A publicidade e o cinema: Um estudo do product placement no cinema do século XXI 1



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Transcrição:

A publicidade e o cinema: Um estudo do product placement no cinema do século XXI 1 Samir Eluff Kounboz Gadia 2 Raquel de Paula Ribeiro 3 Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO RESUMO O cinema teve seu início no final do século XIX e, com o passar dos anos, foi sendo cada vez mais aceito como arte. Após sua popularização e maior capacidade de alcance, ele se uniu à publicidade e ao marketing criando então o termo mais conhecido hoje como product placement ou merchandising editorial que, segundo alguns autores, se iniciou com o filme E.T. O Extraterreste, de Steven Spilberg que utilizou o produto Resse s Pieces, da marca de chocolates Hershey s. Há alguns autores que defendem o uso deste recurso anterior ao longa de Spilberg, como em alguns filmes dos irmãos Lumière, Thomas Edison e posteriores. Hoje essa técnica é frequentemente utilizada e em muitos casos gera bons resultados. PALAVRAS-CHAVE: cinema; product placement.publicidade; INTRODUÇÃO A relação entre o cinema e a publicidade vai além do que se pode imaginar. Quando estamos diante de um filme, várias mensagens podem ser transmitidas sem que o espectador perceba. O estudo em questão apresentará a relação entre esses dois tipos de comunicação através do product placement, recurso que é capaz de unir a publicidade ao cinema. Como se sabe, a publicidade é capaz de se apropriar de qualquer meio de comunicação que surge, e com o cinema não foi diferente. Com a invenção da reprodução dos movimentos, a publicidade se viu diante uma grande oportunidade de 1 Trabalho apresentado no IJ 2 Publicidade e propaganda do XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste, realizado de 8 a 10 de maio de 2014. 2 Aluno de graduação da Universidade Federal de Goiás (UFG) na Faculdade de Informação e Comunicação (FIC) e bolsista do programa Jovens Talentos para Ciência da CAPES /Cnpq. Email: samirgadia@hotmail.com 3 Orientadora do trabalho. Professora mestre do curso de Publicidade e Propaganda da FIC-UFG. Email: raqueldepr@gmail.com 1

aumentar seu poder de alcance, principalmente quando o cinema passou a atingir as massas. Antes de tudo, é preciso conhecer um pouco da história da publicidade e do cinema para que em seguida seja feita a relação entre esses dois recursos tendo como base disso o product placement e suas aplicações em filmes do século XXI época em que o recurso se torna cada vez mais popular. CINEMA: DE ATRAÇÃO À ARTE INDUSTRIAL A vontade que o ser humano tem de representar o seu mundo sempre foi intensa. É possível provar tal argumento com provas de até 40.000 anos a.c., quando os homens pré-históricos faziam suas pinturas rupestres. Sempre, em qualquer estudo sobre a história da humanidade, haverá objetos que representem seu meio ambiente, sejam eles pinturas, mensagens escritas e bem mais tarde a fotografia, sendo ela uma espécie de pontapé inicial para a criação do cinema. Após conseguir captar imagens reais através do aperfeiçoamento de câmeras fotográficas, a ambição do homem foi se tornando ainda maior, pois agora seu objetivo era capturar o movimento. Pode-se dizer que o cinema foi criado no final do século XIX, porém, Não existiu um único descobridor do cinema, e os aparatos que a invenção envolve não surgiram repentinamente num único lugar. Uma conjunção de circunstâncias técnicas aconteceu quando, no final do século XIX, vários inventores passaram a mostrar os resultados de suas pesquisas na busca da projeção de imagens em movimento: o aperfeiçoamento nas técnicas fotográficas, a invenção do celulóide (o primeiro suporte fotográfico flexível, que permitia a passagem por câmeras e projetores) e a aplicação de técnicas de maior precisão na construção dos aparatos de projeção. (MASCARELLO, 2012, pg. 18) Apesar disso, muitos autores consideram que o cinema realmente surgiu em 1895, com a criação do cinematógrafo, criado pelos irmãos Lumière, que aperfeiçoaram o cinetoscópio de Thomas Edison. A primeira exibição pública de filmes também foi creditada a eles, mas sabe-se que, dois meses antes da famosa apresentação do cinematógrafo Lumière no Grand Café, os irmãos Max e Emil Skladanowsky fizeram uma exibição de 15 minutos do bioscópio, seu sistema de projeção de 2

