SIMPÓSIO 21 O PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA: POLÍTICAS DE FORMAÇÃO



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Transcrição:

241 SIMPÓSIO 21 O PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA: POLÍTICAS DE FORMAÇÃO Objetiva-se investigar a formação do acadêmico, futuro professor de Letras, por meio da análise de práticas discursivas em diferentes dimensões da formação e manifestas nas práticas curriculares e nas vozes de acadêmicos e professores. Estas dimensões se traduzem em processos de formação na Universidade, na Educação Básica e em documentos norteadores da política científico-educacional de cursos de Letras. Atenta-se para posicionamentos e imagens que se constroem dos sujeitos como alunos e futuros professores de Língua Portuguesa e Literaturas de Expressão Portuguesa. As análises apontam que a adoção e seleção de conhecimentos e metodologias anunciam concepções e perfis de professores de Língua Portuguesa e Literatura, convergindo ou confrontando com as conjunturas sóciohistóricas que orientam os discursos científico-educacionais. Compreender os discursos mobilizados no processo de formação do futuro professor deve possibilitar a construção de políticas que promovam uma melhor qualificação do profissional de Letras no âmbito dos países lusófonos. COORDENAÇÃO Cláudio Abreu Fonseca Universidade Federal do Pará cfonseca@ufpa.br Émerso Di Pietro Universidade de São Paulo pietri@usp.br 241

242 ENTRE TEORIA E PRÁTICA: SENTIDOS DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE PORTUGUÊS Nilsa Brito Ribeiro - UFPA O presente trabalho discute resultados de uma pesquisa em que se investiga a formação do professor de Língua Portuguesa, com o objetivo de analisar relações, confrontos e deslizes produzidos na articulação entre os conhecimentos circunscritos ao currículo de um curso de Letras e a apropriação destes conhecimentos pelos alunos do curso. O espaço considerado privilegiado para a explicitação desta relação são as atividades de estágio realizadas na escola básica durante o percurso de formação; ou seja, pretende-se apreender sentidos produzidos entre saberes teorizados e saberes praticados no espaço da docência. Admitindo que não se deve estabelecer uma relação linear e inequívoca entre os conhecimentos concernentes à área de formação e os conhecimentos mobilizados no espaço da prática docente, justamente porque outros saberes e sentidos interferem neste processo, perguntamos, durante a pesquisa, pela historicização do percurso formativo do futuro professor de Letras, na relação com o conhecimento e com a transformação deste no espaço da docência. Perguntamos ainda por representações construídas no movimento entre teoria e prática, sob a hipótese de que nas representações prefiguram-se imagens do professor de Português, que remetem tanto a sentidos já estabilizados quanto a deslocamentos impulsionados pelo movimento da história. Entrevistas orais e relatórios de estágios são os instrumentos adotados para a composição dos dados. Uma análise preliminar já identifica um conjunto de conhecimentos mobilizados pelo aluno durante os estágios, os quais remetem a orientações históricas, culturais, educacionais, ideológicas etc. No entrecruzamento de discursos produzidos pela ciência, por especialistas da área, pela tradição escolar e pelo próprio professor de Língua Portuguesa vão se constituindo representações identitárias deste profissional. LETRAMENTOS SOCIAIS DE PROFESSORES DO CAMPO: LEMBRANÇAS DE LEITURA E ESCRITA 242 Charlene Bezerra dos Santos UFSC Marcos Antônio Rocha Baltar UFSC Este estudo busca contribuir com a formação de educadores/as do campo, formação esta que parece ter sido relegada pelo Estado, uma vez que, ao longo da história do Brasil, o direito à educação escolar foi negado à população, sobretudo a que vive no campo tratado historicamente como zona rural ou, quando muito, lhe foi oferecida uma educação precária, (ARROYO, 2004, p.32). Neste sentido investigamos os letramentos sociais de quatro professores do campo, de um assentamento no sudeste do Pará, evidenciados em memoriais, nos quais narraram suas lembranças de leitura e escrita, mediante o contexto de formação em que estão inseridos, enquanto educadores/educandos, do quarto semestre do curso de Pedagogia/PARFOR da Universidade estadual do Pará (UEPA), durante a disciplina Processos Linguísticos. Dispomo-nos a observar como se concretizam/ram seus processos de aprendizagem de leitura e escrita. Optamos por compreender as práticas de leitura e escrita situadas desses discentes, a fim de entender como estes se constituem professores das séries iniciais, destacando lembranças de seus letramentos, como asseguram Barton& Hamilton (1998) letramento está integrado no próprio contexto social das pessoas, por isso que se configura numa prática socialmente situada, e se esses estão ou não associados à escola, o que pode destoar do que a sociedade entende como sendo o processo de alfabetizar, aquele bem próximo da concepção do modelo de letramento autônomo, discutido por kleiman(2005), cuja referência da escrita se dá como um produto completo em si mesmo que não estaria preso ao contexto de sua produção para ser interpretado. Ao passo que o modelo ideológico de letramento considera não somente os aspectos culturais de interação, mas também as relações

de poder numa determinada sociedade. Pautamos também nossa discussão em Freire(2003), onde aprender a ler, a escrever, alfabetizar-se é, antes de tudo, aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto, não numa manipulação mecânica de palavras, mas numa relação dinâmica que vincula linguagem e realidade (2003, p.25).verificou-se neste trabalho a importância de discutir concepções de ler e escrever como parte da reflexão que os professores fazem sobre o ato de ensinar/aprender Língua materna, por aqueles que não fizeram o curso de Letras, todavia lidam com práticas de linguagem. 243 PROBLEMATIZANDO FORMAÇÃO DE PROFESSORES E ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA POR MEIO DO DIÁLOGO Morganny Ribeiro UEG Sandra Jardim de Menezes Ferreira UEG A formação inicial de professores de língua portuguesa tem, por quais sejam os motivos, dado vazão apenas a aspectos eminentemente técnicos utilitaristas durante a formação. Quando, no entanto, sabemos que o ensino teórico deveria estar estritamente ligado ao ensino prático, a fim de proporcionar uma formação profissional com mais qualidade e com a verdadeira proposta que lhe compete. Para esta sincronia perfeita (teoria e prática), tornam-se necessárias práticas discursivas que funcionem como análise e reflexão sobre a problemática do ensino, ainda na graduação, a fim de promover transformação e consequentemente à formação de professores críticos, que se proponham a serem pesquisadores da sua própria prática. Pensando na formação de professores, não podemos apenas frisar a formação inicial, pois esta é apenas um alicerce para uma formação continuada. A formação docente não é limitada, pelo contrário, merece ser contínua devido à complexidade da prática pedagógica a se estender além da sala de aula, com vistas à promoção de saberes docentes alicerçados à crítica. O educador, com isso, teria a oportunidade de expor o que aprendeu na formação inicial. Igualmente, a formação continuada não se resume em especializações quer sejam latu senso e/ou strict senso, mas também no esforço individual de cada profissional em planejar a aula, estudar o conteúdo tendo total domínio e confiança aliado às leituras teóricas sobre complexidades que enfrenta. Um professor em plena formação busca maneiras diferentes para que possa aprender de forma clara e para isso pesquisar é preciso, fazendo o uso da aprendizagem contínua e buscando esse tipo de atualização. Este trabalho é de cunho qualitativo, feito a partir de diálogos gravados em áudio vídeo entre professores em formação de uma universidade do interior de Goiás, que optaram por uma formação continuada, dando ênfase, também, à sua formação inicial. Esses professores universitários comprovam através da reflexão colaborativa que a formação continuada se tornou essencial no seu desempenho profissional e afirmam sobre a importância de se tornarem professores de língua portuguesa críticos reflexivos e pesquisadores. Enfim, o hábito de pesquisar, pelo menos nesses relatos, se torna uma recorrente sinalização para uma opção construtiva da docência, tanto para o educador quanto para o educando, a fim de multiplicar o conhecimento sobre os processos de ensino. ESTÁGIO SUPERVISIONADO E ENSINO DE LÍNGUA MATERNA: UM OLHAR DISCURSIVO SOBRE RELATOS PRODUZIDOS POR PROFESSORES EM FORMAÇÃO 243 Fabíola Silva de Oliveira Vilas Boas UEFS Acreditamos ser o estágio supervisionado curricular uma das etapas mais relevantes do processo de formação dos futuros professores de língua materna, tanto pela sua inerente propriedade formativa como também pela oportunidade de ele vir a ser, para o graduando, a porta de entrada para os primeiros contatos efetivos com a prática profissional e com a realidade na qual irá atuar, com todas

