INCIDÊNCIAS DE HÁBITOS PARAFUNCIONAIS E POSTURAIS EM PACIENTES PORTADORES DE DISFUNÇÃO DA ARTICULAÇÃO CRANIOMANDIBULAR



Documentos relacionados
ODONTOLOGIA PREVENTIVA. Saúde Bucal. Dores na mandíbula e na face.

Milena Cruz Dos Santos 1, Willian Gomes da Silva ², João Esmeraldo F Mendonça². Resumo.

ESTUDO DE CASO CLÍNICO

CARLOS MARCELO ARCHANGELO 1 MANOEL MARTIN JÚNIOR 1 ALÍCIO ROSALINO GARCIA 2 PAULO RENATO JUNQUEIRA ZUIM 3

Disfunções temporomandibulares: prevalência e gravidade em professores

ALTERAÇÕES PSICOSSOMÁTICAS E HÁBITOS PARAFUNCIONAIS EM INDIVÍDUOS COM DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR

PREVALENCIA DE DESORDENS TEMPOROMANDIBULARES EM MUSICOS. Barbosa MM, Cunha RSC,Lopes MGO

ESTUDO DE CASO CLÍNICO

Seminário Interdisciplinar. Traumas Faciais: Atuação Fonoaudiológica e Odontológica

CINESIOLOGIA - ATM ATM 08/08/2016. Cinesiologia e Biomecânica

GABRIEL DA ROSA RÔMULO DE SOUZA SALABERGA AVALIAÇÃO DO PADRÃO OCLUSAL DE PACIENTES COM DISFUNÇÃO CRANIOMANDIBULAR ATENDIDOS NA CLÍNICA DE

RELAÇÃO ENTRE DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR E SINTOMAS AUDITIVOS: REVISÃO DA LITERATURA. Aline Maria Barbosa Viana1, Eustáquio Luiz Paiva de Oliveira2

MODELO FORMATIVO. DATA DE INíCIO / FIM / Manhã - 08h30-13h00 Tarde - 14h00-19h30

ELANE MARIA RODRIGUES LAENDER ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE AS DISFUNÇÕES DA ATM E AS DISFUNÇÕES CERVICAIS

Questionário sócio-demográfico

UNITRI-MG, Brasil.

(21) PI A2. (51) lnt.ci.: A61C 7/00. (22) Data de Depósito: 25/10/2011 (43) Data da Publicação: 01/04/2014 (RPI 2256)

COMPARAÇÃO DA AMPLITUDE DE MOVIMENTO ARTICULAR E CEFALEIA EM INDIVÍDUOS COM DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR E ASSINTOMÁTICOS

TRABALHO DE PESQUISA. PALAVRAS-CHAVE: Articulação temporomandibular; Hábitos; Prevalência.

DIAGNÓSTICO DA DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR E DOR OROFACIAL

BRUXISMO: uma experiência com pacientes Rev. 2016

AVALIAÇAO DA MOBILIDADE ARTROCINEMÁTICA DA COLUNA CERVICAL EM PORTADORES DE DESORDEM TEMPOROMANDIBULAR

Palavras-chaves: Qualidade de vida; Disfunção temporomandibular; acadêmicos; severa.

ABORDAGEM MULTIDISCILINAR NO TRATAMENTO DO BRUXISMO INFANTIL MULTIDISCIPLINARY APPROACH IN THE TREATMENT OF CHILDHOOD BRUXISM

MODELO FORMATIVO. DATA DE INíCIO / FIM / Manhã - 08h30-13h00 Tarde - 14h00-19h30

PISTAS DIRETAS PLANAS MÉTODO SIMPLES E EFICAZ NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO PRECOCE DAS MALOCLUSÕES E DAS ASSIMETRIAS FACIAIS

MODELO FORMATIVO. DATA DE INíCIO / FIM / Manhã - 08h30-13h00 Tarde - 14h00-19h30

CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: ODONTOLOGIA INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE SANTA CECÍLIA