filmes, num grande teatro de vaudeville em Berlim. (MASCARELLO, 2012, pg. 19) O cinematógrafo foi se tornando cada vez mais popular. Na França os filmes eram exibidos nos cafés e nos Estado Unidos nos vaudevilles. Os irmãos Lumière forneciam às vaudevilles todo o equipamento necessário para a projeção de filmes, fato que acabou deixando o desenvolvimento da indústria cinematográfica americana mais lenta. Ia surgindo então o primeiro cinema ou cinema de atrações, datado entre 1894 até 1907, época em que Os espectadores estão interessados nos filmes mais como um espetáculo visual do que como uma maneira de contar histórias. (MASCARELLO, 2012, pg. 26) Na primeira fase desse período, entre 1984 até 1903, a maioria dos filmes se preocupava em exibir apenas filmagens do cotidiano, como por exemplo, La Sortie de l'usine Lumière à Lyon, dos irmãos Lumière. Porém, Georges Méliès já criava filmes de ficção através de suas técnicas ilusionistas, sendo um deles mais famoso o curta La Voyage dans la Lune. A segunda fase do cinema de atrações é datada entre 1903 até 1907, com o aumento no número de filmes de ficção e maior numero de planos. Além disso, surgem os nickelodeons nos EUA, lugares onde eram exibidos os filmes. Esses locais marcaram o início de uma atividade cinematográfica industrial. Entre 1907 e 1915, o cinema se estabeleceu em uma fase de transição, e pouco a pouco organiza-se de forma industrial, estabelecendo uma especialização das várias etapas de produção e exibição dos filmes, e transforma-se na primeira mídia de massa da história. Os filmes passam a ser mais compridos, atingindo um tamanho médio de mil pés (um rolo) e duram cerca de 15 minutos. Usam mais planos e contam histórias mais complexas. Os cineastas experimentam várias técnicas narrativas. Os primeiros longas-metragens, com mais de uma hora, serão exceção nesse período e só se generalizarão após a Primeira Guerra Mundial. As práticas de produção de filmes vão sendo padronizadas em resposta à necessidade de satisfazer a crescente demanda dos exibidores. (MASCARELLO, 2012, pg. 38) Neste período ocorreu também a Primeira Guerra Mundial, acontecimento que deu vantagem aos EUA, que se aproveitaram para expandir suas produções internacionalmente, conseguindo ultrapassar o cinema francês e o cinema italiano. Além 3

disso, D.W. Griffith começa a desenvolver a técnica da montagem paralela e assim revolucionar o modo de se fazer filmes. O cinema europeu e o cinema americano começaram a se diferenciar nesse período de transição. Enquanto o cinema americano diminuía a duração dos planos e apoiava-se em atuações mais contidas e realistas, os cineastas europeus usavam cenários elaborados e realizavam atuações complexas dentro deles. (MASCARELLO, 2012, pg. 48). Com o passar dos tempos, também, as durações dos filmes aumentaram, assim surgiram os feature films ou os longas-metragens. Aos poucos o cinema foi se moldando e tornando-se cada vez mais um meio de comunicação forte, capaz de falar com as massas, de transmitir ideais e vender comportamentos. Várias estéticas surgiram, sejam elas de caráter político, como a montagem soviética ou de caráter revolucionário, como o Novo Cinema Brasileiro. AS UTILIZAÇÕES DA PUBLICIDADE É inegável que a publicidade tenha se apropriado da arte. Um dois mais citados exemplos é o artista pós-impressionista francês Toulouse Lautrec que utilizou sua arte, muitas vezes, para criar pôsteres e divulgar os cabarés franceses e suas atrações no final do século XIX. Com essa ideia, começava então a surgir os primeiros anúncios publicitários. Após a utilização da arte, a publicidade também passou a se interessar pela fotografia, pois, ela poderia representar com mais realidade seus produtos. Porém, no inicio da fotografia enquanto ela ainda era em preto-e-branco a publicidade se utilizava dela como molde para seus desenhos, que ficavam mais realistas. Atualmente, a fotografia ainda é muito utilizada nos anúncios publicitários, tornando-os mais atrativos e consequentemente persuasivos. No século XX, a publicidade e propaganda começam a utilizar os meios de comunicação que vão surgindo, como rádio, televisão e também o cinema, sendo que o último requer alguns cuidados especiais ao ser utilizado, pois nem sempre o público estará preparado para aceitar normalmente qualquer tipo de propaganda que interfira em algum filme. 4

