Proteção do Complexo Dentino/Pulpar



Documentos relacionados
CIMENTOS ODONTOLÓGICOS

Conceitos básicos. Cimentos Odontológicos. Descrição geral Indicações Requisitos

CONCEITOS BÁSICOS. Cimentos Odontológicos. Cimentos Odontológicos. Cimentos Odontológicos. Restauração. Cimentação Forramento. Base.

Óxido de zinco (ZnO 2 )

+Hg Compromete a biocompatibilidade Diminui resistência à corrosão e mecânica. Diminui resistência à corrosão e mecânica

A IMPORTÂNCIA DA PROTEÇÃO DO COMPLEXO DENTINO PULPAR NO RESTABELECIMENTO DENTÁRIO THE IMPORTANCE OF COMPLEX DENTIN PULP PROTECTION IN RESTORING DENTAL

Ricardo Gariba Silva TÉCNICA DE OBTURAÇÃO DOS CANAIS RADICULARES

QUAIS REQUISITOS PARA UTILIZÁ-LAS? ODONTOLOGIA RESINAS COMPOSTAS EM DENTES POSTERIORES SOLUÇÕES RESTAURADORAS EM POSTERIORES 03/10/2017

UFSC CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA PROGRAMA DE ENSINO. Horária Unidade I

CLASSE IV. RESTAURAÇÕES EM DENTES ANTERIORES ( complexas) Lesões de cárie Fraturas (Trauma) CLASSE IV - Lesões Cariosas. CLASSE IV - Fraturas

INTERPRETAÇÃO DE IMAGENS DAS ALTERAÇÕES DA COROA DENTAL

Cimentos para Fixação (Prof. Braga)

PROGRAMA DE ENSINO ODT 7101 Materiais Dentários I

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ODONTOLOGIA. Roteiro de estudos Corrosão Data: 17/04/2013. Ambiente bucal favorece a degradação dos materiais

FACULDADE DE MACAPÁ FERNANDA SANTANA DE SOUZA VANTAGENS DA TERAPIA PULPAR CONSERVADORA NA ODONTOPEDIATRIA

ANEXO II - RESOLUÇÃO Nº 282/2006-CEPE PLANO DE ENSINO

Técnicas de acordo com profundidade e condição clínica Menos de meio milímetro da polpa, sem sangramento: colocar base para estimular a dentina.

PRODUTOS ANGELUS. Bio-C Sealer Cimento obturador biocerâmico pronto para uso

Departamento ODT Odontologia. Horário Terças-feiras (das 7:30 às 11:50 horas)

Avaliação da indicação de materiais para proteção do complexo. Evaluation of indication for dental materials to protect the dentin pulp

TÉCNICO DE HIGIENE DENTAL (ESF) PROVA OBJETIVA PREFEITURA MUNICIPAL DE MIRACEMA 2014 ORGANIZADOR 1

Nome da Disciplina: Carga Horária: Período:

Hermann Blumenau - Complexo Educacional Curso Técnico em Saúde Bucal. Materiais Dentários. Professora: Patrícia Cé

PULPOPATIAS 30/08/2011

riva ajuda você a ajudar o seu paciente

Cimentos para cimentação

Histórico. Histórico. Conceito. Conceito. Requisitos. Requisitos. Composição. Composição. Indicação. Indicação. Tipos. Tipos. Histórico.

ANEXO III. Lista de Materiais Odontológicos. Relação de Materiais de Consumo Diversos 1

TRATAMENTO DE DENTES COM PERFURAÇÃO USANDO CIMENTO REPARADOR A BASE DE MTA

ANÁLISE "IN VITRO" DA CAPACIDADE IMPERMEABILIZANTE DE DIVERSOS VERNIZES CAVITÁRIOS

RESTAURAÇÃO DE MOLAR DECÍDUO COM RESINA COMPOSTA DE ÚNICO INCREMENTO RELATO DE UM CASO CLÍNICO

DEGUS TAÇÃO CORTESIA DO EDITOR

Promoções Janeiro Março 2017


Revestimentos Odontológicos

DENTE ASSINTOMÁTICO CANAL CORRETAMENTE INSTRUMENTADO MODELADO CANAL SECO CANAL SEM CONTAMINAÇÃO POR INFILTRAÇÃO DA RESTAURAÇÃO PROVISÓRIA