Contribuição ao estudo da prevalência, do diagnóstico diferencial e de fatores etiológicos das lesões cervicais não-cariosas

Voz e disfunção temporomandibular em professores

AVALIAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA E CORRELAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES ESTRUTURAIS E FUNCIONAIS DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO EM RESPIRADORES ORAIS

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE ODONTOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA DOUTORADO EM PRÓTESE DENTÁRIA

DISTONIA FOCAL DO MÚSICO. RosylaneNascimento das Mercês Rocha; Joyce Pessoa Ferro; Denise Alves Souto; ThaysRettoreOrlando Cabral ZocrattoGomes.

Romildo da Silva Amorim 1, Giulliano Gardenghi 2

Fatores predisponentes de desordem temporomandibular em crianças com 6 a 11 anos de idade ao início do tratamento ortodôntico

Associação Entre os Hábitos Bucais Deletérios e as Desordens Temporomandibulares: Os Filhos Imitam os Pais na Adoção Destes Costumes?

Mucopolissacaridose Alterações Morfofuncionais Faciais

A tecnologia da termografia aplicada a disfunções mandibulares. Thermography technology applied to mandibular dysfunctions

MODELO FORMATIVO. DATA DE INíCIO / FIM / Manhã - 08h30-13h30 Tarde - 14h30-19h30

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA ANA BEATRIZ FERNANDES AZEVEDO

ESTUDO DE CASO CLÍNICO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA Currículo dos Cursos - UFU (por curso e situação da versão)

WALABONSO BENJAMIN GONÇALVES FERREIRA NETO FRATURA DA CABEÇA DA MANDÍBULA. CARACTERÍSTICAS, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO.

- ADITEME - Atendimento Especial de Pacientes com Disfunção da Articulação Temporomandibular

Artigo Original TUMORES DO PALATO DURO: ANÁLISE DE 130 CASOS HARD PALATE TUMORS: ANALISYS OF 130 CASES ANTONIO AZOUBEL ANTUNES 2

e Apneia na Reabilitação Oral - parte I

Temporomandibular disorder and severity in university professors*

Brunno Augusto Sousa Valim Silveira

É o segredo para a manutenção da saúde. Os dentes são importantes na mastigação dos

PROJETO DE IMPLANTAÇÃO DO ATENDIMENTO DE PACIENTES COM DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES E DORES OROFACIAIS PELA REDE PÚBLICA DE SAÚDE

Luísa Damasceno Bastos Fisioterapeuta da Clínica escola do Curso de Fisioterapia das FSJ Especialista em Dor Orofacial e DTM.

Grasielle Vicentini Silva. Tratamento de disfunção temporomandibular em crianças e adolescentes: revisão sistemática

Valores normais da amplitude do movimento mandibular em crianças

O USO DE PRÓTESE PARCIAL REMOVÍVEL PROVISÓRIA DO TIPO OVERLAY NAS REABILITAÇÕES ORAIS: UMA REVISÃO DE LITERATURA

BOTOX COM MEU DENTISTA.

Prevalência de Dor Miofascial em Pacientes com Desordem Temporomandibular. Resumo. 1 Introdução

TÍTULO: Nível de concordância inter avaliadores para aplicação do AMIOFE em pacientes após Acidente Vascular Cerebral

Dor Orofacial em Pacientes Desdentados Totais Levantamento Epidemiológico Orofacial Pain in Edentulous Patients, an Epidemiologic Survey

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE ODONTOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA MESTRADO EM PRÓTESE DENTÁRIA

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

ORTOPEDIA FUNCIONAL DOS MAXILARES

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA CURSO DE ODONTOLOGIA

Determinação do tipo facial: cefalometria, antropometria e análise facial

Consentimento Informado

Proposta de Criação do Curso Pós-Graduado em Disfunção da ATM e Dor Orofacial

- ADITEME - Atendimento Especial de Pacientes com Disfunção da. Articulação Temporomandibular. - Temas de Oclusão/DTM: Bruxismo

