Sistema de Pagamentos Brasileiro



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Transcrição:

Sistema de Pagamentos Brasileiro Setembro de de 2009 2009 Deban Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos

Banco Central do Brasil Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos Setembro de 2009

SISTEMA DE PAGAMENTOS BRASILEIRO Índice Introdução... 1 1. Aspectos institucionais 1.1 - Aspectos legais... 1 1.2 - O papel dos intermediários financeiros... 3 1.3 - O papel do banco central... 4 1.4 - O papel de outras entidades públicas e privadas... 5 2. Instrumentos de pagamento utilizados por não-bancos 2.1 Pagamentos em espécie... 5 2.2 Pagamentos sem utilização de papel-moeda (non-cash)... 6 2.2.1 Transferências de crédito... 7 2.2.2 Cheques... 7 2.2.3 Cartões de crédito... 7 2.2.4 Cartões de débito... 8 2.2.5 Cartões de lojista... 8 2.2.6 Cartões com valor armazenado (charge cards)... 8 2.2.7 Débitos diretos... 9 3. Sistemas de liquidação 3.1 Visão geral dos sistemas de liquidação... 10 3.2 Sistemas de liquidação de transferências de fundos interbancárias.... 10 3.2.1 - Sistema de Transferência de Reservas - STR... 11 3.2.2 - Sistema de Transferência de Fundos Sitraf... 15 3.2.3 - Centralizadora da Compensação de Cheques - Compe... 17 3.2.4 Sistema de Liquidação Diferida das Transferências Interbancárias de Ordens de Crédito - Siloc... 17 3.3 - Sistemas de liquidação de operações com títulos, valores mobiliários, derivativos e câmbio interbancário... 18 3.3.1 - Sistema Especial de Liquidação e Custódia Selic... 21 3.3.2 - Cetip...... 22 3.3.3 - BM&FBOVESPA - CBLC..... 24 3.3.4 BM&FBOVESPA - Câmara de Ativos... 26 3.3.5 BM&FBOVESPA - Câmara de Derivativos... 27 3.3.6 BM&FBOVESPA - Câmara de Câmbio... 29 4. Rede do Sistema Financeiro Nacional RSFN... 30 5. Dados estatísticos Tabela 1 Dados estatísticos básicos... 31 Tabela 2 Meios de liquidação utilizados por não-bancos... 31 Tabela 3 Meios de liquidação utilizados por instituições bancárias... 32 Tabela 4 Estrutura do sistema financeiro... 32 Tabela 5 Papel moeda emitido... 33 Tabela 6 Caixas automáticos... 33 Tabela 7 Número de cartões de pagamento em circulação... 34 Tabela 8 Indicadores de uso de instrumentos de pagamento por não-bancos

Quantidade de transações... 34 Tabela 9 Indicadores de uso de instrumentos de pagamento por não-bancos Valor das transações... 35 Tabela 10 Sistemas interbancários de transferências de fundos Quantidade de transações... 35 Tabela 11 Sistemas interbancários de transferências de fundos Valor das transações... 36 Tabela 12 Depositários de títulos Quantidade e valor dos títulos registrados... 36 Tabela 13 Sistemas de liquidação de títulos, derivativos e moeda estrangeira Quantidade de transações... 37 Tabela 14 Sistemas de liquidação de títulos, derivativos e moeda estrangeira Valor das transações... 37 Tabela 15 Poder de compensação em sistemas de liquidação........ 38 Tabela 16 Operações de crédito intradia......... 38 Quadros Quadro 1: Estrutura do sistema financeiro... 4 Quadro 2: Participação relativa do papel-moeda em poder do público nos meios de pagamento... 6 Quadro 3: Cetip Grade horária... 22 Quadro 4: CBLC Ciclo de liquidação por tipo de título e de operação... 24 Quadro 5: CBLC Grade horária... 25 Quadro 6: BM&FBOVESPA Ativos Grade horária... 26 Diagramas e gráficos Diagrama 1: Arranjo geral dos sistemas de liquidação... 10 Diagrama 2: STR Estrutura técnica... 12 Diagrama 3: STR Grade horária... 14 Diagrama 4: Sitraf Grade horária... 15 Diagrama 5: Sitraf Fluxo de processamento... 16 Diagrama 6: Visão geral do mercado de títulos, valores mobiliários, derivativos e moeda estrangeira... 19 Diagrama 7: Selic Exemplos de operações associadas... 22 Gráfico : Uso relativo dos instrumentos de pagamento 2008... 6 Relação de siglas e abreviaturas... 39