Dentista. Ela fez uma minuciosa do bandido ao delegado. PORTUGUÊS

para todos os casos! 44,30 88,80 311,00 NOVO Highlight 3: Highlight 1: Futurabond U Highlight 4: Vococid Highlight 2: FuturaBond

Ponto de vista. Altamiro Flávio. Especialista em Prótese Dentária, UFU.

transmissão LUZ reflexão absorção

3M Oral Care. Promoções Janeiro - Março 2019

3M Oral Care Promoções Outubro-Dezembro 2017

Cimentos de ionômero de vidro

ANEXO VI MODELO DE PROPOSTA (PAPEL TIMBRADO DA EMPRESA)

2ª PARTE CONHECIMENTOS ESPECÍFICA DENTÍSTICA RESTAURADORA

AULA 3 DENTÍSTICA RESTAURADORA MATERIAIS E TÉCNICAS PROF.ESP.RICHARD SBRAVATI

Amálgama aderido: uma opção em odontopediatria

Núcleos Uni e Multirradiculares

Molares Inferiores. Acesso em molares inferiores. Molares Inferiores. Forma de contorno. Molares Inferiores. Molares Inferiores Forma de contorno

Poucos. possibilidades. passos, RelyX Ultimate Cimento Resinoso Adesivo LANÇAMENTO. múltiplas

PROTOCOLO DE ATENDIMENTO (EMERGÊNCIA-ENDODONTIA)

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ODONTOLOGIA DEPARTAMENTO DE BIOMATERIAIS e BIOLOGIA ORAL. Prof. Paulo F. Cesar GLOSSÁRIO ODONTOLÓGICO

A pasta de limpeza universal Ivoclean limpa efetivamente as superfícies de adesão de restaurações protéticas após a prova intraoral

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA PROGRAMA DE ENSINO

futurabond futurabond u adesivo universal de polimerização dual

APLICAÇÃO DOS POLÍMEROS EM ODONTOLOGIA CLASSIFICAÇÃO DOS POLÍMEROS REQUISITOS PARA UMA RESINA ODONTOLÓGICA. 1. Compatibilidade Biológicos:

Restauração indireta em resina composta

NOVO. N Material restaurador em pó e líquido. Cention. Uma nova. alternativa. para o amálgama. amálgama. para o. alternativa.

Endofill CIMENTO DE GROSSMAN CARACTERÍSTICAS. Endofill- composição

MEDICAÇÃO INTRACANAL. Patrícia Ruiz Spyere. Patrícia Ruiz

CURSOS ICMDS ODONTOPEDIATRIA

3M Oral Care Promoções Abril-Junho 2018

Palavras-chave: Restaurações indiretas. Restauração de dentes posteriores. Inlay.

fluxograma Variolink N

TIPOS DE ATIVAÇÃO: Ativação térmica ( R. A. A. T. ) Ativação química ( R. A. A. Q. ) Ativação por luz visível. Polimetacrilato de metila

MICROABRASÃO DO ESMALTE

a) Se uma substância apresenta moléculas, ela deve apresentar ligações iônicas.

Índice Geral... IX. Índice de Imagens... XI. Índice de Tabelas... XII. Índice de abreviaturas... XIII

3M Single Bond Universal Adesivo

Departamento de Engenharia Mecânica. Prof. Carlos Henrique Lauro

"PROCESSO DE FABRICAÇÃO DE ADESIVO PARA SUPERFÍCIES DE VIDROS, CERÂMICAS, ALVENARIAS E PLÁSTICOS À BASE DE LÁTEX DE BORRACHA NATURAL MODIFICADO POR

QUÍMICA. 10 Ca 2+ (aq) + 6 PO 4

PROVA DE ODONTOLOGIA

CIMENTOS PROVISÓRIOS EM PRÓTESE FIXA: QUAL ESCOLHER? UMA REVISÃO DA LITERATURA. RESUMO

Beleza do Sorriso 016

fluxograma Variolink N

Marcação dos contatos: Ajuste interno e dos contornos proximais: Carbono líquido ou Base leve silicone e carbono Accufilm;

Corrosão (aula do Prof. Braga, roteiro elaborado pelo Prof. Rafael e por Tathy Xavier)

A pasta de limpeza universal Ivoclean limpa efetivamente as superfícies de adesão de restaurações protéticas após a prova intraoral

O sistema ETICS como técnica de excelência na reabilitação de edifícios da segunda metade do século XX