TÍTULO: MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS FACIAIS EM CRIANÇAS ASMÁTICAS

AVALIAÇÃO DA MECÂNICA VENTILATÓRIA EM INDIVÍDUOS COM DISFUNÇÃO TÊMPORO-MANDIBULAR E ASSINTOMÁTICOS

ARTICULAÇÃO TÊMPORO-MANDIBULAR

Anatomia e dinâmica da Articulação Temporomandibular. Instituto de Ciências Biomédicas da USP Departamento de Anatomia

CORRELAÇÕES ENTRE ALTERAÇÕES POSTURAIS E DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES

Influência do bruxismo na ansiedade e aprendizagem em crianças

ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR DE UMA MÁ OCLUSÃO DENTÁRIA E PERTURBAÇÃO MIOFUNCIONAL ATRAVÉS DA ORTODONTIA E TERAPIA DA FALA

USO DE PLACA MIORRELAXANTE COMO CODJUVANTE NO TRATAMENTO DE DTM: RELATO DE CASO CLÍNICO

CORRELAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES ESTRUTURAIS E FUNCIONAIS DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES RESPIRADORES ORAIS

Exame do Sistema Estomatognático usando Análise Oclusal e Índice Epidemiológico para DCMs. Ana Carla Rios

temporomandibular e hábitos

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO OESTE - UNICENTRO

ASSITÊNCIA FISIOTERAPÊUTICA À PACIENTES COM DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR (DTM): UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Leia estas instruções:

Músculos da Mastigação

MEDIDAS DOS MOVIMENTOS MANDIBULARES DE INDIVÍDUOS DO GÊNERO FEMININO E MASCULINO, COM E SEM DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR: ANÁLISE PRELIMINAR*

QUALIDADE DE SONO, DEPRESSÃO E ASSERTIVIDADE EM PACIENTES. Docente do Mestrado em Gestão e Desenvolvimento Regional Universidade de Taubaté

RELAÇÃO ENTRE BRUXISMO E O GRAU DE SINTOMATOLOGIA DE DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR

Breve Histórico da Motricidade Orofacial e do Departamento de MO da SBFa

Fisiologia da Articulação Temporomandibular (ATM) Dra. Glauce Crivelaro Nascimento

HÁBITO PARAFUNCIONAL e DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR, UMA

Atuação Fonoaudiológica nas Cirurgias da Face

alumni Revista discente da UNIABEU

ASSOCIAÇÃO ENTRE DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR E ESTRESSE EM ALUNOS SECUNDARISTAS

~ 5 ~ A EFETIVIDADE DAS TÉCNICAS DE ISOSTRETCHING E ALOGAMENTO ESTÁTICO NA LOMBALGIA

Investigação da Influência de Hábitos Deletérios de Morder e/ou Disfunção Temporomandibular na Voz dos Professores

DESENVOLVIMENTO DE UMA FICHA PADRONIZADA DE AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM DISFUNÇÃO TEMPORO-MANDIBULAR

Overlays oclusais posteriores e facetas anteriores na reabilitação da DVO perdida: método direto-indireto

PERFIL DO PACIENTE ATENDIDO NO PROJETO DE EXTENSÃO:

Millie Bouskela-Elias. Relação entre as Disfunções Temporomandibulares e a Postura Cervical

- ADITEME - Atendimento Especial de Pacientes com Disfunção da Articulação Temporomandibular

SERVIÇO DE ATENDIMENTO A PACIENTES COM DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR

DISTÚRBIOS ARTICULARES NOS DESDENTADOS TOTAIS 1. RESUMO

Transcrição:

INCIDÊNCIAS DE HÁBITOS PARAFUNCIONAIS E POSTURAIS EM PACIENTES PORTADORES DE DISFUNÇÃO DA ARTICULAÇÃO CRANIOMANDIBULAR INCIDENCES OF PARAFUNCTIONAL HABITS AND POSTURE IN WITH PATIENTS CRÂNIOMANDIBULAR DYSFUNCTION Recebido em 15/12/2003 Aprovado em 25/03/2004 Michelly CAUÁS* Irandivaldo Ferreira ALVES** Karina TENÓRIO*** José Brasiliense HC FILHO**** Cátia Maria Fonseca GUERRA***** RESUMO O presente trabalho teve por finalidade avaliar a incidência de hábitos parafuncionais e posturais em pacientes portadores de disfunções craniomandibulares (DCMs). Métodos: Foram avaliados pacientes portadores de disfunção craniomandibular através de ficha clínica e avaliação postural. Resultados: A maior incidência de DCMs ocorreu na faixa etária entre 21 a 30 anos; havendo predominância de indivíduos do gênero feminino (81,2%); forte correlação entre DCM e o exercício de profissões que exigem um maior esforço muscular (55,5%); significante freqüência de hábitos, como colocar a mão no queixo (73,5%),apertar dentes(59,7%) e morder objetos (43,5%); como também 46% dos pacientes apresentavam flexão da cabeça e 70,7% postura atípica dos ombros.conclusão: Observou-se uma relação entre hábitos parafuncionais, DCMs e profissões que exigem maior esforço muscular, além da alta freqüência destes hábitos no gênero feminino, sabendo que, na grande maioria, apresentava postura atípica de ombros. Descritores: Disfunção temporomandibular, articulação temporomandibular, hábitos parafuncionais. ABSTRACT This project aims to evaluate the incidence of parafunctional habits in craniomandibular dysfunction patients. Methods: For that pourpose patient carrying that disord were analysed among clinic record and posture rate. Results: The highest incidence occurred among individuals between 21 and 30 years of age; There was a majority of female among the selected group of patients (81,2%); a strong relation between DCMs and professions that demand muscle activities was noticed (55,5%); the frequency of certain habits, like placing hand on the chin (73,5%), pressing or biting one s own teeth (59,7%) and biting objects (43,5%), was significant and 46% of the patients showed head flexion and atypical shoulder posture. Conclusion: We observed the relation ship between parafunctional habits and CDMs, with professions that demand muscle activities; the great frequence of these habits happened in female and knowing that most of them atypical posture of the shouder. Descriptors: Craniomandibular dysfunction, temporomandibular articulation. * Cirurgiã-Dentista ** Cirurgião-Dentista *** Acadêmica de Odontologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) **** Cirurgião de Cabeça e Pescoço do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC) ***** Professora Doutora Adjunta do departamento de prótese e cirurgia buco-maxilo-facial da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Revista de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial v.4, n.2, p. 121-129, abr/jun - 2004