SISTEMA DE PAGAMENTOS BRASILEIRO Introdução Até meados dos anos 90, as mudanças no Sistema de Pagamentos Brasileiro SPB foram motivadas pela necessidade de se lidar com altas taxas de inflação e, por isso, o progresso tecnológico então alcançado visou principalmente o aumento da velocidade de processamento das transações financeiras. Na reforma conduzida pelo Banco Central do Brasil em 2001 e 2002, o foco foi redirecionado para a administração de riscos. Nessa linha, a entrada em funcionamento do Sistema de Transferência de Reservas - STR, em 22 de abril daquele ano, marca o início de uma nova fase do SPB. Com esse sistema, operado pelo Banco Central do Brasil, o País ingressou no grupo de países em que transferências de fundos interbancárias podem ser liquidadas em tempo real, em caráter irrevogável e incondicional. Esse fato, por si só, possibilita redução dos riscos de liquidação 1 nas operações interbancárias, com conseqüente redução também do risco sistêmico, isto é, o risco de que a quebra de um banco provoque a quebra em cadeia de outros bancos, no chamado "efeito dominó". Outra alteração importante ocorreu no regime de operação das contas de reservas bancárias. A partir de 24 de junho de 2002, depois de observada uma regra de transição, qualquer transferência de fundos entre contas da espécie passou a ser condicionada à existência de saldo suficiente de recursos na conta do participante emitente da correspondente ordem. Com isso houve significativa redução no risco de crédito incorrido pelo Banco Central do Brasil. A liquidação em tempo real, operação por operação, a partir de 22 de abril de 2002, passou a ser utilizada também nas operações com títulos públicos federais cursadas no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia - Selic, o que se tornou possível com a interconexão entre esse sistema e o STR. A liquidação dessas operações agora observa o chamado modelo 1 de entrega contra pagamento 2. A reforma de 2002, entretanto, foi além da implantação do STR e da alteração do modus operandi do Selic. Para redução do risco sistêmico, que era o objetivo maior da reforma, foram igualmente importantes algumas alterações legais. Nesse sentido, a Lei 10.214 3, de março de 2001, reconheceu a compensação multilateral nos sistemas de compensação e de liquidação e estabeleceu que, em todo sistema de compensação multilateral considerado sistemicamente importante, a correspondente entidade operadora deve atuar como contraparte central e assegurar a liquidação de todas as operações cursadas. Todas essas alterações tiveram o propósito de fortalecer o sistema financeiro, dando, assim, continuidade à reestruturação iniciada, em 1995, com o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional - Proer e, mais adiante, com o Programa de Incentivo à Redução da Participação do Setor Público Estadual na Atividade Bancária - Proes. Como se observa, no início do processo o foco esteve direcionado para o fortalecimento das instituições financeiras, via fusões e transferências de controle, e para a redução da presença do setor público na atividade bancária. Mais recentemente, o Banco Central do Brasil tem procurado atuar de forma mais intensiva também no sentido de promover o desenvolvimento dos sistemas de pagamentos de varejo, visando, sobretudo, ganhos de eficiência relacionados, por exemplo, com o maior uso de instrumentos eletrônicos de pagamento, com a melhor utilização das redes de máquinas de atendimento automático (ATM) e de transferências de crédito a partir do ponto de venda (PDV), bem como com a maior integração entre os pertinentes sistemas de compensação e de liquidação 4. 1. Aspectos institucionais 1.1 - Aspectos legais De acordo com a Lei 4.595 (Lei da Reforma do Sistema Financeiro Nacional), que regula o funcionamento do sistema financeiro brasileiro, o Conselho Monetário Nacional - CMN é o órgão formulador 1 Os riscos de liquidação compreendem os riscos de crédito e de liquidez, isto é, respectivamente, o risco de perda definitiva do valor total ou parcial de uma operação e o risco de a liquidação de uma operação somente ocorrer em data posterior à combinada. 2 A liquidação final da ponta financeira e da ponta do título ocorre ao longo do dia, de forma simultânea, operação por operação Para mais informações sobre modelos de entrega contra pagamento, ver Delivery Versus Payment in Securities Settlement Systems, BIS, setembro de 1992. 3 Lei resultante da conversão da Medida Provisória 2.115-16 (inicialmente Medida Provisória 2.008, de 14.12.99). 4 Para maiores informações, ver o Diagnóstico do Sistema de Pagamentos de Varejo no Brasil, de maio de 2005.