Procedimentos Cirúrgicos de Interesse Protético/Restaurador - Aumento de Coroa Clínica - Prof. Luiz Augusto Wentz

Curso de Especialização em Endodontia

Introdução. Objetivos. Requisitos. Objetivos. Acesso direto

A pasta de limpeza universal Ivoclean limpa efetivamente as superfícies de adesão de restaurações protéticas após a prova intraoral

TABELA DE FRANQUIA - PLANO ODONTOLÓGICO ESSENCIAL - Nº REG. ANS: /17-7. Valor em Reais Diagnóstico

Gesso Odontológico. Unidade III. André Guimarães Machado DDS, MDSc

EXAME CLÍNICO, DIAGNÓSTICO E PLANO DE TRATAMENTO

Promoção de Saúde na Prática Clínica

Em meio aquoso sofrem dissociação liberando íons na água, o que torna o meio condutor de corrente elétrica.

Aspectos microbiológicos da cárie dental. Conceitos Etiologia Profa Me. Gilcele Berber

PORTARIA Nº 566 SAS DE 06 DE OUTUBRO DE 2004

CONGRESSO FOA UNESP/2014 Palestra CAOE - Aplicação de selantes e restaurações conservativas de superfície oclusal. Araçatuba

PREPARO DE FILMES CONTENDO ACETILACETONATO DE ALUMÍNIO. PREPARATION OF FILMS CONTAINING ALUMINIUM ACETYLACETONATE.

COMPATIBIIJDADE BIOLÓGICA DO FORRADOR DE CAVIDADES TIME UNE, QUANDO APLICADO SOBRE DENTINA EM PRÉ-MOLARES HUMANOS

Avaliação Estética de Prof. Dr. Fernando Mandarino. Nome do Paciente:, Data: / /.

Bifix QM. Sistema de cimentação resinosa de

Cooperativismo em Materiais Compósitos

maior opacidade Maior opacidade resultando em melhor estética final

Aditivos de Superfície

Universidade Estadual de Maringá / Centro de Ciências Biológicas e da Saúde/Maringá, PR.

Transcrição:

Proteção do Complexo Dentino/Pulpar de Prof. Dr. Fernando Mandarino 1 Introdução O conjunto calcificado esmalte/dentina é a estrutura responsável pela proteção biológica da polpa, ao mesmo tempo em que se protegem mutuamente. O esmalte é duro, resistente ao desgaste, impermeável e bom isolante elétrico. O esmalte protege a dentina que é permeável, pouco resistente ao desgaste e boa condutora de eletricidade. A dentina, graças à sua resiliência, protege o esmalte que pela sua dureza e alto grau de mineralização, é extremamente friável. A polpa dentária é um tecido conjuntivo altamente diferenciado, ricamente inervado, vascularizado e, conseqüentemente, responsável pela vitalidade do dente; está diretamente conjugada ao sistema circulatório e tecidos periapicais através do feixe vásculo/nervoso que entra e sai pelos forames apicais. A principal característica da polpa dentária é produzir dentina, além de possuir outras funções, como nutritiva, sensitiva e defensiva. A polpa proporciona nutrição á dentina através dos prolongamentos odontoblásticos, os quais conduzem os elementos nutritivos encontrados no líquido tecidual. Quando a polpa é sujeita a injuria ou irritações mecânicas, térmicas, químicas ou bacterianas, desencadeia uma reação efetiva de defesa. Essa reação defensiva é caracterizada pela formação de dentina reparadora, se a irritação é ligeira, ou por uma reação inflamatória se a irritação é mais severa. Sempre que houver perda de substância, quer seja por cárie e sua remoção, fraturas, erosões ou abrasões e conseqüentemente, o dente deve ser restaurado, é necessário que a vitalidade do complexo dentino/pulpar seja preservada por meio de adequada proteção. As proteções do complexo dentino/pulpar consistem da aplicação de um ou mais agentes protetores, tanto em tecido dentinário quanto sobre a polpa que sofreu exposição, a fim de manter ou recuperar a vitalidade desses órgãos. Idade do paciente, condição pulpar e profundidade da cavidade são aspectos que deveram ser considerados juntamente com o tipo de material restaurador para que possamos obter o real objetivo dessa proteção. Existem duas técnicas distintas que podem ser utilizadas na proteção do complexo dentino/pulpar: proteções indiretas e proteções diretas. 1

