Rindo à toa Como um cientista fez uma pequena empresa de Sorocaba virar a grande rival de grupos internacionais Por Katia Simões MARCELO GOLINO, SÓCIO DA CHEMYUNION: união da ciência com a biodiversidade da flora do Brasil gerou 20 patentes Partindo de São Paulo, a viagem até Cruzeiro do Sul, no estado do Acre, demora 24 horas, entre as várias escalas de voo. Encravada no meio da floresta amazônica, a cidade só tem acesso por terra três meses por ano, fora da estação das chuvas. No resto do tempo, só de barco. É nesse cenário, praticamente virgem, que a Chemyunion Química, empresa paulista, com sede em Sorocaba, especializada na fabricação de insumos para a indústria cosmética, busca sua principal matériaprima: ativos da biodiversidade da flora brasileira. Desde o ano 2000 esse é o nosso maior diferencial frente aos fabricantes internacionais, afirma o empreendedor Marcelo Golino, 47 anos. Sabíamos que só teríamos o passaporte do futuro se apresentássemos algo comprovadamente diferente dos produtos conhecidos no mercado. A busca pela diferenciação por meio da união da ciência com a biodiversidade brasileira levou a Chemyunion a firmar parcerias com as universidades para desenvolver pesquisas de cunho científico e optar por trabalhar com uma mão de obra altamente qualificada, farta em mestres e doutores em nanotecnologia, síntese química e farmacologia. Dos 96 funcionários, 60% têm curso superior completo. O resultado é o pedido de 20 patentes no Brasil e no exterior, mais de 250 produtos em linha, entre modificadores sensoriais, conservantes e ativos, distribuídos para 800 clientes dentro e fora do país, entre eles Unilever, Avon, Natura, O Boticário, Biolab e a internacional Estée Lauder. A Chemyunion é uma empresa que arrisca na geração de novos produtos com uma clara e ampla visão das necessidades do mercado, buscando nas parcerias com a universidade os elementos que faltam para que os produtos virem realidade. Faz isso investindo em
pesquisa, o que a torna muito diferente das demais, afirma Luiz Cláudio Di Stasi, coordenador do Laboratório de Fitomedicamentos da Unesp de Botucatu. CHEMYUNION QUÍMICA FUNDAÇÃO >>> 1992 SEDE >>> Sorocaba, SP O QUE FAZ >>> Fabricante de matérias-primas voltadas à indústria cosmética e insumos farmacêuticos FUNCIONÁRIOS >>> 96 FATURAMENTO 2009 (ESTIMADO) >>> R$ 36 milhões De acordo com Golino, provar ao mercado que seria possível a uma pequena empresa 100% brasileira produzir insumos de alta qualidade foi um de seus grandes desafios. Por isso, desde o primeiro ativo de construção simples e próprio para a formulação de cremes, lançado na década de 90, a empresa somou à apresentação do produto seus estudos científicos e de eficácia clínica. Não bastava lançar algo novo, era preciso comprovar com o aval da academia que realmente cumpria o que prometia, conta a sócia Maria Del Carmen Pereda, 45 anos. No começo, batíamos de porta em porta apresentando as linhas. Não foi fácil ganhar espaço. Uma das primeiras empresas a fechar um pedido foi a Natura, parceira até hoje. Eles têm uma postura pró-ativa, capacitam muito o corpo técnico, buscam sempre oferecer novas tecnologias, além de ter um centro de pesquisa instalado no Brasil, o que faz muita diferença no desenvolvimento de produtos em conjunto, diz Daniel Gonzaga, diretor de pesquisa e tecnologia da Natura. Seguindo essa cartilha, a Chemyunion foi pioneira em uma série de lançamentos, como a manteiga à base de semente de murumuru, de alto poder hidratante; o ativo específico para o combate de olheiras, bolsas de gordura e edemas na região dos olhos, tudo ao mesmo tempo; o silicone vegetal e o óleo extraído da semente do café verde, que facilita o transporte de água na pele, além de ter ação antiinflamatória. A próxima novidade, que será lançada em novembro, é uma linha de conservantes para cosméticos de origem vegetal, em substituição aos ativos químicos, adianta Golino. Inovar é uma necessidade constante nesse universo caracterizado pelo domínio rápido de processos e conceitos. O ciclo médio de vida de um cosmético é de três anos, e quem não trabalha para oferecer algo novo, morre na praia. O empresário observa, ainda, que o grande desafio está em inovar na hora certa. Criar soluções que o mercado ainda não está preparado para absorver pode custar tempo e dinheiro, daí a necessidade de acompanhar de perto os rumos que a indústria de cosméticos toma no mundo.
