Império americano: em plena crise, entre solvências e concordatas



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Transcrição:

Império americano: em plena crise, entre solvências e concordatas A queda em efeito dominó nas bolsas de valores do mundo ocorre num momento em que a abordagem do império americano, um dos Grandes Temas da Atualidade, é assunto no mundo inteiro. E é assim, como um tema quente, que a professora Maria Aparecida Magnani, gestora do projeto Apoio à Continuidade de Estudos, abre a apresentação da professora Ângela Corrêa da Silva, graduada em ciências sociais e mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas - PUC. Ao considerar a pertinência do tema, a professora Ângela considera as notícias de insolvência, a concordata do Lehman Brothers um banco de grande importância no sistema financeiro internacional e o efeito dominó acarretado nas bolsas do mundo inteiro, como um evento de proporções muito significativas e que tem muito a ver com a nossa temática. Segundo a professora Ângela, a grande pergunta que fica é: Em que medida o sistema financeiro internacional, acoplado à economia americana, poderá colocar em xeque as diversas economias? E particularmente nós, brasileiros, como ficamos? Apresenta, então, a resposta: Coloca o mundo em pânico as bolsas refletem isso na medida em que o mercado interno americano é o maior consumidor da produção mundial. Qualquer abalo irá se refletir em todo o mundo. Hoje a situação do Brasil é muito melhor do que era na crise de 1989, crise que abalou profundamente o Sudeste Asiático. Hoje temos uma reserva cambial bastante significativa mais de 200 bilhões de dólares. Situação que nos permite um estofo maior, caso haja fuga de capitais especulativos. A professora formula então a questão sobre o mercado interno americano: Em que medida essa derrocada dos bancos de investimentos afeta o mercado interno dos Estados Unidos [da América] e, inclusive, a idéia de império americano, que permeia a discussão de hoje?. Para definir a palavra, a professora busca no dicionário uma definição para império, objetivando avaliar até que ponto o sentido se ajusta à realidade americana. Segundo o Dicionário Houaiss da língua portuguesa império significa: o domínio soberano efetivo ou influência dominadora, autoridade,

comando, unidade política que abarca vasto ou numerosos territórios ou povos, sob uma única autoridade soberana. Evidentemente, todos sabemos que nesta classificação cabe brilhante e perfeitamente o Império Romano, a própria China até o século XIII, entre os diversos impérios que deixaram sua marca na história da humanidade., considera a professora Ângela. E continua: Como caracterizar os Estados Unidos [da América] como um país que levanta a bandeira do imperialismo em todos os seus níveis?. Dois Bushs para dois momentos A cientista social Ângela Corrêa da Silva propõe uma análise sobre os Estados Unidos da América a partir dos discursos dos presidentes George Bush (pai) e George Bush (filho). Ao contextualizar o momento histórico em que estes discursos foram proferidos, Ângela apresenta as colocações de cada um, a mudança do tom e os desdobramentos conseqüentes, mostrando que o discurso norte-americano modifica-se totalmente e estabelece o que ela chama de poder avassalador, em todos os níveis, no mundo. George H. W. Bush 1991 o pai De acordo com o discurso do primeiro Bush, apresentado em slide pela professora Ângela, o presidente dos Estados Unidos da América 1989/1993 fala do novo mundo que começa, de uma nova ordem mundial com o fim da guerra fria, quando seria possível garantir o que chama de uma paz duradoura. Há um tom conciliador e uma visão multilateral no discurso, na avaliação dela. A professora Ângela lembra que a Guerra do Golfo aconteceu no governo do Bush pai. Esse conflito envolveu o Iraque e o Kuwait na região do Golfo Pérsico, com vitória das Forças de Coalizão comandadas pelos Estados Unidos da América; e culminou com a retirada das tropas iraquianas do Kuwait. Saddam Hussein passou a ser uma persona non grata. Os acontecimentos que sustentavam a posição de Bush pai são citados pela professora Ângela: Década de 1990 desintegração da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, prevalência do capitalismo, discurso multilateral pela necessidade de alianças e preço do petróleo em queda. A análise: A vitória do capitalismo sobre o socialismo não é real. Até porque o socialismo real foi um grande equívoco. Com a queda da União [das Repúblicas Socialistas] Soviéticas e a idéia de prevalência de um único