as suas nuances, diversidades e especificidades. Nesse sentido, concordamos com Pimenta (2001) e Kenski (1994), para quem o estágio é uma experiência profícua para a articulação indissociável entre a teoria e a prática, capaz de tornar o futuro professor um agente construtor de sua própria práxis pedagógica, a partir do exercício permanente e reflexivo de planejamento, elaboração, avaliação e reelaboração de suas ações didáticas. O propósito deste trabalho, portanto, é socializar as experiências formativas vivenciadas pelos alunos do curso de Licenciatura em Letras Vernáculas da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), durante seu processo de formação acadêmico-profissional, especificamente no decurso das disciplinas Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa e Estágio Supervisionado em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, ministradas nos dois semestres finais do curso. Para tanto, tomamos os fundamentos teóricometodológicos da Análise de Discurso de vertente francesa, configurada por Pêcheux (1969; 1975; 1983), na França. Conceitos-chave da AD, tais como Sujeito Discursivo, Posição-sujeito, Formação Ideológica, Formação Discursiva, Interdiscurso e Condições de Produção, além dos estudos de pesquisadores brasileiros situados nessa mesma esteira teórica, são mobilizados com o objetivo central de analisar os efeitos de sentido em funcionamento em textos do gênero acadêmico relatório de estágio, elaborados pelos discentes durante os dois últimos semestres. Por meio dessas materialidades discursivas, investigamos as posições-sujeitos que atravessam o discurso dos professores em formação acerca de questões atinentes ao ensino de língua materna. No caso dos alunos de Metodologia, que realizam estágio na modalidade observação, são elas: a) a concepção de língua e linguagem que orienta o fazer pedagógico do professor cuja prática foi observada, desde a seleção de conteúdos de ensino aos mecanismos de avaliação por ele utilizados; b) a metodologia de trabalho, isto é, o modus operandi das aulas de língua portuguesa; c) as reflexões produzidas pelo estagiário acerca da prática docente observada. Com relação aos alunos de Estágio Supervisionado, que realizam estágio na modalidade regência, as questões são: a) a experiência do estágio, ressaltando sua importância para a formação acadêmico-profissional e pessoal; b) as relações entre a contribuição teórica das disciplinas do curso e a prática da docência vivenciada no Estágio; c) o estágio como uma atividade acadêmica obrigatória do Curso de Letras Vernáculas, situada no final do curso; d) o que o estagiário aprendeu no curso sobre ser professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Os resultados parciais de análise do corpus já apontam a filiação do professor em formação a duas formações discursivas: uma primeira, na qual ele se apoia e fala de um lugar ideológico de reprovação à conduta denominada prática de ensino tradicional, exercida por professores da educação básica, produzindo representações que revestem os docentes de efeitos de culpabilidade pelo modo como organizam seu fazer docente; uma segunda, na qual surgem representações de valorização às teorias da linguagem que tomam o texto como objeto de trabalho da língua materna, lidas nas materialidades como soluções pretensamente capazes, por si mesmas, de otimizar o ensino de língua e literatura. 244 LETRAMENTO ACADÊMICO E ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NO CONTEXTO DA APEP ANÁLISE DA PRÁTICA DO ESTÁGIO 244 Gilcinei Teodoro Carvalho UFMG Maria Zélia Versiani Machado UFMG Este trabalho tem por finalidade analisar alguns gêneros acadêmicos, elaborados e escritos por alunos do curso de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, produzidos em fase de estágio no Ensino Fundamental. As atividades relativas ao estágio iniciam-se com a elaboração de um projeto de ensino e têm como culminância a escrita de artigos e da sua apresentação em seminários. Espera-se, assim, tornar o exercício da docência e a possibilidade de inserção em escola da Educação Básica uma experiência que leve não só à reflexão sobre o ensino de Língua Portuguesa como também sobre o letramento acadêmico desses alunos. Diferentemente do alcance dos relatórios, projetos e artigos conferem à experiência do estágio uma mais acentuada

problematização das práticas escolares de ensino de língua e de literatura, além de favorecer uma mais efetiva circulação dos textos produzidos que não se limita ao âmbito disciplinar. As temáticas escolhidas para o projeto de ensino, os eixos contemplados, as metodologias de ensino adotadas indiciam pressupostos teóricos contemporâneos que se articulam aos discursos oficiais presentes nos documentos que orientam os trabalhos que levantam inúmeras questões relativas à formação de professores. Quais as tendências de ensino de língua portuguesa acumuladas durante a formação em Letras observadas nesses artigos? O que a produção e circulação desses gêneros acadêmicos revela sobre o que se espera da licenciatura? Qual o perfil desses alunos quanto às práticas de letramento acadêmico, que lhes permitem planejar e, após o período de estágio, realizar uma reflexão crítica sobre as práticas observadas no contexto escolar? Estas e outras questões são discutidas neste trabalho que se situa no campo de estudos do letramento acadêmico e da formação de professores e tem como foco a compreensão de questões que permeiam a prática de ensino da leitura, da escrita e da oralidade, em escolas públicas e particulares na região metropolitana de Belo Horizonte. A análise dos textos acadêmicos permite, ainda, a construção de subsídios que favorecem a reflexão sobre a produção de materiais didáticos e sobre a definição de metodologias para a prática docente por alunos dos cursos de Letras. 245 A ORGANIZAÇÃO DA INTERAÇÃO EM UMA AULA DE LEITURA NO CURSO DE LETRAS: A NEGOCIAÇÃO DE SENTIDOS NA CORREÇÃO DE UM EXERCÍCIO Maria da Conceição Azevedo USP A interação em situações de ensino e aprendizagem em ambiente institucional envolve seus participantes professores e alunos em atividades diferenciadas daquelas que se dão em outras interações face a face, o que aponta para algumas particularidades da organização interacional nesse contexto. A presente comunicação traz para discussão um estudo sobre a organização da interação numa aula de leitura voltada à correção de questões de compreensão textual, no contexto de uma disciplina ofertada no Curso de Letras de uma universidade pública federal. Partindo de estudos da interação em situações de sala de aula, bem como de pressupostos bakhtinianos a respeito da natureza interacional e dialógica da linguagem, analisamos os modos como a professora e os alunos, por meio de comportamentos verbais e não verbais, interagem reciprocamente para dar acabamento a uma prática discursiva singular, na qual os sentidos não estão dados, mas vão sendo construídos conjuntamente. A análise demonstra que os sentidos são permanentemente negociados pelos participantes durante as trocas dialogais, em função dos papeis sociais que desempenham no ambiente de ensino formal. Descrições e análises de práticas discursivas em contextos formativos como o de que trata este estudo são potencialmente relevantes para a compreensão dos discursos mobilizados durante o processo de formação de professores, o que pode ser útil para a construção de políticas de qualificação do profissional da área de Letras. GÊNERO DISCURSIVO E AUTORIA: PROCESSOS TRADUTÓRIOS NO JOGO INTERLOCUTIVO DE SALA DE AULA 245 Hadson José Gomes de Sousa UFPA Refletir acerca da interdiscursividade e da intradiscursividade que se configuram no gênero discursivo aula (BAKHTIN 1997) e tomar como objeto de análise as tarefas verbais enunciações produzidas/proferidas nesse espaço como tradução (JAKOBSON 1995; RICOEUR 2011; DERRIDA 2006; BURKE 2009; Et al), re-formulações, objetivações, de discursos outros (do livro didático ou do campo científico etc.), é a motivação desta discussão. Para tanto, deve-se considerar os trâmites e as demandas que motivam as diversas possibilidades de

produção/construção de certas materializações dos enunciados que circulam no cotidiano das aulas, suscitadas por um jogo de representações que o professor tem de si, enquanto suposto saber, do aluno, enquanto sujeito suposto não-saber, e do próprio objeto de ensino (RIBEIRO 2005). Assim, daremos relevo às aulas de língua portuguesa, nomenclatura que abrange a gramática, a literatura e a produção textual, ou seja, ao ensino de língua/linguagem no nível final da escola básica e às reformulações daqueles discursos (MAINGUENEAU 1997; AUTHIER-REVUZ 1998) na passagem a conteúdo de ensino. Nossa atenção se voltará, especificamente, ao trabalho do professor que no processo de tradução, além de negritar a interdiscursividade, o que há de repetível nesse discurso, imprime marcas de singularidade, subjetividade mostrada, que consideramos princípios de autoria (BAKHTIN 1997; FOUCAULT 1971; POSSENTI 2002), enfim. 246 NO CAMPO DA IDENTIDADE: LÍNGUA PORTUGUESA E LÍNGUA MATERNA EM DOCUMENTOS OFICAIS Priscila da Silva Santos USP Neste trabalho propõe-se a análise de documentos oficiais brasileiros que dizem respeito à normatização do ensino de Língua Portuguesa. A opção por estes materiais justifica-se pelo fato de que, cada vez mais, eles são abordados em cursos de formação inicial e, praticamente, são o centro das atenções em cursos de formação continuada. No decorrer da análise, procura-se problematizar a relação Língua Portuguesa/ Língua Materna no âmbito de três instâncias interdiscursivas (oficial, acadêmica e pedagógica), a fim de verificar de que modo se constitui o objeto de ensino da disciplina escolar comumente denominada Português. Para tanto, será feita uma breve descrição do contexto histórico-linguístico do período colonial, com especial atenção para as reformas pombalinas da segunda metade do século XVIII, dado que a partir delas começa a se delinear uma política de ensino propriamente dita do ponto de vista da estruturação de um currículo. Em seguida, discutiremos a reforma curricular realizada a partir da interpretação da LDB 5692/71 e das resoluções e pareceres que deram suporte a esta lei. No que diz respeito à década de 1980, analisaremos as Diretrizes para o ensino/aprendizagem de Língua Portuguesa e, finalmente, discutiremos os pressupostos presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa. Ao longo deste percurso histórico realizado através da análise de documentos, objetivase sustentar a hipótese de que o ensino de Língua Portuguesa e o de Língua Materna não coincidem no âmbito do ensino, visto que tais concepções de língua advêm de diferentes formações discursivas e estabelecem entre si uma relação de interincompreensão. A mobilização dos conceitos de formação discursiva (Foucault, 1969), de interdiscurso e de interincompreensão (Mainguenau, 1984) será feita através do estabelecimento de um diálogo entre os autores para que seja possível localizar as divergências e convergências teóricas existentes entre eles. Desse modo, espera-se que o instrumental teórico oferecido pela Análise do Discurso se relacione organicamente com o material analisado. O LUGAR DOS SABERES LINGUÍSTICOS EM PROPOSTAS CURRICULARES PARA O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL 246 Emerson de Pietri FE-USP Neste trabalho, apresentam-se resultados de investigação (apoiada pelo CNPq) sobre as relações estabelecidas entre instâncias acadêmicas responsáveis pelo trabalho de produção de conhecimentos sobre linguagem, e instâncias oficiais que se responsabilizam pela apropriação e circulação desses conhecimentos com objetivos pedagógicos. Trabalha-se com a hipótese de que na segunda metade da década de 70 do século XX compõe-se uma nova ordem de relações entre instâncias sociais que