PUBLICIDADE E CINEMA UNIDOS ATRAVÉS DO PRODUCT PLACEMENT Pensando na melhor maneira de fazer propaganda durante filmes, a publicidade criou o conceito mais conhecido hoje como product placement/brand placement ou ainda, merchandising editorial, que consiste na aparição, muitas vezes indiscreta, de marcas ou produtos em algumas sequências cinematográficas, programas televisivos, entre outras narrativas audiovisuais. Antes de tudo, é preciso que seja, primeiramente, diferenciada a técnica de merchandising com a do product placement, que são muito confundidas no Brasil. O conceito de merchandising pode ser apresentado a partir de diferentes prismas. O merchandising na indústria aponta para um processo de gestão do processo produtivo, levando a que o produto esteja no ponto-de-venda no momento certo e com todas as características exigidas pelo consumidor. Já a merchandising promocional está ligado às ações que se realizam no ponto-de-venda com o intuito de ampliar a venda por meio da melhor exposição do produto. (SANT ANNA, 2009, pg. 27) Sant Anna (2009) posteriormente concorda em seu livro que a simulação de produtos é chamada apenas de merchandising. Porém, mais recentemente, tem-se dado preferencia para o uso do termo product placement. A utilização desse recurso nos filmes, muitas vezes ocorre de forma sutil ou em outros casos ousada, dando a narrativa um caráter de verossimilhança no qual o espectador se identifica. Porém, muitas vezes ele não percebe a nível consciente essa aparição de marcas ou produtos. Segundo Blessa (2005), existem três tipos de product placement, o visual (screen placement) o verbal (script placement) e o integrado (plot placement), no qual a aparição da marca se relaciona com a narrativa cinematográfica. Cada um dos casos é comumente utilizado, porém, em alguns, a utilização do recurso é muito artificial, o que causa certo estranhamento por parte dos espectadores. Segundo alguns autores, o primeiro uso do product placement aconteceu no filme de Steven Spielberg, E.T. O extraterrestre, na famosa cena em que o personagem E.T. segue os chocolates Reese s Pieces, da marca de Hershey s. O resultado da utilização da imagem do produto rendeu milhões de dólares para empresa na época, que também divulgava o filme na embalagem do produto. 5

