COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO CONAB SUPERINTENDÊNCIA REGIONAL DO RIO GRANDE DO SUL GERÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO E SUPORTE ESTRATÉGICO SETOR DE APOIO A LOGÍSTICA E GESTÃO DE OFERTA CLIMA ACOMPANHAMENTO DA SAFRA BRASILEIRA Rio Grande do Sul GRÃOS Relatório Geral Safra 2014/2015 Nono Levantamento Junho/2015 O início do mês de maio caracterizou-se por instabilidades muito localizadas originadas de ventos úmidos que sopraram do mar. O ingresso de uma frente fria no dia 03/05 provocou chuva significativa na região da Campanha (54 mm em Bagé e 39 em Uruguaiana). No dia seguinte o sistema frontal avançou sobre o Estado provocando chuva nas demais regiões. Uma massa de ar polar que ingressou no dia 05/05 tomou conta do Estado provocando temperaturas próximas de zero grau e geada fraca em algumas localidades. Entre o Centro e o Oeste foram registrados os volumes de chuva mais significativos, com os maiores registrados em Santo Augusto (95 mm) e Frederico Westphalen (65,2 mm). As temperaturas máximas registradas na primeira semana ocorreram em São Borja e São Luiz Gonzaga (29,8º e 28,8ºC, respectivamente), e as mínimas em Vacaria (2,2ºC) e Cambará do Sul (2,6ºC). A partir do dia 09/05, áreas de instabilidade começaram a provocar chuva no Oeste. Mas entre 10/05 e 11/05 um centro de baixa pressão provocou chuva intensa e ventania no Litoral, com volumes de 100 mm em Mostardas e 85 mm em Torres. Também nesta semana foram registradas geadas de fraca intensidade e muito isoladas na Campanha e Serra do Nordeste. As menores temperaturas da semana foram registradas em Bagé (1.6ºC em 07/05) e em São José dos Ausentes (3,3ºCem 08/05). As mais elevadas foram registradas em Campo Bom, com 26,7ºC, e Teutônia, com 26,4ºC. Um veranico, com pouca chuva e altas temperaturas, aconteceu no Estado entre os dias 14 e 21/05. Em 16/05, áreas de instabilidade começaram a provocar chuva no Nordeste, que continuaram até 17/05, com volumes acumulados entre 5 e 10 mm. Nas demais regiões praticamente não choveu no período. As temperaturas mais eleadas foram registradas em Uruguaiana, com 28,4ºC, e São Luiz Gonzaga, com 28,2ºC. Em 23/05 uma frente fria que ingressou pelo Sul e Oeste, provocando chuva, determinou o final do veranico, atuando posteriormente nas demais regiões. No início da semana (25/05) o tempo seco com sol predominou na Metade Sul, enquanto na Metade Norte áreas de instabilidade provocaram algumas precipitações. Entretanto, em 27/05, quarta-feira, a formação de um ciclone gerou nuvens carregadas e ventania, principalmente no Leste, com os maiores volumes acumulados registados em Cruz alta (138 mm) e Caçapava do Sul (132 mm). No Sul, volumes menores, entre 10 e 35 mm. No período, as maiores temperaturas foram observadas em São Gabriel (33ºC) e Campo Bom (31ºC), e as menores no Chuí (7,4ºC) e em Jaguarão (8,1ºC). Fonte: CEMET/RS
INTRODUÇÃO O nono levantamento da safra de grãos do Rio Grande do Sul, safra 2014/2015, que foi realizado entre os dias 20 a 29 de maio de 2015, teve o objetivo de consolidar os dados da colheita das culturas de verão, com foco principal no arroz, milho e soja e a intenção de semeadura das culturas de inverno. A colheita da safra de verão está praticamente encerrada, restando menos de 1% do arroz e da soja e 5% do milho que foi semeado em sequência de culturas implantadas no início de agosto a setembro (fumo, milho e girassol). O resultado foi o melhor da história dessas culturas no Rio Grande do Sul. Até mesmo a cultura do arroz que enfrentou vários problemas durante o ciclo, teve um bom resultado na média geral. A região da Campanha bateu o recorde de produtividade, alcançando 8.000 kg/ha, a Fronteira Oeste teve ótima média e a Zona Sul obteve 8.256 kg/ha, a maior produtividade de todos os tempos. O milho superou todas as expectativas de produtividade e a soja produziu uma das melhores médias dos últimos anos a considerar a abertura de novas áreas de campo nativo (região da campanha) e substituição de pastagens não sistematizadas. Nas culturas de inverno ainda está indefinido o tamanho da área que será semeada com cada uma. O trigo, principal cultura do período, terá a maior redução. O produtor está apreensivo pela insegurança que a conjuntura atual apresenta. A safra anterior foi frustrada, o plano safra não foi divulgado até o momento do levantamento, o preço de mercado não remunera a atividade, as seguradoras estão reticentes para segurar a lavoura nesta safra, as casas de crédito não demonstram interesse em financiar a lavoura e algumas consideram a atividade como de alto risco. Com esse quadro, outras culturas têm preferência nessa safra. É o caso da aveia branca para produção de grãos e a aveia preta para pastejo e cobertura de solo. O fato é comprovado pela escassez de semente de aveia no mercado, com o preço disparando, partindo de R$ 0,70 para R$ 1,70 por quilo, enquanto a semente tratada de trigo está a