INTRODUÇÃO Um dos assuntos que demanda interesse especial na área de oclusão é a disfunção ou desordem craniomandibular (DCM), denominada também disfunção ou desordem temporomandibular (DTM). Existe uma grande diversidade de opiniões sobre o diagnóstico clínico, conceitos da etiologia e métodos de tratamento. Trata-se de uma síndrome caracterizada por dores miofaciais, envolvendo musculatura mastigatória, região craniocervical e região da articulação temporomandibular (ATM). Pode estar relacionada a desarranjos internos da ATM, limitações na mordida, estalos articulares 10 e doenças degenerativas, nas quais podemos ter a presença de todos ou parte destes fatores 19, dentre outros. A articulação temporomandibular, junto com os ossos mandibulares e maxilares, dentes, músculos, nervos, vasos e periodonto, faz parte de um complexo sistema, denominado sistema estomatognático, que atua em funções vitais do organismo, tais como respiração, deglutição, fonação e mastigação. 17 Assim, hábitos oclusais, parafuncionais, como morder agulhas, lápis, cachimbo, além da língua, lábios 3 e bochechas podem ocasionar posicionamento anormal dos dentes e levar a uma oclusão traumática predispondo à disfunção na ATM. 8 Estes comportamentos são denominados de parafunção, porque, em contraste com os comportamentos funcionais, como a mastigação, a deglutição e a fala, parecem na ter propósito funcional. 14 Dentre as parafunções, temos o bruxismo, que consiste em uma atrição rítimca dos dentes em movimentos não mastigatórios da mandíbula, ocorridos especialmente durante o sono. Este termo na prática inclui todas as formas de parafunção involuntária que envolve contato oclusal: ranger de dentes e apertamento dental noturno e diurno, embora exista uma destinção nítida entre atividade noturna (ranger), e diurna (apertamento) 5 Considera-se o bruxismo uma complexa desordem relacionada a inúmeros fatores causais, como emocional 16, dental, sistêmico, ocupacional, idade ou idiopático os quais podem acarretar desgaste dentário e também desordens temporomandibulares. Outro ponto a ser avaliado são os hábitos posturais, como os citados por Goldstein et al. 4 nos quais uma modificação na postura da cabeça alteraria a posição de repouso mandibular, conseqüentemente influenciando na trajetória de seu fechamento até a oclusão, causando contato prematuro, dor facial 12,13, cefaléia e desordem temporomandibular. Desta forma coube a este estudo avaliar a existência ou não destes hábitos parafuncionais e posturais em portadores de disfunção temporomandibular. MATERIAIS E MÉTODOS O universo da pesquisa foi de pacientes com diagnóstico de disfunção craniomandibular, inscritos para o tratamento no centro de Diagnóstico e Tratamento da Dor Orofacial da Faculdade de Odontologia de Pernambuco (FOP UPE) e no Ambulatório de Cirurgia e Traumatologia Buco-Facial, do Serviço de Infectologia do Curso de Odontologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) os quais assinaram previamente termo de consentimento esclarecido. Foi realizado preenchimento de uma ficha com os dados pessoais do paciente, idade, gênero, profissão, hábitos parafuncionais e avaliação da cavidade bucal. Após o preenchimento da ficha realizou-se o exame extrabucal que consiste da avaliação da posição da cabeça e ombros, baseado nos métodos de Zonnenberg et al. 20 e Goldstein et al 4. Coloca-se o paciente de forma ereto habitual, encostado em um plano vertical forrado com cartolina, delimitado com medida de 15 cm X 15 cm, para ser analisada a postura. Então o pesquisador de frente para o paciente, 118 Revista de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial

observa se houveia flexão da cabeça em relação ao tronco. Esta observação é realizada, sem que o paciente tome conhecimento, para que ele não se corrija. Após esta análise, com a utilização de uma fita métrica, solicitando ao paciente manter-se imóvel na posição habitual, foi medida a distância entre os pontos de referência antropométrica trágus/acrômio direito; trágus/acrômio esquerdo. Com o paciente na mesma posição, mediuse a distância entre o manúbrio e o gnátio, para a mensuração da distância ínion ao plano vertical (parede) e a vértebra C 7 ao plano vertical (parede), o paciente posicionava-se à frente do plano vertical (parede). Para a demarcação do ínion, levou-se em consideração a observação de Sampaio 1992 15, quando relata que, na face externa da escama do osso occipital, próximo ao seu centro localiza-se a protuberância occipital externa ou ínion, que é o ponto mais saliente do occipital. Para análise dos dados, foi adotada a estatística indiferencial através dos testes de Mann-Whintney, o Qui-quadrado e o teste de Fisher. O nível de significância utilizado foi de 5%. O software utilizado para a obtenção dos cálculos e verificação da hipótese de normalidade foi o SAS, na versão 6.12 para microcomputador. CAUÁS et al. RESULTADOS A idade dos pesquisados oscilou entre 16 a 86 anos, em que a maior freqüência se concentrou de 21 a 30 anos e a menor na faixa, de 61 anos ou mais. (tabela 1) DISTRIBUIÇÃO DOS PESQUISADOS, SEGUNDO FAIXA ETÁRIA Faixa etária N % 16 a20 21 a 30 31 a 40 41 a 50 51 a 60 60 ou mais TOTAL 31 50 41 30 22 17 16,2 26,2 21,5 15,7 11,5 8,9 100 A maioria da amostra com 155 pesquisados (81,2%) era do gênero feminino e apenas 36, do gênero masculino (18,8%). No que diz respeito aos hábitos parafuncionais constatou-se que os três mais freqüentes foram: colocar a mão no queixo, apertamento dental e bruxismo com percentuais de, no mínimo, 57,6% do total de respondentes. (tabela 2) QUANTO AOS HÁBITOS PARAFUNCIONAIS HÁBITOS N % Nº de respostas Colocar a mão no queixo 133 73,5 181 Apertamento dental 114 59,7 Bruxismo 110 57,6 Apertamento de mão 90 49,7 Morder objetos 83 43,5 Morder língua 54 28,3 Onicofagia 50 26,2 Hipertrofia da línea alba jugal 47 24,6 Para 10 dos pesquisadores não se dispõe dessa informação v.4, n.2, p. 73-145, abr/jun - 2004 119

