CONSULTA N.º 29/2013 CAOP Cível OBJETO: Cível Execução de Título Extrajudicial contra Fazenda Pública Transação Requisição de Pequeno Valor Pagamento Depósito Bancário - Impossibilidade INTERESSADA: 21ª SEÇÃO JUDICIÁRIA DA COMARCA DE BANDEIRANTES CONSULTA N. 29/2013: 1. Trata-se de consulta suscitada em 1º de agosto de 2013 via sistema Webmail pelo d. Promotor de Justiça José Augusto Marcondes Bernardes Gil, em atuação na 21ª Seção Judiciária da Comarca de Bandeirantes. A dúvida elaborada pelo nobre colega cinge-se à possibilidade ou não de pagamento de débito por parte da Fazenda Pública na forma de depósito bancário. Relatou-se que em ação de Execução de Título Extrajudicial, proposta contra o município de Santa Amélia-PR, houve transação entre exequente e o ente executado. 1
Nesse acordo, ficou estabelecido que o executado pagaria ao exequente o montante de R$ 4.496,20, valor reduzido em comparação à quantia a que se pretendia no início da tramitação processual. Ainda nesse instrumento de acordo, instituiu-se que a forma para o pagamento da dívida se daria por meio de depósito bancário. Nessa esteira, questionou o d. Promotor acerca da viabilidade de realização do depósito bancário, identificando-se a problemática sobre a necessidade ou não de expedição de precatórios requisitórios de forma a solver o débito. É o que cumpria relatar, passo à manifestação. 2. Antes de ingressar à questão que cerca as formas de pagamento de débitos por parte da Fazenda Pública, cumpre confirmar a possibilidade de execução de título extrajudicial em face de ente público. Embora o artigo 100 da Constituição estipule que 1, excetuando-se a dívida alimentícia, os pagamentos devidos pela Fazenda Pública serão realizados após constituição de sentença judicial, tanto a doutrina como a jurisprudência corroboram a via de ação de execução de título extrajudicial como adequada ao mesmo propósito. 1 Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim. 2
Nesse sentido, estabelece a súmula 279 do Superior Tribunal de Justiça que é cabível execução por título extrajudicial contra a Fazenda Pública. Uma vez que preencha todos os requisitos legais, o título extrajudicial apresentado contra a Fazenda possuirá força executória equivalente a de uma sentença judicial, de modo que se revela a plena consonância da súmula 279 do Superior Tribunal de Justiça em relação ao artigo 100 da Constituição Federal. De acordo com o relatado pelo Promotor de Justiça, em determinado momento processual as partes apresentaram instrumento de acordo, pretendendo a homologação deste para a solução do litígio de forma imediata. Insta salientar que, uma vez homologado o acordo, formar-se-á título executivo judicial, adequando-se perfeitamente à disposição acerca do artigo 100 da Constituição. Sob a perspectiva formal, não há óbices na formação de título executivo que imponha ao ente público o pagamento de certa quantia em dinheiro. Entretanto, a forma do pagamento estabelecida na transação entre as partes deve ser revista. Segundo o exposto pelo ilustre colega, combinaram as partes o pagamento de R$ 4.496,20 por meio de depósito bancário, dispensando o Município a elaboração e inscrição de precatório. 3
O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, nos incisos do artigo 86, estabelece o seguinte: Art. 86. Serão pagos conforme disposto no art. 100 da Constituição Federal, não se lhes aplicando a regra de parcelamento estabelecida no caput do art. 78 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, os débitos da Fazenda Federal, Estadual, Distrital ou Municipal oriundos de sentenças transitadas em julgado, que preencham, cumulativamente, as seguintes condições: I - ter sido objeto de emissão de precatórios judiciários; II - ter sido definidos como de pequeno valor pela lei de que trata o 3º do art. 100 da Constituição Federal ou pelo art. 87 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias; III - estar, total ou parcialmente, pendentes de pagamento na data da publicação desta Emenda Constitucional. São previstas no artigo exposto que a Fazenda Pública, seja federal, estadual, distrital ou municipal, quitará seu débitos somente se emitido precatório requisitório, se identificada a dívida como de pequeno valor e se pendente a débito na data da publicação da Emenda nº 37 de junho de 2002. Norteando os fins protetivos do patrimônio público, a observância do princípio da legalidade remata a existência das maneiras hábeis ao pagamento de dívidas pela Administração Pública, sem abrir espaço para a existência outros meios que se prestem a esse objetivo. 4