da política da moeda e do crédito, devendo atuar inclusive no sentido de promover o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos financeiros, com vistas à maior eficiência do sistema de pagamentos e de mobilização de recursos. O Banco Central do Brasil é o principal órgão executor da política traçada pelo CMN, cumprindo-lhe também, nos termos da mencionada lei, autorizar o funcionamento e exercer a fiscalização das instituições financeiras 5, emitir moeda e executar os serviços do meio-circulante. Adicionalmente, o Banco Central do Brasil tem competência legal para submeter as instituições financeiras a regimes de intervenção ou de administração especial, podendo, também, decretar sua liquidação extrajudicial (Lei 6.024 e Decreto-Lei 2.321). A Lei 10.214, o marco legal da reforma do sistema de pagamentos brasileiro, estabelece, entre outras coisas, que: compete ao Banco Central do Brasil definir quais sistemas de liquidação são considerados sistemicamente importantes; é admitida compensação multilateral de obrigações no âmbito de um sistema de compensação e de liquidação; nos sistemas de compensação multilateral considerados sistemicamente importantes, as respectivas entidades operadoras devem atuar como contraparte central e adotar mecanismos e salvaguardas que lhes possibilitem assegurar a liquidação das operações cursadas; os bens oferecidos em garantia no âmbito dos sistemas de compensação e de liquidação são impenhoráveis; e os regimes de insolvência civil, concordata, falência ou liquidação extrajudicial, a que seja submetido qualquer participante, não afetam o adimplemento de suas obrigações no âmbito de um sistema de compensação e de liquidação, as quais serão ultimadas e liquidadas na forma do regulamento desse sistema. Os princípios básicos de funcionamento do sistema de pagamentos brasileiro foram estabelecidos por intermédio da Resolução 2.882, do Conselho Monetário Nacional, e seguem recomendações feitas, isolada ou conjuntamente, pelo BIS - Bank for International Settlements e pela IOSCO - International Organization of Securities Commissions, nos relatórios denominados "Core Principles for Systemically Important Payment Systems" e "Recommendations for Securities Settlement Systems". A mencionada resolução dá competência ao Banco Central do Brasil para regulamentar, autorizar o funcionamento e supervisionar os sistemas de compensação e de liquidação, atividades que, no caso de sistemas de liquidação de operações com valores mobiliários, exceto títulos públicos e títulos privados emitidos por bancos, são compartilhadas com a Comissão de Valores Mobiliários - CVM. O Banco Central do Brasil, dentro de sua competência para regular o funcionamento dos sistemas de compensação e de liquidação, estabeleceu que 6 : os sistemas de liquidação diferida considerados sistemicamente importantes devem promover a liquidação final dos resultados neles apurados diretamente em contas mantidas no Banco Central do Brasil; são considerados sistemicamente importantes: todos os sistemas que liquidam operações com títulos, valores mobiliários, derivativos financeiros e moedas estrangeiras; e os sistemas de transferência de fundos ou de liquidação de outras transações interbancárias que tenham giro financeiro diário médio superior a 4% do giro financeiro diário médio do Sistema de Transferência de Reservas, ou que, na avaliação do Banco Central do Brasil 7, possam colocar em risco a fluidez dos pagamentos no âmbito do Sistema de Pagamentos Brasileiro; o prazo limite para diferimento da liquidação da operação deve ser de até: (i) o final do dia, no caso de sistema de transferência de fundos considerado sistemicamente importante; (ii) um dia útil, no caso de operações à vista com títulos e valores mobiliários, exceto ações; e (iii) três dias 5 De acordo com o ordenamento jurídico em vigor, são consideradas instituições financeiras as pessoas jurídicas, públicas ou privadas, que tenham como atividade principal ou acessória a coleta, a intermediação ou a aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros. 6 Circular 3.057, com as alterações introduzidas pela Circular 3.437. 7 A avaliação é feita segundo metodologia que procura mensurar o efeito-contágio relacionado com a inadimplência de participantes dos sistemas (a metodologia foi divulgada pelo Banco Central do Brasil). 2

úteis, no caso de operações à vista com ações realizadas em bolsas de valores. O prazo limite de liquidação para outras situações é estabelecido pelo Banco Central do Brasil em exame caso a caso; e a entidade operadora deve manter patrimônio líquido compatível com os riscos inerentes aos sistemas de liquidação que opere, observando limite mínimo de R$ 30 milhões ou de R$ 5 milhões por sistema conforme ele seja ou não considerado sistemicamente importante. Os cheques são regulados segundo os princípios gerais da Convenção de Genebra (Lei 7.357), enquanto as relações financeiras entre os agentes econômicos, incluindo questões relacionadas com transferências de fundos e compensação e liquidação de obrigações, são comandadas por contratos entre as partes, sujeitos às disposições, principalmente, do Código Civil (Lei 10.406), do Código Comercial (Lei 556), da Lei do Mercado de Capitais (Lei 4.728) e da chamada Lei do Colarinho Branco (Lei 7.492), além da já mencionada Lei 10.214. As relações entre as instituições financeiras e seus clientes subordinam-se também às disposições da Lei de Defesa do Consumidor (Lei 8.078). 1.2 - O papel dos intermediários financeiros No arranjo do sistema financeiro, as principais instituições estão constituídas sob a forma de banco múltiplo (banco universal), que oferece ampla gama de serviços bancários. Outras instituições apresentam certo grau de especialização, conforme exemplos a seguir: bancos comerciais, que captam principalmente depósitos à vista e depósitos de poupança e são tradicionais fornecedores de crédito para as pessoas físicas e jurídicas, especialmente capital de giro no caso das empresas; bancos de investimento, que captam depósitos a prazo e são especializados em operações financeiras de médio e longo prazo; caixas econômicas, que também captam depósitos à vista e depósitos de poupança e atuam mais fortemente no crédito habitacional; bancos cooperativos e cooperativas de crédito, voltados para a concessão de crédito e prestação de serviços bancários aos cooperados, quase sempre produtores rurais; sociedades de crédito imobiliário e associações de poupança e empréstimo, também voltadas para o crédito habitacional; sociedades de crédito e financiamento, direcionadas para o crédito ao consumidor; e empresas corretoras e distribuidoras, com atuação centrada nos mercados de câmbio, títulos públicos e privados, valores mobiliários, mercadorias e futuros. Dentre as instituições relacionadas, ocupam posição de destaque no âmbito do sistema de pagamentos os bancos comerciais, os bancos múltiplos com carteira comercial, as caixas econômicas e, em plano inferior, as cooperativas de crédito. Essas instituições captam depósitos à vista e, em contrapartida, oferecem a seus clientes contas de depósito que são utilizadas pelo público em geral, pessoas físicas e jurídicas, para fins de pagamentos. No quadro a seguir é mostrada a estrutura do sistema financeiro brasileiro, com indicação da área de competência de cada órgão de supervisão: 8 Atuando em nome dos bancos, os correspondentes bancários, tipicamente casas lotéricas, farmácias, supermercados e outros estabelecimentos varejistas, oferecem alguns serviços bancários e de pagamentos inclusive em locais não atendidos pela rede bancária convencional. 3