tomam sob sua responsabilidade o ensino de língua portuguesa no Brasil. Considerando-se os modos de constituição dos objetos de ensino em propostas pedagógicas oficiais e sua relação com o desenvolvimento de pesquisas acadêmicas sobre linguagem, observa-se que os saberes sobre linguagem produzidos pelos estudos linguísticos ocupam, nesse processo, diferentes lugares ao longo das três últimas décadas do século XX e anos iniciais do século XXI. Caracterizam-se três momentos distintos no período em análise: um momento de emergência, em que saberes linguísticos modernos concorreram com saberes tradicionais sobre linguagem para o estabelecimento de diretrizes para o ensino de português na escola; um momento de consolidação, em que saberes produzidos pela Linguística fundamentaram a elaboração de propostas curriculares para o ensino de língua materna; um momento de deslocamentos e redefinições, em que os saberes linguísticos respondem a perspectivas antropológicas ou sociológicas, dominantes no discurso sobre ensino de língua portuguesa. Faz-se necessário, portanto, discutir o que representou, do ponto de vista acadêmico, social e político, a reconfiguração do campo em que se constitui a língua portuguesa em objeto de ensino, em que os saberes linguísticos se movimentam em direção a um lugar de centralidade, para, num momento posterior, preencherem funções enunciativas dependentes de campos do saber que não o dos estudos da linguagem. O recorte do corpus e a análise dos dados foram realizados segundo perspectiva discursiva de linha francesa. A opção por esta perspectiva teórica se justifica na medida em que a investigação dos processos de constituição dos objetos de pesquisa e ensino se fundamentou na análise das relações entre o discurso acadêmico, o discurso oficial e o discurso pedagógico. 247 EXAME VESTIBULAR: EFEITOS DE COERÊNCIA E CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM NO MANUAL DO CANDIDATO 247 Rita de Cássia Antonia Nespoli Ramos USP Desde o início do século XX, o vestibular constitui-se por uma função que com o passar do tempo naturalizou-se e imbricou-se na sociedade e no ambiente escolar: é eleito como um mecanismo que seleciona os mais aptos a ingressarem nas universidades. Tal papel é legitimado por um conjunto de leis que não permite o ingresso no ensino superior, pelo menos nas universidades estaduais paulistas, por outros meios. Esse exame se confunde com uma instituição que geralmente é encarregada de divulgar e aplicar as provas e com uma universidade a qual o evento representa. Para a seleção de candidatos, um dos dispositivos do vestibular é apresentar um material intitulado manual do candidato, no qual há o estabelecimento das regras que compõem o exame e que visam oficializar um conjunto de práticas que regulam os saberes e os comportamentos exigidos para aqueles que querem ingressar no ensino superior. Inseridos nos manuais, estão os programas das disciplinas, os quais informam aos candidatos os conteúdos exigidos em relação a cada área de conhecimento. Outra característica desse material é sua ampla circulação entre os alunos, professores e toda uma sociedade que volta os olhos para esse exame. Diante desse contexto, selecionamos como corpus trinta e quatro programas de português e de redação disponibilizados anualmente pela Fundação Universitária para o Vestibular, a FUVEST, no período de 1976 a 2012. Nosso objetivo é analisar como os documentos da FUVEST aliam certas concepções do campo da linguagem com seu papel institucional de elaborada, aplicadora e avaliadora do exame vestibular. Nossa hipótese é que as concepções do campo da linguagem mobilizadas nos programas de português e de redação filiam-se a Formações Discursivas que se rejeitam: de um lado, uma perspectiva que considera a língua como um sistema teórico e por isso enfatiza a gramática teóriconormativa; por outro, uma concepção que enfatiza a interação verbal e por isso pressupõe os diferentes sentidos das palavras conforme os contextos de uso da linguagem. Como essas concepções não se conciliam - uma prova disso são as listas hierarquizadas de termos gramaticais e linguísticos apresentadas nos trinta e quatro programas, independentemente da concepção de linguagem por eles descrita - prevalece um viés teórico nos enunciados, nos quais o uso da

linguagem só é possível pelo domínio teórico do sistema. Esse é o pressuposto teórico que irá determinar o que é língua, texto e escrita, nos programas de português e de redação. Para sustentar nossas análises, buscamos analisar e descrever o corpus por meio das regularidades enunciativas e por isso nos respaldamos nos estudos de Foucault. Além disso, temos a perspectiva da Análise do Discurso de procedência Francesa, mais especificamente nos postulados de Maingueneau sobre interdiscurso, por meio dessa instância, compreenderemos os enunciados dos programas com um espaço discursivo em que há a interimcompreensão dos discursos postos em concorrência. 248 O LUGAR DOS CONHECIMENTOS LINGUÍSTICOS E A REESTRUTURAÇÃO CURRICULAR DO CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS Lilian P. Palácio USP O objetivo dessa pesquisa, que está em andamento, é observar como os princípios de normatização interna aos próprios processos de sistematização de fatos linguísticos produzem efeitos na estruturação curricular, em um curso de Licenciatura em Letras de uma universidade pública. Considerando que o processo de constituição da língua em objeto de práticas prescritivas ou mesmo descritivo-analíticas produz efeitos sobre os modos de estruturação curricular em cursos de Licenciatura em Letras, pretendo observar ainda de que modo a(s) concepção(es) sobre currículo que fundamenta(m) o Projeto Político Pedagógico do curso dialoga(m) com os princípios que normatizam e orientam a estruturação curricular. Dadas as concepções que fundamentam um curso para formação de professores de língua portuguesa, os conhecimentos linguísticos tratados em um currículo de Letras podem revelar qual(is) concepção(es) de linguagem orienta(m) o curso. Entretanto, devido às transformações históricas, políticas e culturais, os valores dos saberes linguísticos são sempre redefinidos a cada momento em que são produzidas novas perspectivas sobre linguagem. Essas transformações não desconsideram o passado, pelo contrário, elas ordenam, selecionam, planejam e projetam o futuro. Porém, mesmo diante dos vários entendimentos sobre linguagem, é possível perceber que nos processos que descrevem os fatos linguísticos, há um princípio normativo, já inscrito nesses processos no momento em que se elege uma concepção de língua em detrimento de outra, que atua sobre as representações que se constroem sobre a linguagem. Nesse entendimento, a hipótese que apresento é a de que no processo de constituição da linguagem em objeto de práticas descritivas ou prescritivas, há um princípio de normatização, o qual produz efeito sobre o processo de estruturação curricular em cursos de Licenciatura em Letras. Outra arena de discussão diz respeito, nesse trabalho, ao discurso oficial, ao discurso pedagógico e ao discurso acadêmico, presentes no Projeto Político Pedagógico, que sistematiza o curso. Esses discursos são, por natureza, heterogêneos, pois as suas condições de produção partem de campos discursivos diferentes, i.e., o Estado que trata das normas, o pedagógico que trata de questões de ensino e o acadêmico que produz conhecimentos. Tudo isso remete a algo que pode e deve ser dito num determinado contexto em uma conjuntura dada e, por conseguinte, pode se contrapor ou se complementar. Para observar como os princípios de normatização interna aos próprios processos de sistematização de fatos linguísticos produzem efeitos na estruturação curricular, pretendo realizar um trabalho de análise documental com base nas leis oficiais publicadas pelo Estado, sobre reestruturação curricular no ensino superior, e no Projeto Político Pedagógico de um curso de Licenciatura em Letras de uma universidade pública. As perspectivas teóricas que embasam esta pesquisa fundamentam-se na Análise do Discurso de vertente francesa, por fornecer subsídios que explicam como o discurso é constituído em suas várias manifestações. 248

