Políticas Públicas para o combate da Violência de Gênero: experiência brasileira da Lei Maria da Penha

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Transcrição:

Políticas Públicas para o combate da Violência de Gênero: experiência brasileira da Lei Maria da Penha Regina Célia A. S. Barbosa Vice-Presidente do Instituto Maria da Penha Fortaleza-Ce/Brasil Profª da Faculdade dos Guararapes Laureate International Universities Jaboatão dos Guararapes -PE/Brasil

FILÓSOFA E CIENTISTA POLÍTICA VICE-PRESIDENTE DO INSTITUTO MARIA DA PENHA PROFESSORA DA FACULDADE DOS GUARARAPES DA REDE LAUREATE UNIVERSITIES LECIONA NOS CURSOS DE TURISMO, MEDICINA E DIREITO http://lattes.cnpq.br/0725096144095882

Nosso Roteiro 1) Introdução 2) Sobrevivi...posso contar 3) Relatório N 54/01 Caso 12.051 4) Breve roteiro do Movimento Feminista no Brasil 5) Das Lutas à Lei 6) Desigualdade é a base da Violência 7) Os efeitos perversos da Tolerância a Violência contra a Mulher 8) Os objetivos da Lei Nº 11.340/06 - Lei Maria da Penha 9) A Violência Doméstica de acordo com a Lei Maria da Penha 10) O Direito da Mulher Vítima de Violência Antes e Depois da LEI MARIA DA PENHA 11) Considerações

Sobrevivi...posso contar Maria da Penha encara a foto para o passaporte, quando foi conhecer a Argentina Maria da Penha tem sono pesado. Capota e só acorda no dia seguinte. Na madrugada de 29 de maio de 1983, porém, teve seu repouso interrompido pelo pior pesadelo da vida. Acordei de repente com um forte estampido dentro do quarto. Abri os olhos. Não vi ninguém. Tentei me mexer. Não consegui. Imediatamente fechei os olhos e um só pensamento me ocorreu: Meu Deus, o Marco me matou com um tiro.

Aos 8 anos, depois da primeira comunhão: o vestido foi feito pela mãe e as rendas, pela bisavó Um gosto estranho de metal se fez sentir forte na minha boca, enquanto um borbulhamento nas costas me deixou perplexa. Entre desmaios e devaneios, a mulher, então com 38 anos, tinha momentos de consciência.

Posando no estúdio de um conhecido em Fortaleza Enfim, declararam: nunca mais andaria. De volta para casa, Voltou ao lar paraplégica e mantida em regime de isolamento completo. Após 4 meses, na cadeira de rodas, Maria da Penha ainda teve que fazer força para escapar de outra atrocidade do marido: ele tentou eletrocutá-la embaixo do chuveiro.

Na feira do Embú das Artes, em São Paulo, na época em que fazia mestrado na USP Pouco tempo depois ele resolveu ir embora. Meu Deus, quando ele foi viajar ainda veio me dar um beijo! Na ausência dele, consegui dormir. Até então só dormia de dia, à noite tinha medo. Fui ao escritório, abri umas gavetas e descobri que ele tinha uma amante. No dia em que ele foi embora foi o dia mais feliz da minha vida. Recuperei as forças, cabeça serena.

Na feira do Embú das Artes, em São Paulo, na época em que fazia mestrado na USP Esse dia, venci uma etapa. A partir daí, procurei a polícia para dar depoimento. Aí é que eu fui conhecer o que é a Justiça. Aí que vi que a vítima e nada são a mesma coisa. Trecho extraído do livro Sobrevivi...posso contar, de autoria de Maria da Penha

RELATÓRIO N 54/01 CASO 12.051 MARIA DA PENHA MAIA FERNANDES X BRASIL 4 de abril de 2001 1. Em 20 de agosto de 1998, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (doravante denominada a Comissão ) recebeu uma denúncia apresentada pela Senhora Maria da Penha Maia Fernandes, pelo Centro pela Justiça e pelo Direito Internacional (CEJIL) e pelo Comitê Latino-Americano de Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM) (doravante denominados os peticionários ), baseada na competência que lhe conferem os artigos 44 e 46 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (doravante denominada a Convenção ou a Convenção Americana) e o artigo 12 da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará ou CVM). 2. A denúncia alega a tolerância da República Federativa do Brasil (doravante denominada Brasil ou o Estado ) para com a violência cometida por Marco Antônio Heredia Viveiros em seu domicílio na cidade de Fortaleza, Estado do Ceará, contra a sua então esposa Maria da Penha Maia Fernandes durante os anos de convivência matrimonial, que culminou numa tentativa de homicídio e novas agressões em maio e junho de 1983. Maria da Penha, em decorrência dessas agressões, sofre de paraplegia irreversível e outras enfermidades desde esse ano. Denuncia-se a tolerância do Estado, por não haver efetivamente tomado por mais de 15 anos as medidas necessárias para processar e punir o agressor, apesar das denúncias efetuadas.

Breve roteiro do Movimento Feminista no Brasil O gênero abriu os caminhos para a desconstrução e para a desnaturalização do masculino e feminino. Mas, essa nova problemática também propiciou o surgimento desse fosso entre o que elas chamam de feminismo da modernidade e o feminismo da pós-modernidade (CECÍLIA SARDENBERG, 2004:24).

Das LUTAS à LEI Restritas às estreitas esferas de atividade na vida da sociedade, as mulheres tem as suas oportunidades de educação e direitos humanos básicos negados, sujeitas à violência, são frequentemente tratadas com desprezo e acabam por não compreender seu potencial verdadeiro. Velhos padrões de submissão refletidos na cultura popular, na literatura, na arte, na política, continuam a impregnar todos os aspectos da vida. A despeito do avanço dos direitos políticos e civis das mulheres no Brasil, muito ainda necessita ser feito para a elevação da condição da mulher em nosso país. Este panorama de desigualdades e excesso de poder dos homens gera, consequentemente, casos de violência doméstica contra a mulher.

Desigualdade é a base da Violência De onde vem a ideia de subordinação, dependência, submissão e inferioridades das mulheres? Porque as relações afetivas migram para a violência em números tão chocantes? Porque a sociedade deixa transparecer que as mulheres devem estar sempre disponíveis para os homens? Porque muitas mulheres se calam diante das situações de violência? Sofrem em silêncio? É medo? Vergonha? Temor da incompreensão? Sentimento de incapacidade?

O CICLO DA VIOLÊNCIA

Desigualdade é a base da Violência Conceito de gênero O gênero é a construção psicossocial do masculino e do feminino. Nesse sentido, Heleieth I. B. Saffioti reuniu diversos ensinamentos, para explicar as diferenças de gêneros: gênero pode ser concebido em várias instâncias: como aparelho semiótico (LAURETIS, 1987); como símbolos culturais evocadores de representações, conceitos normativos como grade de interpretação de significados, organizações e instituições sociais, identidade subjetiva (SCOTT, 1988); como divisões e atribuições assimétricas de característicos e potencialidades (FLAX, 1987)

O conceito de gênero não explicita, necessariamente, desigualdades entre homens e mulheres. Verifica-se que a hierarquia é apenas presumida, e decorre da primazia masculina no passado remoto, transmitida culturalmente com os resquícios de patriarcalismo. O significado de violência de gênero O fenômeno da violência, na modalidade ora estudada, pode ser explicada como uma questão cultural que se situa no incentivo da sociedade para que os homens exerçam sua força de dominação e potência contra as mulheres, sendo essas dotadas de uma virilidade sensível.

Os efeitos perversos da Tolerância

Os efeitos perversos da Tolerância

Os objetivos da Lei Nº 11.340/06 Lei Maria da Penha 1) Caracterizar a violência doméstica e familiar como violação dos direitos humanos das mulheres 2) Garantir proteção e procedimentos policiais e judiciais mais humanizados, para as vítimas 3) Trazer aspectos conceituais e educativos, muito mais que punir, que a qualificam como uma legislação avançada e inovadora 4) Promover uma real mudança nos valores sociais que naturalizam a violência que ocorre nas relações domésticas e familiares. 5) Dar respostas que possam romper com a cultura machista, gerar novas práticas, reparar as omissões e afastar para sempre a banalização em torno da violência 6) Ser um instrumento de mudança política, jurídica e cultural

A Violência Doméstica de acordo com a Lei Maria da Penha A Lei Maria da Penha define Violência Doméstica (art.5º) como qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial. A violência passa a ser doméstica quando praticada: a) no âmbito da unidade doméstica; b) no âmbito da família; ou c) em qualquer relação íntima de afeto, independente de orientação sexual

O DIREITO DA MULHER VÍTIMA ANTES DA LEI MARIA DA PENHA O DIREITO DA MULHER VÍTIMA DEPOIS DA LEI MARIA DA PENHA Não existia lei específica sobre a violência Tipifica e define a Violência Doméstica e doméstica contra a mulher familiar contra a mulher Estabelece as formas de violência doméstica Não estabelecia as formas dessa violência contra as mulheres como sendo física, psicológica, sexual, patrimonial e moral Não tratava das relações de pessoas do Determina que a violência doméstica contra a mesmo sexo mulher independe de orientação sexual Aplicava a Lei dos Juizados Especiais Criminais (Lei9.099/95) para os casos de Retira dos Juizados Especiais Criminais (Lei violência doméstica. Estes Juizados julgam 9099/95) a competência para julgar os crimes os crimes com pena de até dois anos de violência doméstica contra a mulher (menor potencial ofensivo) Permitia a aplicação de penas pecuniárias Proíbe a aplicação destas penas como as de cestas básicas e multa Os Juizados Especiais Criminais tratam somente do crime. Para resolver questões de família como separação, pensão, guarda dos filhos, a mulher vítima de violência tinha que ingressar com outro processo na vara da família A autoridade policial efetuava um resumo dos fatos através do TCO Termo Circunstanciado de Ocorrência A mulher podia desistir da denúncia na delegacia Serão criados Juizados Especiais de violência doméstica e familiar contra a mulher com competência civil e criminal, para abranger todas as questões. Prevê um capítulo específico para o atendimento pela autoridade policial para os casos de violência doméstica contra a mulher A mulher somente poderá renunciar perante o Juiz

O DIREITO DA MULHER VÍTIMA ANTES DA LEI MARIA DA PENHA Era a mulher que muitas vezes entregava a intimação para o agressor com parecer à audiência A lei não utilizava a prisão em flagrante do agressor nem previa a prisão preventiva para os crimes de violência doméstica A mulher vítima de violência não era informada quanto ao andamento dos atos processuais A mulher vitima de violência, em geral, não ia acompanhada de advogado ou defensor público nas audiências A violência doméstica contra a mulher não era considerada agravante de pena A pena para o crime de violência doméstica era de 6 meses a um ano A violência doméstica contra mulher portadora de deficiência não aumenta a pena Não previa o comparecimento do agressor ao programa de recuperação e reeducação O DIREITO DA MULHER VÍTIMA DEPOIS DA LEI HOJE É vedada a entrega da intimação pela mulher ao agressor Possibilita a prisão em flagrante; altera o código de processo penal para possibilitar ao Juiza decretação da prisão preventiva quando houver risco à integridade física ou psicológica a mulher A mulher vítima de violência será notificada dos atos processuais, especialmente quanto ao ingresso e saída da prisão do agressor A mulher deverá estar acompanhada de advogado ou defensor em todos os atos processuais Altera o artigo 61 do Código Penal para considerar esse tipo de violência como agravante de pena A pena do crime de violência doméstica passou de 3 meses a 3 anos Se a violência doméstica for cometida contra mulher portadora de deficiência, a pena será aumentada em 1/3 Altera a Lei de Execuções Penais para permitir que o Juiz determine o comparecimento obrigatório do agressor a programas de recuperação e reeducação

AS DENÚNCIAS O Disque 180 registrou 2,7 milhões de atendimentos de 2006 a 2012. Desse total, 329,5 mil (14%) eram relatos de violência contra a mulher enquadrados na lei. A maioria (60%) foi pedidos de informação. Os dados são da Secretaria de Políticas para as Mulheres, responsável pelo disque-denúncia, divulgados na abertura do Encontro Nacional sobre o Papel das Delegacias no Enfrentamento da Violência contra as Mulheres.

Em 2012, foram registrados 388,9 mil atendimentos, dos quais: 56,6% foram relatos de violência física. A violência psicológica aparece em 27,2% das ocorrências no período. Foram 5,7 mil chamadas relacionadas à violência moral (12%), 915 sexual (2%) e, AS DENÚNCIAS 750 patrimonial (1%). Os dados revelam ainda que em 66% dos casos os filhos presenciam as agressões contra as mães.

AS DENÚNCIAS Os companheiros e cônjuges continuam sendo os principais agressores (70% das denúncias no ano de 2012). Se forem considerados outros tipos de relacionamento afetivo (ex-marido, ex-namorado e ex-companheiro), o percentual sobe para 89%. Os parentes, vizinhos, amigos e desconhecidos aparecem como agressores em 11%.

Diretrizes da Lei Maria da Penha às Políticas Públicas O poder Público terá a obrigação de desenvolver políticas públicas que visem garantir os direitos humanos das mulheres Além de atender as mulheres, faz-se necessário habilitar os indivíduos, homens e mulheres, e os agentes do Estado em uma cultura de respeito à dignidade da pessoa humana, tal como expresso na Constituição Federal de 1988.

Diretrizes da Lei Maria da Penha às Políticas Públicas O artigo 8º da Convenção de Belém do Pará exorta os Estados a adotarem as seguintes medidas: modificar os padrões socioculturais de conduta de homens e mulheres, incluindo a construção de Programas de Educação formais e não formais apropriados a todo o nível de processo educativo para contrabalançar preconceitos e costumes e todo o outro tipo de prática que se baseie na premissa da inferioridade ou superioridade de qualquer dos gêneros ou nos papéis estereótipos dos para o homem e a mulher que legitimam ou exacerbam a violência contra a mulher.

Diretrizes da Lei Maria da Penha às Políticas Públicas A Lei Maria da Penha, em seu artigo 8º também aponta as seguintes diretrizes: Reabilitar a Sociedade e o Estado para uma nova cultura de respeito à dignidade das mulheres, seja através dos meios de comunicação, de campanhas educativas, e de capacitação dos agentes do Estado. Promoção de programas educativos que disseminem valores éticos de irrestrito respeito à dignidade da pessoa humana com a perspectiva de gênero e de raça e etnia. Destaque nos Currículos Escolares de todos os níveis de ensino, para os conteúdos relativos à direitos humanos, equidade de gênero, raça e etnia e ao problema da violência doméstica e de gênero.

Rede de Enfretamento à Violência contra a Mulher O conceito de rede de enfrentamento à violência contra as mulheres diz respeito à atuação articulada entre as instituições/serviços governamentais, não-governamentais e a comunidade, visando ao desenvolvimento de estratégias efetivas de prevenção; e de políticas que garantam o empoderamento das mulheres e seus direitos humanos, a responsabilização dos agressores e a assistência qualificada às mulheres em situação de violência. Já a rede de atendimento faz referência ao conjunto de ações e serviços de diferentes setores (em especial, da assistência social, da justiça, da segurança pública e da saúde), que visam à ampliação e à melhoria da qualidade do atendimento; à identificação e ao encaminhamento adequados das mulheres em situação de violência; e à integralidade e à humanização do atendimento.

Rede de Enfretamento à Violência contra a Mulher A rede de enfretamento é composta por: agentes governamentais e nãogovernamentais formuladores, fiscalizadores e executores de políticas voltadas para as mulheres (organismos de políticas para as mulheres, ONGs feministas, movimento de mulheres, conselhos dos direitos das mulheres, outros conselhos de controle social; núcleos de enfretamento ao tráfico de mulheres, etc.); serviços/programas voltados para a responsabilização dos agressores; universidades; orgãos federais, estaduais e municipais responsáveis pela garantia de direitos (habitação, educação, trabalho, seguridade social, cultura); e serviços especializados e não-especializados de atendimento às mulheres em situação de violência (que compõem a rede de atendimento às mulheres em situação de violência).

CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado, feita pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o Sesc realizada em 25 Estados brasileiros, ouviu em agosto do ano passado 2.365 mulheres e 1.181 homens com mais de 15 anos. A pesquisa revela os seguintes dados: A cada 2 minutos, 5 mulheres são agredidas violentamente no Brasil. E já foi pior: há 10 anos, eram 8 mulheres espancadas no mesmo intervalo. 7,2 milhões de mulheres com mais de 15 anos já sofreram agressões - 1,3 milhão nos 12 meses que antecederam a pesquisa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS 8% dos homens admitiram já ter batido em uma mulher, 48% dizem ter um amigo ou conhecido que fizeram o mesmo 25% tem parentes que agridem as companheiras. 2% dos homens declaram que tem mulher que só aprende apanhando bastante. 8% assumem praticar a violência 14% acreditam ter agido bem e 15% declaram que bateriam de novo.

Entre as motivações das agressões tem papel preponderante Ciúme (32%), Álcool (12%), Infidelidade ou suspeita de infidelidade (9%). Sobre a Lei Maria da Penha, que traz crescente consciência do problema 85% dos pesquisados dizem conhecerem a Lei 80% aprovam a nova legislação 11% que a criticam, dizem que a principal ressalva é ao fato de que a lei é insuficiente.

Serviços Especializados de Atendimento à Mulher Serviços de Abrigamento Serviços de Saúde Especializados para o Atendimento dos Casos de Violência Contra a Mulher Promotorias Especializadas/Núcleos de Gênero do MP Núcleos/Defensorias Especializados de Atendimento à Mulher Juizados Especiais Varas Adaptadas de Violência Doméstica e Familiar Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher Delegacias Especializadas Postos/Núcleos/Secções de Atendimento à Mulher nas Delegacias Comuns DEAM - Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher Orgãos de Fiscalização de Atuação Funcional Coordenadorias das DEAMs Ouvidorias ocentros de Referência de Atendimento à Mulher oniam/nuam - Núcleos (Integrados) de Atendimento à Mulher Serviços de Atendimento Geral Postos de Atendimento Humanizado aos Migrantes CRAS - Centros de Referência da Assistencia Social CREAS - Centros de Referência Especializado da Assistencia Social Defensorias Públicas Orgãos de Informação, Orientação e Políticas Públicas Organismos Governamentais de Políticas para as Mulheres Núcleos de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas Conselhos Nacionais, Estaduais e Municipais de Direitos das Mulheres Grupos e Organizações da Sociedade Civil Serviços de Atendimento às Mulheres Lésbicas Serviços de Atendimento às Mulheres Negras Organismos Não Governamentais para Mulheres Instituições Comunitárias e Filantrópicas Outros Serviços de Atendimento Jurídico Serviços de Segurança, Justiça e Defesa Social Instituto de Medicina Legal Ministérios Públicos Estaduais e do Distrito Federal e Territórios Ministério Público Federal Polícia Federal Delegacias Comuns

Referências Bibliográficas BUTLER, Judith. Variações sobre sexo e gênero: Beauvoir, Wittig e Foucault. In: Seyla Benhabib e Drucilla Cornell (coords.), Feminismo como crítica da modernidade. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1987, pp. 139-154. COSTA, Claudia de Lima. O tráfico do gênero. Cadernos Pagu (11): trajetórias do gênero, masculinidades. Campinas: Núcleo de Estudos de Gênero/ UNICAMP 1998, pp. 127-140 DE LAURETIS, Teresa. A Tecnologia do Gênero. In H. Buarque de Hollanda (org.), Tendências e impasses: o feminismo como crítica da cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994, pp. 243-288; HITA, Maria Gabriela. Igualdade, identidade e diferença(s): feminismo na reinvenção de sujeitos. Em Buarque de Almeida, Heloísa et al (orgs) Gênero em Matizes. EDUSF, São Paulo, 2002, pp. 319 351; NICHOLSON, Linda. Interpretando o gênero, Revista Estudos Feministas, Vol. 8, N 2, 2000, pp. 9-41; RUBIN, Gayle. The Traffic in women: Notes on the political economy of sex. In: R. Reiter (ed.), Toward an Anthropology of Women, New York: Monthly Review Press, 1975, pp.: 157 210. [Traduzido para o português e publicado por SOS Corpo e Cidadania] SAFFIOTI, Heleieth. Violência de Gênero no Brasil Contemporâneo In: & M. Muñoz Vargas (eds.), Mulher Brasileira é Assim. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos: NIPAS; Brasília, D.F.: UNICEF, 1994, pp. 151 186; SAFFIOTI, Heleieth. Rearticulando Gênero e Classe In: A. O. Costa & C. Bruschini (orgs.), Uma Questão de Gênero, Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos; São Paulo: Fund. Carlos Chagas, 1992, pp. 183-215; SARDENBERG, Cecília M. B. Estudos Feministas: um esboço crítico. In: Célia Gurgel (org.), Teoria e Práxis dos Enfoques de Gênero. Salvador: REDOR-NEGIF, 2004, pp. 17-40. SCOTT, Joan. Gender: a useful category of historical analysis. In:, Gender and the Politics of History, New York: Columbia University Press, 1988, pp. 28-52. [Em português: Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Recife: SOS Corpo e Cidadania, 1993.].

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