Apesar de ser considerado um dos primeiros casos de product placement, alguns autores indicam seu uso ainda no primeiro cinema, em filmes dos irmãos Lumière e Edison, como nos curtas Washing Day in New York (Lumière, 1896), que divulga a marca de sabão Sunlight, e Streetcar Chivalry (Edison, 1905), onde aparecem anúncios do quinetoscópio. Apesar disso, o product placement como se tem hoje, realmente teve início na década de 1980. Em várias produções de Hollywood, muitas vezes os filmes são patrocinados por grandes marcas, que além de participarem de cenas, se utilizam dos filmes como estratégias de marketing para venderem seus produtos utilizando-se dos personagens. Porém, aqui serão analisados apenas os casos de product placement. APLICAÇÕES DO PRODUCT PLACEMENT EM FILMES DO SÉCULO XXI A quantidade de filmes que se utilizam do product placement é enorme, e são executadas principalmente nos filmes hollywoodianos. Curiosamente, em alguns casos, a marca não contribui financeiramente para a produção do filme, como no caso de Náufrago (2001), Robert Zemeckis, estrelado por Tom Hanks. A seguir serão apresentados alguns casos em que grandes marcas aparecem em filmes em diferentes casos. O Terminal O primeiro caso analisado será o filme O Terminal (2004), dirigido por Steven Spielberg e protagonizado pelo ator Tom Hanks. A história se passa no Aeroporto Internacional John F. Kennedy, quando Viktor Navorski (Hanks) tem seus documentos confiscados, pois após um golpe, seu país de origem, Krakozhia, havia sido invadido por inimigos e deixado de existir. Devido a essa situação, o personagem se mantém durante meses no aeroporto e, como se sabe, este é um lugar rodeado por uma infinidade de lojas e anúncios. Na sequência que se inicia em 00:13:58, tem-se um caso de screen placement. Em um plano-sequência, no qual Viktor corre aflito ao descobrir que seu país sofrera um golpe, nota-se que atrás dele aparece um anúncio com um relógio de pulso gigante, em foto preto-e-branco, da Hamilton e uma faixa vermelha na parte inferior sinalizando a marca. 6

Cena 00:13:58 Um exemplo de cena com o plot placement está em 00:31:59, um planosequência em plongée, iniciado em uma lanchonete Burger King que tem seu logotipo iluminado e destacado em quase toda a tela, sendo seguido pelo balcão, onde o personagem é atendido e com apenas três moedas de 25 centavos de dólares consegue comprar um sanduíche e ainda sobra troco. Depois, o personagem consegue mais dinheiro e faz outro pedido, porém maior. Em 00:33:23, a bandeja com o pedido é mostrada em um super-close. Cena 00:31:59 Cena 00:33:23 No decorrer do filme, uma infinidade de marcas aparece, como Dutty Free, Starbucks, Chanel, etc. Os Homens que não Amavam as Mulheres Outro filme analisado foi Os Homens que não Amavam as Mulheres (2011), dirigido por David Fincher. Trata-se de uma história de ação e suspense na qual a antissocial e tutelada, Lizabeth Salander (Rooney Mara) junta-se ao jornalista Mikael Blomkvist (Daniel Craig) para desvendarem um caso de desaparecimento na família Vanger. Apesar de não possuir em suas cenas a quantidade de marcas que aparecem em O Terminal, o filme merece destaque pela utilização de notebooks da marca Apple pelos dois personagens principais em diversas cenas, além de outras marcas como Coca-Cola, Nescafé, Epson, etc. Um caso de plot placement se encontra na cena que se inicia em 00:08:06. A personagem vivida por Rooney Mara abre a porta de sua geladeira, em um plano detalhe, onde se localizam várias latas de refrigerante da marca Coca-Cola. A personagem então leva o produto até sua mesa, e em 00:08:12 ela toma um gole. Devido 7

a escuridão da cena, a lata que é vermelha se destaca devido a cor forte e clara, entrando em contraste com o ambiente. Cena 00:08:06 Cena 00:08:12 Outro caso está em 01:25:30, onde Lizabeth está utilizando seu Mac Book Pro, junto à impressora Epson. Nota-se em 01:25:34 a marca da impressora sendo propositalmente mostrada em um plano onde só aparece a máquina com o logotipo. Em 01:25:56 a personagem continua em frente a tela do computador utilizando o MacBook Pro com a maçã da Apple acessa, contrastando com a cena escura do ambiente. Cena 01:25:30 Cena 01:25:34 A Ilha Trata-se de um filme de ficção científica, dirigido por Michael Bay em 2005, cuja história se passa em 2019, onde clones criados por Dr. Merrick (Sean Bean) vivem aprisionados em um imenso laboratório para serem utilizados para medicinais, caso seus donos precisem, como por exemplo, transplante de órgãos. Scarlett Johansson no papel de Jordan Two-Delta e Ewan McGregor como Lincoln Six-Echo, descobrem que são enganados pelos cientistas, que dizem que estão no local para os protegerem de um vírus que se espalhou por toda Terra. Durante todo filme, várias aparições de marcas ocorrem, o que foi muito comentado pela crítica. Algumas, dentre as várias marcas que aparecem, são: Puma, Xbox, Budweiser, Acquafina, Mack Trucks, General Motors, MSN Search, Cadillac, etc. No início e no fim do filme, o iate 118 WallyPower é apresentado com os dois principais personagens. Em ambas as cenas, Jordan e Ewan estão tranquilos, desfrutando o iate em um cenário paradisíaco envoltos por um mar azul. Uma das cenas 8