R$ 1,25 e sem demanda. ARROZ Finalizada a colheita do arroz e apurados os resultados, não se confirmou algumas previsões que perduravam desde que a lavoura iniciou seu ciclo reprodutivo. Uma delas era que a pouca luminosidade tivesse influência negativa na determinação da produtividade. Isso não aconteceu. Outra foi o pessimismo com o desempenho da parcela semeada fora do período recomendado pela pesquisa que teve produtividade razoável, pelo menos. Ambas foram anuladas porque o clima da região produtora de arroz teve comportamento diferente daquele que comumente acontece. A amplitude térmica foi menor que na safra anterior, as temperaturas baixas não ocorreram como previsto, e a lavoura do tarde não foi prejudicada. Devido a esses acontecimentos, que desafiaram a regra, a produtividade da lavoura de arroz do Rio Grande do Sul, na safra 2014/15, foi uma das melhores chegando a 7700 kg/ha. A melhor média foi da Zona Sul 8.256 kg/ha seguida por Campanha 8.028 kg/ha, Fronteira Oeste 8.172 kg/ha, Depressão Central 7.251 kg/ha, Planície Costeira Interna 7.214 kg/ha e Planície Costeira Externa 6.518 kg/ha. Como fatos negativos citamos: a enchente na Fronteira Oeste, que atingiu em torno de 30.000 hectares com perda total em aproximadamente 7.000 hectares; o ataque de doenças fúngicas (causado pelo excesso de chuvas) e o atraso na semeadura. Mas o impacto maior em relação ao resultado econômico da lavoura foi o aumento do custo de produção, sob a influência do aumento da energia elétrica e do óleo diesel, com reflexos
observados desde os tratos culturais até a colheita. A colheita é a etapa mais cara da safra de arroz. Tem consumo alto de óleo diesel pois envolve colheitadeiras, tratores e caminhões. A secagem se tornou caríssima devido ao aumento da energia elétrica. Para se ter uma ideia, um secador cheio de arroz colhido com 20% de umidade (umidade ideal para colher sem prejudicar o melhor rendimento de grãos inteiros) gasta de 8 a 10 horas para reduzir a umidade para 12%, indicada para armazenagem e beneficiamento. Em cada secador funcionam simultaneamente 5 motores elétricos. No pós colheita, o desconforto dos produtores está relacionado ao comportamento dos preços do arroz em casca. A perda de valor do produto no mercado é consequência do excesso de oferta. Segundo os produtores, os agentes financeiros não disponibilizaram o pré-custeio, como nas safras anteriores, o que força a comercialização para saldamento dos compromissos bancários e particulares. Também conforme os produtores, se a situação persistir, a boa safra colhida não deixará nenhum resultado financeiro porque o preço se aproxima do custo de produção que tem como referência a produtividade de 7800 kg/ha. A média da produtividade para o estado deve ficar em 7700 kg/ha e a produção total em 8.629,44 mil toneladas, despontando como uma das maiores safras dos últimos anos, produzidas em 1.120,23 mil ha. MILHO A lavoura de milho semeada na primeira etapa representa 91% da área cultivada no estado. Essa parcela está colhida com excelente resultado. A média estimada para o estado superou 6 toneladas por hectare. Aquilo que parecia impossível há poucos anos hoje é uma realidade, quebrando paradigmas de que o Rio Grande não tinha solo nem condições climáticas para alta produtividade de milho. Foram comuns lavouras de sequeiro que produziram mais de 9 toneladas por hectare, fruto da tecnologia usada no cultivo, material genético de primeira e clima favorável. A média de produtividade do estado está em 6560 kg/ha. Essa produtividade alta compensou as perdas pontuais por estiagem ocorridas nas redondezas do município de Ijuí, Zona Sul e parte da Campanha. A área cultivada com milho grão é de 941 mil hectares, 8,7% menor do que na safra passada, mas não o suficiente para diminuir a produção, que deverá ficar em 6.116,5 mil toneladas. A área correspondente a 9% foi semeada em sequência de fumo e milho primeira safra. Corresponde a lavouras das pequenas propriedades e da zona Sul do estado. Essas áreas são semeadas em janeiro e fevereiro e geralmente apresentam produtividade menor o que faz reduzir a média final, dessa, restam ainda colher 50%. É crescente a área semeada com milho destinado à silagem, devendo superar os 350 mil hectares, com produtividade prevista de 40 toneladas de silagem por hectare. FEIJÃO PRETO 2ªsafra Foram semeados 20,3 mil hectares na segunda safra de feijão no Rio Grande do Sul. Esse é o resultado do somatório de todo o feijão cultivado, inclusive aquele destinado ao consumo próprio. A lavoura está na fase final da colheita com mais de 80% colhido. A produtividade teve ganhos devido ao clima favorável na maior parte do estado e deve alcançar 1669 kg/ha, com produção de 33,9 mil toneladas. O clima só não ajudou na zona Sul do estado, onde a escassez de chuvas prejudica todas as culturas. Os preços no mercado são variáveis. Mais alto nos municípios sem cultivo de feijão e menor nas regiões produtoras.
