CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA CÍVEIS FALIMENTARES, DE LIQUIDAÇÕES EXTRAJUDICIAIS, DAS FUNDAÇÕES E DO TERCEIRO SETOR

Transcrição

1 PROTOCOLO N.º 16/2012 OBJETO: Aplicabilidade da Lei n 5.768/71 à Fundação Cultural Nossa Senhora da Glória e, consequentemente, obrigatoriedade de autorização do Ministério da Fazenda para distribuição de prêmios pela instituição e orientações específicas para a fiscalização da distribuição de prêmios por entidades do Terceiro Setor, sendo elas de utilidade pública ou não. INTERESSADA: 13ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MARINGÁ/PR PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE, FUNDAÇÕES E TERCEIRO SETOR CONSULTA N. 16/2012: 1. Cuida-se de procedimento administrativo n instaurado pela 13ª Promotoria de Justiça da Comarca de Maringá/PR Proteção ao Meio Ambiente, Fundações e Terceiro Setor, para consulta a respeito da aplicabilidade da Lei n 5.768/71 à Fundação Cultural Nossa Senhora da Glória, em razão da realização de duas promoções destinadas à arrecadação de fundos para a entidade sem a autorização do Ministério da Fazenda, bem como às entidades que não detém o título de utilidade pública e distribuem prêmios com outras finalidades além da publicidade. Além disso, a consulta almeja obter posicionamento deste CAOP em relação à existência ou não de orientações específicas para a Av. Mal. Deodoro Edifício Baracat 4º andar FONE: (41)

2 distribuição de prêmios por entidades do Terceiro Setor, independente de serem elas de utilidade pública ou não. Consta das informações presentes no procedimento que os questionamentos acima destacados foram formulados pela Auditoria da 13ª Promotoria de Justiça de Maringá/PR, após a análise das contas prestadas pela Fundação Cultural Nossa Senhora da Glória, relativas ao exercício de Apurou a auditoria que a referida Fundação, naquele ano, realizou uma campanha denominada ação entre amigos, na qual houve a venda de rifas no valor de R$5,00 (cinco reais) e o sorteio, como prêmio, de uma viagem e de seis montantes em dinheiro, objetivando angariar fundos para a construção de uma sede própria da entidade. Segundo relatório da auditoria, o prêmio em viagem foi convertido em dinheiro a pedido da ganhadora, a campanha foi realizada sem a autorização do Ministério da Fazenda e a Fundação Cultural Nossa Senhora da Glória não é reconhecida como sendo de utilidade pública. É o que cumpria relatar, passo à manifestação. 2. Relativamente ao caso concreto envolvendo a Fundação Cultural Nossa Senhora da Glória, tem-se que os questionamentos são, em suma, correlatos a aplicabilidade da Lei n 5.768/71. Av. Mal. Deodoro Edifício Baracat 4º andar FONE: (41)

3 Trata-se de lei federal que disciplina as modalidades lícitas de distribuição de prêmio mediante sorteio, vale brinde, concursos ou operações assemelhadas por pessoas físicas ou jurídicas: a distribuição gratuita de prêmio e o sorteio filantrópico. Verifica-se, a partir da leitura do texto da lei, que a iniciativa para a realização de sorteios por particulares é restrita as hipóteses autorizadas pelo legislador (cf. art. 4 da Lei n 5.768/71 c/c artigos 8 e 9 do Decreto Lei n /72) e depende, em todos os casos, da autorização do Ministério da Fazenda (cf. art. 1 da Lei n 5.768/71 e art. 2 da Portaria n 413/67 do Ministério da Justiça). Tal restrição advém da grande repercussão econômica que os sorteios particulares podem causar, em razão do potencial montante em dinheiro que pode ser absorvido da coletividade, bem como do poderdever do Estado de fiscalizar e prevenir eventuais resultados nocivos. A primeira modalidade prevista na lei, distribuição gratuita de prêmio a título de propaganda ou promoção comercial, somente pode ser realizada por pessoa jurídica que exerça atividade comercial, industrial ou de compra e venda de bens imóveis (cf. art. 1, caput e 1, da Lei n 5.768/71) e se caracteriza como uma estratégia de marketing consistente na distribuição gratuita de prêmios (sorteio, vale brinde, concurso ou operação assemelhada) visando fomentar a venda de produtos ou serviços ou a promoção de marcas e imagens Av. Mal. Deodoro Edifício Baracat 4º andar FONE: (41)