As proteções pulpares indiretas representam a aplicação de agentes seladores, forradores e/ou bases protetoras nas paredes cavitárias com o objetivo de proteger o complexo dentino/pulpar das diferentes tipos de injúrias; manter a vitalidade pulpar; inibir o processo carioso; reduzir a microinfiltração e estimular a formação de dentina esclerosada, reacional e/ou reparadora. As proteções diretas caracterizam-se pela aplicação de um agente protetor diretamente sobre o tecido pulpar exposto, com a finalidade de manter sua vitalidade e conseqüentemente promover o restabelecimento da polpa; estimular o desenvolvimento de nova dentina e proteger a polpa de irritações adicionais posteriores 2 Agentes Protetores Atualmente com o aumento do número de produtos, diversidade de técnicas de aplicação e mecanismos de aplicação, uma adequada proteção do complexo dentino/pulpar pode ser obtida com os selantes, forradores, capeadores, bases protetoras e/ou bases cavitárias. É evidente que com as propriedades físicas e químicas aperfeiçoadas, um determinado material poderá agir como forrador, como base protetora ou mesmo como base cavitária, de conformidade com a espessura da camada aplicada. Um material protetor poderá ser considerado ideal se for capaz de: => Proteger o complexo dentino/pulpar de choques térmico e elétrico; => Ser útil como agente bactericida ou inibir a atividade bacteriana, esterilizando a dentina sadia e a afetada residual nas lesões cariosas profundas; => Aderir e liberar flúor á estrutura dentária; => Remineralizar parte da dentina descalcificada e/ou afetada remanescente nas lesões de rápida evolução; => Hipermineralizar a dentina sadia subjacente após a remoção mecânica da dentina (esclerose dos túbulos dentinários); => Estimular a formação de dentina terciária ou reparadora nas lesões profundas ou exposições pulpares; => Ser anódino, biocompatível, manter a vitalidade pulpar e estimular a formação de nova dentina (barreira mineralizada) nas proteções diretas, curetagens e pulpotomias; => Inibir a penetração de íons metálicos das restaurações de amálgama para a dentina subjacente, prevenindo assim a descoloração (escurecimento) o dente; => Evitar a infiltração de elementos tóxicos ou irritantes constituintes dos materiais restauradores e dos agentes cimentantes para o interior dos canalículos dentinários e polpa; => Aperfeiçoar o vedamento marginal das restaurações, evitando a infiltração de saliva e microrganismos pela interface parede cavitária/restauração. 2

2.1 Agentes Protetores Utilizados Os materiais protetores acessíveis atualmente apresentam composição bastante variada, responsável pelo seu comportamento físico, químico e biológico. Para facilidade de compreensão, podem ser resumidos de acordo com sua composição básica e características da apresentação: => Vernizes Cavitários; => Vernizes Modificados ou Liners ; => Produtos à Base de Hidróxido de Cálcio; => Cimentos Dentários; e => Adesivos Dentinários. 2.1.1 Vernizes Cavitários Os vernizes cavitários são compostos à base de resina copal natural ou sintética, dissolvida em clorofôrmio, éter ou acetona. Quando aplicado em uma cavidade, o solvente evapora-se rapidamente, deixando uma película forradora semi-perméavel que veda com certa eficiência os túbulos dentinários. A eficiência da vedação dos túbulos dentinários foi abordada por alguns pesquisadores (http://www.forp.usp.br/restauradora/linpeq/vernizes_1993/vernizes_1993.html). Alguns exemplos de nomes comerciais: => Copalite (Cooley and Cooley, Houston, Texas, U.S.A.); => Verniz Caulk (L.D. Caulk Co Divisional Dentsply International Inc., Milford Ontario, Canadá); => Copalex (Inodon Ind. Odontológica Ltda, Porto Alegre, RS., Brasil); e => De Trey s Special Varnish (De Trey Frêres S.A., Zurich, Switzerland). http://www.forp.usp.br/restauradora/linpeq/vernizes_1993/vernizes_1993.html 2.1.2 Vernizes Cavitários Modificados ou "Liners" Apresentam composição mais complexa do que a dos vernizes convencionais e são geralmente compostos por hidróxido de cálcio, óxido de zinco e resina poliestirênica, dissolvidos em clorofôrmio. Quando aplicados na cavidade o solvente evapora-se, deixando uma película protetora desses materiais aderida ás paredes cavitárias. Alguns exemplos de nomes comerciais: => Tubulitec (Buffalo Dental Mtg. Co. Inc., New York, N.Y., U.S.A.) => De Trey s Cavity Lining (De Trey Frêres S.A., Zurich, Switzerland). 3