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE LITERATURA: ANÁLISE DOS CURSOS DE LETRAS DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS FEDERAIS DE MINAS GERAIS 249 Micheline Madureira Lage IFG-Goiânia Esta comunicação busca compartilhar os resultados da pesquisa intitulada Ensino, Literatura e Formação de Professores na Educação Superior: retratos e retalhos da realidade mineira cujo corpus de análise abarcou sete universidades federais. Os objetivos que nortearam o trabalho foram: refletir a respeito da situação dos cursos de Letras/licenciatura, em Minas Gerais, contextualizandoos no quadro político, social e educacional brasileiro, tendo como objeto o estudo dos direcionamentos do ensino de Literatura nas faculdades federais de Letras (licenciaturas) e suas relações com as demandas provenientes da Educação Básica. Para a realização da análise empregou-se as abordagens qualitativa e quantitativa. Os resultados apontaram uma relação estreita e complexa entre universidade/literatura/sociedade. Cidades como Belo Horizonte e Juiz de Fora onde há predominância de uma cultura metropolitana apresentaram cursos de Letras em que a formação do professor de Literatura ocorre em um ambiente de pouco diálogo com a comunidade na qual estão inseridos, bem como com a realidade da Educação Básica. O mesmo se deu em Ouro Preto, talvez em decorrência de sua proximidade geográfica com a capital mineira. O lugar que a literatura ocupa em tais cursos carrega consigo um traço de distinção. Os cursos de Letras localizados em cidades interioranas voltam-se mais para questões ligadas ao ensino e há uma preocupação maior com a formação do professor de Literatura. Observou-se também que, em tais cidades, a comunidade acadêmica está mais próxima da população. A análise dos dados também apontou uma fragilidade maior no repertório cultural dos alunos do interior e, nesse contexto, a literatura apresenta maior possibilidade de ser didatizada. Embora tenham sido registradas ricas experiências literárias em todas as faculdades de Letras, nota-se que a universidade, como expressão da sociedade atual pragmática, utilitarista corre o risco de deslocar a literatura para dois eixos: o da distinção e o da pedagogização. Algumas instituições já apontam para um diálogo entre literatura e educação, evidenciando que uma alternativa de renovação e de ultrapassagem da dicotomia distinção/pedagogização da literatura é possível. LETRAMENTO, GÊNERO E REPRESENTAÇÕES NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES A DISTÂNCIA 249 Adilson Ribeiro de Oliveira IFMG-Ouro Preto Nos últimos anos, vem-se notando uma crescente preocupação de pesquisadores e professores com a escrita universitária bem como com a inserção dos estudantes nos modos de produção, leitura e circulação de textos ditos da esfera acadêmica (resumos, resenhas, relatórios, artigos, entre outros). Nesse quadro, a partir de discussões advindas do campo dos novos estudos do letramento e suas relações com gêneros da esfera universitária, este trabalho objetiva uma reflexão sobre a escrita (e seus processos) no ensino superior, mais especificamente na formação de professores na modalidade EaD (Educação a Distância). Tendo como objeto de estudo produções escritas de estudantes de um curso de Pedagogia, pretende-se discutir, de um ponto de vista enunciativodiscursivo, as representações que são atualizadas na configuração de relatos de experiência, os quais culminaram na produção do gênero artigo científico. Assim, o estudo focaliza a textualização escrita, de modo a flagrar tanto as práticas quanto os discursos e as representações que circundam os gêneros acadêmicos e sua relação com a formação docente. Deseja-se, ao fim, que as reflexões a serem apresentadas suscitem questões de interesse tanto para o ensino quanto para a pesquisa que possam contribuir para o entendimento do objeto de estudo; desse modo, problematizando propostas para o ensino do gênero na formação universitária e suas implicações na especificidade da formação de professores na modalidade EaD.

ESCREVER NA ESCOLA... POR QUÊ? A APROXIMAÇÃO DE PRÁTICAS DE ESCRITA SIGNIFICATIVA 250 Célia Regina Fialho Bortolozo UNICAMP Heloísa A. Matos Lins UNICAMP A pesquisa-ação aqui apresentada, em andamento, vincula-se ao grupo de pesquisa ALLE - Alfabetização, Leitura e Escrita, da FE/Unicamp e tem como objetivo propor alternativas pedagógicas às práticas de alfabetização e letramento que vêm sendo desenvolvidas por uma professora da EMEF Ruth Garrido Roque, de Santa Bárbara d Oeste, a partir de objetos de aprendizagem também relativos às novas tecnologias da informação e comunicação (TICs), em que o foco de análise será direcionado aos processos de apropriação da língua escrita pelas crianças dessa professora. Para tanto, faz-se necessário pensar juntamente com o corpo docente da escola sobre a concepção de escrita na perspectiva sócio-histórica, valorizando o contexto cultural tecnológico de produção. Esse grupo de professores vem conseguindo desenvolver um trabalho coletivo e reflexivo muito pertinente e demonstra muito empenho em promover uma aprendizagem significativa para os alunos, de modo especial das habilidades de leitura e escrita, que aparecem como maiores desafios. Nele encontra-se a professora (X), que durante o desenrolar da pesquisa vem destacando-se por transformar diariamente sua prática, interagir muito bem com o grupo, valorizar a troca de saberes e agir com seus alunos de modo muito coerente com as reflexões tecidas no grupo. Por isso, o levantamento de propostas pedagógicas de alfabetização e letramento, bem como as respostas às reflexões e intervenções feitas durante essa pesquisa-ação, vem acontecendo especificamente em sua sala de aula. Acredita-se que esse movimento de reflexão e ação pode aproximar, não só os alunos como também os professores, de práticas de alfabetização e letramento capazes de garantir a aprendizagem dos usos e das formas da escrita. O DISCURSO DO ACADÊMICO E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA Cláudio Luiz Abreu Fonseca UFPA/UFMT O discurso do acadêmico do Curso de Letras da UFPA é o foco desta pesquisa que busca investigar os posicionamentos e as imagens que os sujeitos constroem sobre si mesmos, como alunos e futuros professores de Língua Portuguesa e sobre a política científico-educacional do Curso. Postula-se que há um discurso que vem se disseminando na contemporaneidade e que vem afetando uma série de outros discursos, como os das ciências e da educação, pertencentes a diferentes esferas sociais. Trata-se do discurso da mudança, cujos signos parecem estar permeando diferentes discursos, procurando conformá-los a valores da pós-modernidade. Em virtude disso, procura-se compreender em que medida o Curso, sua proposta político-pedagógica, seu desenho curricular, seus sujeitos, se coadunam com o discurso da mudança, por meio do qual superariam a crise no ensino de língua materna. 250

251 SIMPÓSIO 22 O NOME PRÓPRIO EM FOCO: ESTUDOS ONOMÁSTICO- TOPONÍMICOS Os estudos na área da Onomástica ocupam-se da análise dos nomes próprios de pessoas (Antroponímia) e de lugares (Toponímia). A Toponímia como estudo do nome próprio em função de topônimo (nome de lugar) representa uma face particular do léxico da língua, haja vista que o topônimo, além de incorporar as características inerentes aos nomes próprios, configura-se como um signo com características muito próprias em termos de motivação, haja vista que as causas denominativas que dão origem a um novo nome de lugar são as mais diversas e normalmente estão relacionadas a motivações pessoais e grupais. Este simpósio pretende reunir trabalhos na área dos estudos onomásticos, em especial os de natureza toponímica, de maneira a oportunizar a disseminação e a discussão de resultados de pesquisas toponímicas e, por extensão, funcionar como um fórum de discussões sobre questões que afetam essa área de investigação, como o problema da motivação toponímica, a estrutura do sintagma toponímico, a dimensão etnodialetológica dos topônimos, a relação entre toponímia e meio ambiente, a função do topônimo como elemento veiculador de ideologias e como reflexo de contatos interétnicos, como também, as interfaces entre toponímia e outras áreas de investigação. COORDENAÇÃO Aparecida Negri Isquerdo Universidade Federal de Mato Grosso do Sul aparecida.isquerdo@gmail.com Maria Cândida Trindade Costa de Seabra Universidade Federal de Minas Gerais candidaseabra@gmail.com 251

