UTILIZANDO O SOFTWARE OPEN OFFICE CALC NA CONSTRUÇÃO DE CONCEITOS GRÁFICOS NOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Resumo Bruno Grilo Honorio 1 Claudia Lisete Oliveira Groenwald 2 Esse trabalho é um recorte das ações de pesquisa desenvolvidas pelo projeto de incentivo a formação continuada do projeto Observatório da Educação/2010, no âmbito do Programa de Pós Graduação em Ensino de Ciências e Matemática (PPGECIM), da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), financiado pela CAPES/INEP. Apresentase o experimento desenvolvido com o software Open offcice Calc em duas escolas da rede municipal de educação da cidade de Sapucaia do Sul. Foram escolhidas três turmas de sexta a oitava séries, totalizando 6 horas aula em cada turma. Foram desenvolvidas atividades de construção de gráficos, nas seguintes etapas: revisão de conceitos básicos da Matemática com números pares, ímpares e primos, potências e frações; construção de tabelas, leitura e interpretação de dados em uma tabela; construção de gráficos. Dos alunos participantes do experimento 49% não tem acesso ao computador, 97% nunca tinham utilizado computador para os estudos e em sua totalidade nunca haviam ido ao laboratório de informática da escola para estudar Matemática. Palavras-chave: Educação Matemática. Tecnologias Matemática. Software educativo. Introdução A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) convidaram Instituições de Educação Superior que mantenham programas de Pós- Graduação a enviarem propostas no âmbito do Programa Observatório da Educação, fomentando pesquisas com especial interesse nos estudos sobre os processos de alfabetização e do domínio da Língua Portuguesa e da Matemática. Dados do INEP embasam um conjunto de políticas, programas e metas estabelecidas pelo Ministério de Educação e Cultura (MEC) no Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) e uma das metas estabelecidas é que o Brasil deverá elevar seu Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), alcançando, até 2022, o índice de 6,0 na primeira fase do Ensino Fundamental, mesmo patamar educacional da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A escala do IDEB vai de 0 a 10 e a média nacional registrada em 2007 foi de 4,2 para as 4ª séries, 3,8 para as 8ª séries e 3,5 para o Ensino Médio. Elevar a qualidade da educação básica no Brasil significa investir na qualidade do processo de 1- Bolsista de Iniciação Científica da ULBRA do Curso de Matemática Licenciatura. 2-Doutora em Ciências da Educação pela Pontifícia de Salamanca, na Espanha, professora do Curso de Matemática Licenciatura e do PPGECIM da ULBRA.
alfabetização e no ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa e Matemática das crianças e jovens que cursam o ensino fundamental (CAPES; INEP, 2010). O Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática (PPGECIM) da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) obteve aprovação no projeto Formação continuada de professores em Ciências e Matemática, visando o desenvolvimento para o exercício pleno da cidadania. Este projeto se propõe a consolidar um espaço para discussão e aprofundamento de temas de interesse para o ensino e a aprendizagem nas áreas de Ciências e Matemática, no Ensino Fundamental, estreitando laços entre o desenvolvimento teórico e a prática da sala de aula, propiciando aos educadores envolvidos aperfeiçoarem-se em áreas que possibilitem uma melhora no desempenho profissional, buscando o perfil de um professor interdisciplinar e investigativo, ampliando as possibilidades de trabalhar com estratégias metodológicas inovadoras. Este trabalho apresenta um recorte das ações de pesquisa desenvolvidas pelo projeto de incentivo a formação continuada aprovado no Observatório da Educação/ 2010, com o trabalho desenvolvido com o software Open Office Calc nas escolas: Escola Municipal Walmir Martins e na Escola Municipal Tiradentes, duas escolas do município de Sapucaia do Sul, Rio Grande do Sul. 1 Ações de Pesquisa no Projeto Observatório da Educação - ULBRA O grupo do Observatório da ULBRA é composto por 9 pesquisadores do PPGECIM, 6 bolsistas de Iniciação Científica dos cursos de Licenciatura da ULBRA, 3 bolsistas de mestrado e um de doutorado do PPGECIM e 6 professores que atuam em escolas municipais dos municípios de Canoas, Sapucaia do Sul e São Leopoldo. Dentre os temas que vem sendo desenvolvidos, em Matemática para o Ensino Fundamental, estão: Cálculo Mental, Matemática e Calculadoras na sala de aula, o lúdico na sala de aula, multiplicação e divisão no conjunto dos Números Naturais no sistema SIENA e Gráficos no software Open Office Calc. O trabalho que originou esse artigo foi criado a partir da angustia demonstrada pelos professores participantes do projeto frente à necessidade em utilizar o laboratório de informática nas aulas de Matemática. Foi escolhido o tema construção de tabelas e gráficos por ser um tema que demanda muito tempo e trabalho ao ser desenvolvido em sala de aula com papel e caneta, também, porque a linguagem dos computadores do