sistema, o capitalismo terá de enfrentar um mercado que se amplia também no Japão e na organização da União Européia. Imaginava-se que as forças econômicas comandariam o espetáculo. O discurso é conciliador na medida em que se precisaria definir de que modo o mercado global seria repartido. E é bastante interessante, pois expressa um momento no governo de Bush pai, que não se fundamenta. E ratifica a professora Ângela: Até por isso ocorre uma grande mudança no discurso nas décadas seguintes. Ao explicar o último acontecimento da era Bush pai, a professora Ângela diz: O petróleo (naquele momento econômico) está em baixa por dois motivos. O primeiro, porque a questão com o Kwait foi resolvida. O segundo: o petróleo passou a ser tremendamente explorado em águas profundas, ao final da década de 1980, no Mar do Norte. E não podemos nos esquecer do Brasil: nós também entramos neste jogo e chegamos, no século XXI, à auto-suficiência em petróleo. George W. Bush 2003 o filho O ano de 2003 é marcado pela invasão ao Iraque; e não é mais o pai, e sim o filho, quem está no poder no momento em que a decisão é tomada. O discurso, diz a professora Ângela, traz uma mudança total. Bush filho inicia o discurso dizendo: Não hesitaremos em agir sozinhos. Mais à frente, Bush filho diz: A nossa melhor defesa é um bom ataque. [...] Para impedir ou prevenir ações hostis de nossos adversários, os Estados Unidos [da América], se necessário, agirão preventivamente. O cenário, no momento em que o discurso foi proferido, apresenta vários componentes, detalhados pela professora Ângela: O fortalecimento das economias européia e asiática. Por um lado, a européia se fortalece tremendamente encampando os países do leste europeu. Reunindo, num bloco, 27 países. A União Européia tem um PIB (somado) maior que o dos Estados Unidos [da América] 14 trilhões de dólares contra 13 dos Estados Unidos [da América]. De outro lado, a economia asiática é altamente fortalecida, com destaque para o Japão, que detém o segundo PIB individual do mundo. A China entra de maneira surpreendente neste cenário, que aliás foi apresentado de modo grandioso, agora com as Olimpíadas. O império do Centro se mostrou ao mundo, como um aviso. Livros e mais livros apresentam a China como a nova superpotência. Aquela que substituirá os Estados Unidos [da América]. Alguns acreditam que em 50 anos, outros em 100, mas todos dizem que isso é realmente iminente.

Nesta nova ordem, os Estados Unidos [da América] são o motor da economia mundial, destaca a professora Ângela. E, em seguida, observa: Não como produtor, mas como consumidor. A produção é dividida entre a Europa e a Ásia. Esta é a razão do governo norte-americano incentivar o consumo. A América do Norte é a alma da sociedade de consumo. Este é um ponto primordial para entender a era Bush filho. O onze de setembro Entre todos, o principal ponto a marcar o governo Bush filho foi o 11 de setembro. Evidentemente, um dos momentos de maior impacto na história da humanidade. Nem Hollywood foi tão criativa. Aviões sendo jogados para o símbolo do capitalismo internacional. E o que chama a atenção é que o impacto levou as pessoas a compreender como o mundo enxergava os Estados Unidos [da América]. A agressão gerou uma contra-reação, na qual os Estados Unidos da América são apontados como o grande responsável pela tragédia. É o que analisa a professora após relembrar os fatos. Conta a professora Ângela que no Oriente Médio, muitos acreditam que o 11 de setembro jamais foi obra da Al Qaeda. Assim também como não acreditam que o homem foi à Lua. Acham que os Estados Unidos da América orquestraram isso para iniciar a guerra contra a civilização. Ao vivenciar o 11 de setembro, George Bush reage como texano, diz Ângela. E caracteriza-o: Tira a arma do coldre e a aponta para o mundo. Vem a invasão do Iraque, com uma alegação, que foi uma falácia. Nunca foram encontradas as armas nucleares usadas como justificativa para o ataque. O ataque foi uma resposta de uma política imperial e isolacionista, que se desenvolvia no interior do partido político de Bush, o republicano. Resumindo, professora Ângela confere à era Bush filho o fracasso : A situação atual do Iraque, dividido entre facções, dá aos [norte-] americanos o diploma de fracassados, da mesma maneira como foi a investida no Vietnã, e, ainda, sem o controle do petróleo. Mapas, cartazes e charges dão o tom do deboche à América A professora Ângela apresenta então uma seqüência de mapas que revelam o que os Estados Unidos [da América] pensam do mundo. Mapas que subtraem e ridicularizam a imagem dos países. Um deles, segundo a professora Ângela, foi tema em um vestibular. Outro destaca a arrogância [norte-] americana, mostrando os estados que compõem os Estados Unidos [da América] como