252 A HISTÓRIA TOPONÍMICA DE CATALÃO E SEUS DISTRITOS: MEMÓRIA E IDENTIDADE Gisele Martins Siqueira UFG O objetivo desse artigo é evidenciar de forma breve a história toponímica de Catalão-Go e seus distritos numa busca pela memória registrada em livros e documentos para resgatar a identidade do povo que se constituiu como sujeitos nessas localidades. Buscaremos entender as motivações que levaram a tais nomeações e os porquês de suas designações. O princípio mais geral da toponímia afirma que os nomes dos lugares guardam alguma relação com sua ocupação original ou seu processo de povoamento. Assim, é a partir dessa concepção que vamos estudar a origem do nome da cidade de Catalão e seus distritos. No entanto, para tal estudo, nos basearemos nos recursos da filologia, linguística e história, a fim de chegar aos porquês das verdadeiras denominações das localidades em estudo e as motivações para tais designações, já que devemos considerar que o ato de nomear está sempre ligado a uma motivação específica, seja ela linguística, histórica, política ou social. Para a realização deste trabalho, nos basearemos na metodologia de estudo utilizada por Braz (1985) e Fonseca (1997). Sabemos que a toponímia apresenta-se de elevada importância para o estudo e conhecimento da história local. Dessa forma, os nomes das ruas testemunham a história das cidades, das vilas e aldeias. Pois ficaram registadas nas crônicas, romances, roteiros, tradições e lendas. É necessário, portanto, promover a elaboração de inventários da atualidade toponímica e da que entrou em desuso ou foi substituída, justificando as razões da sua mudança ou esquecimento. Esses estudos contribuirão para conhecer melhor a história local do nosso país, como a identificação de lugares e de sítios. Além desses objetivos, este estudo não se limita apenas na descrição dos nomes dos lugares, porque as propriedades e ruas, também, têm o seu próprio nome e a designação desses lugares ou vias de comunicação refletem os valores culturais das populações, perpetuando a importância histórica de fatos, pessoas, costumes, eventos e locais. ASPECTOS TOPONÍMICOS DO MUNICÍPIO DE ITAQUI: O CASO DOS NOMES DAS RUAS 252 Odair José Silva dos Santos UCS Giselle Olivia Mantovani Dal Corno UCS Partindo da premissa que todo sujeito enquanto ser social busca estar vinculado a uma cultura, apresentando marcas que o identificam como pertencente a um grupo e diferente de outro, os nomes próprios atribuídos a lugares ganham aspectos construídos culturalmente de acordo com o contexto social. A partir das ideias de Dick (2001), pode-se inferir que os lugares, à medida que recebem suas denominações, concretizam simbolicamente características culturais e ideológicas. Assim, os estudos toponímicos vêm contribuir no levantamento e análise de dados que refletem os múltiplos aspectos sociais e culturais que condicionam a nomeação de lugares, sejam eles cidades, bairros, ruas ou cursos d'água. O texto aqui proposto tem o objetivo de analisar o caso da nomeação dos logradouros do município de Itaqui, localizado na fronteira oeste do Rio Grande do Sul, às margens do rio Uruguai, divisa entre Brasil e Argentina. É considerado o portal do Rio Grande, nasceu sobre as marcas da missão de jesuítas espanhóis e foi emancipado em 1879. A motivação para a escolha do município e dos respectivos topônimos dá-se a partir da construção histórico-social, onde é possível encontrar a maioria dos nomes de logradouros atribuídos a personalidades do cenário local e nacional (antropotopônimos), ainda se visualiza que outra grande parte faz menção a nomes de outros lugares. Neste contexto, a pesquisa utiliza as ideias do campo da onomástica e do discurso, à medida que se entende que a nomeação da perspectiva toponômica é dada a partir de uma influência sócio-ideológico-discursiva; ocupa-se, assim, dos construtos de estudiosos como Brito (2003), Dick (1992; 2001) e Orlandi (2005). Os dados são analisados e classificados de

acordo com o modelo taxionômico adaptado por Dick (1992) para a toponímia brasileira. Pretendese, assim, refletir sobre a relação existente entre língua, cultura e sociedade e contribuir para as discussões em torno das construções no campo da onomástica e, mais especificamente, no da toponímia. 253 A TOPONÍMIA URBANA EM CAMPO GRANDE/MS: ALGUMAS TENDÊNCIAS 253 Letícia Alves Correa de Oliveira UFMS O léxico registra todo o conhecimento existente no universo, já que não é possível nomear um objeto ou transmitir uma ideia sem fazer uso do repertório vocabular disponível na língua. O processo de nomeação dos elementos geográficos, por exemplo, gerou a categoria dos nomes de lugares (topônimos), que é objeto de investigação de uma área da Onomástica, ciência que se ocupa do estudo dos nomes próprios de pessoas e de lugares. Assim, enquanto a Antroponímia estuda os nomes de pessoas, a Toponímia ocupa-se dos nomes de lugares (elementos geográficos) rurais e urbanos. A toponímia urbana, por exemplo, reúne os nomes de aglomerados humanos (municípios, distritos, vilas, aldeias etc) e de logradouros públicos (bairros, ruas, avenidas, praças, travessas, becos, pontes etc). Este trabalho atém-se à análise de nomes de ruas e de avenidas, elementos geográficos urbanos que, de acordo com Dick (1996, p.133), representam um um ponto singular de atração da cidade, um verdadeiro microcosmo dentro do organismo maior do aglomerado urbano. As tendências da toponímia urbana são inúmeras, dentre outras: i) a nomeação de ruas e avenidas com nomes, prenomes e apelidos de famílias, como atestou o estudo de Oliveira e Isquerdo (2012) acerca da toponímia do Bairro Amambaí (Campo Grande/MS), que dentre 56 topônimos, identificou 22 antropotopônimos topônimos relativos a nomes próprios individuais (rua Alexandre Farah, avenida Fernando Correa da Costa, avenida Joaquim Dornelas etc); ii) designação de logradouros com nomes vinculados à determinadas áreas semânticas, como ocorre na capital Campo Grande que possui bairros que apontam algumas particularidades relacionadas à toponímia urbana, como o bairro Autonomista, cujas ruas são nomeadas com nomes de mulheres (rua Marlene, rua Cláudia, rua Luciana, rua Santa Bárbara etc.); o bairro Pioneiros, que reúne ruas com nomes de autoridades e personalidades históricas (rua Barão de Campinas, rua Barão de Limeira, rua Baronesa de Itu, rua Joana Darc etc.); o bairro Carlota, que resgata nomes de moedas para nomear as ruas (rua Dólar, rua Libra, rua do Cruzeiro, rua do Franco etc.); o bairro Jockey Club, cujas ruas recebem nomes de flores (rua das Rosas, avenida das Primaveras, rua das Violetas, rua das Margaridas etc.). Esses exemplos ilustram algumas características da toponímia urbana no município de Campo Grande, uma cidade planejada que teve o início da sua urbanização em meio à vegetação existente próxima aos córregos Prosa e Segredo no final do século XIX. Este estudo parte do exame de dados da toponímia urbana de Campo Grande/MS, relacionando-os a resultados de outros estudos sobre esse viés da toponímia, como o de Dick (1996) e de Antunes (2007), sobre a toponímia urbana de São Paulo/SP, e de Filgueiras (2011), que analisou a influência italiana na toponímia urbana de Belo Horizonte/MG, e tem os seguintes propósitos: i) analisar a motivação dos topônimos catalogados e sua respectiva relação com aspectos da história social dos bairros e, por extensão, das cidades que os abriga; ii) comparar os dados das diferentes fontes em busca de similaridades e diferenças evidenciadas pela toponímia urbana das três capitais contempladas pelos trabalhos consultados; iii) verificar em que proporção os diferentes recortes de nomes de logradouros apontam para padrões toponímicos urbanos. Para tanto, os dados são analisados em termos quantitativo e qualitativo. Para tanto, considerará o tratamento estatístico dos dados, expressos em tabelas, gráficos acerca dos vários aspectos analisados (língua de origem, classificação taxionômica, estrutura morfológica etc...) e a análise da motivação semântica subjacente aos designativos e a possível relação entre as camadas toponímicas e a história social do município. O estudo orientou-se pelos princípios teórico-metodológicos da Lexicologia e da Toponímia, em especial o modelo concebido por Dick (1990; 1992; 1996, 2006).

