PARECER N.º 12547 PROCESSO ADMINISTRATIVO- DISCIPLINAR. PRAÇA PERTENCENTE AOS QUADROS DA BRIGADA MILITAR, PROCESSADO PERANTE À JUSTIÇA MILITAR POR DELITO CONTRA OS COSTUMES ONDE LHE FOI COMINADA A PENA INFERIOR A DOIS ANOS, SEM A PERDA DA FUNÇÃO, DEVE SER LEVADO A CONSELHO DISCIPLINAR PARA PERQUIRIR- SE A INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA. INDEPENDÊNCIA DAS INSTÂNCIAS, INTELECÇÃO DO ART. 125, 4.º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Vem a exame para Parecer Consultivo da Equipe de Revisão da Procuradoria de Probidade Administrativa e de Processo Administrativo-Disciplinar da Procuradoria-Geral do Estado o processo n.º 016885-12.03/98.7, encaminhado pelo então Secretário da Justiça e da Segurança que, objetiva dirimir divergências ocorrentes entre o Tribunal Militar e a Assessoria Jurídica da Brigada Militar acerca da competência no direito processual disciplinar. O ponto nodal da questão está em perquirir-se se compete à Justiça Militar Estadual decidir, em qualquer hipótese, sobre a perda do posto e da graduação das Praças, consoante se dessume da parte final do 4.º, do art. 125, da Constituição Federal. Desta forma, no entender da Assessoria Jurídica da brigada Militar, uma vez a Praça condenada por crime militar, haveria desnecessidade de realizar-se processo administrativo-disciplinar e, por
conseguinte, a Administração seria incompetente para decidir sobre a exclusão da Praça dos quadros da Brigada Militar, porque assim estatuiria o mandamento constitucional supra referido. Levado o problema ao Egrégio Tribunal Militar Estadual, aquela Corte, através de despacho do seu Presidente, acolhe a informação, exarada pelo Senhor Diretor-Geral de fls. 155-158, dizendo ser competência do Conselho Disciplinar da Corporação decidir sobre a permanência ou não de servidor em seus quadros, quando a decisão judicial condenatória não traz como pena acessória a perda da função. Para roborar essa intelecção, o ínclito Diretor-Geral do Tribunal Militar Estadual traz à colação a ementa do Recurso Extraordinário RE n.º 185730-7, Diário da Justiça da União de 17 de outubro de 1997, de que foi relator o Min. Marco Aurélio cuja ementa é a seguinte: PRAÇA. EXCLUSÃO DA FORÇA PROCESSO ADMINISTRATIVO x PROCESSO JURISDICIONAL. O que se contém na parte final do 4.º, do artigo 125, da Constituição Federal há de ter alcance perquirido mediante consideração dos preceitos 7.º e 8.º, do artigo 42 nela inseridos. Tratando-se de Praça e não oficial, possíveis são a perda da graduação e a expulsão mediante processo administrativo. Estabelecido o punctum saliens da controvérsia, inclino-me a perfilhar a tese esposada pelo Colendo Tribunal de Justiça Militar do Estado, no sentido de que a carta Magna não retirou a secular competência do Estado-Administração de exercer, em faixa própria, seu poder disciplinar em relação aos servidores que descumpram as normas ou regulamentos de seus quadros desde que, se assegure a ampla defesa nos termos do art. 5.º, inc. LV, da Constituição Federal, em razão da independência das funções potestativas estatais.
Destarte, penso que a hermenêutica mais consentânea com a espécie subexamine é aquela que entende ser a competência da Justiça Militar para decretar a pena de exclusão das Praças dos quadros da Corporação tão somente, quando esta punição derivar de conseqüência acessória de sentença penal condenatória, derivada da prática de crime militar, consoante a dicção do art. 125, 4.º, da Lei Maior. Na mesma linha de entendimento, o Min. Carlos Veloso, no Recurso Extraordinário RE n.º 197649-7, publicado no Diário Justiça da União, de 22 de agosto de 1997, assim se pronunciou: CONSTITUCIONAL. MILITAR. PRAÇA DA POLÍCIA MILITAR. EXPULSÃO. C.F. art. 125, 4.º. A prática de ato incompatível com a função policial militar pode implicar a perda da graduação como sanção administrativa, assegurando-se à praça o direito de defesa e o contraditório. Neste caso, entretanto, não há invocar julgamento pela Justiça Militar Estadual. A esta compete decidir sobre a perda de graduação das praças, como pena acessória do crime que a ela, Justiça Militar Estadual, coube decidir, não subsistindo, em conseqüência, relativamente aos graduados, o art. 102 do Código Penal Militar, que a impunha como pena acessória da condenação criminal à prisão superior a dois anos. Ex positis, o parecer é no sentido de entender que cabe ao Conselho de Disciplina da Corporação da Brigada Militar decidir sobre a continuidade ou não do servidor acusado de crime civil ou militar, em cuja sentença condenatória não estiver prevista a perda da função pública, em razão de que os princípios setoriais de nossa Lei Maior, no que diz com a Administração Pública, estabelecem simetria de tratamento em vários tópicos entre os servidores militares e civis, haja vista o 11.º, do art. 42, da Constituição Federal e o próprio Estatuto da Brigada Militar - Lei Estadual n.º 7.138/78, que em seu art. 170, dispositivos estes recepcionados pela Lei Complementar n.º 10.990, que em seu art. 44, manteve as mesmas disposições da Lei Estadual n.º 7.138/78 e estes diplomas legais mandaram aplicar subsidiariamente o Estatuto dos Servidores Públicos Civis nos casos omissos e estes servidores quando estáveis, acusados de irregularidades funcionais assemelhada a de que cuida o presente feito, são submetidos a
processo administrativo-disciplinar, ex vi do art. 41, 1.º, da Constituição Federal, combinado com art. 200, inc. II, da Lei Complementar n.º 10.098/94. É o parecer, s.m.j. Sala de sessões, 27 de maio de 1999. José Hermílio Ribeiro Serpa, Relator. Igor Koehler Moreira, Luiz Felipe Targa, Sérgio Severo, Roque Marino Pasternak, Ivete Maria Razzera.
Processo nº 016885-12.03/98.7 Acolho as conclusões do PARECER nº 12547, da Procuradoria de Probidade Administrativa e de Processo Administrativo-Disciplinar, de autoria do Procurador do Estado Doutor JOSÉ HERMÍLIO RIBEIRO SERPA. Restitua-se o expediente ao Excelentíssimo Senhor Secretário de Estado da Justiça e da Segurança. Em 08 de julho de 1999. Paulo Peretti Torelly, Procurador-Geral do Estado.