PARECER N.º 14.308 PROCESSO ADMINISTRATIVO- DISCIPLINAR. AGENTES PENITENCIÁRIOS. IRREGULARIDADES FUNCIONAIS RELATIVAS À PERCEPÇÃO DE AJUDA DE CUSTO. SENTENÇA CONDENATÓRIA. REABERTURA DA INSTRUÇÃO. A ABSOLVIÇÃO NA ESFERA CRIMINAL EMBASADA NO ARTIGO 386, INCISO II, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, VINCULA A ADMINISTRAÇÃO. RESQUÍCIO DISCIPLINAR IMPUNÍVEL DIANTE DA FLUÊNCIA DO PRAZO PRESCRICIONAL. ARQUIVAMENTO. Vem a exame e parecer da Equipe de Revisão da Procuradoria Disciplinar e de Probidade Administrativa o processo n.º 002646-12.02/99.2, oriundo da Secretaria da Justiça e da Segurança, que tem por indiciados os Agentes Penitenciários MARA ALVES PORTES, matrícula n.º 1.225826.1, SIMONE DA SILVA GONÇALVES, matrícula n.º 1.319498.4, e NESTOR BRASIL MESSAGGI, matrícula n.º 1.284546.9, visando a apuração de possíveis irregularidades administrativas inicialmente capituladas nos artigos 177, incisos IV e V, 178, incisos XX e XXIV, e 191, incisos VI, VII e VIII, da Lei Complementar n.º 10.098/94 combinados com o artigo 184 do mesmo diploma legal. Precedido de sindicância foi instaurado este procedimento disciplinar por determinação do Senhor Secretário da Justiça e da Segurança, através da Portaria n. 085, publicada no Diário Oficial do Estado de 21 de junho de 1999 (fl. 63). Conforme noticiam os autos a indiciada Mara Alves Portes teria apresentado provas falsas para obter ajuda de custo no exercício de 1998, em razão de sua remoção, por necessidade de serviço, para a cidade de Santo Antônio da Patrulha/RS. A indiciada Simone da Silva Gonçalves teria se utilizado de contrato de locação falso para recebimento de ajuda de custo, quando de sua
transferência por necessidade de serviço, da cidade de Torres/RS para a cidade de Santo Antônio da Patrulha/RS. O indiciado Nestor Brasil Messaggi teria intercedido junto a Eliseu Marenco para que este emitisse declaração falsa em favor da indiciada Mara Portes e realizado contrato de locação falso com a servidora Simone Gonçalves, agindo, assim, em co-autoria com ambas as indiciadas. Remetido à Procuradoria-Geral do Estado para o devido processamento, em 02 de julho de 1999, foi o expediente encaminhado à Procuradoria do Interior e distribuído à 15.ª Procuradoria Regional, em Santo Antônio da Patrulha, retornando à Procuradoria de Probidade Administrativa e Processo Administrativo-Disciplinar em 28 de março de 2002 e distribuído ao Grupo Extraordinário de Trabalho, constituído pela Portaria n.º 423, de 25 de setembro de 2002, publicada no Diário do 27 de setembro de 2002 (fl. 78). Os trabalhos foram instalados em 03 de outubro de 2002 (fl. 97), pelo Procurador do Estado João Arcílio Fortuna, que adequou a capitulação legal das faltas aqui apuradas também nas disposições do artigo 322 do Código Penal Brasileiro. Nessa oportunidade aprazou audiência qualificação e interrogatório. Devidamente citados os indiciados, compareceram à audiência, acompanhados de defensor (fls. 109-114). Defesas Prévias às fls. 115-124, onde foram arroladas testemunhas. A defesa de Mara Portes requereu o desmembramento do feito, o que foi indeferido pela decisão de fl. 124, por entender a Autoridade Processante que a instrução conjunta não acarretaria qualquer prejuízo à defesa da indiciada. Em 23 de dezembro de 2002, os autos foram redistribuídos ao Procurador do Estado Evandro Luís Dias da Silveira que, por despacho, determinou a realização de diligências junto a 1.ª Vara Judicial da Comarca de Santo Antônio da Patrulha, considerando denúncia ofertada pelo Ministério Público. Cumprida a diligência vieram aos autos a certidão de fl.135 que informa estarem os autos, naquela oportunidade, conclusos para sentença. Pela Autoridade Processante foram arroladas duas testemunhas, sendo encontrada apenas uma delas, que depôs através de carta precatória administrativa encaminhada à 15.ª Procuradoria Regional. O feito foi redistribuído, em 06 de maio de 2003, ao Procurador do Estado José Hermílio Ribeiro Serpa e, em 02 de junho seguinte, à Procuradora do Estado Flávia Garcia Gomes que encerrando a instrução probatória exarou o relatório final de fls.153/159.