254 OS BAIRROS DA CIDADE DE BENTO GONÇALVES (RS): MOTIVAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO TOPONÍMICA Bruno Misturini UCS O presente trabalho visa a apresentar os resultados ainda que parciais a respeito de uma investigação sobre a motivação e a classificação dos nomes dos bairros da cidade de Bento Gonçalves, localizada na Região de Colonização Italiana do Nordeste do Rio Grande do Sul. Os dados apresentados são um recorte de minha participação como bolsista de iniciação científica no projeto TOPACI (Toponímia da Antiga Colônia I), iniciado em 2010, e de estudos mais recentes voltados à produção de minha dissertação de Mestrado. Em A toponímia de Bento Gonçalves: um estudo interdisciplinar sobre as ruas e os bairros da cidade e outras denominações, desenvolvo uma pesquisa acerca de alguns topônimos do referido município. O corpus do presente trabalho foi levantado a partir de uma coleta de dados realizada em fontes oficiais do município, e consiste em quarenta e seis denominações, referentes a todos os bairros de Bento Gonçalves, decretadas por quatro leis diferentes, que foram criadas para acompanhar o crescimento da cidade. Devido ao fato de as leis não carregarem consigo nenhum indício sobre o porquê de tais nomes terem sido escolhidos ou até mesmo sobre suas interpretações, foram realizadas algumas entrevistas, através de um questionário semiestruturado, com alguns moradores das áreas estudadas, e também uma revisão bibliográfica, para uma melhor compreensão de tais nomes. Como a proposta desse trabalho bem como do Programa de Pós-Graduação no qual o mesmo se insere é interdisciplinar, buscarei levar em conta não apenas aspectos linguísticos no que diz respeito à análise de tais topônimos, considerando também o contexto histórico-cultural em estão inseridos. Parte-se do pressuposto de que uma análise puramente linguística não seria suficiente para revelar aspectos culturais presentes em tais denominações. A partir disso, os topônimos serão classificados de acordo com a taxonomia proposta por Dick (1990). Alguns resultados permitem verificar que a maior parte das denominações dos bairros da cidade faz referência a nomes de santos (hagiotopônimos). Há, também, nomes referentes ao trabalho e ao lazer (sociotopônimos), à história (historiotopônimos), à mineração (litotopônimo), a topônimos já existentes (corotopônimos), entre outros. Há, também, nomenclaturas opacas e transparentes, bem como nomes populares paralelos. Por fim, destaca-se que tal estudo acerca desse município, juntamente com os demais já realizados sobre outros, contribuiria para a construção de um futuro Atlas Toponímico do Estado do Rio Grande do Sul. ESTUDO ONOMASIOLÓGICO: ITALIANOS EM BELO HORIZONTE 254 Zuleide Ferreira Filgueiras POSLIN/UFMG Esta comunicação tem como objetivo apresentar alguns resultados da pesquisa de doutorado, que ora desenvolvemos no Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da Faculdade de Letras da UFMG, sobre os nomes próprios de pessoas de origem italiana que migraram para a cidade de Belo Horizonte / MG, no final do Século XIX e primeiras décadas do Século XX. Tal pesquisa tem como proposta dar continuidade ao estudo toponímico desenvolvido na dissertação de mestrado A presença italiana em nomes de ruas de Belo Horizonte: passado e presente, que arrolou 183 nomes de logradouros públicos, da capital mineira, denominados por antropônimos italianos. Durante a realização da pesquisa de mestrado, constatamos que muitos italianos, com ativa participação na história de Belo Horizonte, não tiveram seus nomes perpetuados na toponímia urbana da cidade. Entretanto, observamos que a lembrança dessas pessoas continuava viva na memória de seus descendentes e registrada em documentos antigos, muitos sob a tutela de suas famílias e outros tantos arquivados em museus e arquivos públicos da cidade, além dos que se encontravam registrados no mais antigo cemitério do município. Considerando tal lacuna, a atual

pesquisa tem como pretensão ampliar o corpus, examinado na pesquisa de mestrado, por meio da inclusão de mais 900 antropônimos italianos que ficaram relegados ao esquecimento coletivo, apesar de muito terem realizado pela cidade. Assim, traremos à luz centenas de nomes próprios de pessoas italianas, que viveram em Belo Horizonte em suas primeiras décadas de existência, resgatados em arquivos históricos, em depoimentos e documentos de familiares e no Livro de Registro de Sepultamento do Cemitério do Bonfim. Com os dados conseguidos, além do tratamento linguístico, pretendemos elaborar um repertório biográfico que, ao contar a história pessoal de cada personalidade arrolada, resgatará elementos significativos de um passado pouco conhecido, e praticamente sem registros oficiais, que definiram a Belo Horizonte que conhecemos hoje. 255 AS REGIÕES ADMINISTRATIVAS DE CAXIAS DO SUL: UM ESTUDO ONOMÁSTICO Vitalina Maria Frosi UCS Este estudo é parte do Projeto Antroponímia/Toponímia da Região de Colonização Italiana do nordeste do Rio Grande do Sul (RCI) em execução na Universidade de Caxias do Sul (UCS). Constitui-se num dos projetos de pesquisa do Mestrado em Letras, Cultura e Regionalidade. A pesquisa tem como tema o estudo dos nomes das quatro regiões administrativas em que se divide o município. O objetivo principal é o de fazer a descrição etimológica e a análise dos aspectos interdisciplinares envolvidos na história desses signos onomásticos, originados no contexto bilíngue, cultural e histórico-político da RCI. A categorização desses nomes próprios segue a taxionomia proposta por Dick (1992), adaptada à realidade brasileira e seguida, em sentido amplo, pelos estudiosos de toponomástica do Brasil. Servem de apoio os princípios teóricos de Dauzat, 1946; os estudos de Rossebastiano; Papa, 2005; Caffarelli; Marcato, 2008; Queirazza et al., 2006; Dick (1980, 1990, 1998, 1999); Oliveira; Isquerdo, 2001; Seabra, 2007; Guérios, 1973; Andrade, 2010. A pesquisa é documental, seu desenvolvimento tem caráter qualitativo e aborda os denominativos oficiais; eventualmente, consideram-se também nomes populares de atribuição espontânea. A RCI é formada atualmente por 55 municípios, dentre eles, destaca-se Caxias do Sul, um centro detentor de um parque industrial de expressão no estado e no país. É uma cidade fundada por imigrantes italianos em 1875 e, de acordo com o último recenseamento do IBGE, de 2010, possui uma população de 435.564 habitantes. Procuraram-se respostas a questões relacionadas à importância do estudo dos logradouros do maior centro urbano da RCI e investigou-se a motivação presente no ato denominativo. O tema foi considerado relevante, em particular, no que diz respeito à produção de conhecimento novo e à sua socialização na comunidade como um todo. Além disso, os resultados mostram sua importância na formação dos cidadãos, especificamente, no âmbito da educação formal, como acréscimo de conhecimento em áreas interdisciplinares. OS NOMES DAS ESCOLAS DA CIDADE DE BENTO GONÇALVES (RS) 255 Elis Viviana Dal Pizzol UCS Carmen Maria Faggion UCS A linguagem comunica, expressa, transmite valores e ordena o pensamento dos indivíduos de uma comunidade. Nomear coisas, animais, pessoas, lugares é para o homem uma necessidade de organização. Dessa forma, a atribuição de uma determinada denominação pode refletir e propagar aspectos linguísticos, culturais e históricos de uma sociedade acerca das sucessivas gerações ao longo do tempo. Nesse sentido, a Toponímia compreende o estudo dos nomes de lugares, buscando desvendar a origem e as transformações linguísticas dessas denominações. O resgate das origens do nome de um lugar não só contribui para o reconhecimento no item lexical presente no topônimo, mas também para o reconhecimento dos valores culturais que ele preserva. Sob essa perspectiva,

pretende-se apresentar, nessa comunicação, alguns dados parciais obtidos através da pesquisa para a dissertação de Mestrado, que está sendo desenvolvida, sobre a origem dos nomes das escolas públicas e particulares, de Ensino Fundamental e Médio, da cidade de Bento Gonçalves (RS). Temse como objetivo investigar a origem linguística e a importância histórica e cultural desses topônimos. Justamente por ser a escola uma instituição detentora e promovedora de conhecimento, sua construção, seu espaço, sua organização e seu nome carregam as vivências e a cultura de uma comunidade. Assim, a pesquisa será feita a partir do levantamento dos nomes das escolas, do estudo de fontes documentais e históricas, e, quando necessário, da realização de entrevistas. De posse dos dados, será feita a análise qualitativa dessas informações. O embasamento teórico sustenta-se por meio dos estudos de Dick, Biderman, Seabra, Isquerdo, Duranti, Hall, Geertz, entre outros. Dessa forma, pretende-se contribuir com a ampliação das pesquisas de Toponímia, particularmente, na Região de Colonização Italiana do Nordeste do Rio Grande do Sul. 256 A TOPONÍMIA E SUA INTERFACE COM FATORES SÓCIO-HISTÓRICOS: UMA REFLEXÃO SOBRE O NOME DO MUNICÍPIO Marigilda Antônio Cuba UEL/CAPES A Onomástica, ciência que estuda os nomes próprios de todos os gêneros, é subdividida em dois ramos de investigação: a Antroponímia estudo de nomes próprios de pessoas e a Toponímia estudo do nome próprio dos lugares. Esta última possui uma dimensão interdisciplinar, o que permite ao estudioso considerar no estudo dos topônimos, além das informações linguísticas, dados históricos, geográficos, antropológicos e sociológicos relacionados ao universo dos nomes em estudo. Embasado, pois, nos fundamentos teórico-metodológicos da Toponímia, este trabalho discute as características toponímicas evidenciadas nos nomes dos municípios que compõem a rede de pontos do Atlas Linguístico das Variedades do Português Falado no território incaracterístico (Nascentes, 1922) ALiTI, em desenvolvimento como projeto de tese de doutorado, que tem como objetivo mais amplo registrar, por meio de um atlas linguístico, a língua portuguesa falada no território considerado incaracterístico por Antenor Nascentes (1922), na sua proposta de divisão dialetal do português brasileiro. Dada a natureza da área investigada, o critério histórico foi fundamental para definir as localidades que compõem a rede de pontos, já que, até meados do século XX, a área compreendida entre a fronteira boliviana com Mato Grosso e deste com Amazonas, Pará e o então Estado de Goiás era habitada somente por ameríndios e formada por mata fechada, fatores que motivaram Nascentes a considerá-lo como território incaracterístico, em termos de variação dialetal do português. Essa região, correspondente, atualmente, ao norte de Mato Grosso, ao Estado de Rondônia, ao Noroeste de Goiás e ao Sudoeste do Tocantins teve seu processo populacional, primeiramente, a partir das expedições vindas de outras regiões do Brasil e de Portugal, em sua grande maioria, via rede hidrográfica, com o objetivo de escravizar índios, ocupar terras, explorar as minas de ouro e pedras preciosas. Posteriormente, com o garimpo em decadência, surgiram as rodovias e com elas as novas fronteiras agrícolas, fazendo com que levas de migrantes de todos os lugares do Brasil se instalassem na região. Consideram-se, também, nesse período, a divisão dos Estados de Goiás e de Mato Grosso e a transformação do Território de Rondônia a Estado. Com base nesse contexto, este trabalho centra-se no estudo toponímico dos nomes dos seguintes municípios que compõem a rede de pontos do projeto ALiTI: Aripuanã, Diamantino, Guarantã do Norte, Juara, Luciara, Nova Xavantina e Sinop (Mato Grosso); Guajará- Mirim e Ji-Paraná (Rondônia); Formoso do Araguaia (Tocantins); Pilar de Goiás (Goiás). Visto que os fatores da história, da política, da língua e a cultura de uma localidade influenciam na escolha dos nomes dos lugares, o objetivo deste trabalho é investigar fatores sócio-linguístico-culturais que motivaram a nomeação das localidades da área geográfica investigada, além de examinar o topônimo como signo linguístico, em termos etnodialetológico e estrutural. Este trabalho também 256

pretende contribuir para a ampliação dos estudos toponímicos em áreas do Norte e do Centro-Oeste brasileiro, uma vez que tem como objeto de estudo nomes de municípios dessas regiões. 257 TOPONÍMIA E DIALETOLOGIA: DA OCUPAÇÃO DO ESPAÇO À VARIAÇÃO DO PORTUGUÊS GAÚCHO FALADO EM ÁREAS DECONTATO INTERVARIETAL EM MATO GROSSO Carla Regina de Souza Figueiredo UEMS/UFGD-PG A história do Brasil está vinculada aos processos migratórios e, consequentemente, aos contatos linguístico-sócio-culturais daqueles que.vão e vem. com os que se encontram no lugar eleito para se viver. Este trabalho apresentará resultados parciais da pesquisa de doutorado que descreve o português rio-grandense falado em áreas de povoamento recente no Mato Grosso considerando diferentes níveis linguísticos (fonético, morfossintático e lexical) e dimensões de análise (diatópica, diastrática, diageracional, diagenárica e dialingual) de variação linguística. Para averiguar as mudanças de comportamento linguístico de origem gaúcha no que se refere ao uso (manutenção ou perda) e a variação do português rio-grandense em contato com outras variedades regionais do português (contato intervarietal), foi necessário observar os condicionadores sociais, políticos, culturais e espaciais que provavelmente impulsionaram tais mudanças. A aplicação do questionário, instrumento essencial para uma pesquisa de naturezas dialetológica e geolinguística, viabilizou grande parte da recolha dos dados. Além da parte linguística, dos temas para discursos semidirigidos, das narrativas livres, das perguntas metalinguísticas e do perfil sócio-cultural e dos dados dos informantes, fez-se uma descrição do espaço geográfico, incluindo o registro iconográfico das localidades pesquisadas. E foi, sobretudo, na elaboração da sociologia dos locais, que se notou a intersecção entre disciplinas como a Dialetologia, a Geolinguística, a Toponímia, a História e a Geografia. A Toponímia é um ramo da linguística capaz de estabelecer uma estreita relação com outras áreas de conhecimento a fim de alcançar êxodo na tarefa que se propõe realizar: estudar os nomes de lugares. Embora a análise linguística de um topônimo pareça um processo autônomo, na busca pela motivação de um nome, perpassa-se pelas contribuições de disciplinas como as citadas, que em algumas situações legitimam as hipóteses levantadas pelo pesquisador para justificar a escolha e o emprego de uma denominação, em um determinado lugar, em um contexto regional específico. Sabendo-se que o processo de ocupação, os aspectos geográficos e sócioeconômicos de uma região, uma vez confrontados com os de outras, podem delimitar áreas toponímicas correlatas, demarcadas pela concentração de nomes de uma mesma tipologia classificatória; constatou-se no âmbito desta pesquisa que as designações de acidentes físicos e humanos das localidades investigadas, trouxeram à tona lembranças dos migrantes oriundos da região sul do Brasil, materializadas na toponímia local. Assim, observou-se que os nomes carregam, ainda que obscuramente, uma carga sugestiva capaz de imprimir uma característica própria ao local que identificam, podendo até se assemelhar aos de outras áreas toponímicas, no entanto, com uma valoração única na localidade em que estão imersos. ESTUDO DA TOPONÍMIA DE TROPAS E BOIADAS, DE HUGO DE CARVALHO RAMOS 257 Evanaide Alves de Souza UFG O objetivo deste trabalho é apresentar os resultados do estudo dos topônimos na obra Tropas e Boiadas, de Hugo de Carvalho Ramos. Para a realização da pesquisa, fizemos a listagem dos topônimos, que designam acidentes físicos (serras, rios, etc.) e humanos (fazendas, cidades, vilas, etc.). Em seguida, classificamos os topônimos nas duas taxionomias toponímicas, e suas respectivas

taxes, conforme proposta de Dick (1990a;1990b): física aquelas que caracterizam o ambiente físico em todos os seus traços (se divide em 11 taxes: astrotopônimos, cardiotopônimos, cromotopônimos, dimensiotopônimos, fitotopônimos, geomorfotopônimos, hidrotopônimos, litotopônimos, meteorotopônimos, morfotopônimos, zootopônimos,); e antropocultural aquelas que caracterizam as manifestações psico-socio-culturais do homem (se divide em 16 taxes: animotopônimos, antropotopônimos, axiotopônimos, corotopônimos, cronotopônimos, ecotopônimos, ergotopônimos, etnotopônimos, dirrematotopônimos, hierotopônimos, historiotopônimos, hodotopônimos, numerotopônimos, poliotopônimos, sociotopônimos, somatopônimos). Foram indicadas as origens, categorias morfológicas, motivação e iconicidade de cada topônimo. Esse estudo revelou que, em Tropas e boiadas, de Hugo de Carvalho Ramos: i) os topônimos de natureza antropocultural são os mais produtivos, com 63% (109/173) das ocorrências; ii) as seis taxes mais produtivas, nas duas natureza taxionômicas, são os sociotopônimos, relativos às atividades profissionais, aos locais de trabalho e aos pontos de encontro da comunidade, aglomerados humanos, com 17,3%; os ergotopônimos topônimos relativos aos elementos da cultura material, com 13,3%; etnotopônimos, relativos aos elementos isolados ou não, as cidades, regiões, continentes ou indicativos de procedência geográfica (povos, tribos, castas), com 12,1% os hidrotopônimos, resultantes de acidentes hidrográficos, com 8,7%; os geomorfotopônimos, relativos às formas topográficas (elevações, depressões do terreno e formações litorâneas), com 8,1% e os zootopônimos, topônimo de índole animal (doméstico e não doméstico), com 6,9% dos dados; iii) a origem mais recorrente dos topônimos é a origem portuguesa, com 66,3% (114/172) das ocorrências; e iv) a estrutura morfológica simples é a mais produtiva, com 46,8% (81/173); v) a maior parte dos topônimos da obra se submetem ao princípio de iconicidade, mostrando certa motivação entre o nome e o acidente. A base etnocultural do léxico goiano, a partir das análises dos dados extraídos da obra, se constituiu no período que vai do ciclo do ouro ao ciclo da agropecuária em Goiás. Por meio da análise dos dados, percebe-se que a designação dos acidentes está intrinsecamente ligada às relações sociais desse período, confirmando que o ato de nomear é também um ato de reprodução social. 258 MARCAS DA HISTÓRIA: A TOPONÍMIA NO CAMINHO DAS TROPAS (RS E SC) 258 Giselle Olivia Mantovani Dal Corno UCS Em 2008, Velho, Almeida, Santos e Favero lançaram uma singela obra intitulada Tropeirismo: educação básica, com o intuito de explicitar e sistematizar a trajetória do tropeiro nos Campos de Cima da Serra e, principalmente, as rotas tropeiras que cruzaram o nosso município (p. 5). Os autores referem-se a Bom Jesus, cidade localizada no extremo nordeste do Rio Grande do Sul, que foi ponto de passagem em diferentes fases da atividade tropeira, desde o início do século XVIII, quando a Estrada das Missões cruzava a Vacaria dos Pinhais para entroncar com a Estrada Real. No século XIX, após a descoberta de caminhos mais a oeste do Estado, iniciou a fase do tropeirismo gaúcho regional, especialmente com tropas de mulas arreadas, responsável pelo abastecimento de fazendas e localidades com mercadorias (alimentos, ferramentas) produzidas artesanalmente em pontos distantes entre a serra e litoral, numa época em que os armazéns da região ficavam nos poucos centros urbanos e a precariedade das estradas era vencida apenas pela persistência de homens e pela resistência dos muares. O pequeno livro que serve de base para esta investigação foi idealizado para uso nas escolas, objetivando a preservação das origens do município ligadas ao tropeirismo, a fim de que cada aluno descubra a importância da contribuição tropeira, bem como a função social para o desenvolvimento econômico, cultural e social da região. Neste trabalho, procuramos refazer uma das rotas mencionadas pelos autores, do litoral para o alto da serra, situada temporalmente no século XIX, observando os signos toponímicos encontrados e/ou deixados pelos tropeiros localidades por onde passaram, rios que cruzaram e buscando em bibliografia especificamente pertinente a esse fenômeno dados que possam contribuir para a compreensão da

