1. Introdução: Reservas oficiais em divisas aumentam, taxa de câmbio KWZ/USD estabilizada

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Transcrição:

Boletim Económico Economia Angolana 2º Trimestre de 2011 1. Introdução: Reservas oficiais em divisas aumentam, taxa de câmbio KWZ/USD estabilizada A evolução registada na economia de Angola, quando se atinge o final do no 1º semestre de 2011, confirma as indicações deixadas na anterior edição deste Boletim, sendo de registar agora, como dados mais salientes: (i) um aumento do nível de actividade, dentro dos parâmetros consentidos pelo Acordo de Stand By celebrado em Novembro de 2009 com o FMI, (ii) o reforço das reservas oficiais em divisas, (iii) a estabilidade da taxa de câmbio nominal KWZ/USD reflectindo as preocupações das autoridades com o controlo da inflação e (iv) persistência de uma taxa de inflação elevada embora com sinais de alguma melhoria. Banco BAI Europa, S.A. Avenida António Augusto de Aguiar, 130, 6º. 7º. 8º, Lisboa, 1050-020, Portugal, Tel: +(351) 21 351 3750. Fax: +(351) 21 351 3758 CRC Lisboa, NIPC: 505 274 922, Capital Social: 40.000.000

2. Evolução da conjuntura económica e financeira: aspectos mais salientes 2.1 Crescimento da actividade acelera Mantém-se a expectativa de uma recuperação da actividade económica, a ritmo bem mais acentuado do que no ano anterior, resultante do crescimento do sector petrolífero e dos sectores não petrolíferos. Depois de em Fevereiro, aquando da apresentação da 4ª Avaliação do Stand-By Arrangement, o FMI ter avançado uma previsão de crescimento do PIB de Angola de 6,7% no corrente ano - como mencionamos na anterior edição deste Boletim - em Abril, na actualização do World Economic Outlook, a previsão foi revista em alta, para 7,8%. Para esta recuperação, que é reflexo de uma clara melhoria do clima de negócios, contribuiu a normalização progressiva dos pagamentos do Estado ao sector privado, assunto já tratado em anteriores edições deste Boletim. Apesar de não ter sido ainda concluída até Março último como se esperava, ao que parece devido a atrasos no processo de verificação dos créditos reclamados, a regularização dos pagamentos em atraso acumulados pelo Estado Angolano e por outros entes públicos durante 2009 e parte de 2010 tem prosseguido ao longo do corrente ano. Assim, encontra-se nesta altura ultrapassada, em grande parte, uma situação que afectou muito negativamente a actividade de um número incontável de empresas dos sectores não petrolíferos, particularmente do sector da construção e obras públicas e de sectores situados a montante deste. Por sua vez, o facto de o preço do petróleo se ter mantido ao longo do 1º semestre do corrente ano muito acima do valor de referência assumido na elaboração do Orçamento do Estado para 2011 (de USD 72,3 por barril) deverá permitir, nos termos do previsto na 4ª Avaliação à execução do Acordo de Stand By, que as despesas de capital da iniciativa do Estado, especialmente em infra-estruturas necessárias ao desenvolvimento, possam ser aceleradas no 2º semestre, o que deverá proporcionar um estímulo adicional ao nível de actividade. Para esse efeito deverá ser apresentado oportunamente um orçamento suplementar que poderá contemplar também algumas despesas prioritárias de carácter social. 2

Assim sendo, a previsão de crescimento de 7,8% avançada pelo FMI em Abril parece ganhar sustentação. 2.2 Reservas oficiais de divisas em clara recuperação Tendo atingido no final de 2010 o montante de USD 17.326 milhões, em termos líquidos (USD 19.339 milhões em termos brutos) - traduzindo uma recuperação de quase USD 5 mil milhões em relação ao valor registado no final de 2009 - as reservas oficiais de divisas continuaram a aumentar no corrente ano, situando-se em USD 18.607 milhões no final de Abril último (USD 20.784 milhões em termos brutos). Esta evolução é explicável tanto pela manutenção de um preço do barril de petróleo bem mais alto do que o esperado como pela contenção nos gastos orçamentais cumprindo os compromissos no âmbito do Stand-By Arrangement. É pois expectável, tal como avançamos na anterior edição deste Boletim, que o nível das reservas líquidas possa ultrapassar USD 20.000 milhões no final do corrente ano. Apresentamos de seguida um quadro resumo com a evolução mensal das reservas de divisas internacionais (brutas e líquidas) entre Dezembro de 2010 e Abril de 2011 (em USD milhões). Dez/ 2010 Jan/ 2011 Fev/2011 Mar/ 2011 Abril/2011 Reservas Brutas 19.339 19.456 19.393 20.066 20.784 Reservas Liquidas 17.326 17.278 17.216 17.889 18.607 2.3 Estabilidade nominal da taxa de câmbio USD/KWZ Em contraste com a evolução algo errática registada no ano anterior, a taxa de câmbio entre o USD e o Kwanza tem exibido uma notável estabilidade ao longo do corrente ano, certamente em resultado de uma opção deliberada de política económica, embora deva ser referido que também se tem registado um comportamento algo semelhante no marcado informal. Entre o início do ano e o dia 22 de Junho, a taxa de câmbio USD/KWZ apreciou 0,701% segundo cálculos do BNA, passando o valor médio da compra e venda no mercado interbancário para 93,293, de um valor de 92,643 no início do ano. 3

Esta evolução, como se referiu, parece corresponder a um propósito de utilizar a taxa de câmbio como instrumento de contenção da subida dos preços, aceitando a valorização real do Kwanza, numa altura em que as preocupações com as reservas de divisas se atenuaram e a evolução dos termos de troca tem vindo novamente a favorecer a economia angolana. Note-se no entanto, como de resto os dados mais recentes sobre os preços no consumidor revelam, que a eficácia deste instrumento no controlo da inflação é limitada, uma vez que persistem factores estruturais, ligados ao funcionamento menos eficiente dos mercados de bem e de serviços, nomadamente de bens essenciais, que constituem um elemento de pressão permanente sobre os preços. Por outro lado, enquanto no curto prazo se não colocam dificuldades com a apreciação real da taxa de câmbio, que esta estabilidade nominal implica, é preciso não esquecer que a prazo mais longo a manutenção duma política de valorização real muito significativa pode vir a constituir um factor a favorecer as importações de bens desincentivando a correspondente produção nacional. 2.4 Inflação continua elevada, embora com alguns sinais de atenuação A inflação, medida pelo índice de preços no consumidor na cidade de Luanda, depois de ter registado em 2010 uma subida superior a 2% em média anual - em boa parte, convém recordar, por efeito da forte subida dos preços dos combustíveis ocorrida em Setembro - tem mantido níveis elevados, como decorre dos valores do quadro abaixo. Note-se, todavia, que nos últimos meses se tem verificado uma ligeira tendência de abrandamento, traduzida no facto de a inflação dos últimos 12 meses ter passado de 15,3% no final de 2010 para 14,63% em Abril último. A atenuação da subida de preços continua a constituir um objectivo central da política económica, como de resto o FMI assinala numa declaração muito recente, de 27 de Junho, emitida após a conclusão dos trabalhos da 5ª Avaliação do Stand By Arrangement. Convém no entanto ter em conta que, na fase de aceleração em que a economia angolana se encontra, o objectivo de contenção da subida de preços se torna mais difícil enquanto persistirem os problemas estruturais da organização dos mercados de produtos e de factores. O eficaz controlo da inflação exige tempo e grande persistência na condução de uma política de melhoria dos circuitos de distribuição e das regras de funcionamento dos mercados de produtos e de factores no sentido de lhes transmitir maior concorrência e agilidade. 4

Índice de Preços no Consumidor em Luanda (2011) valores da inflação Mensal Acumulado Média Anual* Media valores mensais ** (1) (2) (3) (4) Jan 0,63 0,63 15,13 1,18 Fev 0,83 1,47 15,06 1,18 Mar 0,78 2,27 14,76 1,15 Abr 0,92 3,21 14,63 1,14 *Média dos últimos 12 meses **Média dos valores mensais nos últimos 12 meses Atentando nos valores do quadro acima, pode concluir-se que existindo uma tendência de queda da inflação média dos últimos 12 meses (col 3) bem como da média dos valores mensais (col 4), a situação apresenta ainda alguma incerteza como decorre da evolução dos valores mensais (col 1), em que se tem registado alguma subida nos primeiros meses do corrente ano (um padrão aliás semelhante ao que havia ocorrido em 2010). 3. BNA procura facilitar crédito à economia mas trava empréstimos em M/E O Banco Nacional de Angola reduziu em 6 de Abril último a taxa de redesconto de 25 para 20% e em 28 do mesmo mês baixou o coeficiente de reservas de caixa que exige aos bancos, pelas responsabilidades destes em moeda nacional e moeda estrangeira, de 25 para 20%. Com estas medidas, o BNA terá pretendido facilitar o acesso dos agentes económicos ao crédito bancário, melhorando as condições de liquidez da economia e procurando, do mesmo passo, através de um menor custo do crédito, aliviar as pressões sobre os preços. Será contudo de ter em conta que o eventual efeito moderador sobre os preços de uma redução nos custos do crédito bancário poderá vir a ser contrariado pelo efeito altista resultante de um aumento da procura associado a uma maior facilidade de acesso ao crédito, tornandose por isso difícil avaliar o impacto líquido final destas medidas sobre o nível de preços. 5

Entretanto, através do Instrutivo nº 03/2011, de 8 de Junho, o qual estabelece os ponderadores dos diferentes elementos do activo para efeito de cálculo do denominador do Rácio de Solvabilidade, o BNA tornou mais exigente em termos de consumo de capital dos bancos o crédito bancário expresso em M/E. Com efeito, o coeficiente aplicável aos créditos e outros elementos extra-patrimoniais (garantias bancárias por exemplo) em M/E, para efeito de cálculo do Rácio de Solvabilidade exigido aos bancos, passou a ser de 130% enquanto para os créditos e outros elementos extra-patrimoniais expressos em moeda nacional o coeficiente é de 100% ou mesmo inferior em alguns casos. No caso de créditos ao Estado, o coeficiente passa a ser de 20% para os créditos concedidos em moeda nacional e de 30% para os créditos concedidos em M/E. Esta medida foi entretanto acompanhada de uma importante restrição na concessão de financiamentos bancários em M/E, aplicada com o Aviso nº4/2011, de 8 de Junho, pelo qual passa a ser proibida a concessão de crédito para operações de tesouraria a empresas como tal se entendendo as operações contratadas por prazo até um ano bem como o crédito a particulares para aquisição de bens de consumo e equiparados. Ficam isentos desta restrição o Estado bem como as empresas que possam fazer prova de terem receitas em M/E suficientes para fazer face ao serviço da dívida de tais financiamentos. As operações de crédito bancário ao investimento, de prazo superior a 1 ano, ficam também isentas desta restrição, continuando a poder ser expressas em M/E. Com estes procedimentos, o BNA procura incentivar o uso da moeda nacional nas transacções realizadas no País, reduzindo ao mesmo tempo o fenómeno conhecido por dolarização da economia angolana. 4. Uma nova Lei do Investimento Privado Foi publicada em 20 de Maio último a Lei nº20/11 que aprova o novo regime do Investimento Privado, revogando as anteriores Lei nº11/03, Lei de Bases do Investimento Privado, e Lei nº17/03, Lei sobre os Incentivos Fiscais e Aduaneiros ao Investimento Privado. 6

De acordo com o preâmbulo desta nova Lei, os seus principais objectivos são os seguintes: Manter e reforçar os direitos e garantias dos investidores privados; Introduzir regras e procedimentos claros, simples e céleres no processo de aprovação dos investimentos privados; Criar, para os investidores, um sistema de incentivos, benefícios e facilidades que atenda, em concreto, ao impacto económico e social dos projectos; Adequar o quadro legal do investimento privado à nova realidade constitucional de Angola e o sistema de incentivos e benefícios fiscais e aduaneiros à reforma tributária em curso. Sem se pretender realizar aqui uma análise detalhada do novo regime legal do Investimento Privado, até pela grande extensão que o caracteriza, deixam-se breves apontamentos sobre aspectos que parecem merecer especial saliência. 1) O regime aplica-se em geral aos investimentos realizados por entidades privadas ficando excluídos os que sejam promovidos por entidades privadas em cujo capital participem entidades públicas, com 50% ou mais (artigo 3º, nº3) mas dirige-se em especial ao investimento promovido por estrangeiros, residentes ou não residentes, uma vez que no seu artigo 3º, nº6, refere que Lei própria regula o sistema de incentivos e outras facilidades a conceder pelo Estado a investidores de nacionalidade angolana, no quadro do fomento empresarial ; 2) O regime sistematiza as garantias de que poderão gozar, bem como as condições e regras de acesso aos benefícios fiscais, aduaneiros, cambiais e outros de que poderão beneficiar os investimentos privados, externos ou internos, de valor igual ou superior a USD 1 milhão (artigo 3º, nº1), remetendo os investimentos de montante inferior para a legislação geral aplicável ao comércio e às empresas (artigo 91º); 3) No tocante às garantias, cabe relevar as que se referem ao repatriamento de capitais, nomeadamente a transferência de lucros e dividendos ou do produto da liquidação dos investimentos (artigo 18º), bem como os critérios para graduação do direito de repatriamento de lucros e dividendos, que atendem às zonas do País em que os investimentos se localizem bem como ao respectivo montante (artigo 20º); 4) No tocante aos benefícios fiscais e aduaneiros estes podem revestir diversas modalidades (artigo 26º, nº 2), sendo concedidos em atenção a critérios de relevância económica e social dos projectos, definidos no artigo 27º, estabelecendo o artigo 28º o seu carácter excepcional e temporário; 7

5) Para atribuição dos benefícios fiscais são estabelecidas 3 zonas de localização dos projectos de investimento zonas A, B e C, também denominadas zonas de desenvolvimento sendo a dimensão dos incentivos fiscais, em sede de Imposto industrial (artigo 38º), Imposto sobre a aplicação de capitais (artigo 40º) e Sisa (artigo 42º), estabelecida em função da localização do investimento em cada uma das sobreditas zonas; 6) É estabelecido um regime processual único para implementação dos investimentos a que esta lei é aplicável, que é o Regime Contratual, o qual se caracteriza (artigo 51º, nº2) por implicar uma negociação entre o candidato a investidor e as autoridades competentes do Executivo, sobre os termos específicos do investimento, podendo incidir sobre os incentivos e benefícios pretendidos no âmbito de um contrato de investimento..., ficando pois todos os projectos da alçada desta lei sujeitos ao Regime Contratual, mediante a celebração de um contrato de investimento cujo conteúdo genérico é definido no artigo 53º, nº2; 7) A ANIP continua a ser a entidade responsável pela recolha e análise de todas as propostas de investimento privado que caibam na alçada desta lei (artigo 54º), cabendolhe, num prazo máximo de 45 dias, apreciar, negociar e remeter para aprovação os termos do investimento proposto (artigo 57º). 8) Uma vez aceite a proposta de investimento pela ANIP, caberá a uma Comissão de Negociação de Facilidades e Incentivos (CNFI), que deverá funcionar junto da ANIP, proceder, no prazo de 30 dias, à análise e avaliação da proposta de investimento...e estabelecer as negociações com o investidor sobre os incentivos e benefícios por este solicitados (artigo 57º, nº3); 9) A decisão final quanto aos projectos de investimento e nomeadamente a atribuição de incentivos e benefícios fiscais cabe à ANIP, no caso de projectos de montante não superior a USD 10 milhões, e ao Executivo no caso de projectos de valor superior a USD 10 milhões (artigo 60º); 10) Para projectos de montante superior a USD 50 milhões, sem prejuízo da competência da ANIP para a sua apreciação e instrução, o Titular do Poder Executivo poderá determinar a criação de uma CNFI ad hoc para negociar com o investidor a atribuição dos incentivos e preparar a decisão final (artigo 60º, nº 3); 8

11) Compete à ANIP, uma vez aprovada em definitivo a proposta de investimento e nos termos do artigo 61º, assinar o respectivo contrato, promover o registo e emitir (no prazo de 15 dias a contar da aprovação) o Certificado de Registo de Investimento Privado (CRIP), sendo que a este documento é atribuída a natureza de título de investimento privado, constituindo o documento comprovativo da aquisição dos direitos e da assumpção dos deveres de investidor privado...devendo servir de base para todas a operações de investimento, acesso a incentivos e facilidades, obtenção de licenças e registos, solução de litígios e outros factos decorrentes da atribuição de facilidades e incentivos (artigo 65º); 12) Emitido o CRIP cabe ao investidor dar início ao projecto de investimento no prazo fixado no CRIP e no contrato de investimento (artigo 70º) e requerendo ao BNA o licenciamento da importação de capitais através de uma instituição bancária (artigo 66º). Numa nota de comentário, refira-se que embora subsista nesta nova Lei uma margem elevada de discricionariedade nas decisões finais sobre os projectos de investimento privado a qual pode vir a constituir fonte de incerteza para futuras decisões dos investidores é visível a preocupação das Autoridades em estabelecer um sistema de decisão expedito e relativamente simples visando facilitar a implementação dos projectos de investimento. Nota Final (Disclaimer) Fontes principais da informação utilizada nesta edição do Boletim: Banco Nacional de Angola; FMI As observações e conclusões que se encontram expressas neste documento acerca do significado da informação objectiva apresentada não constituem opinião do Banco BAI Europa, reflectindo exclusivamente a opinião das pessoas que elaboraram o respectivo texto. 9