Quadro 1: Estrutura do sistema financeiro Órgãos normativos Conselho Monetário Nacional - CMN Conselho Nacional de Seguros Privados CNSP Conselho de Gestão da Previdência Complementar CGPC Entidades Operadores supervisoras Banco Central Instituições do Brasil - Bacen financeiras captadoras de depósitos à vista Comissão de Bolsas de Valores mercadorias e Mobiliários futuros CVM Superintendência de Seguros Privados - Susep Secretaria de Previdência Complementar SPC Bancos de câmbio e demais instituições financeiras Bolsas de valores Resseguradoras Sociedades seguradoras Outros intermediários financeiros e administradores de recursos de terceiros Sociedades de capitalização Entidades abertas de previdência complementar Entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão) 1.3 - O papel do banco central O Banco Central do Brasil tem como missão institucional a estabilidade do poder de compra da moeda e a solidez do sistema financeiro. No que diz respeito ao sistema de pagamentos, nos termos da Resolução 2.882, cumpre-lhe atuar no sentido de promover sua solidez, normal funcionamento e contínuo aperfeiçoamento. Para funcionamento, os sistemas de liquidação estão sujeitos à autorização e à supervisão do Banco Central do Brasil, inclusive aqueles que liquidam operações com títulos, valores mobiliários, moeda estrangeira e derivativos financeiros 9. Como previsto na Lei 10.214, compete também à instituição a definição de quais são os sistemas de liquidação sistemicamente importantes. O Banco Central do Brasil é também provedor de serviços de liquidação e nesse papel ele opera o STR (item 3.2.1) e o Selic (item 3.3.1), respectivamente um sistema de transferência de fundos e um sistema de liquidação de operações com títulos públicos. Para operacionalização de algumas de suas atribuições, o Banco Central do Brasil oferece contas denominadas reservas bancárias, cuja titularidade é obrigatória para as instituições que recebem depósitos à vista, exceto cooperativas de crédito, e opcional para os bancos de investimento, bancos de câmbio e bancos múltiplos sem carteira comercial. Por intermédio dessas contas, as instituições financeiras cumprem os recolhimentos compulsórios/encaixes obrigatórios sobre recursos à vista, sendo que elas funcionam também como contas de liquidação. Cada instituição é titular de uma única conta, centralizada, identificada por um código numérico. No Brasil, por disposição legal, uma instituição bancária não pode manter conta em outra instituição bancária. Por isso, exceto aqueles efetuados em espécie e os que se completam no ambiente de um único banco, isto é, quando o pagador e o recebedor são clientes do mesmo banco, todos os pagamentos têm liquidação final nas contas de reservas bancárias. Por determinação constitucional, o Banco Central do Brasil é o único depositário das disponibilidades do Tesouro Nacional. Também as entidades operadoras de sistemas de liquidação defasada, se considerados sistemicamente importantes, são obrigadas a manter conta no Banco Central do Brasil, para liquidação dos resultados líquidos por elas apurados. 9 Os sistemas que liquidam operações com títulos e valores mobiliários estão sujeitos também à autorização da CVM, competindo ao Banco Central do Brasil, nesse caso, com exclusividade, a análise dos aspectos relacionados com o controle do risco sistêmico. Os sistemas que liquidam títulos públicos e títulos emitidos por bancos estão sujeitos à supervisão exclusiva do Banco Central do Brasil. 4

Para assegurar o suave funcionamento do sistema de pagamentos no ambiente de liquidação de obrigações em tempo real, o Banco Central do Brasil concede crédito intradia aos participantes do STR titulares de conta de reservas bancárias, na forma de operações compromissadas com títulos públicos federais, sem custos financeiros. 1.4 - O papel de outras entidades públicas e privadas Conforme já mencionado, os sistemas que liquidam operações com títulos e valores mobiliários (exceto títulos públicos e títulos privados emitidos por bancos) sujeitam-se à autorização de funcionamento e à supervisão da Comissão de Valores Mobiliários - CVM, competência essa compartilhada com o Banco Central do Brasil. A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais - Anbima, associação civil sem fins lucrativos, mantenedora do Selic (item 3.3.1). A Câmara Interbancária de Pagamentos - CIP, associação civil sem fins lucrativos com sede na cidade de São Paulo, opera o Sistema de Transferência de Fundos Sitraf (item 3.2.2) e o Sistema de Liquidação Diferida das Transferências Interbancárias de Ordens de Crédito Siloc (item 3.2.4). A Tecnologia Bancária S.A. - TecBan, empresa privada com fins lucrativos, localizada na cidade de São Paulo, opera a rede de auto-atendimento bancário denominada Banco24Horas. Na liquidação de operações com títulos e valores mobiliários, além do Banco Central do Brasil, que opera o Selic, e da Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros S.A. - BM&FBOVESPA, tratada adiante, atua a Cetip S.A. Balcão Organizado de Ativos e Derivativos (item 3.3.3), que é constituída sob a forma de sociedade anônima de capital fechado 10. A BM&FBOVESPA, empresa com fins lucrativos constituída sob a forma de sociedade anônima, sediada em São Paulo, resultou da fusão, no primeiro semestre de 2008, da Bolsa de Valores de São Paulo Bovespa e da Bolsa de Mercadorias e Futuros BM&F. Além do sistema CBLC (item 3.3.3), que liquida principalmente transações com ações, a entidade mantém sistemas para liquidação de transações com títulos (item 3.3.4), derivativos (item 3.3.5) e moeda estrangeira (item 3.3.6). Na compensação de cheques, tem papel de destaque o Banco do Brasil S.A., responsável pela operação da Centralizadora da Compensação de Cheques Compe (item 3.2.3). As propostas de aperfeiçoamento e demais assuntos relativos a essa área são preliminarmente examinados por um grupo consultivo (Grupo Compe), do qual participam representantes do Banco Central do Brasil, do Banco do Brasil e de diversas associações de bancos. Com a crescente utilização de instrumentos eletrônicos de pagamento, observada nos anos mais recentes, as empresas responsáveis por arranjos de cartões de pagamento passaram a desempenhar papel mais importante no sistema de pagamentos, com destaque para a Visa, Mastercard, American Express e Hipercard. A ECT - Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos atualmente desempenha importante papel no sistema de pagamentos, tendo em conta que, atuando como correspondente bancário, atende a quase todos os municípios brasileiros nos quais inexistem agências bancárias. 2. Instrumentos de pagamento utilizados por não-bancos 11 2.1 - Pagamentos em espécie O dinheiro em espécie é usado principalmente para pagamentos de baixo valor, relacionados com as pequenas compras do dia-a-dia. Nessas situações, ele é o principal instrumento de pagamento utilizado no Brasil, respondendo por cerca de 77% dos pagamentos efetuados por pessoas físicas, conforme pesquisa efetuada pelo Banco Central do Brasil em 2007. Em 2008, o saldo médio diário do papel moeda em poder do público foi de R$77,5 bilhões. No final de 2008, o total de moeda em circulação era de cerca de, sendo aproximadamente R$ 112,7 bilhões em cédulas e R$ 2,9 bilhões em moedas metálicas. As cédulas atualmente em circulação compreendem sete denominações (R$100; R$50; R$20; R$10; R$5; R$2 e R$1) e as moedas metálicas, seis denominações (R$1; R$0,50; R$0,25; R$0,10; R$0,05 e R$0,01). Tanto cédulas quanto moedas metálicas têm curso forçado no território brasileiro, mas a aceitação de moeda metálica como meio de liquidação é obrigatória apenas até 100 unidades de cada valor. 10 A entidade está iniciando processo de abertura de capital (setembro/2009). 11 São considerados não-bancos as pessoas físicas e as pessoas jurídicas não-bancárias, ou, em outras palavras, todos os agentes econômicos exclusive as instituições financeiras que captam depósitos à vista. 5

No período, o papel-moeda em poder do público correspondeu, em média, a 39,5 do agregado monetário M1, conforme quadro a seguir: Quadro 2: Participação relativa do papel-moeda em poder do público nos meios de pagamento 1/ Ano Papel-moeda em poder do público (PMPP) Total dos meios de pagamento (M1) PMPP/M1 R$ milhões R$ milhões % Fonte: Banco Central do Brasil. 1/ Posição em final de ano. 2.2 - Pagamentos sem utilização de dinheiro em espécie (non-cash) Pagamentos que não envolvem a utilização de dinheiro em espécie são efetuados principalmente por meio de transferências de crédito, cartões de pagamento, cheques e débitos diretos. Todas essas movimentações, quando cursadas no Sistema Financeiro Nacional, são realizadas exclusivamente na moeda nacional. Os gráficos a seguir mostram o uso relativo desses instrumentos, em volume e em valor: Uso relativo dos instrumentos de pagamento 2008 12 Em volume Em valor Débito direto 6% Cheque 13% Débito direto 1% Cheque 12% Cartão de pagamento 2% Transf de crédito 44% Cartão de pagamento 37% Transf de crédito 85% 12 "Cartão de pagamento" compreende cartão de crédito, cartão de débito e cartão de lojista. 6

2.2.1 - Transferências de crédito No Brasil, as transferências de crédito interbancárias efetuadas por não-bancos compreendem as Transferências Eletrônicas Disponíveis (TEDs) por conta de cliente, os Documentos de Crédito (DOCs), as Transferências Especiais de Crédito (TECs) e as movimentações interbancárias relacionadas com os bloquetos de cobrança. Também são relevantes as transferências de crédito intrabancárias, isto é, as transferências realizadas entre contas mantidas em um mesmo banco. A transferência de crédito feita por intermédio da TED ou da TEC é disponibilizada para o favorecido no mesmo dia (same day funds) 13. No caso do DOC, os recursos são disponibilizados para o favorecido, para saque, no dia útil seguinte (D+1) 14. A transferência de crédito relacionada com bloqueto de cobrança, cuja liquidação interbancária também ocorre em D+1, é colocada à disposição do favorecido em prazo menor ou maior conforme acordo entre ele e seu banco. Nas transferências intrabancárias, o crédito para o favorecido é geralmente feito em simultâneo com o débito na conta do remetente dos fundos. O pagamento por transferência de crédito pode ser iniciado nos caixas das agências bancárias ou por intermédio de canais eletrônicos de acesso, de que são exemplos as máquinas de atendimento automático (ATM), a Internet (Internet banking) e, mais recentemente, o telefone celular (mobile banking. Os bloquetos de cobrança contêm código de barras, que possibilita a leitura ótica de seus dados (Optical Character Recognition OCR). Quaisquer que sejam o modo 15 e o meio utilizados para dar início à transferência de crédito, a movimentação de fundos é sempre feita eletronicamente. 2.2.2 - Cheques O cheque continua sendo um importante instrumento de pagamento no Brasil, embora tenha havido redução em seu uso nos últimos anos, devido, principalmente, a sua substituição por instrumentos eletrônicos. Com formato e características básicas padronizados, as folhas de cheque contêm registros magnéticos que possibilitam a leitura automática de seus dados fundamentais (Magnetic Ink Character Recognition MICR). O cheque, algumas vezes, é entregue ao beneficiário para ser sacado em data futura ( cheque pré-datado ), situação na qual ele funciona como instrumento de crédito. No Brasil, as contas de depósito à vista são as únicas movimentáveis por cheques. A liquidação interbancária dos cheques é feita em D+1, segundo sistemáticas diferenciadas conforme seu valor 16. Nas contas dos clientes, tomando-se como data-base a data de acolhimento do documento (D), os lançamentos são normalmente feitos: a crédito do depositante do cheque, na noite de D+1 no caso de cheque acima, ou na noite de D+2 no caso de cheque abaixo 17 ; e a débito do emissor do cheque, ao final de D no caso de cheque acima, ou na noite de D+1 no caso de cheque abaixo. 2.2.3 - Cartões de crédito Lançado no Brasil em 1956, o cartão de crédito ganhou maior importância a partir da década de 90. Contribuíram para isso a eliminação de algumas restrições antes impostas ao seu uso, como, por exemplo, a que proibia sua utilização para compra de combustíveis, bem como a extinção da regra da bandeira exclusiva, condição de mercado existente até 1996 que impedia um mesmo emissor (banco) de operar com mais de uma bandeira 18. 13 No caso da TED, a liberação dos fundos para o favorecido geralmente ocorre em poucos minutos após a emissão da correspondente ordem pelo remetente. 14 Embora a liquidação interbancária ocorra na manhã de D+1, vários bancos, como era a praxe antes da existência da TED, consideram que os recursos foram transferidos para o favorecido na noite do dia anterior (D). 15 Sob o ponto de vista do cliente, a transferência de crédito pode ser iniciada em papel ou eletronicamente. 16 Os cheques de valor igual ou superior ao VLB-Cheque (valor referencial atualmente fixado em R$ 250 mil) são liquidados bilateralmente entre os bancos, sem compensação, por intermédio do STR. Os de valor inferior ao VLB-Cheque são liquidados por intermédio da Compe. 17 O cheque acima é o cheque de valor igual ou superior a R$ 300,00. 18 As principais bandeiras são Visa, Mastercard, American Express e Hipercard. 7

Na sistemática observada no País, o titular do cartão de crédito não paga encargos financeiros quando as compras de mercadorias e serviços são pagas na primeira data de vencimento seguinte. O prazo médio entre a data da compra e a do vencimento é de cerca de 28 dias, segundo informações de empresas do setor. 2.2.4 - Cartões de débito Os cartões de débito podem ser utilizados principalmente em caixas automáticos, para saque de dinheiro, ou em estabelecimentos comerciais que contam com máquinas apropriadas para a realização de transferências eletrônicas de fundos a partir do ponto de venda (EFTPOS Electronic Funds Transfer from the Point of Sale). Os principais produtos são o Visa Electron da Visa, o Maestro da Mastercard e o Cheque Eletrônico da TecBan. A exemplo dos cartões de crédito, os cartões de débito com tarja magnética estão sendo paulatinamente substituídos por unidades dotadas de microprocessador (chip). O débito na conta do titular do cartão é normalmente feito no momento do pagamento, enquanto o crédito na conta do estabelecimento comercial é feito em determinado prazo, maior ou menor conforme o contrato estabelecido com a administradora do cartão. 2.2.5 - Cartões de loja (retailer cards) Os cartões de loja, emitidos principalmente por grandes redes varejistas, normalmente só podem ser usados nas lojas da rede emissora. A utilização do cartão de loja geralmente implica a postergação do pagamento 19. No vencimento, quase sempre tendo de voltar ao estabelecimento comercial, o devedor utiliza dinheiro em espécie ou outro instrumento de pagamento (dinheiro em espécie, cheque ou cartão de débito) para liquidar sua obrigação. 2.2.6 - Cartões com valor armazenado O cartão com valor armazenado é utilizado para pagamento de serviços específicos, relacionados principalmente com o uso de telefones e meios de transporte públicos, ou compras de pequeno valor. No primeiro caso, atualmente o mais comum, os emissores são as próprias concessionárias dos serviços públicos e a aquisição do cartão é feita principalmente em pequenos estabelecimentos comerciais credenciados. Nessa situação, os serviços são pré-pagos e o cartão, quando esgotado seu limite de utilização, é geralmente descartado. No segundo caso, o cartão é emitido por instituição bancária que o carrega com certo valor, para utilização pelo cliente nos estabelecimentos comerciais credenciados. Esse tipo de cartão pode ser recarregado várias vezes, observando-se, em cada uma delas, valor limite de carregamento fixado pelo emissor. Nesse formato, o cartão com valor armazenado ainda se encontra em fase embrionária no Brasil, sendo utilizado no âmbito de projetos pioneiros desenvolvidos pela Visa e pela Mastercard. 19 Algumas vezes o emissor do cartão admite o parcelamento da obrigação, sem encargos financeiros explícitos. 8

As estatísticas disponíveis indicam que os cartões emitidos por instituições financeiras somam apenas 472,5 mil unidades, por intermédio dos quais foram realizadas cerca de 2,5 milhões de transações no montante de R$ 535 milhões (dados de 2008). 2.2.7 - Débitos diretos O débito automático em conta, ou débito direto, é normalmente utilizado para pagamentos recorrentes, isto é, pagamentos que observam uma certa periodicidade, tais como os referentes aos serviços de água, luz e telefone. Nesses casos, mediante iniciativa do prestador do serviço, beneficiário do pagamento, o valor da obrigação é debitado direta e automaticamente na conta bancária do devedor, ao amparo de uma prévia autorização por ele dada ao seu banco. Essa autorização é normalmente concedida por tempo indeterminado, com validade, portanto, enquanto não for revertida. 9

3. Sistemas de liquidação 3.1 Visão geral dos sistemas de liquidação O diagrama a seguir apresenta uma visão geral dos sistemas de compensação e de liquidação: Diagrama 1: Arranjo geral dos sistemas de liquidação Banco Central do Brasil CIP-Câmara Interbancária de Pagamentos Clearinghouse SELIC títulos públicos SITRAF transferências de fundos HÍBRIDO SILOC transferências de fundos LDL (D+1) COMPE cheques LDL (D+1) LBTR STR transferências de fundos LBTR RSFN Rede do Sistema Financeiro Nacional CETIP títulos privados; swaps; outros LDL (D+1) LBTR CBLC ações; títulos privados;opções LDL (D+1;D+3) LBTR BM&FBOVESPA contas de liquidação Câmara de Derivativos mercadorias; futuros; swaps LDL (D+1) Câmara de Ativos títulos públicos LDL (D;D+1) Câmara de Câmbio câmbio interbancário LDL (D+1;D+2) 3.2 - Sistemas de liquidação de transferências de fundos interbancárias O STR é o centro de liquidação das operações interbancárias, em decorrência da conjunção dos seguintes fatos: por disposição legal (Lei 4.595), todas as instituições bancárias (instituições que captam depósitos à vista) têm de manter suas disponibilidades de recursos no Banco Central do Brasil; 10

por determinação regulamentar (Circular 3.057), os resultados líquidos apurados nos sistemas de liquidação considerados sistemicamente importantes devem ter sua liquidação final em contas mantidas no Banco Central do Brasil; e também por disposição regulamentar (Circular 3.101), todas as transferências de fundos entre contas mantidas no Banco Central do Brasil têm de ser feitas por intermédio do STR. Transferências interbancárias de fundos são também liquidadas por intermédio do Sitraf, Siloc e Compe. O Sitraf utiliza modelo híbrido de liquidação 20 e os demais sistemas, liquidação diferida com compensação multilateral. Entre esses sistemas, apenas o Sitraf é considerado sistemicamente importante. Para o suave funcionamento do sistema de pagamentos no ambiente de liquidação em tempo real implantado em 2002, três aspectos são especialmente importantes: o Banco Central do Brasil concede crédito intradia aos participantes do STR titulares de conta de reservas bancárias. Para tanto são utilizadas operações compromissadas com títulos públicos federais, sem custos financeiros, isto é, o preço da operação de volta é igual ao preço da operação de ida; a verificação de cumprimento dos recolhimentos compulsórios é feita com base em saldos de final do dia, valendo dizer que esses recursos podem ser livremente utilizados ao longo do dia para fins de liquidação de obrigações 21 ; e o Banco Central do Brasil, se e quando julgar necessário, pode acionar rotina para otimizar o processo de liquidação das ordens de transferência de fundos mantidas em filas de espera no âmbito do STR. 3.2.1 - Sistema de Transferência de Reservas - STR O STR é um sistema de transferência de fundos com liquidação bruta em tempo real (LBTR), operado pelo Banco Central do Brasil, que funciona com base em ordens de crédito, isto é, somente o titular da conta a ser debitada pode emitir a ordem de transferência de fundos. O sistema é de importância fundamental principalmente para liquidação de operações interbancárias realizadas nos mercados monetário, cambial e de capitais, inclusive no que diz respeito à liquidação de resultados líquidos apurados em sistemas de compensação e liquidação operados por terceiros. São também liquidados por intermédio do STR os cheques de valor igual ou superior ao VLB-Cheque (R$ 250 mil), bem como os bloquetos de cobrança de valor igual ou superior ao VLB-Cobrança (R$ 5 mil). Nos dois casos, a liquidação é feita bilateralmente entre os bancos, por valores brutos agregados (sem compensação). As ordens de transferência de fundos podem ser emitidas pelos participantes em nome próprio ou por conta de terceiros, a favor do participante destinatário ou de cliente do participante destinatário, sem qualquer limitação de valor. A transferência de fundos é considerada final, isto é irrevogável e incondicional, no momento em que feitos os correspondentes lançamentos nas contas de liquidação (contas de reservas bancárias tituladas por instituições financeiras bancárias, contas tituladas por instituições financeiras nãobancárias, Conta Única do Tesouro Nacional e contas mantidas no Banco Central do Brasil por entidades operadoras de sistemas de compensação e de liquidação). O participante destinatário é informado da transferência de fundos apenas no momento em que ocorre sua liquidação. O diagrama a seguir mostra a estrutura técnica do STR, em linhas gerais: 20 Os sistemas híbridos de liquidação combinam características da liquidação líquida defasada e da liquidação bruta em tempo real. 21 A utilização de recursos mantidos em contas Reservas Bancárias, cujo saldo é considerado para fins de verificação do recolhimento compulsório e encaixe obrigatório relacionados com recursos à vista, independe de qualquer providência especial. Para utilização de outros recursos, registrados em outras contas de recolhimento compulsório/encaixe obrigatório, o participante precisa encaminhar ao STR ordem específica determinando a transferência dos recursos, da conta em que se encontravam registrados, para sua conta Reservas Bancárias. 11

Diagrama 2: STR Estrutura técnica (setembro de 2009) Banco Central do Brasil STR contas de liquidação C E N T R O 1 cabos de fibra ótica (2 redes inde - pendentes) RSFN Provedor 1 instituições financeiras participantes câmaras e prestadores de serviços de compensação e de liquidação STR contas de liquidação C E N T R 0 2 RSFN Provedor 2 Secretaria do Tesouro Nacional Na emissão de uma ordem de transferência de fundos, o participante determina seu nível de preferência para fins de liquidação, que pode ser, em ordem decrescente, "A", "B", "C" ou "D". O nível de preferência "A" é aplicável exclusivamente às ordens de transferência de fundos relacionadas com saques de numerário e com a liquidação de resultados financeiros apurados em outros sistemas de compensação e de liquidação, cujas entidades operadoras possuam conta de liquidação no Banco Central do Brasil. Quando não indicada a preferência, o STR assume o menor nível ("D"). A ordem de transferência de fundos é submetida à liquidação no momento de seu recebimento pelo STR, sendo encaminhada para fila de espera se ocorrer qualquer uma das seguintes hipóteses: (i) insuficiência de recursos na conta de liquidação do participante emitente; (ii) existência de outra ordem de transferência de fundos em fila de espera, do mesmo participante, com nível de prioridade igual ou superior. O enfileiramento não se aplica às ordens de transferência de fundos relacionadas com o Selic, bem como àquelas emitidas por entidades operadoras de sistemas de compensação e de liquidação. Nesses casos, havendo insuficiência de fundos, as ordens de transferência são imediatamente rejeitadas pelo STR. As ordens mantidas em fila de espera são ordenadas, por participante, com base no nível de preferência de cada ordem e, quando apresentarem o mesmo nível de preferência, na cronologia do recebimento de cada uma delas. Como regra geral, uma ordem mantida em fila de espera não pode ser liquidada antes daquela que a antecede, isto é, o processamento da fila é feito com base no princípio "primeiro que entra primeiro que sai". Para evitar situações de travamento no fluxo de pagamentos, o Banco 12

Central do Brasil pode acionar, se e quando julgar necessário, rotina de otimização do processo de liquidação. Participam obrigatoriamente do STR, além do Banco Central do Brasil, as instituições titulares de conta de reservas bancárias e as entidades prestadoras de serviços de compensação e de liquidação que operem sistemas considerados sistemicamente importantes. As entidades responsáveis por sistemas não considerados sistemicamente importantes e as instituições financeiras não-bancárias participam opcionalmente do STR. A Secretaria do Tesouro Nacional - STN também participa do sistema, sendo liquidadas pelo STR, entre outras, transferências de fundos relacionadas com recolhimentos de impostos ao Tesouro Nacional e com o pagamento de despesas do governo federal. Em setembro de 2009, além do Banco Central do Brasil e da STN, o sistema contava com a participação de A utilização do STR sujeita o participante ao pagamento de tarifa, cujo preço é fixado pelo Banco Central do Brasil com o objetivo de recuperação de custos (cobertura dos custos de implantação e de operação do sistema). A tarifa básica é cobrada das duas pontas da ordem de transferência de fundos, isto é, do participante emissor e do participante destinatário.. O STR é colocado à disposição dos participantes, para registro e liquidação de ordens de transferência de fundos, em todos os dias considerados úteis para fins de operações praticadas no mercado financeiro. O horário regular de funcionamento é. A grade horária do STR é mostrada no diagrama a seguir: 22 Algumas entidades mantêm mais de uma conta de liquidação no STR (CIP = 2 e BM&FBOVESPA = 4). 13

Diagrama 3: STR - Grade horária Abertura Sitraf - pré-depósitos Siloc 1ª sessão Encerramento Sitraf ciclo complementar Compe sessão diurna Compe sessão noturna Sitraf ciclo principal Siloc 2ª sessão BM&FBOVESPA-Ativos CBLC BM&FBOVESPA - Derivativos BM&FBOVESPA-Câmbio Cetip Transferências de fundos em nome de cliente Operações LBTR da Cetip Solicitação de crédito intradia ( repo intradia) Transfs. de fundos em nome próprio; operações do Selic; reversão do crédito intradia