motivação dos topônimos. Esperamos, com isso, colaborar com o objetivo dos autores de valorizar o que já foi desenvolvido e repassar para as futuras gerações para que preservem e admirem como se construiu a nossa história. 259 VIAJANTES NATURALISTAS DO SÉCULO XIX NA REGIÃO DA PROVÍNCIA DE GOIÁS: LEVANTAMENTO DOS TOPÔNIMOS INDÍGENAS Carla Bastiani UFT O século XIX é marcado na história do Brasil como uma época de inúmeras visitas que a este país fizeram eminentes personalidades, entre elas, notáveis viajantes naturalistas. Entre estes, destacamse Auguste François César Provençal de Saint-Hilaire, Johann Emmanuel Pohl, George Gardner e Francis Castelnau, os quais, no curso de suas expedições, visitaram a Província de Goiás. Os relatos desses viajantes são alguns dos elementos fundamentais na construção da identidade nacional. No caso da Província de Goiás, essas narrações permitem reconstituir, além da história e geografia regional, seu perfil etnolinguístico. Ainda que o discurso utilizado nessas fontes documentais seja acentuadamente etnocêntrico, pelo fato de ser condicionado pelos valores da cultura europeia e revele a falta de parâmetros na percepção da alteridade que os viajantes naturalistas adotaram diante de suas observações, possibilitam regatar, mesmo que mediadas por suas impressões, informações sobre o caráter sociocultural e geográfico da região. Os referidos viajantes, enquanto cientistas, sentiram necessidade de conhecer os nomes dos lugares, da fauna, da flora, dos elementos geomorfológicos, da cultura espiritual, dos grupos indígenas, entre outros, mas principalmente de compreender a etimologia desses nomes. Como subsídio para tal empreendimento, contaram com documentos oficiais e registros da tradição oral. Levando em consideração o fato de que os topônimos de origem indígena (etnotopônimos) eram constantes nos relatos desses viajantes, em virtude da gama de povos indígenas que povoavam a Província de Goiás no século XIX, o objetivo deste trabalho consistiu em fazer levantamento e descrição dos etnotopônimos catalogados por eles. Esta pesquisa apresenta-se como um recorte do Atlas Toponímico do Tocantins - ATT: descrever a toponímia indígena dos viajantes naturalistas no século XIX na região da Província de Goiás, hoje estado do Tocantins. Os procedimentos metodológicos utilizados foram: leitura de textos sobre a historiografia da região da Província de Goiás; leitura dos relatos dos viajantes naturalistas europeus do século XIX referentes à Província de Goiás; levantamento dos topônimos indígenas (etnotopônimos) descritos nesses relatos e análise do corpus a partir dos subsídios da etnotoponímia. VARIAÇÃO E MUDANÇA LINGUÍSTICA DE TOPÔNIMOS NA REGIÃO DO CARMO MINAS GERAIS Maria Cândida Trindade Costa de Seabra UFMG Ainda que os nomes de lugares constituam uma classe que, por tradição linguística, mantém-se muitas vezes intacta enquanto sobrevive por anos e até séculos, conservando a história de um tempo passado, codificada em um símbolo da língua, os mesmos costumam sofrer transformações, principalmente de ordem fonética e analógica. Muitas vezes este fato surpreende os estudiosos da língua que esperam encontrar topônimos preservados da ação do tempo. DAUZAT (1926:58) chama atenção para esse fato. Para esse teórico, os nomes de lugares estão sujeitos, sobretudo, à ação da analogia, fato este que afeta toda língua viva. As elipses são, também, apontadas por ele, como responsáveis por numerosas confusões produzidas em uma palavra, causando fausse perception do topônimo em análise. Partindo da hipótese de que os locativos, incluindo-se aqui os nomes de montanhas e rios, muitas vezes permanecem intactos, sobrevivendo até o tempo atual, 259

permitindo-nos penetrar no passado, investiga-se a toponímia dessa região primeiro território de Minas a ter núcleo populacional adotando como referencial teórico metodológico o modelo toponímico de Dauzat (1926) e Dick (1990). Sob a luz da sociolinguística, parte-se do presente para o passado e volta-se ao presente. Em função dos topônimos coletados em gravações orais, material cartográfico e documentos antigos selecionados para esta pesquisa, procurou-se descrever e explicar a permanência, a variação e a mudança dos topônimos na região. A análise dos dados reflete o contexto histórico-cultural da formação dessa parte do território mineiro: tendo em fins do século XVII, início do XVIII sido ocupada por bandeirantes paulistas, a região do Carmo, após o episódio conhecido como emboabas, caracteriza-se por receber inúmeros imigrantes portugueses da região noroeste de Portugal que aí se fixaram, mantendo-se até hoje. O caminho de comunicação aberto com a Bahia durante o primeiro quartel do século XVIII se intensifica durante o século XIX com a rota do gado. Nesse período, a região se torna agrícola e os nomes de lugares aí implantados destacam o homem português como agente desse processo colonizatório. O resultado dessa conquista pode ser vista através da permanência e variação de topônimos e de pouca mudança linguística. 260 TOPONÍMIA, HISTÓRIA E CULTURA: IDENTIDADES E INTERFACES 260 Aparecida Negri Isquerdo UFMS Os topônimos (nomes de lugares), concebidos como signos linguísticos enriquecidos, congregam tanto características próprias do léxico veicular quanto especificidades que os tornam diferentes dos nomes comuns, pois consubstanciam a intencionalidade do denominador que, acionando as várias circunstâncias que o rodeiam, seleciona um determinado nome para este ou aquele acidente geográfico, que evoca em seu significado a justificativa para a sua própria existência (DICK, 1990, p.38-39). Nesse sentido, concebe-se o léxico toponímico como o universo de topônimos de uma língua circunscritos a diferentes espaços geográficos do território coberto por um sistema linguístico. Assim, as unidades lexicais investidas da função de nome próprio de lugar tendem a traduzir aspectos da visão de mundo do denominador, como também características históricogeográficas do espaço nomeado. Como produto social e cultural, o topônimo incorpora tendências da sociedade da época do surgimento do nome do lugar, fator que justifica a estreita relação entre toponímia e manifestações ideológicas. Este trabalho centra-se no exame da toponímia na perspectiva da sua função sociocultural e ideológica. Como é sabido, o universo de topônimos de uma região pode reunir formas do vocabulário comum alçadas à categoria de topônimos que, por sua vez, traduzem tanto elementos do ambiente físico quanto particularidades da história social da região que abriga o topônimo. A depender da realidade nomeada, a toponímia também resgata nomes próprios de pessoas, de lugares, de crenças, de entidades sobrenaturais que são ressemantizadas com o fim precípuo de nomear um espaço geográfico. Tomando como parâmetro esse veio, são examinados, neste trabalho, dados toponímicos oriundos de diferentes regiões do Brasil, que traduzem facetas distintas da relação entre toponímia e realidade linguística, étnica, social e cultural da sociedade de determinada faixa de tempo e espaço. Para tanto, examinam-se resultados de pesquisas acerca de recortes toponímicos de diferentes regiões do Brasil: Centro- Oeste: Pereira (2009) e Atlas Toponímico do Estado de Mato Grosso do Sul (ATEMS, 2011); Sul: Moreira (2006), Zamariano (2010) e Ananias (2013); Sudeste: Figueiras (2011) e Nordeste: Ramos (2008) e Anjos (2012). O cotejo entre os dados toponímicos tem como objetivo demonstrar que os sistemas toponomásticos subjacentes à toponímia de uma área territorial representam, em primeira instância, a perpetuação do léxico representativo do momento histórico em que o elemento geográfico foi nomeado. Além disso, considera-se o fato de o léxico regional e o léxico toponímico serem considerados subsistemas léxicos intrinsicamente relacionados, à medida que a toponímia local tende a assimilar uma porção significativa do vocabulário regional veiculado pelos habitantes de um espaço geográfico. A orientação teórico-metodológica do estudo pauta-se,