Em relação à postura da cabeça, 55,0% dos pesquisados apresentavam-se sem inclinação e mais da metade do restante fletia para a direita, conforme gráfico 1. QUANTO À FLEXÃO DA CABEÇA Quanto à postura dos ombros, o maior percentual, 42,4%, tinha a flexão do ombro para a direita. (gráfico 2) QUANTO À FLEXÃO DOS OMBROS 2, 0% 28,30% 2,30% 120 Revista de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial

Quando se relacionou o gênero com os hábitos parafuncionais, como apertamento dental, colocar a mão no queixo, apertamento de mão e hipertrofia da linha alba jugal tiveram os percentuais mais foram elevados para o gênero feminino com diferenças respectivas de 22,2%, 7,2%, 14,2% e 13,2%. Com relação aos hábitos de morder objetos e onicofagia, cujos percentuais foram mais elevados para o gênero masculino, as diferenças foram respectivamente de 15,2% e 12,2%. E, através de testes estatísticos, o único hábito para o qual se comprova associação significativa é o de apertamento dental (Tabela 3). FREQÜÊNCIA DOS HÁBITOS POR GÊNERO HÁBITOS GÊNERO MASCULINO FEMININO VALOR DE P Colocar a mão no queixo¹ N / % N / % 23 67,6 110 74,8 P=0,393 Apertamento dental 15 41,7 99 63,9 P=0,014* Bruxismo 21 58,3 89 57,4 P=0,920 Apertamento de Mão¹ 13 38,2 77 52,4 P=0,137 Morder Objetos 20 55,6 63 40,5 P=0,104 Morder a língua 10 27,8 44 28,4 P=0,942 Onicofagia 13 36,1 37 23,9 P=0,132 Hipertrofia da línea 5 13,9 42 27,1 P=0,097 alba jugal BASE 36 155 * - significa a 5,0% ¹ para estes cálculos, foram 34 e 147 para os masculinos e femininos, respectivamente. v.4, n.2, p. 73-145, abr/jun - 2004 121