4 O sorteio filantrópico, a sua vez, é uma modalidade de distribuição de prêmio permitida, excepcionalmente, às entidades declaradas de utilidade pública que se dediquem, exclusivamente, às atividades filantrópicas, e tem por finalidade a obtenção de recursos adicionais para a manutenção ou para o custeio de obra social (cf. art. 4 da Lei n 5.768/71 e artigos 1 e 2 da Portaria n 413/97 do Ministério da Justiça) 2. Tem-se, pois, que o permissivo legal para realização de sorteios por entidades do Terceiro Setor trata-se de um benefício conferido, exclusivamente, às entidades portadoras do título de utilidade pública federal 3. Desse modo, é possível concluir que a prática de distribuição de prêmios por entidades fundações ou associações que se dediquem às atividades filantrópicas ou não, mas que não detenham a declaração de utilidade pública, é vedada, haja vista que a realização da atividade depende da autorização do Ministério da Fazenda a qual, conforme visto acima, somente é concedida àquelas que detêm o título de utilidade pública. Sabe-se, através das informações trazidas no procedimento, que a Fundação Cultural Nossa Senhora da Glória não possui a declaração de utilidade pública de forma que a distribuição de prêmios por ela feita no ano de 2007 não poderia ter sido realizada, 2http:// pico/saiba_mais.asp 3 PAES, José Eduardo Sabo. Fundações, Associações e Entidades de Interesse Social. 6ª Ed., Brasília Jurídica, ano 2006, p Av. Mal. Deodoro Edifício Baracat 4º andar FONE: (41)

5 em virtude não apenas da ausência de autorização do Ministério da Fazenda, mas, especialmente, da impossibilidade legal da prática de tal atividade. Registra-se, mais, que não se tem conhecimento de que a Fundação Cultural Nossa Senhora da Glória dedique-se, exclusivamente, às atividades filantrópicas segundo requisito legal previsto no art. 4 da Lei n 5.768/71. Também não se pode dizer que as campanhas realizadas pela referida Fundação amoldem-se à distribuição gratuita de prêmios, pois não se trata de pessoa jurídica que exerce atividade comercial, na medida em que se está diante de uma fundação cujas finalidades são restritas aquelas previstas no art. 62 do Código Civil de Além do que, a distribuição das rifas para a comunidade foi onerosa, em razão da venda dos cupons pelo valor de R$5,00 (cinco reais), e mesmo porque teve a finalidade de angariar fundos em prol da construção de sede da entidade. Por outro lado, cumpre destacar que a situação em epígrafe também não se enquadra em nenhuma das hipóteses previstas no art. 3 da Lei n 5.768/71, nas quais distribuição de prêmios independe de autorização. Portanto, diante das informações trazidas no procedimento, acredita-se que a Fundação Cultural Nossa Senhora da Glória incorreu em irregularidade ao realizar a distribuição de prêmios Av. Mal. Deodoro Edifício Baracat 4º andar FONE: (41)

6 em tela, por falta de respaldo legal, uma vez que a lei veda expressamente a realização de sorteios por qualquer entidade que não reúna as condições previstas no art. 1, 1 da Lei n 5.768/71 e art. 2 do Decreto Lei n 70951/72, em conformidade com que o dispõem os artigos 4 e 8 e 9 das referidas leis, respectivamente. Nota-se, ainda, que a realização de sorteio pela Fundação Cultural Nossa Senhora da Glória, em desacordo com as normas jurídicas que tratam da matéria, dá ensejo à aplicação das penalidades previstas na própria Lei n 5.768/71, em seus artigos 12 e 13. Dessa feita, sugere-se ao d. Promotor de Justiça que, ante o reconhecimento da ilegalidade dos sorteios promovidos pela Fundação Cultural Nossa Senhora da Glória, promova as medidas administrativas e judiciais cabíveis, em consonância com os dispositivos legais supracitados. Para fornecer maior supedâneo a respeito do tema, encaminha-se em anexo cópia da peça inicial de uma ação promovida pelo Ministério Público Federal Divisão da Tutela Coletiva de São Paulo em desfavor das empresas Globo Comunicação e Participações Ltda., GLOBOSAT Programadora Ltda. e Caixa Econômica Federal, na qual a matéria é abordada de forma similar ao entendimento declinado no presente parecer. 3. Frente ao questionamento formulado e aos dados fornecidos a esta coordenadoria do Centro de Apoio Operacional das Av. Mal. Deodoro Edifício Baracat 4º andar FONE: (41)

7 Fundações e Terceiro Setor, são esses, em tese, os esclarecimentos que se entende adequados. Persistindo quaisquer dúvidas, poderá o solicitante encaminhar novos questionamentos. Curitiba, 20 de julho de TEREZINHA DE JESUS SOUZA SIGNORINI Procuradora de Justiça Coordenadora 4 Raquel Brodsky Rodrigues Assessora Jurídica Samantha Karin Muniz Estagiária de Direito 4 A presente consulta foi finalizada em período no qual a Dra. Terezinha de Jesus Souza Signorini estava no gozo de férias, razão pela qual ela não será subscrita pela d. Coordenadora deste CAOP. Vale esclarecer, entretanto, que a Dra. Terezinha tem ciência do caso e estabeleceu as diretrizes e providências ora apresentadas, acatadas pela assessoria jurídica deste CAOP Cíveis, Falimentares, de Liquidações Extrajudiciais, das Fundações e do Terceiro Setor. Av. Mal. Deodoro Edifício Baracat 4º andar FONE: (41)