Na peça conclusiva opinou a Autoridade Processante pelo arquivamento do feito em virtude da implementação do prazo prescricional previsto no artigo 197, inciso IV, da Lei Complementar n.º 10.098/94, por não vislumbrar a ocorrência do delito penal tipificado no artigo 322, do Código Penal Brasileiro, ou seja, violência arbitrária, excluindo também, a tipificação no crime de falsidade previsto no artigo 299, do mesmo diploma legal. Atendendo ao disposto no artigo 115, inciso IV, da Constituição Estadual, o processo foi distribuído à Equipe de Revisão, sendo exarado o Parecer n.º 13.850, da lavra da signatária, que determinou a reabertura da instrução probatória tendo em vista que no processo criminal os indiciados foram condenados, conforme sentença de fls. 168/180. Os autos retornaram à Autoridade Processante em 20 de agosto de 2004, onde, após reaberta a instrução, foram determinadas diligências acerca do processo criminal (fl. 167). Realizadas as diligências, vieram aos autos cópia do acórdão prolatada na apelação crime n.º 70007311343, onde os indiciados foram absolvidos com base no artigo 386, inciso II, do Código de Processo Penal. A Autoridade Processante, em vista da absolvição dos indiciados, exarou o relatório final de fls. 198/205, opinando pelo arquivamento do feito em decorrência da fluência do prazo prescricional elencado no artigo 197, inciso III, da Lei complementar n.º 10.098/94, uma vez que a decisão criminal embasada no artigo 386, inciso II, do Código de Processo Penal vincula a Administração Pública. É o relatório. O feito encontra-se em ordem sem nulidades a sanear. O processo foi instaurado visando apurar irregularidades funcionais atribuídas à indiciada Mara Alves Portes por ter apresentado provas falsas para obtenção de ajuda de custo no exercício de 1998, em razão de sua remoção, por necessidade de serviço, para a cidade de Santo Antônio da Patrulha/RS; à indiciada Simone da Silva Gonçalves por ter utilizado de contrato de locação falso para recebimento de ajuda de custo, quando de sua transferência por necessidade de serviço, da cidade de Torres/RS para a cidade de Santo Antônio da Patrulha/RS e o indiciado Nestor Brasil Messaggi por ter intercedido junto a Eliseu Marenco para que este emitisse declaração falsa em favor da indiciada Mara Portes e realizado contrato de locação falso com a servidora Simone Gonçalves, agindo, assim, em co-autoria com ambas as indiciadas. A questão de mérito é singela uma vez que pelos mesmos fatos os indiciados responderam a processo criminal cujo desfecho culminou com a
absolvição dos mesmos embasada nas disposições do artigo 386, inciso II, do Código de Processo Penal. A decisão na esfera penal concluiu que os fatos não constituem infração penal. Nesse sentido, nos termos do artigo 935 do Código Civil Brasileiro, esta decisão faz coisa julgada na esfera administrativa, vinculando as instâncias. A absolvição na esfera criminal afasta a aplicação do 3.º do artigo 197 da Lei Complementar n.º 10.098/94, em termos prescricionais. Sendo assim, em vista do transcurso do prazo previsto no inciso IV do artigo 197 do referido diploma legal, qualquer resquício disciplinar resta impunível. Neste sentido, é o parecer pelo arquivamento do processo pela fluência do prazo prescricional. É o parecer, que foi aprovado por unanimidade pela Equipe de Revisão, em reunião realizada no dia 28 de junho de 2005, conforme Ata n.º 17, da qual participaram, além da signatária, os Procuradores do Estado José Hermílio Ribeiro Serpa e Adriana Krieger de Mello. Sala de sessões, 28 de junho de 2005. Maria da Graça Vicentini, Relatora.
Processo nº 002646-12.02/99-2 Acolho as conclusões do PARECER nº 14.308, da Procuradoria Disciplinar e de Probidade Administrativa, de autoria da Procuradora do Estado Doutora MARIA DA GRAÇA VICENTINI. Submeta-se o expediente à deliberação do Excelentíssimo Senhor Governador do Estado. Em 08 de julho de 2005. Helena Maria Silva Coelho, Procuradora-Geral do Estado.
GABINETE DO GOVERNADOR Processo nº 002646-12.02/99-2 Aprovo o PARECER nº 14.308, da Procuradoria-Geral do Estado, cujos fundamentos adoto para declarar EXTINTO, pelo implemento da prescrição, o Processo Administrativo-Disciplinar nº 002646-12.02/99-2, instaurado para apurar falta funcional atribuída aos servidores MARA ALVES PORTES, matrícula nº 1.225826.1, SIMONE DA SILVA GONÇALVES, matrícula nº 1.319498.4 e NESTOR BRASIL MESSAGGI, matrícula nº 1.284546.9, Agentes Penitenciários lotados na Secretaria da Justiça e da Segurança. À Procuradoria-Geral do Estado para publicação e anotações de estilo. Após, à Secretaria da Justiça e da Segurança para ciência dos interessados e demais providências pertinentes. PALÁCIO PIRATINI, em Porto Alegre, 12 de julho de 2005. GERMANO ANTÔNIO RIGOTTO, GOVERNADOR DO ESTADO.