UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA DISCIPLINA: Seminário de História Política I ACADÊMICO: Gabriel Farias Galinari - R.A. 69586 PROFESSOR: Rivail C. Rolim A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA REALIDADE Tratado de Sociologia do conhecimento Por Peter L. Berger & Thomas Luckmann A Sociedade como realidade Objetiva Institucionalização Organismo e atividade. Diferente de outros animais o homem não nasce biologicamente completo, determinando um desenvolvimento orgânico submetido a uma contínua interferência socialmente determinada. Quer dizer: à medida que vai tendo o complemento do seu desenvolvimento orgânico, vai também sendo socialmente formado. Os mesmos processos sociais que determinam a constituição do organismo, produzem também o EU em sua forma particular. Assim esse EU não pode ser compreendido fora do contexto social onde foi formado. O organismo humano não possui meios biológicos necessários para dar estabilidade à conduta humana, assim surge a Ordem Social, um produto do
homem, uma progressiva criação humana, existindo unicamente a partir da atividade humana. As origens da institucionalização. A institucionalização surge como uma certa comodidade para as pessoas. Atividades sujeitas aos hábitos, já institucionalizados, libertam o sujeito de uma carda das decisões, economizando uma carga psicológica. Toda institucionalização tem uma história e não pode ser compreendida sem a compreensão da história. A institucionalização ocorre sempre que há uma tipificação recíproca de ações de determinado grupo de indivíduos por esse grupo. Em segunda instância as tipificações começam a passar para gerações sucessoras do grupo institucionalizante. A nova geração vai interiorizar a instituição primária e, quando forem capazes, vai também modificar aquela instituição de modo a realizar a tarefa de alcançar os seus objetivos e suprir as suas necessidades. Mas somente a partir do aparecimento de uma nova geração é possível falar propriamente de um novo mundo social. Organizações institucionalizam realidades cotidianas que existem objetivamente, independente das pessoas. As pessoas não as entendem, necessitam sair de si para entendê-las. Entretanto as objetividades do mundo institucional, por mais maciça que apareça ao indivíduo, é uma objetividade produzida e construída pelo próprio homem. Assim a sociedade é um produto Humano. A Sociedade é uma realidade objetiva. O Homem é um produto social, gerando a dialética do Homem criador X Homem criado. Afirmando o processo de institucionalização, devemos considerar que os indivíduos analisa o seu mundo social pela ótica construída a partir de próprio mundo. Assim, o mundo funciona, para o indivíduo, exatamente como ele o vê, exatamente como deveria funcionar. É a análise de um fato pelos próprios
caminhos que levaram a este fato. Isto reforça o discurso e dá legitimação à realidade social. É nesse contexto que qualquer desvio da ordem institucional tem caráter de afastamento da realidade, visto como depravação moral, doença mental ou ignorância crassa. Sedimentação e tradição Partes das experiências humanas são consideradas de relevantes para um grupo ou indivíduo, sendo mantidas nas memórias e discutidas nos grupos (sedimentação). A linguagem é novamente a forma de transmissão das sedimentações objetivadas, de forma que quem não passou pela experiência possa ter possibilidade de entendê-la. Com o tempo ou a repetição dessas experiências, cria-se a necessidade de que sejam repassadas na forma de informação para as futuras gerações. Surge, assim, a tradição. Existem papéis e responsabilidades, normalmente estipulados e aceitos pela sociedade, de repasse desses conhecimentos, normalmente associados a alguns símbolos ou ritos. Cabendo destacar que toda a transmissão de significado implica em procedimentos de controle e legitimação. Papéis As instituições requerem e determinam um conjunto de papéis para os indivíduos. Esses papéis têm a função primordial de controlar a institucionalização, representando a instituição e sua conduta. Assim os papéis credenciam os executores ao mesmo tempo que servem de referência para os controles. Por outro lado, quanto aos executores, ao praticar um papel participa de um mundo social, ao interiorizar este papel, o mesmo mundo torna-se agora subjetivamente real para ele.
Os papéis ainda representam as instituições ao mesmo tempo que também são aparelhos legitimadores da sociedade. Exemplo clássico é um Monarca, símbolo vivo da monarquia. Também o acervo de conhecimento de uma sociedade é dividido, parte dele é geral, de acesso a todos, parte dele é de acesso restrito somente a alguns papéis. Esta diferenciação também faz parte do acervo e assim também só é destinada a alguns papéis. Assim uma nova dialética se estabelece, a partir do entendimento que as ordens sociais só existem a partir dos papéis e estes são estruturados a partir da ordem social vigente. Extensão e modos de institucionalização Finalmente a institucionalização pode ser completa ou parcial. Em situações onde todos os problemas são comuns, todas as realidades são compartilhadas, onde a ordem institucional abrange toda a vida social, a institucionalização é completa. Exemplos são as sociedades reais. O oposto é verificado quando existem um pequeno conjunto de problemas em comum, havendo a institucionalização apenas deste pequeno conjunto de problema, não existindo, em decorrência, um acervo de conhecimento. Legitimação O processo de legitimação se dá a partir do entendimento da origem dos universos simbólicos, dos mecanismos conceituais para a sua manutenção e das ações das organizações sociais no papel de manutenção deste universo. As origens dos universos simbólicos: A partir do significado das coisas, do universo simbólico, é que se objetiva a realidade. O Universo simbólico cria uma hierarquia da mais real até a mais fugitiva da realidade. Está em contínua
transformação, desenvolvimento, crescimento ou empobrecimento, dependendo da qualidade da metamorfose quando se interioriza alguma coisa. Os mecanismos conceituais para manutenção do universo são idéias, instituição, mecanismos, processos, estratégias e planos que trabalham para manter a realidade objetiva como ela é, para legitimar esta realidade. É através da legitimação que os mecanismos conceituais tem base no universo simbólico. Estes mecanismos conceituais são, cronologicamente, a mitologia, a teologia, a filosofia, a ciência que se desmembram na terapêutica e na aniquilação. Esses mecanismos são apropriados por uma classe específica que deseja que se perpetue a realidade vigente, com a exceção da mitologia. A mitologia pode ser criada por qualquer pessoa que presencie um fenômeno natural. Quando a mitologia é apropriada por uma classe, acaba virando religião, prática, dogma, ritual. Já a terapêutica age no sentido de reintegrar o indivíduo rebelde ao grupo, à sociedade, normalmente por processos punitivos. A aniquilação busca a total exclusão do indivíduo do grupo ou da sociedade, se dando por mecanismos que vão da deportação à morte. Um terceiro fator para a legitimação são as organizações sociais, pois os mecanismos sociais para a manutenção do universo têm base na organização das atividades humanas, nas instituições, na necessidade do ser humano trabalhar. Nas organizações há confronto de teorias que influenciam sobre elas. De um lado há os teóricos, que fundamentam suas teorias com base no empirismo e não podem ser negados, por outro lado os especialistas não conseguem provar suas teorias de forma prática e assim são atacados. Isto acaba formando um universo simbólico que, como todo o universo simbólico, acaba condicionando uma realidade. Nesta formação os impasses são resolvidos pela validade dos argumentos, vencendo as teorias mais articuladas, que não são, necessariamente, as melhores.
Estes são os principais mecanismos de legitimação que somam-se aos institucionalização na formação da sociedade como realidade objetiva.