2.1.3 Produtos à Base de Hidróxido de Cálcio Os produtos à base de hidróxido de cálcio são atualmente bastante difundidos e grandemente utilizados, graças à sua comprovada propriedade de estimular a formação de dentina esclerosada, reparadora e proteger a polpa contra os estímulos termoelétricos e a ação dos agentes tóxicos de alguns materiais restauradores. A indução de neoformação dentinária parece ser decorrente do ph altamente alcalino do hidróxido de cálcio, embora o seu mecanismo de ação seja desconhecido. Desde que o hidróxido de cálcio é particularmente efetivo em estimular a formação de dentina reacional e reparadora, é o material de escolha para ser empregado em cavidades profundas, particularmente naquelas situações onde existe a possibilidade de microexposições não detectáveis clinicamente. O hidróxido de cálcio pode ser utilizado pelo profissional em diferentes formas de apresentação tais como: => Solução de Hidróxido de Cálcio; => Suspensão de Hidróxido de Cálcio; => Pastas de Hidróxido de Cálcio; => Cimentos de Hidróxido de Cálcio. 2.1.3.1 Solução de Hidróxido de Cálcio A quantidade de 10 a 20 gramas de hidróxido de cálcio P. A. em 200ml de água destilada. Esta mistura deverá ser mantida em repouso, para que o excesso de hidróxido de cálcio fique sedimentado no fundo do recipiente. Não há necessidade de agitá-lo, para o uso, pois a solução alcalina fica acima da deposição, numa concentração de aproximadamente 0,2% de hidróxido de cálcio. Esta solução alcalina ou água de hidróxido de cálcio é útil para todos os tipos de cavidades, qualquer que seja a sua profundidade, devendo-se lavá-las com esta solução antes que a proteção pulpar e restauração sejam colocadas. Além da limpeza que proporciona, sua alcalinidade neutraliza a acidez da cavidade, atua como agente bacteriostático, estimula a calcificação dentinária e é hemostático nos casos de exposições pulpares. Por outro lado, o hidróxido de cálcio depositado no fundo do recipiente constitui uma ótima pasta para proteções diretas que o profissional poderá utilizar com freqüência. 4

2.1.3.2 Suspensões de Hidróxido de Cálcio Consiste numa suspensão de hidróxido de cálcio em solução aquosa de metilcelulose a qual deve ser agitado antes do uso. Este produto vem munido de dispositivo apropriado com uma cânula que permite gotejar a suspensão dentro da cavidade. Geralmente uma ou duas gotas de suspensão é suficiente para um forramento adequado, após a colocação da gota, esta deve ser seca com leve jato de ar até que se forme uma película forradora branca e fosca em toda superfície preparada. 2.1.3.3 Pasta de Hidróxido de Cálcio Introduzido e empregado pela primeira vez por Hermann2 em 1920, para a proteção do complexo dentino-pulpar. Diferem dos cimentos na composição e consistência e constitui-se basicamente de hidróxido de cálcio pró-análise dissolvido em água destilada ( não endurecem após a sua colocação na cavidade). Possuem outros constituintes como o cloreto de sódio, potássio, cálcio e carbonato de cálcio ou então com a adição de sulfato de bário que torna a pasta radiopaca. Devido à capacidade de estimular a formação de dentina reparadora quando colocadas sobre a polpa, estas pastas são principalmente indicados nos casos de proteção direta, quando ocorre uma exposição acidental. 2.1.3.4 Cimentos de Hidróxido de Cálcio Apresentam relativa dureza e resistência mecânica, são também impermeáveis aos ácidos existentes em alguns materiais restauradores. São também eficazes contra estímulos térmicos e elétricos sob restaurações metálicas a amálgama, fundidas ou a ouro em folha. O Dycal é um exemplo desses produtos, apresenta-se sob a forma de duas pastas, uma base e outra catalisadora. A pasta base é constituída por dióxido de titânio (56,7%) em glicol salicilato, com um pigmento (ph 8,6). A catalisadora é composta de hidróxido de cálcio (53,5%), óxido de zinco (9,7%) em etiltolueno sulfonamida, cujo ph é 11,3. Sua manipulação é bastante simples, bastando proporcionar pastas iguais das duas pastas, espatulá-las convenientemente e levar a mistura á cavidade com o auxílio de um instrumento próprio. Suas propriedades mecânicas, em especial a resistência à compressão, após 7 minutos da espatulação1, e ao cisalhamento, após 10 minutos5, possibilitam indicar esse agente protetor como base única no caso de proteções indiretas sob restaurações de amálgama, por suportar as pressões de condensação deste material. 5

Sob o ponto de vista biológico, quando aplicado sobre a dentina possibilita a formação de dentina reacional e evidências de reparo pulpar 7 e parece conduzir a resultados satisfatórios quando aplicado sobre pequenas exposições pulpares acidentais 6. 2.1.4 Cimentos Dentários Os cimentos dentários possuem as mais diferentes composições e comportamentos físicos e biológicos que evidentemente dependem de seus constituintes básicos. Ex: cimentos de fosfato de zinco, cimentos de óxido de zinco e eugenol, cimentos á base de hidróxido de cálcio, cimentos de policarboxilato e cimentos de ionômero de vidro. Os cimentos de ionômero de vidro foram inicialmente divulgados em 19718 e introduzidos no mercado no final da década de 70. Esses materiais são também conhecidos como cimentos de polialcenoato de vidro, pois o líquido é uma solução aquosa de ácido polialcenóico. O cimento de ionômero de vidro se constitui numa evolução dos cimentos de silicato e de policarboxilato. O pó do cimento de silicato teve a proporção Al2O3/SiO2 modificada. No pó do ionômero de vidro há três constituintes que são essenciais : a silica (SiO2) a alumina (Al2O3) e o fluoreto de cálcio (CaF2). O flúor é um dos componentes importantíssimos do pó dos cimentos ionomêricos. Entre suas funções, ele melhora as características de trabalho e aumenta a resistência do cimento, bem como sua liberação para o meio bucal confere propriedade anti-cariogênica ao material. O líquido é uma solução aquosa de ácidos polialcenóicos com a inclusão de aceleradores de presa ( ácido tartárico). Resistência a compressão e a tração, liberação de flúor, adesividade e coeficiente de expansão térmica linear são algumas das propriedades dos ionômeros que quando comparadas com as de outros cimentos, são fatores decisivos na eleição do material protetor e/ou forrador. 2.1.5 Adesivos Dentinários Os sistemas adesivos mais recentes para serem usados como selantes cavitários são aqueles que possuem uma demonstrada capacidade de união a múltiplos substratos para poder unir o material restaurador ao dente. O advento de sistemas adesivos que se aderem á estrutura dentária sem necessidade de retenção mecânica adicional tem proporcionado uma revolução á pratica restauradora, tanto pela abordagem extremamente conservadora que eles se caracterizam quanto pela complexidade de sua 6

química e variedade de produtos disponíveis comercialmente. A adesão ao esmalte através da técnica do condicionamento ácido já não desperta tanto interesse aos pesquisadores e clínicos, em faces das fortes evidências de sua efetividade. A grande questão, sempre fator de controvérsias, é o condicionamento da dentina e suas conseqüências, benéficas ou não. A combinação resultante da dentina e polímero tem sido chamada de camada híbrida que, segundo Nakabayashi 3,4 é definida como a interpretação e impregnação de um monômero à superfície dentinária desmineralizada formando uma camada ácido resistente de dentina, reforçada por resina. Além da capacidade destes novos sistemas em aderir efetivamente à superfície dentinária, são também extremamente importantes no tratamento fisiológico do processo odontoblástico porque, com a possível formação da camada híbrida na superfície da dentina e na dentina peritubular, esse processo fica realmente vedado ao fluxo de fluidos. A sensibilidade pós-operatória resultante de muitos procedimentos operatórios é basicamente eliminada. Afirma-se ainda que a camada híbrida forma uma superfície não difusível que impede a invasão de microrganismos para dentro dos túbulos dentinários e, conseqüentemente, para dentro da polpa. Atualmente é aceito que a invasão de microrganismos para dentro da câmara pulpar é que causa necrose da polpa, e não materiais utilizados para restaurar os preparos cavitários. 3 Proteção Pulpar para Resinas Compostas 3.1 Considerações Gerais A despeito da propalada simplicidade dos procedimentos restauradores adesivos, o tratamento das lesões dentárias exige experiência e conhecimento profundo da cárie, da biologia pulpar, do diagnóstico e da terapêutica. Deve-se atentar, ainda, para vários fatores, como por exemplo: => Tipo da lesão cariosa (agudizada ou crônica); => Diagnóstico das condições pulpo/dentinárias (tipo de substrato dentinário); => Idade do paciente e/ou dente; => Extensão, profundidade (espessura da dentina remanescente) e localização do preparo no dente (considerando á presença ou ausência e a espessura do esmalte nas faces proximais, oclusal, vestibular, lingual e áreas de colo); => Capacidade vedadora do sistema restaurador adesivo a ser empregado; => Concentração, ph e capacidade de dissociação iônica do ácido que será empregado tanto em esmalte quanto em dentina. 7

3.2 Opções para Proteção do Complexo Dentino/Pulpar em Função do Material Restaurador e da Profundidade das Cavidades 3.2.1 Proteção Dentino/Pulpar em Dentes restaurados com Resina Composta 3.2.1.1 Cavidades superficiais, rasas e de média profundidade: => Simultânea com o ataque ácido total => 1ª opção: hibridização pelo sistema adesivo; => 2ª opção (apenas para cavidades de média profundidade): cimento ionomérico + sistema adesivo; 3.2.1.2 Cavidades Profundas (até aproximadamente 0,5mm de dentina remanescente); => 1ª opção: Solução de hidróxido de cálcio ou detergente + hidróxido de cálcio. => 2ª opção: Soluções bactericidas à base de clorexidina. Solução de hidróxido de cálcio. => 1ª opção (dentina sem esclerose): Cimento de hidróxido de cálcio auto ou fotoativado + cimento ionomérico + sistema adesivo. => 2ª opção (dentina com esclerose): Cimento ionomérico + sistema adesivo. 3.2.1.3 Cavidades Bastante Profundas (com 0,5mm ou menos de dentina remanescente) => Solução de hidróxido de cálcio => 1ª opção: Cimento de hidróxido de cálcio auto-ativado + cimento de ionômero de vidro + sistema adesivo. => 2ª opção: Cimento de hidróxido de cálcio fotoativado + cimento de ionômero de vidro + sistema adesivo. 3.2.1.4 Cavidades com Exposição Pulpar => Soro fisiológico e Solução de hidróxido de cálcio => 1ª opção: pasta ou pó de hidróxido de cálcio + cimento de hidróxido de cálcio + cimento de ionômero de vidro + sistema adesivo. => 2ª opção: Cimento de hidróxido de cálcio auto-ativado + cimento de ionômero de vidro + sistema adesivo. => 3ª opção: Cimento de hidróxido de cálcio fotoativado + cimento de ionômero de vidro + sistema adesivo. 8

4 Referências Bibliográficas 4.1 CHONG, W.F.; SWARTZ, M.L. and PHILLIPS, R.W. Displacement of cement bases by amalgam condensation. J. Amer. Dent. Ass., 74 : 97-102, 1967. 4.12 HERMANN, B.W. Dentinobliteration der wurzelka nach behandlung mit calcium. Zahnarzl. Rdsch., 2:287-91,1930. 4.13 NAKABAYASHI, N.Resin reinforced dentine due to infiltration of monomers into the dentine at the adhesive interface. J. Jap. Soc. Dent. Mat. Dev., v.1, p.78-81, 1982. 4.14 NAKABAYASHI, N.; KOJIMA, K.; MASUHARA, E. The promotion of adhesion by the infiltration of monomers into tooth substrates. J. Biomed. Mater. Res., v.16, n.3, p.265-273, May 1982. 4.15 ROSSO, R.J. Contribuição para o estudo da resistência aos esforços de cizalhamento de alguns materiais empregados como base de proteção do complexo dentina-polpa. São Paulo, Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo.1972. ( Tese). 4.16 STANLEY, H.R.; LUNDY, T. Dycal therapy for pulp exposures Oral Surg., 34 : 818-27, 1972. 4.17 TRONSTAD, L.; MJÖR, I.A. Pulp reactions to calcium hydroxide containing materials. Oral Surg., 33: 961-65, 1972. 4.18 WILSON, A.D. A hard decade s work: Steps in the invention of the glass-ionomer cement. J. Dent.Res., v.75, n.10, p.1723-7, 1996. Edição Web Masters do Laboratório de Pesquisa em Endodontia: Eduardo Luiz Barbin Júlio César Emboava Spanó Jesus Djalma Pécora Atualizada em: 14/07/2003 9