laboratório de informática das escolas é Linux, o que é uma novidade para os professores participantes do projeto. 2 Metodologia da Investigação A presente pesquisa foi desenvolvida com reuniões quinzenais de estudo com o grupo do Observatório, reuniões semanais de estudo, pesquisa das atividades a serem desenvolvidas com o uso do software Open Office Calc e com o tema construção de tabelas e gráficos nos anos finais do Ensino Fundamental. Foi realizado um experimento com a aplicação das atividades desenvolvidas em duas escolas do município de Sapucaia do Sul, em três turmas do Ensino Fundamental, uma sexta série, uma sétima série e uma oitava série. Com três encontros de duas horas aulas em cada turma, totalizando 6 horas aula. A decisão pelo tema foi tomada após reuniões com os professores dos municípios, que definiram suas necessidades e demonstraram interesse em atividades nos laboratórios de informática das escolas. O objetivo foi o de desenvolver atividades didáticas de construção de tabelas e gráficos, utilizando elementos da Matemática básica e ampliação dos conhecimentos sobre informática e uso do software. As escolas do município de Sapucaia do Sul, Rio Grande do Sul, possuem laboratórios de informática com o sistema operacional LINUX, por essa razão foi escolhido o software Open Office, que funciona tanto em WINDOWS quanto em LINUX, logo, não oferece problemas de compatibilidade entre os sistemas operacionais. 2.1 Escolas participantes do Experimento A Escola Municipal Walmir Martins localiza-se no Bairro Colina Verde e possui 929 alunos, distribuídos nos turnos da manhã e tarde, disponibiliza as séries iniciais e finais do Ensino Fundamental. O IDEB da escola é de 3.9. Possui boa infra-estrutura e seu laboratório de informática comporta até 28 alunos, possuindo 18 computadores. A escola Municipal Tiradentes localiza-se na Vila Vargas, possui 475 alunos com Ensino Fundamental completo. O IDEB atingido pela escola foi de 4 pontos. Possui infra-estrutura básica, e seu laboratório de informática comporta apenas 12 alunos e possui 9 computadores.
2.2 Perfil dos estudantes participantes do Experimento Foi traçado o perfil dos alunos participantes do experimento baseado na aplicação de um questionário no início do experimento. Os alunos estão na faixa etária de 12 a 17 anos, apenas um aluno tem 11 anos e um tem 18 anos. Desta totalidade de alunos 51% possui ou tem acesso a computadores e apenas 3% dos alunos participantes do experimento já haviam utilizado o computador para estudo de gráficos e tabelas, no entanto essa atividade não foi realizada em âmbito escolar. O índice de reprovação dos alunos participantes é de 36% e, dos repetentes, 36% reprovaram em Matemática. Os alunos afirmaram que não estão acostumados a estudarem no laboratório de informática da escola. Para os alunos participantes do experimento foi a primeira vez, no ano, que participaram de uma atividade no laboratório de informática. 3 Objetivos Um dos objetivos do projeto Observatório, no qual o presente trabalho está inserido, é o de implementar (desenvolver, aplicar e avaliar) experimentos didáticos interdisciplinares para a educação em Ciências e Matemática, do Ensino Fundamental, visando a melhoria do desempenho dos estudantes das escolas públicas participantes. Nesse sentido o objetivo desse trabalho foi o de implementar um experimento com o uso do software Open Office Calç, com o tema construção de conceitos gráficos nos anos finais do Ensino Fundamental. 4 Uso das TICs no Ensino Fundamental O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) relaciona o rendimento e desempenho escolar por meio de exames padronizados, como a Prova Brasil e o SAEB, analisa a qualidade educacional e raramente combina com o rendimento e desempenho embora ambos os indicadores sejam evidentes. Segundo Fernandes: Um sistema educacional que reprova sistematicamente seus estudantes, fazendo que grande parte deles abandone a escola antes de completar a educação básica, não é desejável, mesmo que aqueles que concluam essa etapa de ensino atinjam elevadas pontuações nos exames padronizados. Por outro lado, um sistema em que todos os alunos concluem o ensino médio no período correto não é de interesse caso eles aprendam muito pouco na escola. Em suma, um sistema de ensino ideal seria aquele em que todas as crianças e adolescentes tivessem acesso à escola, não desperdiçassem tempo com repetências, não abandonassem a escola precocemente e, ao final de tudo, aprendessem (FERNANDES, p.30, 2007).
