA, de propriedade de Petrobrás Transporte S.A. TRANSPETRO, quando, cerca de 23h do dia 21/01/2004 encontrava-se docado no estaleiro ENAVI/RENAVE, provocando ferimentos no referido operário. Dos depoimentos colhidos e documentos acostados extrai-se que o montador de andaimes Sergio da Costa Nery encontrava-se efetuando montagem de andaimes no tanque nº 3 de bombordo do navio tanque que estava docado no estaleiro ENAVI/RENAVI; que o operário vitimado ao mudar a luminária de posição, desequilibrou-se e caiu no interior do tanque, de uma altura de aproximadamente 12 metros; que, da queda, resultou um corte no lábio, deslocamento da omoplata e perda de memória; que a equipe de trabalho dobrou o tempo de serviço, trabalharam durante a noite do dia 26/01/2004, descansaram durante o dia e retornaram ao trabalho na virada do dia 27 para o dia 28/01/2004; que faltavam equipamentos de segurança, como cabos para prenderem os trabalhadores, não fornecimento de EPI (Equipamento de Proteção Individual), como botas, macacão e capacete; que, de 30 em 30 minutos, passava um inspetor de segurança do estaleiro verificando as condições de segurança, mas não tomava
nenhuma atitude no sentido de coibir erros, apenas olhava e seguia em frente; e que deveriam ter sido soldados dois gatos, um no primeiro tanque e outro no último, prendendo um cabo de aço nas duas extremidades passando por dentro de todos os tanques, onde todos poderiam facilmente prender seus cintos a esse cabo. Laudo de exame pericial concluiu que a causa determinante do acidente foi que o trabalhador descumpriu a Norma de Segurança e não utilizou o cinto de segurança correto (tipo pára-quedista), ligado ao trava-quedas de segurança e este, ligado a um cabo-guia fixado em estrutura independente da estrutura de fixação e sustentação do andaime suspenso. Documentação de praxe anexada. No relatório, o encarregado do inquérito concluiu que o fator humano contribuiu para o acidente, uma vez que as equipes de montagem trabalharam durante duas noites consecutivas, sendo que o cansaço propiciou a fadiga e a diminuição dos reflexos, tendo como outro fator a visão deficiente devido à pouca luminosidade proveniente de uma iluminação provisória e precária; que o fator material contribuiu tendo em vista a ausência de olhais fixos no interior do tanque (ou outro dispositivo) que permitisse a fixação dos cabos-guia aos mesmos, independente do andaime; e que o fator operacional contribuiu, tendo em vista a falta de uso efetivo de cinto adequado (tipo pára-quedista) e a não ligação do mesmo a uma estrutura fixa, independente do andaime. Apontou como possíveis responsáveis: 1) a Empresa Newtec Montagens e Serviços Ltda., empregadora da vítima por não ter fornecido o cinto de segurança do tipo pára-quedista, descumprindo a Norma Regulamentadora do Ministério do Trabalho e Emprego nº 6, item 6.2, que diz que a empresa é obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente, EPI adequado ao risco e em perfeito estado de conservação e 2
funcionamento, enquanto a NR nº18, item 18.23.3, diz que o cinto de segurança tipo pára-quedista deve ser utilizado em atividades a mais de 2,00 metros de altura do piso, nas quais haja risco de queda do trabalhador; 2) o montador de andaimes Sergio da Costa Nery, ao descumprir a Instrução de Segurança (IS) nº 8, do Sistema de Gestão de Segurança, Meio Ambiente, Saúde e Qualidade SMSQE, do Estaleiro ENAVI/RENAVE, item 2.2 que diz que o cinto de segurança deve estar ligado a um cabo de segurança, preso a uma estrutura fixa e a NR 18.15.31, que diz que o trabalhador deve utilizar cinto de segurança tipo pára-quedista, ligado ao trava-quedas de segurança, este ligado a cabo-guia fixado em estrutura independente da estrutura de fixação e sustentação do andaime suspenso; e 3) o encarregado de montagem de andaimes Cirley Correia Pereira, componente do SEGRIN Segurança Industrial, que descumpriu a IS nº 8, item 2.3 do SMSQE, que atribui ao SEGRIN a responsabilidade de fiscalizar o uso de EPI nos trabalhos sobre andaimes. A D. Procuradoria requereu o arquivamento considerando que de acordo com o depoimento da quarta testemunha Nilton da Costa Nery (fls.46/48), a equipe de trabalho dobrou o tempo de serviço, configurando completa afronta aos direitos trabalhistas, à medida que não houve tempo suficiente para o descanso, com fulcro no estabelecido na CLT; que faltavam equipamentos de segurança, já que o empregador (Empresa Status Ltda.) não os fornecia; que há sempre um inspetor de segurança do estaleiro, porém este nunca toma providência no sentido de coibir as falhas ou erros, não havendo gatos ou olhais nos tanques para servirem de base para fixação dos cintos de segurança; que, no entanto, a competência para apreciar o evento escapa a esse Egrégio Tribunal por ausência de fundamento legal; que o evento deu-se em atividade de montagem de andaime, por empresa terceirizada, 3
nada tendo a ver com a atividade da navegação; que, por amor ao debate, subtrai-se dos autos que nem se fazia propriamente reparos na embarcação, visto que tratava-se de medida anterior à faina que se realizaria no navio; e que com o entendimento supra, entende ter havido um Acidente de Trabalho a cargo de apreciação do Ministério do Trabalho e Emprego, por sua Delegacia Regional do Trabalho no Rio de Janeiro, a quem cabe apreciar e julgar o presente evento, pelo que pede, desde já, o envio de peças dos autos àquela autoridade, para que exerça, então, a jurisdição que lhe compete. Publicada nota acerca do pedido de arquivamento, os prazos foram preclusos sem que interessados se manifestassem. Decide-se. De tudo o que consta nos presentes autos, conclui-se que não ficou caracterizada a ocorrência de acidente ou fato da navegação, devendo, portanto, ser acolhida a argumentação da D. Procuradoria, entendendo ter havido um Acidente de Trabalho com trabalhador durante a montagem de andaime no tanque do navio que se encontrava docado no estaleiro ENAVI/RENAVE, devendo ser encaminhada cópia do processo a Delegacia Regional do Trabalho no Rio de Janeiro - Ministério do Trabalho e Emprego, conforme promoção da PEM, para as providências cabíveis. Pelo exposto, deve-se julgar procedente o pedido de arquivamento formulado pela PEM. Assim, ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza e extensão do acidente/fato: xxxx; b) quanto à causa determinante: xxxx; c) decisão: mandar arquivar o inquérito considerando que o evento sob análise não se configura como acidente ou fato da navegação segundo a 4
Lei 2.180/54. Oficiar à Delegacia Regional do Trabalho no Rio de Janeiro, encaminhando cópia do processo, conforme promoção da PEM. P.C.R. Rio de Janeiro, RJ, em 8 de novembro de 2005. SERGIO CEZAR BOKEL Juiz-Relator WALDEMAR NICOLAU CANELLAS JÚNIOR Almirante-de-Esquadra (RM1) Juiz-Presidente 5