CONTRATOS BANCÁRIOS EM JUÍZO Forense, 2ª Edição, 1999 3.2. CAMBIAL INCOMPLETA.



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Transcrição:

CONTRATOS BANCÁRIOS EM JUÍZO Forense, 2ª Edição, 1999 3.2. CAMBIAL INCOMPLETA. Não importa se a execução é movida por particular ou por banco. A nota promissória, segundo a Convenção de Genebra, tem requisitos acidentais e essenciais (arts.75 e 76 ). Dentre os requisitos essenciais acham-se a data de emissão e o nome do credor. Ainda que a orientação não seja uniforme, dado que existem acórdãos mais liberais, certo é que, segundo forte corrente jurisprudencial, é nula a nota promissória a que faltam o nome do credor e/ou a data de emissão. meramente exemplificativa: Nesse sentido domina a jurisprudência, cuja citação é Nota promissória- Data de emissão Ausência Execução extinta Recurso provido. Na linha de precedentes de ambas as Turmas componentes da Corte, não se apresenta hábil à via executiva a promissória que não conta com data de emissão até o momento do ajuizamento da ação ( R.Esp. 19.367-0, j.16.03.92, rel.min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJU 13.04.92). No mesmo sentido: R.Esp. 8.749-MG, j.18.06.91, rel. Min. Cláudio Santos, DJU 9.9.91 ( Código Comercial e Legislação Empresarial, Sílvio de Salvo Venosa, Malheiros, 1ª Ed., pág. 1.036). E, tratando-se de vício de forma, esses requisitos podem ser conhecidos pelo Juiz até mesmo de ofício e, nessa seara, não ocorre preclusão, como ensina HUMBERTO THEODORO JÚNIOR:

A nulidade é vício fundamental e, assim, priva o processo de toda e qualquer eficácia. Sua declaração, no curso da execução, não exige forma ou procedimento especial. A todo momento o Juiz poderá declarar a nulidade do feito tanto a requerimento da parte como ex-officio. Não é preciso, portanto, que o devedor utilize dos embargos à execução. Poderá arguir a nulidade em simples petição, nos próprios autos da execução ( Curso de Direito Processual Civil, Forense, vol. II, 18ª Ed. Pág. 146). A emissão da cambial incompleta, contudo, não impede o credor de preenchê-la, desde que o faça de acordo com o que foi pactuado entre as partes e antes da cobrança ou do protesto. Estatui a Súmula nº 387 do STF: A cambial emitida ou aceita com omissões ou em branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé, antes da cobrança ou do protesto. Nesse sentido decisão do 6ª Câmara Cível do Tribunal de Alçada de Minas Gerais, cuja ementa é, a seguir, parcialmente transcrita: É perfeitamente válida como título executivo extrajudicial a nota promissória emitida em branco, pois em tal hipótese prevalece a presunção de que o emitente tenha outorgado a seu portador a faculdade de preenchê-la. (Apelação Cível nº 219.697-6, Rel. Juiz Maciel Pereira, em 29.08.96, Julgados, vol. 64/231).

A faculdade do credor de preencher o título em branco, no entanto, não o exonera de seguir o que foi avençado. Pode o devedor, em embargos, demonstrar a abusividade no preenchimento. Resta indagar se a cambial pode ser emitida em moeda estrangeira. Em princípio a resposta é negativa, nas relações de direito interno. A matéria é regida, no entanto, pelo Decreto-lei nº 857/69 que regula o curso da moeda nacional e estrangeira no país e que, em seu art. 1º, impõe o curso da moeda nacional em títulos e contratos, sob pena de nulidade e, em seu art. 2º, prevê situações de adoção de moeda estrangeira, o que ocorre, lato senso, em contratos internacionais. Com a globalização, a ampliação do comércio internacional e o MERCOSUL, impõe-se seja ajustada a questão a essa nova realidade mundial, flexibilizando-se a emissão de títulos em moeda estrangeira. não seja nulo: A regra geral, no entanto, ainda é proibitiva, embora o título Nota Promissória emitida em dólares americanos Nulidade inexistente- Execução possível convertido o valor em moeda nacional, com correção desde o vencimento- Recurso improvido. (Ap. 459.871-8, 8ª Câm.,1º TACiv.-SP, j.20.05.92, rel.juiz Alexandre Germano, v.u) (Sílvio Salvo Venosa, ob. cit., pág. 1.036). Anota com síntese e segurança o Professor CÉZAR FIÚZA: Na prática, porém, só é defeituosa a moeda, sendo a obrigação convertida em moeda nacional. (Direito Civil, Curso Completo, Del Rey, 1ª Ed., pág. 145). O art. 6º da Lei nº 8.880, de 27 de maio de 1994, dispõe:

"É nula de pleno direito a contratação de reajuste vinculado à variação cambial, exceto quando expressamente autorizado por lei federal e nos contratos de arrendamento mercantil celebrados entre pessoas residentes e domiciliadas no país, com base na captação de recursos provenientes do exterior". art. 1º, 1º, a, da MP nº 1.540. A regra é reafirmada pelo art. 2º, 1º, I, da Lei nº 9.069/95 e O Superior Tribunal de Justiça já proferiu decisão admitindo a validade de cláusula de correção monetária atrelada à variação cambial: "Processo Civil. Cláusula contratual que atrela a correção monetária à variação cambial de moeda estrangeira. Pagamento efetuado em moeda nacional, com base na cotação do câmbio. Legalidade. Decreto-Lei nº 857/69, art. 1º. Precedentes. Recurso desacolhido. Distinguem-se, por sua natureza, o pagamento efetuado em moeda estrangeira e a utilização dessa moeda como fator de atualização monetária. O art. 1º do Decreto-Lei nº 857/69 veda o curso legal de moeda estrangeira no território nacional, o que significa que o pagamento não pode ser efetuado nessa moeda"(recurso Especial nº 119.773-RS, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJU de 15.03.1999, apud DJ-MG de 31.03.1999). Recentemente a Lei nº 9.492/97, que dispõe sobre o protesto de títulos e outros documentos de dívida, disciplina o protesto de títulos e documentos em moeda estrangeira, caso em que o Tabelião de Protesto deverá verificar as disposições do Decreto-Lei nº 857/69, em se tratando de obrigação contraída no Brasil. Na letra de câmbio constitui requisito essencial o seu aceite. Nada impede que o credor, nos termos da legislação cambiária, saque a letra de

câmbio contra o devedor. Se esse, contudo, não aceita o título, não pode o credor pretender recebê-lo. Não há cambial válida para a execução, devendo a cobrança processar-se como dívida comum. Não há previsão de suprimento de aceite, na letra de câmbio, como existe na duplicata. Ainda que se admita, em tese, o protesto da letra de câmbio, por falta de aceite (o que não é o nosso ponto-de-vista, dados os prejuízos que, em nossa economia, tem o protesto causado, ainda que fruto de uma interpretação equivocada de sua finalidade), certo é que não constitui a letra de câmbio sem aceite título executivo. Decidiu o 1º Tribunal de Alçada Cível de São Paulo, em caráter que se menciona para efeito meramente exemplificativo: Letra de câmbio sem aceite, mesmo protestada, não confere ação cambiária contra o sacado. (1ª Câmara, ap. nº 272.206, Rel. Juiz Tito Hesketh, v.u., j. 4.11.80, RT 548/128, apud Títulos de Crédito, Wilson de Souza Campos Batalha, Forense, Ed. 1989, pág. 628). Na duplicata, no entanto, o aceite não é essencial, se o credor dispuser do comprovante de entrega da mercadoria ou da prestação de serviço e efetivar o protesto, nos termos da Lei nº 5.474/68. Também não haverá necessidade do aceite na ação regressiva do banco contra o endossador, embora, nesses casos, seja indispensável o protesto, como veremos em capítulo próprio. É preciso, assim, distinguir desde já uma dívida comercial de uma dívida cambiária. Uma pessoa pode ter uma dívida, fundada na relação comercial mas que, por falta de título de crédito regular, não assume as características de dívida cambiária. É exemplo uma compra a prazo sem que o comprador tenha assinado o comprovante de entrega da mercadoria que adquiriu. Deve, mas não cambiariamente.

3.16.- NOTA PROMISSÓRIA VINCULADA A CONTRATO. Sabe-se que um dos princípios fundamentais do direito cambiário é o da autonomia das relações cambiárias. Ou seja, cada assinatura aposta no título gera uma relação cambiária autônoma em relação às demais. Assim, ao portador de boa-fé, não são, em princípio, oponíveis as exceções que o devedor tinha em relação ao credor. Diferente é a situação contratual. No contrato existem direitos e obrigações, vinculados entre si. Quanto a cambial se acha vinculada a um contrato perde a sua autonomia e permite a discussão da causa da dívida. Não há dúvidas de que todos os coobrigados no título respondem pela dívida. Segundo a Súmula nº 26 do STJ: O avalista de título de crédito vinculado a contrato de mútuo também responde pelas obrigações pactuadas, quando no contrato figurar como devedor solidário. Assim, embora a cambial seja, em princípio, exequível, o devedor pode invocar o descumprimento do contrato para eximir-se do pagamento. Decidiu o Superior Tribunal de Justiça: Nota Promissória- Título vinculado a contrato Endossatário de boa fé que fica sujeito às exceções de que dispunha o emitente com base no ajuste subjacente Hipótese em que o título perde a natureza abstrata sendo oponível ao portador mesmo que tenha havido circulação por endosso- Recusa fundada em vicissitude ou desconstituição da causa debendi.

- Ementa oficial: Ainda que de boa fé, o endossatário de notas promissórias, das quais conste expressa vinculação a contrato, fica sujeito às exceções de que disponha o emitente com base no ajuste subjacente. - Os títulos, em hipótese tais, perdem a natureza abstrata que lhes é peculiar, sendo oponível ao portador, mesmo nos casos em que tenha havido circulação por endosso. Recusa fundada em vicissitude ou desconstituição da causa debendi. ( R. Especial nº 14.012-0-RJ, 4ª Turma, j. 10.08.93, Rel.Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJU de 06.09.93, RT., vol. 701/171). No caso de título vinculado a contrato pode o devedor embargar a execução sob o fundamento de que não ocorreu a condição ou verificou o termo (CPC, art.614, III) ou, ainda, se o credor não provar que adimpliu a contraprestação, que lhe corresponde, ou que lhe assegura o cumprimento, se o executado não for obrigado a satisfazer a sua prestação senão mediante a contraprestação do credor. 3.19.- PERDA DO DIREITO DE REGRESSO. Segundo o disposto no art.32 da Lei Uniforme sobre letras de câmbio e notas promissórias, art. 47,II, da Lei do Cheque e art. 13, 4º, da Lei de Duplicatas, perde o direito de regresso contra o endossante e seus avalistas o portador que não promover a apresentação ou protesto do título no prazo previsto em lei. Merecem ser transcritas as referidas disposições legais: Art.32. O portador que não tira, em tempo útil e forma regular, o instrumento de protesto da letra, perde o direito de regresso contra o sacador, endossadores e avalistas.

Art. 47, II- Pode o portador promover a execução do cheque contra os endossantes e seus avalistas, se o cheque apresentado em tempo hábil e a recusa de pagamento é comprovada pelo protesto ou por declaração do sacado, escrita e datada sobre o cheque, com indicação do dia de apresentação, ou, ainda, por declaração escrita e datada por câmara de compensação. Art.13, 4º- O portador que não tira o protesto da duplicata, em forma regular e dentro do prazo de 30(trinta) dias, contado da data do seu vencimento, perderá o direito de regresso contra os endossantes e respectivos avalistas. Logo, da análise conjunta de todos esses dispositivos, vê-se que o protesto necessário foi instituído, apenas, para o exercício do direito de regresso, não para a cobrança daqueles que se obrigaram originariamente na cártula, como é o caso do devedor e seus avalistas. Nesse sentido a orientação segura da doutrina e da jurisprudência. No tocante ao cheque dispõe a Súmula nº 600 do STF: Cabe ação executiva contra o emitente e seus avalistas ainda que não apresentado o cheque ao sacado no prazo legal, desde que não prescrita a ação cambiária. Com relação à Nota Promissória a lição do STJ: Nota promissória- Protesto- Cambial Execução. Desnecessário é o protesto por falta de pagamento da nota promissória, para o exercício do direito de ação do credor contra o seu subscritor e respectivo avalista. (R.Esp.2.999-SC,

j.5.6.90, Rel.Min. Fontes de Alencar, v.u. DJU 6.8.90, Sílvio de Salvo Venosa, ob.cit., pág.1031). Não é outra a segura orientação de RUBENS REQUIÃO: Para o credor exigir judicialmente do aceitante ou de seu avalista a dívida cambiária, não é necessário o prévio protesto do título. O protesto é exigido só para os casos de ação regressiva do portador contra o sacador, endossador, e avalista. (STF, 1ª Turma, Rec. Extr. Nº 71.338-PE, Rel. Min. Aliomar Baleeiro, in RTJ, 57/469, ibidem, Rec. Extr. Nº 76.154- SP, in DJU de 15-6-1973, pág. 4332) Rubens Requião, ob. cit., pág. 365, vol. II). O protesto necessário existe, no direito brasileiro, para garantia do direito de regresso, nos casos mencionados e, ainda, para efeito de falimentar. Fora essas situações o protesto objetiva a comprovação da mora e tem caráter facultativo. O protesto por falta de aceite deve ser tirado sempre antes do vencimento do título.