Na comparação entre hábito parafuncional e categoria profissional, obtivemos um maior índice para colocar a mão no queixo entre toda a categoria profissional, seguida por apertamento dental e bruxismo. (Tabela 4) FREQÜÊNCIA DOS HÁBITOS, SEGUNDO AS CATEGORIAS DAS PROFISSÕES HÁBITOS CATEGORIAS DAS PROFISSÕES PROFISSIONAIS LIBERAIS ESTUDANTE TRABALHADOR BRAÇAL N / % N / % N / % Colocar a mão no queixo 34 79,1 28 73,7 71 71,0 Apertamento dental 29 63,0 22 56,4 63 59,4 Bruxismo 33 71,7 25 64,1 52 49,1 Apertamento de Mão 27 62,8 14 36,8 49 49,0 Morder Objetos 24 52,2 23 59,0 36 34,0 Morder a língua 15 32,6 13 33,3 26 24,5 Onicofagia 15 32,6 16 41,0 19 17,9 Hipertrofia da línea alba jugal 12 26,1 15 38,5 20 18,9 BASE 46 39 106 DISCUSSÃO No que diz respeito à faixa etária, a maior incidência das disfunções craniomandibulares, em contrário a Tamaki 18 que observou uma faixa mais freqüente entre 51 e 70 anos, no nosso estudo ocorreu entre 21 a 30 anos, estando em concordância com trabalhos de Moraes, Bottino 8 e Portnoi 11, nos quais nomeiam esta faixa etária como produtiva da sociedade, sendo caracterizada por uma época de intensa tensão psicológica emque esse fator aumenta significantemente o desenvolvimento de disfunção craniomandibula. Quando foi relacionado o gênero e as DCMs verificou-se um maior índice entre as mulheres correspondendo a 81%. Dad et al. 1 relacionaram os hormônios reprodutivos com a dor miofacial em mulheres em faixa etária reprodutiva, através de um grupo fazendo uso de anticonceptivos e outros não, aonde chegou a resultados de que o grupo que não fazia uso sofria picos de dor freqüente. Assim havendo uma predominância na mulher que nos homens durante os anos de reprodução e decrescendo depois da menopausa. A literatura tem associado à ocupação do indivíduo como fator desencadeante nos distúrbios da articulação temporomandibular. Trabalhos como o de Moraes, Bottino 8 e Pavone 9 que correlacionam este distúrbio ao fator ocupacional, associando o bruxismo fator etiológico das disfunções craniomandibulares, visto que é intimamente relacionado ao stresse. 6 Na 122 Revista de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial

amostra pesquisada observou-se que mais da metade dos pesquisados era composto de trabalhadores braçais, seguido de profissão que exige maior esforço intelectual. Para Rudgh e Ohrbach 14, as parafunções oclusais incluem bruxismo, morder os lábios, chupar o dedo e postura anormal da mandíbula, dentre estes 10 a 15% dos pacientes vêm a desenvolver comprometimento do sistema estomatognático. Levando-se em consideração estes pontos dentre outros nós constatamos que uma grande parte dos pacientes possuíam apertamento dental; seguida de bruxismo, hábito de morde objetos, e finalizando onicofagia, mais além destes pontos comparativos, foi avaliado o hábito de colocar a mão no queixo (73,5%), pois, este fato produz acomodação irregular da mandíbula em relação ao crânio e região cervical. 7 Com relação ao hábito postural na avaliação da posição da cabeça em relação ao corpo menos de 50% dos pacientes apresentavam flexão da cabeça para direita ou esquerda, porém no que diz respeito à postura do ombro encontramos que 70,7% possuíam flexão para direita ou esquerda. Farah 2, também analisou a postura e a mobilidade da coluna cervical e do tronco em indivíduos portadores de alterações miofaciais, encontrando que todos os pacientes avaliados apresentavam protusão da cabeça. CONCLUSÕES Baseado na metodologia empregada e análise estatística dos dados obtidos pode-se concluir que: A maior incidência de DCMs ocorreu na faixa etária de 21 a 30 anos; Na amostra houve predominância do gênero feminino; Existiu uma forte correlação entre as DCMs e o exercício de profissões que exigem maior esforço muscular; v.4, n.2, p. 73-145, abr/jun - 2004 Foi significante a freqüência de hábitos como colocar a mão no queixo, apertamento dos dentes e bruxismo; A grande maioria dos pacientes apresentou postura atípica dos ombros; REFERÊNCIAS 1 - Dad TT et al.. Modulation of myofacial pain by the reprodutive hormones: A preliminary report. The Journal of Prosthetic Dentistry, St Louis, 1998, v 79 n6 p 663-670, jun. 2 - Farah EA, Tanaka C. Postura e mobilidade da coluna cervical e do Tronco em portadores de alterações miofuncionais orais. Revista da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas, São Paulo, 1997 v.51, n.2,p.171-175, março/abril. 3 - Gimenez CMM, Queluz DP. Aleitamento e hábitos deletérios relacionados à oclusão. Revista Paulista de Odontologia, Ano XXII, 2000 n.6, p.16-20, nov. /dez. 4 - Goldstein, DF. et al. Influense of cervical posture on mandibular movement. The Journal of Prosthetic Dentistry, St. Louis, 1984, v.52, n.3, p.421-431, Sep. 5 - Leles CR. e Melo M. Bruxismo e apertamento dental: Uma conduta clínica racional. Revista Odontológica do Brasil Central, Mato Grosso, 1995, n.15, p.22-26, agosto. 6 - Maia EAV, Vasconselos LMR. e Silva AS. Prevalência das Desordens Têmporo-mandibulares. Uma abordagem sobre a influência do estresse. Revista da Associação Brasileira de Odontologia, v. IX, 2001, n.4, p.228-232, ago./set. 7 - Marzola C; Tedeschi-marzola F e Pasqual-marques A. Contribuição da Fisioterapia para a Odontologia nas Disfunções da Articulação Temporomandibular. 123

