SERVIÇO SUBSTITUTIVO NA CONSOLIDAÇÃO DA REFORMA PSIQUIÁTRICA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL



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Transcrição:

SERVIÇO SUBSTITUTIVO NA CONSOLIDAÇÃO DA REFORMA PSIQUIÁTRICA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL Cristyan Silva da Silva 1, Lucirlei Hartmann Ferrazza 2, Simara da Silva Rodrigues 3, Simoni Walter 4, Margot Agathe Seiffert 5 Instituto Federal Farroupilha Campus Santo Ângelo Palavras-Chave: Saúde mental. Inclusão Social. Desinstitucionalização. Centro de Atenção Psicossocial Infantil. Eixo Temático: Vida e Saúde INTRODUÇÃO O termo saúde mental atualmente possui uma perspectiva diferente do passado, é muito mais que psiquiatria, é uma área extensa e complexa do conhecimento em que vários saberes e profissionais estão envolvidos. Antigamente, o lugar dos ditos loucos da sociedade era os hospitais gerais, eles eram institucionalizados, enviados para manicômios, pois se acreditava que não poderiam viver em sociedade. Com o passar dos anos, especialmente após as guerras mundiais, a sociedade passou a refletir acerca da natureza humana, motivada principalmente pelas condições dos hospícios e campos de concentração em que se encontrava a ausência de dignidade humana. Essas reflexões instigaram as primeiras experiências de Reformas Psiquiátricas pelo mundo. Na Itália, Franco Basaglia, liderou o movimento de reforma, que culminou na criação da Lei da Reforma Psiquiátrica Italiana, em 1978, que tinha como princípios a extinção dos manicômios 1 Acadêmico do 2º semestre do Curso Técnico em Gerência de Saúde do Instituto Federal Farroupilha (IF Farroupilha) Campus Santo Ângelo. E-mail: rosangelasilvasilva53@gmail.com 2 Acadêmica do 2º semestre do Curso Técnico em Gerência de Saúde do IF Farroupilha Campus Santo Ângelo. E-mail: tekafarmacia@gmail.com 3 Acadêmico do 2º semestre do Curso Técnico em Gerência de Saúde do IF Farroupilha Campus Santo Ângelo. E-mail: simararodrigues19@yahoo.com.br 4 Acadêmico do 2º semestre do Curso Técnico em Gerência de Saúde do IF Farroupilha Campus Santo Ângelo. E-mail: simoniwalter33@gmail.com 5 Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Maria. Docente do IF Farroupilha - Campus Santo Ângelo. Coordenadora do Eixo Tecnológico Ambiente e Saúde. E-mail: margot.seiffert@iffarroupilha.edu.br

e a criação de serviços e estratégias substitutivas. No Brasil, a reforma psiquiátrica iniciou na década de 70, com a Constituição Federal de 1988 e a Construção do Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, a 8ª Conferência Nacional de Saúde (1986) e as Conferências Nacionais de Saúde Mental (1987, 1992 e 2001), promoveram o debate social para a superação do modelo manicomial brasileiro (AMARANTE, 2007). Esses debates culminaram com a Lei 10.216, de seis de abril de 2001, que trata da Reforma Psiquiátrica, sancionada no Brasil. A lei dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental (BRASIL, 2001). A Reforma Psiquiátrica pode ser entendida como um conjunto de transformações de práticas, saberes, valores culturais e sociais. (CEDRO, SOUSA, 2010). A Reforma Psiquiátrica Brasileira teve como objetivo mudanças no tratamento clínico da doença mental, eliminando gradativamente a internação em hospitais psiquiátricos como forma de exclusão social e integrando os pacientes a uma rede de serviços de atenção e integração à comunidade, com intuito de resgatar a cidadania das pessoas com transtornos mentais. A Política de Saúde Mental visa garantir o cuidado ao paciente com transtorno mental em serviços substitutivos aos hospitais psiquiátricos, superando assim a lógica das internações de longa permanência que tratam o paciente isolando-o do convívio com a família e com a sociedade como um todo (BRASIL, 2001). Exemplos de serviços substitutivos à internação psiquiátrica em hospitais são os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), criados pela Portaria 336 em 2002. Os CAPS objetivam acolher pessoas com transtornos mentais, estimular sua integração social e familiar, apoiá-las em suas iniciativas de busca da autonomia, oferecer-lhes atendimento médico e psicológico (BRASIL, 2002). Esse contexto histórico da reforma psiquiátrica brasileira remete à necessidade de novos modelos de atenção à saúde voltados ao atendimento de pessoas com transtornos mentais. Faz-se necessário uma reorientação assistencial e de gestão na área de saúde mental. Frente ao exposto, o trabalho tem por objetivo apresentar um relato de experiência oriundo de uma atividade acadêmica desenvolvida em um Centro de Atenção Psicossocial Infantil da região noroeste do Rio Grande do Sul (RS). RELATO O relato de experiência é resultado de um trabalho desenvolvido por acadêmicos do Curso Técnico em Gerência de Saúde Subsequente do Instituto Federal Farroupilha Campus Santo Ângelo, em um CAPS Infantil da região noroeste do RS. A proposta de trabalho esteve inserida na Prática Profissional Integrada (PPI), que é uma atividade que ocorre todos os semestres do curso e que possui como objetivos agregar conhecimentos por meio da integração entre as disciplinas do curso e aproximar a formação dos estudantes com o mundo do trabalho. O objetivo da PPI foi investigar como ocorre a gestão dos níveis de atenção em espaços de saúde na região das Missões. As disciplinas envolvidas no projeto foram: Saúde Coletiva, Português Instrumental e Informática e Sistemas de Informações Gerenciais em Saúde, ambas ministradas no 1º semestre do curso. O grupo de acadêmicos ficou responsável por realizar o trabalho em um CAPS.

No CAPS investigado, obtiveram-se os resultados por meio da observação dos serviços prestados, da forma como se apresentam e da diversidade de estrutura disponível. Ainda, algumas informações foram obtidas com a médica psiquiátrica e a enfermeira do referido serviço. Para coletar os dados foram realizadas duas visitas in loco ao CAPS no mês de junho de 2015. Após a coleta, os dados foram compilados em um relatório e socializados com os demais colegas do curso ao final do semestre em um seminário integrador. O Centro de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSi), local de desenvolvimento do trabalho, é destinado para atendimento diário de crianças e adolescentes com transtornos mentais. Conforme a Portaria 336 de 2002, que reconheceu e ampliou o funcionamento e a complexidade dos CAPS na missão de dar um atendimento diuturno às pessoas com transtornos mentais, os CAPS são dispositivos estratégicos para a organização da rede de atenção em saúde mental, são territorializados e devem ser espaços para o resgate das potencialidades dos recursos comunitários a sua volta para o cuidado em saúde mental. Também são articulados em rede com as Estratégias Saúde da Família, Agentes Comunitários quanto à promoção da vida comunitária e autonomia dos usuários. O CAPS é um serviço prestado pelo SUS de sistema aberto e comunitário. É referência no tratamento para pessoas com transtornos mentais, psicoses, neuroses graves e demais quadros que a severidade e persistência justifiquem sua permanência nesse serviço comunitário, personalizado e promotor de vida. O objetivo do CAPS está em prestar atendimento, na sua área de abrangência, à população local eliminando assim a sua internação em hospitais psiquiátricos (BRASIL, 2002). No CAPSi investigado, pôde-se observar que os pacientes (crianças) com transtornos mentais sempre são acompanhadas por monitores individuais e alguns com necessidade de um acompanhamento mais especifico, enfermeira e monitor. A área de abrangência do serviço é um município específico da região noroeste do RS, mas a equipe de saúde também realiza consultoria para os municípios da região da 12º Coordenadoria Regional de Saúde. O serviço conta com 12 funcionários concursados e um terceirizado (vigilante). O CAPSi oferece a seus usuários serviços de tratamento psiquiátrico, psicoterápico (com psicólogas), oficinas terapêuticas, acompanhamento terapêutico e orientação nutricional (com nutricionistas). Esse tipo de serviço se enquadra no nível de atenção secundária, como todos os outros tipos de CAPS. O nível de atenção secundária ou média complexidade abrange situações que o nível primário não consegue resolver, são unidades de referência e de cuidados especializados, como nesse caso, especificamente a transtornos mentais. Quando os usuários precisam de um serviço que o CAPSi não oferece, o serviço contata e encaminha-os para a rede municipal. Alguns serviços como a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, o juizado da infância e juventude, o conselho tutelar, as escolas, o Centro de Referência de Assistência Social e o hospital do município, são parceiros nos casos de referências de usuários. O CAPS ainda, em relação às ações de prevenção e promoção à saúde, trabalha em grupo por meio do Programa Educação pelo Trabalho (PET), destinado aos usuários do CAPSi e seus familiares. Os grupos são realizados quinzenalmente e são trabalhados no

sentido de prevenção e promoção da saúde da mulher, focando principalmente na prevenção de câncer de colo de útero e de mama e também, na prevenção de drogas. CONCLUSÃO A realização da Prática Profissional Integrada no CAPSi proporcionou ampliar o conhecimento sobre a reforma psiquiátrica e como se configura na forma de estimular e garantir a integração social e familiar das pessoas com transtornos mentais, psicoses e neuroses graves na comunidade, através de atendimento médico e psicológico. Constatou-se, também, a necessidade de mais fomentos financeiros para o serviço por parte do poder público, para a efetivação das atividades terapêuticas, bem como sua precária estrutura física para o fim a que se propõe. Nessa mesma perspectiva, outro ponto que se destacou no trabalho é o engajamento dos profissionais do serviço, que desempenham com dedicação suas funções em meio a poucos recursos materiais. Com o objetivo de observar e caracterizar o serviço e sua forma de abrangência pôdese verificar que o CAPS se enquadra como serviço de atenção secundária (especializada), estando em constante articulação com a atenção primária (atenção básica), onde são detectados os casos e com a atenção terciária (hospitais), para onde são encaminhados os casos acerca da singularidade de cada um na proposta de tratamento para reinserção familiar, comunitária e social. Por fim, a realização desse trabalho permitiu aliar teoria e prática, por meio da inserção em um serviço de saúde, que constitui um espaço real de trabalho. Para o curso de gerência de saúde, a aproximação e o conhecimento da realidade de um serviço de saúde específico é importante para que os futuros profissionais possam visualizar e propor intervenções e mudanças no que se refere à gestão dos serviços de saúde. REFERÊNCIAS AMARANTE, P. Saúde mental e atenção psicossocial. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2007. BRASIL. Lei n. 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 6 abr. 1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm >. Acesso em: 10 set 2015.

BRASIL. Portaria 336, de 19 de fevereiro de 2002. Dispõe sobre as modalidades de CAPS. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 19 fev. 2002. Disponível em: <http://www.saude.mg.gov.br/images/documentos/portaria_336.pdf>. Acesso em: 10 set 2015. CEDRO, L. F; SOUZA, A. C. A importância da reforma psiquiátrica na mudança do paradigma da assistência de enfermagem em saúde mental prestada ao portador de sofrimento mental. Rev Pesq Cuid Fundam Online, v. 2, p. 764-766, 2010. Disponível em: <http://www.seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/article/view/1122/pdf_278>. Acesso em: 10 set 2015.