SOJA O valor da terra passou a impactar o custo de produção devido ao aumento da demanda por novas áreas. O arrendamento pago pelo produtor subiu na faixa de 50% para contratos novos e os prazos de vigência estão mais reduzidos, trazendo preocupação ao produtor na hora de investir no solo. Outras culturas de verão como girassol e sorgo, praticamente sumiram do Rio Grande do Sul. De um modo geral, a lavoura é bastante tecnificada, devido ao acesso do produtor ao maquinário moderno e às tecnologias difundidas nos sistemas de plantio empregado. O uso da agricultura de precisão é crescente, embora nem todos os produtores consigam praticá-la em sua plenitude. Para a maioria falta a colheita por meio de colheitadeiras com sensores de produção. O uso de variedades modernas com tecnologias agregadas como precocidade e ciclo aberto são comuns e influenciam na produtividade. A variedade Intacta conseguiu superar a resistência dos produtores e passou a ocupar grande parcela do cultivo. O desafio é fazer os produtores cumprirem as determinações que a tecnologia exige para salvaguardar o material genético e não perder essa ferramenta tão interessante para a segurança da produção e a diminuição dos custos. A área semeada com soja na safra 2014/15 está estimada em 5.216,00 mil hectares, 5,6% superior ao cultivo de 2013/14. Cerca de 4% desse aumento refere-se a soja semeada após a colheita do milho safra normal, com previsão da agregação de 250 a 300 mil hectares à área já prevista, em detrimento de feijão segunda safra e a repetição de milho sobre milho. A colheita foi finalizada com resultados superiores a expectativa, inclusive a produtividade da soja semeada em janeiro, que teve desempenho muito bom, produzindo 2400kg/ha. O grande aliado foi o clima favorável na maior parte das regiões produtoras. Na região Noroeste encontramos produtores que conseguiram um feito até então inédito de produzir três safras em um ano e dois meses. Semearam o milho em agosto, colheram em janeiro, semearam a soja em janeiro, colheram em maio, semearam o trigo em maio e vão colher em outubro. As três safras deverão render mais de treze mil quilos por hectare, se o trigo corresponder a expectativa inicial. Relatamos como fato negativo o desperdício da soja durante a colheita. A quantidade de grãos, deixados na lavoura é superior a quantidade de semente usada na semeadura, visível a olho nu, pelo volume de sementes que germinou na lavoura após a colheita. As causas visíveis foram: o uso inadequado da colheitadeira em velocidade superior a sua capacidade de separação dos grãos jogando fora junto com a palha boa quantidade do produto. A desatenção do operador das colheitadeiras para vazamentos nos elevadores e outros orifícios abertos pelo desgaste da máquina. Nota-se também soja derramada durante o transbordo da colheitadeira para as carretas e das carretas para os caminhões. Partindo do pressuposto de que se usa 50 kg de semente para semear um hectare e a área do estado sendo de 5.216 mil hectares, a perda é de 260,8 mil toneladas no estado. CULTURAS DE INVERNO Continua a indefinição geral sobre a área que será semeada com as culturas de inverno. O que é certo é a redução da área semeada com trigo e a diminuição do uso de insumos. Deve crescer a área semeada com aveia branca e a manutenção da área de cevada e canola. São perspectivas apenas, a consolidação se dará apenas no final da época de semeadura. Foi motivo de pesquisa nesse levantamento a área que será semeada na safra de inverno com destino a produção de grãos. A conclusão foi que menos de 30% da área semeada com soja terá esta finalidade. O restante terá usos diversos, com predominância da semeadura de aveia preta, seguida por azevém (espontâneo), nabo - Raphanus raphanistrum subsp e pousio (áreas de várzea e de umidade intensa). A aveia preta tem triplo propósito
produção de grãos para ração animal e produção de sementes, pastejo de inverno e cobertura de solo (prática conservacionista). Esta pesquisa demonstra que o Rio Grande do Sul tem capacidade de produzir muito mais trigo, se for a intenção do governo. Foram cultivados mais de 5 milhões de hectares de soja. Se usar 40% da área semeada com soja para produção de trigo, o que é realmente possível atendendo as necessidades agronômicas da cultura, dobraria a área e a produção do estado, aliviando a necessidade de importação. Com os materiais genéticos disponíveis atualmente é possível produzir trigo de qualidade, caso seja a a determinação das autoridades competentes. Outras culturas também têm potencial de aumento. É o caso da canola, cuja viabilidade econômica está comprovada faltando hoje o interesse maior da pesquisa para conseguir híbridos com maturação mais uniforme para facilitar o processo de colheita. A importância da canola é reconhecida na rotação de culturas pela utilidade na aeração do solo por conta de seu sistema radicular, substituindo o nabo que é cultivado apenas com esta finalidade, sem valor comercial. AVEIA A área semeada com aveia branca para produção de grãos deve crescer em torno de 30%. Ocupando área semeada com trigo na safra anterior, a aveia deverá estar presente em aproximadamente 118 mil hectares. A semeadura está transcorrendo normal com mais de 50% das áreas implantadas. O custo de produção menor e a diversificação de consumo maior levaram o produtor optar por essa cultura em detrimento do trigo, que atualmente enfrenta problemas de custo alto e preços baixos. CANOLA A lavoura de canola está na fase de semeadura, com mais de 50% já implantada. Deve ocorrer a manutenção da área ou próximo disso. Segundo as principais empresas fomentadoras da cultura, Giovelli e BSBios, há semente suficiente para a demanda dos produtores, inclusive para o aumento da área, se assim for preciso. Com isso prevê-se que serão cultivados 39 mil ha, que deverão produzir ao redor de 1.500 kg/ha. O preço da canola é o maior incentivo ao produtor uma vez que acompanha o preço da soja, e mais que o dobro do preço do trigo, além da alta liquidez no mercado. CENTEIO Sem informação de cultivo do cereal nessa safra. CEVADA A área semeada com cevada na safra 2015 deverá ser semelhante a cultivada na safra 2014. A Ambev lançou um programa de amparo ao produtor, fornecendo os insumos básicos e garantindo R$ 35,00 por saca produzida. Mesmo assim o cultivo não deve deslanchar porque o grão de cevada destinada a produção de malte deve ter poder germinativo superior a 95%. Em ano de clima úmido, a cultura pode sofrer problemas no terço final do ciclo, como o ocorrido na safra anterior. A área está mantida até que se defina completamente a semeadura.
TRIGO Continua a indefinição quanto ao total de área que será semeada com trigo na safra 2015. Embora o mercado sinalize com preço um pouco melhor, o produtor não se sente seguro para investir na cultura quando outros fatores depõem contra o sucesso da atividade. A previsão climática indica a ocorrência de El Niño, com o mês de junho chuvoso, bem como no início da primavera, época de maturação do trigo, que pode causar danos significativos na produtividade e na qualidade do produto. O novo preço mínimo divulgado não surtiu efeito positivo no ânimo dos produtores a ponto de incentivar pelo menos na manutenção da semeadura da área cultivada na safra anterior. Mas o que será significativamente menor é o uso de tecnologia nessa safra. A estratificação da lavoura conforme o uso de insumos está assim estabelecida: 30% usará o pacote de insumos completo, de acordo com a recomendação técnica; 40% usará um meio termo e os 30% restantes jogarão apenas a semente no solo no aguardo do comportamento do clima, se favorável entrarão com adubação nitrogenada e o controle de pragas e doenças, caso contrário, usarão a cultura apenas como cobertura de solo. A assistência técnica segue outra linha. Recomenda a diminuição da área com o uso do pacote completo, mas não está tendo repercussão no meio dos produtores. Há um certo consenso entre os triticultores em gastar o equivalente a 35 sacas de trigo/ha, suportável na atual conjuntura. Diante da situação, a redução da área apurada até o momento deve ficar em torno de 18% em relação a semeadura da safra anterior. Espera-se que sejam cultivados 969 mil hectares, com produtividade ao redor de 2400 kg/ha, em virtude do baixo uso de tecnologia. Porto Alegre, 03 de junho de 2015. SEGEO/RS