Em seguida ao artigo 86, o artigo 87 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias define que, perante a Fazenda dos Municípios, serão enquadradas como de pequeno valor as quantias que sejam iguais ou inferiores a trinta salários mínimos, conforme segue: Art. 87. Para efeito do que dispõem o 3º do art. 100 da Constituição Federal e o art. 78 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias serão considerados de pequeno valor, até que se dê a publicação oficial das respectivas leis definidoras pelos entes da Federação, observado o disposto no 4º do art. 100 da Constituição Federal, os débitos ou obrigações consignados em precatório judiciário, que tenham valor igual ou inferior a: I - quarenta salários-mínimos, perante a Fazenda dos Estados e do Distrito Federal; II - trinta salários-mínimos, perante a Fazenda dos Municípios. Parágrafo único. Se o valor da execução ultrapassar o estabelecido neste artigo, o pagamento far-se-á, sempre, por meio de precatório, sendo facultada à parte exeqüente a renúncia ao crédito do valor excedente, para que possa optar pelo pagamento do saldo sem o precatório, da forma prevista no 3º do art. 100. Em apurado cálculo, para os municípios serão consideradas quantias de pequeno valor aquelas que se igualem, ou que não excedam, atualmente, R$ 20.340,00. Para as quantias superiores, é incabível a requisição de pagamento de quantia de pequeno valor (conhecida como RPV Requisição de Pequeno Valor), devendo ser emitido precatório requisitório obrigatoriamente. 5
Conforme exposto pelo Promotor, obviamente o quantum debeatur ajustado entre as partes emoldura-se na modalidade proposta pelas Requisições de Pequeno Valor. No estado do Paraná, vige a Resolução nº 06/2007 do Tribunal de Justiça, a qual pretende uniformizar procedimentos para a execução das Obrigações de Pequeno Valor contra a Fazenda Pública Municipal. Por meio dessa normativa, reforça-se o valor de teto para as Requisições de Pequeno Valor, ressaltando que o Município poderá fixar valores distintos por meio de lei municipal. Não foi encontrado sítio eletrônico oficial da prefeitura do município de Santa Amélia, bem como não foram localizadas online leis municipais que discorram sobre o tratamento de Requisições de Pequeno Valor em tal município. Destarte, o teto de R$ 20.340,00 para o pagamento de dívidas municipais por intermédio de Requisições de Pequeno Valor se aplica ao município de Santa Amélia. Como se vê, as Requisições de Pequeno Valor se mostram como alternativas à emissão de precatórios requisitórios, promovendo um caminho mais célere para solver a dívida dos cidadãos. 6
O rito para as Requisições de Pequeno Valor no estado do Paraná é previsto na Resolução nº 06/2007, que estabelece todas as formalidades às quais o Juízo e as partes obedecerão. Especialmente quanto à duvida do nobre colega, a referida Resolução oferece a respectiva resposta. Em conformidade com o artigo 8º da Resolução 06/2007 do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná 2, os pagamentos realizados pelo município via Requisição de Pequeno Valor deverão ser realizados por meio de depósito em conta judicial, sem estender à hipótese de forma de pagamento via depósito bancário, diretamente na conta corrente do credor. Sugere-se, então, para o caso concreto apresentado, a elaboração de parecer do Ministério Público que demonstre a ilegalidade contida no acordo que se aspira homologar, recomendando a redação de novo termo de acordo, retificando a forma de pagamento a qual o município se sujeitará, obedecendo o disposto na Resolução 06/2007 do TJPR. 3. Frente ao questionamento formulado e aos dados fornecidos a esta coordenadoria do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça Cíveis, Falimentares, de Liquidações Extrajudiciais, das Fundações e do Terceiro Setor, são esses, em tese, os esclarecimentos que se entende adequados. 2 Art.8.º - Os pagamentos serão efetuados por meio de depósito à disposição do Juízo da execução, em instituição bancária pública federal. 7
Persistindo quaisquer dúvidas, poderá a solicitante encaminhar novos questionamentos. Curitiba, 12 de agosto de 2013. TEREZINHA DE JESUS SOUZA SIGNORINI Procuradora de Justiça Coordenadora Amanda Maria Ferreira dos Santos Estagiária de Direito 8