Revista Odonto Ciência, 2002, v.17, n.36, p.119-134, abril/ junho. 8 - Morais JV. e Bottino MA. Papel da oclusão nos distúrbios da articulação temporomandibular. Revista da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos, São Paulo, 1972, v.1, p.27-31. 9 - Pavone BW. Bruxism and efect on the natural teeth. The Journal of Prosthetic Dentistry,St. Louis, 1985, v.53, n.5, p.692-696, May. 10 - Pereira JR, Conti, PCR. Alterações oclusais e a sua relação com a disfunção temporomandibular. Revista da Faculdade de Odontologia de Bauru, 2001, v.9, n.3/4, jul./dez. 11 - Portnoi AG. Estresse e distúrbios craniomandibulares. In: Barros, JJ e Rode SM.Tratamento das disfunções craniomandibulares - A.T.M. 1ºed. São Paulo : Santos, 1995. Cap.15, p.165-168. 12 - Rocabado M. Analisis biomecanico cranio cervical a traves de una teleradiografia lateral. Revista Chilena de Ortodoncia, Santiago, 1984, p.1-11. 13 - Rocabado M. Relacion funcional y disfuncion cranio cervical cranio mandibular. Revista Chilena de Ortodoncia, Santiago, 1984, p.103-107. biofeedback em relação aos aspectos psicológicos e musculares dos problemas da ATM. Revista Paulista de Odontologia, São Paulo, 1983, n.4, p.22-30, jul./ago. 17 - Stechman NJ, Floriani A, Carrilho E, e Milani PAP. Articulação Temporomandibular em Pacientes Geriátricos. JBO, ATM e DOR Orofacial, Curitiba, 2002, v2, n8, p345-350. 18 - Tamaki T; Tamaki, ST.; Hvanov ZV. Incidência de Disfunções da Articulação Temporomandibular em Edentados Totais. Revista de Odontologia da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1990, v.4, n.2, p.159-163, abril / junho. 19 - Zaki, HS. et al. Edongated styloid process in a temporomandibular disorder sample :Prevalence and treatment outcome. The Journal of Prosthetic Dentistry, St. Louis, 1996 v.75, n.4, p.399-409. March. 20 - Zonnenberg AJ. et al. Body posture photographs as a diagnostic aid for musculosketal disorders related to temporomandibular disorders (TMD). Cranio. 1996, v.14, n.3, p.225-232. July. 14-Rudgh JD. e Ohrbach R. Parafungio oclusal. Fundamentos da oclusão.rio de Janeiro : Quintessence, 1989.cap.18, p.281-294. 15- Sampaio G. Anatomia Aplicada à Odontologia. O Autor. 1992. Sessão A. n.3, p.25-34.ossos do Crânio: Occipital. 16 - Santos JR.J; Lorch, D. Aplicações clínicas do 124 Revista de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial