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Transcrição:

1 PARECER Nº 68/PP/2013-P CONCLUSÕES: 1. Um Advogado que tenha sido nomeado patrono oficioso de um menor num processo judicial de promoção e protecção de crianças e jovens em perigo, requerido pelo Ministério Público contra ambos os progenitores, está impedido de exercer o patrocínio oficioso da mãe do menor num processo de divórcio sem consentimento de um dos cônjuges, por os interesses de ambos (do menor e da mãe) serem conflituantes entre si. 2. Está-se perante uma situação de conflito de interesses, nos termos previstos no artº 94º do E.O.A., que é aplicável também no caso do patrocínio oficioso. I - Por despacho proferido em 09.12.2013 pelo Vogal do Conselho Distrital do Porto responsável pelo Centro de Apoio Jurídico e Judiciário, foi remetido a este Conselho, para emissão de parecer, o requerimento apresentado pela Senhora ( ), Advogada, titular da Cédula Profissional nº ( ). Refere a Consulente que foi nomeada patrona oficiosa a uma beneficiária de apoio judiciário com a finalidade de intentar acção de divórcio e consequente regulação das responsabilidades parentais. Tinha, todavia, sido anteriormente nomeada para um processo de promoção e protecção de menores, que ainda corre termos, e no qual os menores visados são os filhos dessa beneficiária de apoio judiciário. Por se lhe afigurar que poderá estar perante uma situação de conflito de interesses, veio solicitar informação sobre o entendimento deste Conselho Distrital a fim de agir em conformidade. Notificada para esclarecer se foi nomeada, como patrono oficioso, para representar as crianças, filhas da beneficiária, no processo de promoção e protecção de menores e se esse processo foi instaurado contra a Mãe das crianças ou contra outra pessoa (que tenha a sua guarda), identificando as partes nesse processo, veio informar que o processo de promoção e protecção de menores foi instaurado contra ambos os pais dos menores, sendo requerente o Ministério Público.

2 Apesar de não respondido directamente à questão colocada no que se refere à representação das crianças, crê-se poder concluir que a Consulente se encontra nomeada para representar os menores filhos da beneficiária de quem foi agora nomeada patrono oficioso para intentar uma acção de divórcio sem consentimento de um dos cônjuges, num outro processo judicial em que a beneficiária é Requerida, sendo este o pressuposto do parecer a emitir. Delimitada a questão, importa emitir parecer, o qual é da competência deste Conselho Distrital, nos termos do disposto no art. 50º, nº 1 al. f) do Estatuto da Ordem dos Advogados (E.O.A.) II A matéria relativa à situação de conflito de interesses está prevista no artº 94º do E.O.A., cuja redacção é a seguinte: 1 O advogado deve recusar o patrocínio de uma questão em que já tenha intervindo em qualquer outra qualidade, ou seja conexa com outra em que represente, ou tenha representado, a parte contrária. 2 O advogado deve recusar o patrocínio contra quem, noutra causa pendente, seja por si patrocinado. 3 O advogado não pode aconselhar, representar ou agir por conta de dois ou mais clientes, no mesmo assunto ou em assunto conexo, se existir conflito entre os interesses desses clientes. 4 Se um conflito de interesses surgir entre dois ou mais clientes, bem como se ocorrer risco de violação do segredo profissional ou de diminuição da sua independência, o advogado deve cessar de agir por conta de todos os clientes, no âmbito desse conflito. 5 O advogado deve abster-se de aceitar um novo cliente se tal puser em risco o cumprimento do dever de guardar sigilo profissional relativamente aos assuntos de um anterior cliente, ou se do conhecimento destes assuntos resultarem vantagens ilegítimas ou injustificadas para o novo cliente.

3 6 Sempre que o advogado exerça a sua actividade em associação, sob a forma de sociedade ou não, o disposto nos números anteriores aplica-se, quer à associação, quer a cada um dos seus membros. Com este normativo procura-se defender os princípios da lealdade e a confiança que, como refere António Arnault, in Ossos de Ofício, são as pedras basilares das relações advogadocliente. A Lei nº 147/99, de 1 de Setembro (Lei de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo), tem por objecto a promoção dos direitos e a protecção das crianças e dos jovens em perigo, por forma a garantir o seu bem-estar e desenvolvimento integral (artº 1º). De acordo com o disposto no artº 3º desse diploma, a intervenção para promoção dos direitos e protecção da criança e do jovem em perigo tem lugar quando os pais, o representante legal ou quem tenha a guarda de facto ponha em perigo a sua segurança, saúde, formação, educação ou desenvolvimento, ou quando esse perigo resulte de acção ou omissão de terceiros ou da própria criança ou do jovem a que aqueles não se oponham de modo adequado a removêlo. Estatui o artº 103º da mesma Lei: 1 - Os pais, o representante legal ou quem tiver a guarda de facto podem, em qualquer fase do processo, constituir advogado ou requerer a nomeação de patrono que o represente, a si ou à criança ou ao jovem. 2 É obrigatória a nomeação de patrono à criança ou jovem quando os seus interesses e os dos seus pais, representante legal ou de quem tenha a guarda de facto sejam conflituantes e ainda quando a criança ou jovem com a maturidade adequada o solicitar ao tribunal. 3 A nomeação do patrono é efectuada nos termos da lei do apoio judiciário. ( ) Tendo a Consulente sido nomeada patrono do(s) menor(es) 1 e tendo o processo de promoção e protecção de menores sido instaurado (pelo Ministério Público) contra ambos 1 Apesar de a Consulente se referir a menores, nos termos do artº 78º da Lei nº 147/99, O processo de promoção e protecção é individual, sendo organizado um único processo para cada criança ou jovem., pelo que fica a dúvida sobre se o processo abrangerá um menor ou mais do que um.

4 os pais, é de presumir que os interesses do(s) menor(es) sejam conflituantes com os dos seus pais e, designadamente, com os da mãe, que é o que releva neste caso. Podemos, pois, dizer que estamos perante uma situação enquadrável quer no nº 1 do artº 94º do E.O.A, que impõe ao advogado que recuse o patrocínio de uma questão em que já tenha intervindo em qualquer outra qualidade, ou seja conexa com outra em que represente, ou tenha representado, a parte contrária, quer no nº 3 que determina que O advogado não pode aconselhar, representar ou agir por conta de dois ou mais clientes, no mesmo assunto ou em assunto conexo, se existir conflito entre os interesses desses clientes. A Consulente não pode representar os menores filhos da beneficiária num processo movido contra esta e simultaneamente ser advogada oficiosa da beneficiária noutro processo (de divórcio) em que ela será Autora pois, apesar de o Requerente naquele primeiro processo ser o Ministério Público, a beneficiária está numa posição de parte contrária relativamente aos menores patrocinados pela Consulente, sendo os interesses dos filhos ( crianças em perigo, a quem se destinam as medidas de promoção e protecção) e da mãe conflituantes. De notar que o que está previsto no artº 94º do E.O.A. para o mandato, vale também para o caso do patrocínio judiciário, por os princípios que se pretendem defender com esta norma serem os mesmos num caso e no outro. Daí que a Consulente deva apresentar um pedido de escusa, nos termos do disposto no artº34º da Lei nº 34/2004, de 29 de Julho, no processo de nomeação de patrono da beneficiária, por o patrocínio oficioso neste caso configurar uma situação de conflito de interesses. III. Em conclusão: 1. Um Advogado que tenha sido nomeado patrono oficioso de um menor num processo judicial de promoção e protecção de crianças e jovens em perigo, requerido pelo Ministério Público contra ambos os progenitores, está impedido de exercer o patrocínio oficioso da mãe do menor num processo de divórcio sem consentimento de um dos cônjuges, por os interesses de ambos (do menor e da mãe) serem conflituantes entre si.

5 2. Está-se perante uma situação de conflito de interesses, nos termos previstos no artº 94º do E.O.A., que é aplicável também no caso do patrocínio oficioso. Este é, salvo melhor opinião, o meu parecer. À sessão. Porto, 28 de Dezembro de 2013 A Vogal Conselheira Relatora, Catarina Pinto de Rezende