Para o Brasil alcançar as metas impostas para o IDEB, cada rede de ensino, deve se empenhar para obter resultados individuais diferenciados e positivos, assim ajudando a atingir o objetivo traçado. Entende-se que o computador, aliado aos softwares livres de Matemática, podem auxiliar nesse trabalho da busca de qualidade no processo de ensino e aprendizagem. Aproveitando que as escolas, participantes do projeto, possuem laboratórios de informática, este trabalho foca esforços na utilização desta tecnologia como ferramenta de ensino e aprendizagem, proporcionando ao aluno o contato e a possibilidade de aprender a lidar com o computador, tendo uma aula fora da sala de aula tradicional. De acordo com Bairral: Nosso sistema de ensino ainda tem sido pautado na fala do professor e na mídia escrita: o livro didático. Em alguns casos vemos o uso de recursos hipermídias e, muito timidamente, o uso de vídeos, DVD, calculadoras, softwares e das ferramentas da internet. Atualmente lidamos com alunos que têm em sua vida diária a prática da comunicação instantânea" (BAIRRAL, p.16, 2009). As TICs como estratégias educacionais ajudam a compor o cenário de ensino e aprendizagem segundo Bairral (2009), associando quatro características essenciais ao estudo com as TICs: conectividade, integração de mídias, dinâmica e construção hipertextual e interatividade. Para o autor um ambiente virtual de aprendizagem deve ter: um computador conectado à internet com suas ferramentas associadas; integração com diferentes formas de expressão: escrita, oral e áudio-visual; possibilidade de compartilhamento de informações e a comunicação de muitos indivíduos com muitos em diferentes tempos e espaços; não pré-determinar sentidos e polarizações; propiciar informação distribuída, também com construção hipertextual do conhecimento; planejamento, mas que propicie desdobramentos imprescindíveis com motivação e negociação constante; trabalho coletivo, embora cada usuário necessite de tempo para reflexão individualizada;
trabalho colaborativo; diferentes interações e discursos. Segundo Groenwald e Ruiz: A utilização das novas tecnologias, na educação, implica em um processo de inovação docente que justifique a necessidade desta incorporação, e que deve levar a uma melhora no processo de ensino e aprendizagem (GROENWALD E RUIZ, p.22, 2006). Ao inserir a tecnologia computador, em aula deve tomar certos cuidados para que não fuja do propósito da educação. De acordo com Dullius, Haetinger e Quartieri: É importante que os professores considerem o uso de software no ensino para implementar a sua prática pedagógica, proporcionando a auto-formação do estudante, sem abrir mão do conteúdo (2010, p.148). Quando se fala em utilização de tecnologia na educação, é imprescindível que se aborde as vantagens e desvantagens, opções de utilização, o acesso aos recursos e a eficiência dos mesmos para o ensino e aprendizagem. Mendes citado por Kaiber e Conceição (2007), mostra alguns aspectos que podem vir a ser significativos na utilização dos recursos informáticos, entre eles destacam-se: Os computadores podem auxiliar o aluno a executar e elaborar tarefas de acordo com seu nível de interesse e desenvolvimento intelectual; jogos e linguagens podem auxiliar no aprendizado de conceitos abstratos; o recurso do computador pode organizar e metodizar o trabalho, gerando uma melhor qualidade de rendimento; o elemento afetivo, já que o aspecto motivacional é inerente à relação do alunos com o microcomputador. Para Kaiber e Conceição: Vencida a questão do acesso, o grande desafio que os educadores enfrentam, atualmente, é o da utilização das novas tecnologias de formas criativas e inovadoras, de maneira que possam auxiliar e potencializar as aprendizagens escolares ( KAIBER E CONCEIÇÃO, p.38, 2007).
5 O projeto utilizando o software open office calc na construção de conceitos gráficos nos anos finais do Ensino Fundamental Foram aplicadas dezessete atividades didáticas, assim distribuídas: introdução ao software; organização de dados em tabelas e gráficos; interpretação de dados organizados em tabelas e gráficos; desenvolvimento de uma pesquisa de opinião. A construção de gráficos foi desenvolvida com auxílio de vídeos educativos, que por sua vez explicavam, passo a passo, todo o processo de construção das atividades propostas. A figura 1 apresenta um exemplo de atividade didática com construção de gráficos. Figura 1. Atividade de construção de gráficos envolvendo conceitos matemáticos. A primeira atividade solicitava aos alunos que construíssem uma tabela com a distribuição dos números primos e depois construíssem um gráfico. No segundo exercício solicitava-se aos alunos que representassem um quadrado, utilizando uma tabela e representando no sistema de eixos coordenados. Os alunos deveriam, nessa atividade, fazer a representação dos lados do quadrado com os seguintes pontos: (1,1),(5,1),(5,5),(1,5)e(1,1). Outra atividade desenvolvida envolveu análise de gráficos, como mostra a figura 2.
Figura 2. Atividade de interpretação gráfica. Esta atividade teve como objetivo instigar o aluno a interpretar um gráfico. Na atividade há três informações importantes, a primeira é a fila de seis pessoas e cada uma delas numerada de 1 a 6. Logo abaixo há uma tabela, na qual contém o nome, idade e altura de cada pessoa encontrada na fila e, ao lado, há um gráfico com os eixos representados por idade e altura. Nesse exercício o aluno deve relacionar cada ponto a uma pessoa na fila, tendo como base as informações dadas, ou seja, a altura de cada pessoa e sua respectiva idade. A figura 3 apresenta a atividade didática com uma pesquisa de opinião, com o objetivo de que os alunos coletassem,organizassem e representassem dados em tabelas e gráficos. Figura 3. Questionário aplicado pelos alunos Esse questionário tem por objetivo coletar dados para que os alunos possam fazer á estatística, analisar e construir seus próprios gráficos a partir dos dados coletados. Entrevistar 20 pessoas nas proximidades de sua residência, e preencher o questionário. 1) Idade: 2) Endereço: 3) Profissão: 4) Qual meio de transporte que utiliza para trabalhar? 5) Que horas costuma sair de casa? 6) Possui o habito de ler jornal? Sim ( ) Não ( ) As vezes ( ) 7) Qual? Opinião: 8) O que pode fazer para melhorar a sua cidade?
Esse questionário possibilitou que os alunos tivessem uma experiência de pesquisa de campo, coletando e organizando os dados pesquisados. Apresenta-se na figura 4, trabalhos realizados por alunos participantes do experimento. Figura 4. Trabalhos desenvolvidos pelos alunos participantes do projeto. Conclusão Os alunos participantes do experimento não estão acostumados a terem aulas no laboratório de informática da escola. Essa oficina, para as turmas participantes, foi a primeira vez no ano que visitavam o laboratório de informática. Todos os alunos responderam ter gostado muito da proposta da oficina e que lhes proporcionou uma oportunidade única de ter uma aula com conteúdo no laboratório de informática de suas escolas. As atividades foram desenvolvidas com interesse pelos alunos, que não apresentaram problemas de disciplina e elogiaram a iniciativa da oficina proposta nos laboratórios de informática.
Referências BAIRRAL, M. A. Tecnologias da Informação e Comunicação na Formação e Educação Matemática. 1ª Edição. ed. Rio de Janeiro: Editora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, v. I, 2009. DULLIUS, M. M.; HAETINGER, C.; QUARTIERI, M. T. Problematizando o uso de recursos computacionais com um grupo de professores de matemática. In: JANH, Ana Paula; ALLEVATO, Norma S. Gomes (Organizadoras).Tecnologias e Educação Matemática.v.7. Recife: SEBEM, 2010. FERNANDES, R. IDEB: monitoramento objetivo da qualidade dos sistemas a partir da combinação entre fluxo e aprendizagem escolar. In: GRACIANO, Mariângela (coordenadora). O Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Em Questão, v. 4. São Paulo: Ação Educativa, 2007. GROENWALD, C. L. O.; RUIZ, L. Formação de professores de matemática: uma proposta de ensino com novas tecnologias. Acta Scientiae, v.9, p. 19-28, 2006. KAIBER,C.T, CONCEIÇÃO,C. P. D. Softwares educativos e o ensino da trigonometria. Educação Matemática em Revista - RS, Canoas, v. I, n. 8, p. 37-50, Novembro 2007.ISSN 1518-8221. MENDES, M,H. A informática na Escola. In: Jornal Psicopedagogia. Goiânia, ano I, n. 2, Maio/Junho 1995. ORACLE. openoffice. Disponivel em: <http://pt.openoffice.org/about/calc.htm>. Acesso em: 20 Abril 2011.