países do mundo, numa visão chargista. Se digitarmos na internet, em qualquer site de busca, Bush Wanted (procura-se), uma infinidade de imagens caricatas mostrarão como o mundo e o próprio povo americano vêem o presidente Bush, afirma a professora Ângela. O poderio americano... Que poder é esse?, questiona a professora Ângela. E, em seguida, apresenta os números. Os Estados Unidos [da América] respondem por mais de 27% do PIB mundial. Já representaram mais. No fim da Segunda Guerra eram 42%. Detêm o controle militar: Em termos de gastos militares são responsáveis por 36% dos gastos mundiais. Isso representa a somatória dos outros 9 países seguintes na classificação. Controlam as tecnologias: Parcela de uso da internet, 40% da mundial. Receberam 70% dos prêmios Nobel. Que recursos suportam estes números? Pergunta e justifica. Primeiramente, vêem dos royalties importância cobrada pelo proprietário de uma patente de produto, processo de produção, marca, entre outros das empresas [norte]- americanas espalhadas pelo mundo, captados e trazidos para os Estados Unidos [da América]. E, em segundo, o dinheiro que vem do mundo por meio da compra da dívida pública americana, conclui a professora....e a erosão do império Em contraponto, a professora Ângela mostra num gráfico o déficit do orçamento federal dos Estados Unidos [da América]. Desde 1929 (quebra da Bolsa), os Estados Unidos [da América] tiveram apenas 12 anos de superávit. E ela explica: A partir de 2001 com o 11 de setembro os déficits tornaram-se crescentes e assustadores. A balança comercial dos Estados Unidos [da América], em 2008, completará 33 anos seguidos de déficit. Isso porque os Estados Unidos [da América] mais importam do que exportam. O país não se interessa mais em produzir o produto convencional. A economia americana trocou os colarinhos azuis dos operários pelos colarinhos brancos. Segundo detalha a professora Ângela: A última empresa com a marca Made in USA foi a Zenith (televisores), vendida em 1994 aos coreanos que são atualmente os maiores produtores de TVs. A Samsung é coreana. Sem produzir, sem gerar mão-de-obra, a economia norte-americana é centrada num cenário de terceirização. Os Estados Unidos da América assumem no mercado de capitais a sua principal função.

Com um quadro do censo norte-americano, de 2006, a professora Ângela apresenta a pobreza crescente no país. Na população de quase 299 milhões de habitantes, 37 milhões são pobres e 15,6 milhões, extremamente pobres. O panorama, explica ela, está na situação norte-americana estampada hoje nos jornais do mundo: a concordata do Lehman Brothers, o Merrill Lynch sendo vendido, a AIG comprada pelo governo. A crise começou bem antes, historia Ângela os fatos que antecederam a atual conjuntura. Com a quebra das empresas ponto com (.com) o governo [norte-] americano promoveu a baixa dos juros, que alimentou o mercado imobiliário. Criou-se uma bolha de especulação imobiliária. Pessoas sem condições de sustentação de crédito receberam empréstimos (subprime) a juro mais elevado, como garantia antecipada que compensasse os prováveis inadimplentes. As hipotecas, continua a professora, foram negociadas no mercado financeiro. Bancos compraram lotes destes financiamentos num momento de aquecimento deste mercado, em 2003/2005. São títulos denominados subprime (alto risco), ou títulos podres. O mercado vive do que Alan Greenspan, cita Ângela, define como exuberância irracional. Mas esta exuberância, definida pela professora Ângela como a economia num cassino, registra um revés: Em 2005, o governo norte-americano subiu a taxa para 1% e depois para 2%. Parte desta população não conseguiu cumprir o pagamento das parcelas do financiamento. Ao não cumprir, ela causou o efeito dominó. E a professora Ângela sinaliza para um novo cenário que se desenha: Se houver abalo e perda de confiança a economia [norte-] americana não se sustenta. É a primeira vez que o governo está olhando para dentro de si mesmo. Se houver recessão nos Estados Unidos [da América] naturalmente diminui-se o consumo. Ao reduzir o consumo, afetam-se os mercados produtores asiático e europeu e, em contrapartida, afetam-se os mercados que vendem matérias-primas para estes países, caso do Brasil. Segundo previsões da professora Ângela, temos uma curva perigosa até o final do ano.

Segundo o escritor Michael Mann, professor da Universidade da Califórnia: Os EUA vão se transformar num gigante militar, num palpiteiro econômico, num esquizofrênico político e num fantasma ideológico. O resultado é um monstro perturbado e deformado, que cambaleia desajeitado pelo mundo, cita a professora Ângela, encerrando a apresentação.