que também possui o product placement integrado e também verbal está em 01:36:17, onde um Cadillac é filmado em um plano-sequência em um ângulo que dá ideia de que é um veiculo grande e poderoso. Em 01:36:45, o personagem Ewan real pede para seu clone tomar cuidado com o veículo, que é um Cadillac v12-09 de 750 HP e 500 mil dólares. Em 01:38:13, inicia a cena de ação, onde o carro anda em alta velocidade consegue se desviar dos perseguidores e obstáculos, chegando em 01:39:32 com apenas alguns vidros quebrados. Existem várias outras cenas do filme em que marcas aparecem. Esse excesso no uso do recurso diminui sua verossimilhança, apesar de se tratar de uma ficção científica, pois elas acabam se tornando forçadas e muitas vezes desnecessárias, como no caso da cena em 00:26:24, onde Jordan Two-Delta e Licoln Six-Echo participam de uma luta virtual através do vídeo game X-Box da Microsoft, que tem seu logotipo apresentado excessivamente durante a sequência. Cena 01:36:45 Cena 00:27:01 Náufrago O filme Náufrago (2000) de Robert Zemeckis, conta a história de Chuck Nolan (Tom Hanks), um funcionário da empresa americana de entregas Fedex, que fica quatro anos em uma ilha isolada após o avião de cargas cair no oceano. Durante todo o filme o logotipo da Fedex é apresentado. Já na primeira sequência aparece um caminhão da rede de entregas em uma região quase desértica, o que dá a entender que a empresa busca encomendas nos lugares mais remotos, além disso, nota-se a forma amigável com que o funcionário tratou a cliente que enviou a encomenda. Em 00:03:28, a caixa já está na Rússia, mostrando então a capacidade de alcance e agilidade que a empresa tem. 9

Cena 00:01:53 Cena 00:03:28 Enquanto o personagem de Tom Hanks permanece na ilha, várias caixas da Fedex são coletadas por ele em 00:33:56, o que dá entender que a empresa possui caixas resistentes, que mesmo após ficarem no mar e enfrentarem um temporal, elas não estragam. É possível provar tal argumento quando em 01:01:37, Chuck (Hanks) abre algumas delas e certos produtos, principalmente papéis ainda estão intactos. Nos momentos finais do filme, o protagonista resolve entregar uma encomenda que não abrira durante toda sua permanência na ilha, sendo este local o mesmo da primeira cena, mostrando a seriedade da empresa e a qualidade do serviço, que mesmo após um náufrago, a encomenda foi entregue. Cena 00:33:56 Cena 01:01:37 A Fedex não pagou ao filme para que sua marca fosse utilizada, apenas permitiu o seu uso e emprestou vários bens da empresa para serem usados nas gravações, dando mais verossimilhança para as sequências. Por fim, o mesmo ocorreu com a Wilson, que apenas deixou que sua marca fosse utilizada. Mesmo não sendo casos direto de product placement, as duas empresas obtiveram grandes resultados após o filme, principalmente a Fedex, que se tornou uma marca mundialmente conhecida. Cena 01:08:59 Cena 02:11:42 CONSIDERAÇÕES FINAIS É possível perceber, através dos exemplos dados, o quanto cinema está relacionado com a publicidade direta e indiretamente. Através do product placement, 10

marcas e produtos nos são apresentadas sem que, na maioria das vezes, percebamos. Isso se deve ao fato de que uma grande quantidade de informações são transmitidas para o espectador durante uma única cena. Foi inevitável o uso do product placement ao longo da história do cinema, pois a publicidade sempre está em busca de novos meios para poder divulgar, principalmente em meios audiovisuais. Além disso, é a publicidade que faz com que muitos projetos de filmes saiam do papel para se tornar real. O espectador, ao assistir um filme, deve-se ater ao fato de que o que está sendo passado a ele é um produto, pois ele foi pago através do ingresso. A partir do momento em que o indivíduo se prontifica a assistir a um filme, ele já está consumindo não só uma história, mas também estilos de vida, ideologias e sendo apresentado a grandes quantidades de produtos nos quais ele será persuadido, seja direta ou indiretamente. Em muitos casos, como no filme Náufrago, ele terá em sua consciência a existência de grandes marcas e ter seus serviços lembrados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MASCARELLO, Fernando. História do cinema mundial. Papirus, 2006. AUMONT, Jacques; MARIE, Michel. A análise do filme. Lisboa: Texto e grafia, 2004. SANT'ANNA, Armando. Propaganda: teoria, técnica, prática. Cengage Learning, 2009. BLESSA, Regina. Merchandising no ponto-de-venda. 4.ed. São Paulo: Atlas. 2009. BORDWELL, David. Figuras traçadas na luz: a encenação no cinema. Papirus, 2008. NEWELL, Jay; SALMON, Charles T.; CHANG, Susan. The hidden history of product placement. Journal of Broadcasting & Electronic Media, v. 50, n. 4, p. 575-594, 2006 ALMEIDA, Roselita Lopes de. Cinema e publicidade. Trabalho apresentado no GP Cinema, XIII Encontro dos Grupos de Pesquisas em Comunicação, evento componente do XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. MEDEIROS, Diego Piovesan. O CARTAZ PUBLICITÁRIO NA BELLE ÉPOQUE (UMA LEITURA DA ARTE DE HENRI TOULOUSE-LAUTREC). O TERMINAL. Direção: Steven Spielberg. Produção: Parkes/MacDonald. Intérpretes: Tom Hanks; Catherine Zeta-Jones e outros. Roteiro: Sacha Gervasi e Jeff Nathanson. Música: John Williams. Los Angeles: Warner Brothers, c2004. 1 DVD (129MIN), WIDESCREEN, COLOR. Produzido por Dream Works Pictures. OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES. Direção: David Fincher. Produção: Scott Rudin; Ole Søndberg; Søren Stærmose; Ceán Chaffin. Intérpretes: Daniel Craig; Rooney Mara e outros. Roteiro: Steven Zaillian. Música: Trent Reznor e Atticus Ross. Culver City: 11

Columbia Pictures, c2011. 1 DVD (158 MIN), WIDESCREEN, COLOR. Produzido por Metro- Goldwyn-Mayer Inc. NÁUFRAGO. Direção: Robert Zemeckis. Produção: Steve Starkey; Tom Hanks; Robert Zemeckis; Jack Rapke. Intérpretes: Tom Hanks e outros. Roteiro: William Broyles Jr. Música: Alan Silvestri. Dream Works e Twentieth Century Foz, c2000. 1 DVD (144 MIN), WIDESCREEN, COLOR. Produzido por Imagemovers/Playtone. A ILHA. Direção: Michael Bay. Produção: Parkes/MacDonald. Intérpretes: Ewan McGregor; Scarlett Johansson; Djimon Hounsou; Sean Bean e outros. Roteiro: Caspian Tredwell-Owen. Música: Steve Jablonsky. Universal City: Dream Works, c2005. 1 DVD (136MIN), WIDESCREEN, COLOR. Produzido por Dream Works Pictures. 12