CULTIVO ORGÂNICO DA PRÓPRIA MATÉRIA-PRIMA O picão preto e o camapu são as primeiras plantas cultivadas pela Chemyunion com o objetivo de permitir o rastreamento da produção Com uma produção de 130 toneladas mensais de ativos, a Chemyunion funciona hoje em uma estrutura apertada. Costumamos brincar que não contamos nosso espaço em área, mas em metros cúbicos. Crescemos para cima, por pura falta de espaço, diz Golino. O motivo não é difícil de entender. Em 2001, um problema ocorrido com um dos reatores provocou um incêndio que destruiu toda a fábrica. Ninguém saiu ferido, mas a estrutura precisou ser refeita e as máquinas, substituídas. Só conseguimos dar a volta por cima porque conhecíamos todas as peculiaridades do negócio, lembra o empresário. O estoque de 60 dias, preservado do fogo, serviu para cumprir as entregas e por seis meses a produção foi terceirizada em uma indústria química parceira, que liberou os turnos ociosos para a equipe da Chemyunion operar. Foi um período difícil. Trabalhávamos dia e noite para não atrasar os pedidos e nem interromper as pesquisas, afirma Golino. O sacrifício nos deixou mais maduros e acelerou o aparecimento dos cabelos brancos. Aprendemos que não adianta crescer em um ritmo alucinante até as máquinas têm seus limites. A experiência serviu, também, para os sócios desenharem com segurança e avanço tecnológico a nova planta de fábrica que entrará em operação em 2010. São 6 mil metros quadrados de área construída, três vezes mais que a atual. Cerca de 700 metros quadrados foram reservados para abrigar os laboratórios de pesquisa e teste, entre eles o de biologia celular e molecular, um dos poucos no país a fornecer laudos de análise de eficácia e segurança in vitro de produtos acabados e de matéria-prima. No mundo dos negócios, a lei da reciprocidade é infalível. quem olha para o próprio umbigo cria uma empresa limitada A opção por trabalhar com pesquisas in vitro e não realizar testes em animais faz parte da conduta da Chemyunion. A empresa tem por filosofia apenas manipular
materiais provenientes de fontes naturais. Toda a matéria-prima originária da biodiversidade brasileira tem certificação vegetal, é extraída por comunidades da Amazônia, com o mínimo de impacto possível na floresta, afirma Golino. Preferimos concentrar a extração em uma única região para ter maior controle da interferência local. Foi com esse objetivo que, há dois anos, a Chemyunion adquiriu uma área de 900 hectares de floresta virgem no Acre, rica em árvores como buriti, açaí, murumuru e cupuaçu. E, paralelamente, reservou uma boa área da nova sede, que conta com uma reserva de mata natural de 42 mil metros quadrados, para o plantio ao ar livre e em estufa de plantas usadas em larga escala na produção, como o picão preto e o camapu, ambos com certificação orgânica. Cada vez mais defendemos o conceito de que as empresas só terão futuro se somarem tecnologia à preservação do meio ambiente. Não adianta ter no portfólio grandes descobertas, se na prática você diminui a qualidade de vida na Terra, diz Golino. Dentro dessa proposta, a produção da indústria gera poucos resíduos, que são controlados pela Cetesb. A água utilizada é tratada e reaproveitada para resfriar o ambiente da fábrica. Defensor da gestão descentralizada e da motivação contínua do grupo com objetivos claros e recompensas determinadas previamente, Golino diz que investir na boa formação da equipe e valorizar os talentos individuais é um dos segredos do sucesso. É preciso trabalhar em prol do todo. No mundo dos negócios, a lei da reciprocidade é infalível. Quem olha para o próprio umbigo cria uma empresa limitada, afirma o empresário. O melhor gestor é o melhor servidor das necessidades dos outros. Talvez esteja aí a resposta para a pequena empresa de Sorocaba ser apontada pela gigante Estée Lauder como uma das cinco indústrias com maior potencial de crescimento na área de ativos destinados à fabricação de cosméticos em todo o mundo. Quer responsabilidade maior do que essa?, questiona Golino. PIONEIRISMO ASSEGURADO Conheça seis das 20 patentes requeridas pela Chemyunion na área de insumos para a indústria de cosméticos ao longo de duas décadas RELIEVENE SK ATIVO: extrato de rhodiola rósea associado a peptídeos, aplicado no tratamento da sensibilidade da pele. Usado em produtos anti-age e pós-depilatórios PATENTE: aplicação do produto, Brasil, 2007 POR QUE É INOVADOR: atua efetivamente no controle de ardências, vermelhidões e queimações da pele
SERISEAL ATIVO: composto de nanopartículas de sericina, proteína produzida pelo bicho-da-seda, que adere à superfície dos cabelos, fechando as cutículas, regenerando os fios e garantindo maciez e brilho PATENTE: aplicação do produto, Europa, 2009 POR QUE É INOVADOR: pelo processo de nanotecnologia aplicado à sericina MELSCREEN BURITI ATIVO: o óleo da polpa da palmeira buriti aumenta a elasticidade, diminui o ressecamento e protege a pele dos efeitos da radiação ultravioleta PATENTE: aplicação do produto, Brasil, 2003 POR QUE É INOVADOR:é fonte de antioxidantes naturais e apresenta redução comprovada dos danos causados à pele pelos raios UV BR FOREST ATIVO: a gordura dos frutos do murumuru, transformada em manteiga natural, hidrata a pele seca e cansada. Em cabelos, restaura o brilho PATENTE: aplicação do produto, Brasil e EUA, 2001 POR QUE É INOVADOR: mesmo em baixa concentração, de 0,2%, restaura a hidratação da pele e reorganiza o processo de queratinização
SLIMBUSTER H ATIVO: composição cosmética concentrada de marapuama e catuaba enriquecida com pfaffia, usada no combate às gorduras localizadas PATENTE: aplicação do produto, Brasil, 2004 POR QUE É INOVADOR: atua no tratamento da celulite por meio da normalização das defesas naturais do organismo. É o primeiro feito com plantas brasileiras SLIMBUSTER L ATIVO: o óleo de café verde, associado à canola, auxilia no tratamento de alterações cutâneas, como a celulite e a gordura localizada PATENTE: aplicação do produto, Brasil, 2006 POR QUE É INOVADOR: aumenta comprovadamente a elasticidade e a firmeza da pele através da síntese de fibras essenciais da derme