UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE UNESC CURSO DE ENGENHARIA CIVIL CRISTIANO GONÇALVES BATISTA INFLUÊNCIA NA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO DE CONCRETOS COM AGREGADOS RECICLADOS DE CONCRETO EM SUBSTITUIÇÃO AO AGREGADO NATURAL. CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2009.
2 CRISTIANO GONÇALVES BATISTA INFLUÊNCIA NA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO DE CONCRETOS COM AGREGADOS RECICLADOS DE CONCRETO EM SUBSTITUIÇÃO AO AGREGADO NATURAL. Trabalho de conclusão de curso, apresentado para obtenção do grau de Engenheiro civil no curso de Engenharia Civil da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Orientador: Prof.Dr. Leonardo de Brito Andrade CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2009.
3 CRISTIANO GONÇALVES BATISTA INFLUÊNCIA NA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO DE CONCRETOS COM AGREGADOS RECICLADOS DE CONCRETO EM SUBSTITUIÇÃO AO AGREGADO NATURAL. Trabalho de conclusão de curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenção do grau de Engenheiro Civil, no Curso de Engenharia Civil da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC, com linha de pesquisa em Concretos convencionais e especiais. Criciúma, 07 de Dezembro de 2009. BANCA EXAMINADORA Prof. Leonardo de Brito Andrade Doutor (UNESC) Orientador Prof. Fernando Pelisser Mestre (UNESC) Eng. Thiago Spilere Pierre (BPM PRÉ-MOLDADOS)
4 Aos meus pais e irmãos, minha filha Isabely e esposa Ionara, pelo incentivo e paciência durante este período.
5 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, pela força e perseverança fornecida nas horas difíceis. Aos meus pais pelo apoio e incentivo durante esta etapa do meu estudo. Ao Professor Orientador Leonardo de Brito Andrade pelo acompanhamento na realização deste trabalho. Obrigado pelo companheirismo e amizade. Agradeço ainda as Professoras e Coordenadoras, Evelise Zancan e Ângela Piccinini pelo companheirismo durante o curso. Ao Professor Alexandre Vargas, que alem de grande educador, tornou-se um grande amigo. A minha esposa Ionara de Souza pelo amor, amizade, paciência e incentivo em mais esta caminhada. Aos meus irmãos, Vanderlei e Fernando.
6 Feliz aquele que transfere o que sabe, e aprende o que ensina. Cora Coralina (poetisa brasileira)
7 RESUMO Esta pesquisa faz-se avaliar a resistência à compressão do concreto utilizando parcialmente agregados reciclados de concreto, elaborados no LMCC no IPAT da Unesc na cidade de criciúma. Estes foram submetidos a processos mecânicos de britagem até a granulometria desejada para o referido estudo. Nas características do agregado destacou-se a granulometria dos agregados graúdos, absorção dos agregados graúdos reciclados, massa específica e material pulverulento. Nos ensaios de dosagens definiram-se traços experimentais para posteriormente dosar os traços com agregados reciclados de concreto e seus teores de substituição. Para cada concreto foram definidos três traços, sendo 1:2, 1:3 e 1:4, com teores de substituição de 10, 30 e 50% para cada traço, para relação água/cimento fixada em 0,30. Com o objetivo de avaliar a resistência a compressão foram definidos duas idades, aos 7 e 28 dias. No estado fresco do concreto foi realizado apenas ensaio de consistência. Os resultados de concreto produzidos com adição parcial de agregados reciclados de concreto mostraram que devido à baixa taxa de absorção de água desses agregados e a relação água/cimento fixada em 0,30 também considerada baixa, obteve um resultado satisfatório de resistência á compressão e em alguns traços obteve resistência superior ao concreto de referência. Palavras-chave: Resíduos de construção e demolição, Reutilização de resíduos de construção, Agregados reciclados de concreto.
8 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 Blocos de concreto reciclado...18 Figura 2 Resíduos gerados da construção civil...21 Figura 3 Reciclagem do RCD...24 Figura 4 Resíduo classe A...27 Figura 5 Depósito irregular de entulhos...28 Figura 6 Equipamento de reciclagem móvel...35 Figura 7 Agregados prontos para confecção dos concretos...36 Figura 8 Resistência a compressão em função da substituição do agregado reciclado...40 Figura 9 Concreto utilizado para o estudo...41 Figura 10 Distribuição granulométrica da brita...45 Figura 11 Distribuição granulométrica da areia...50 Figura 12 Distribuição granulométrica do agregado reciclado...52 Figura 13 Abatimento do tronco de cone...56 Figura 14 Prensa hidráulica...58 Figura 15 Ensaio de abatimento do concreto reciclado...61 Figura 16 Corpos-de-prova...62 Figura 17 Gráfico de resistência a compressão dos traços de referência...64 Figura 18 Gráfico de resistência conforme porcentagem de substituição...72 Figura 19 Gráfico de resistência conforme porcentagem de substituição...72 Figura 20 Gráfico de resistência conforme porcentagem de substituição...73 Figura 21 Gráfico entre porcentagem de substituição e traço referencia...74 Figura 22 - Gráfico entre porcentagem de substituição e traço referencia...74 Figura 23 - Gráfico entre porcentagem de substituição e traço referencia...75
9 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Característica do agregado graúdo natural (Amostra 1)...43 Tabela 2 Característica do agregado graúdo natural (Amostra 2)...44 Tabela 3 Característica do agregado graúdo natural (Amostra 3)...44 Tabela 4 Característica da areia grossa (Amostra 1)...47 Tabela 5 Característica da areia grossa (Amostra 2)...48 Tabela 6 Característica da areia grossa (Amostra 3)...49 Tabela 7 Traços genéricos do concreto convencional...60 Tabela 8 Resistência a compressão dos traços piloto...63 Tabela 9 Traço 1:2 com os teores de substituição...66 Tabela 10 Traço 1:3 com os teores de substituição...67 Tabela 11 Traço 1:4 com os teores de substituição...68 Tabela 12 Resistência a compressão do traço 1:2 aos 7 dias...70 Tabela 13 Resistência a compressão do traço 1:3 aos 7 dias...70 Tabela 14 Resistência a compressão do traço 1:4 aos 7 dias...71
10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...13 2 OBJETIVOS...15 2.1 OBJETIVO GERAL...15 2.2 OBJETIVO ESPECÍFICO...15 2.3 JUSTIFICATIVA...16 3 REVISÃO BIBLIOGRAFICA...17 3.1 IMPACTOS AMBIENTAIS DA CONSTRUÇÃO CIVIL...18 3.1.1 Consumo de recursos naturais...19 3.1.2 Estudos no Brasil sobre a utilização do agregado de reciclados da Construção civil e demolição...19 3.2 RESÍDUOS GERADOS PELA CONSTRUÇÃO CIVIL...20 3.3 MANEJO E RECICLAGEM DO ENTULHO DA CONSTRUÇÃO CIVIL...22 3.4 COLETA E TRANSPORTE DOS RESIDUOS DE CONSTRÇÃO E DEMOLIÇÃO.22 3.5 A RECICLAGEM DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL...23 3.6 NORMAS VIGENTES NO PAÍS PARA PRODUÇÃO DE AGREGADOS...24 3.6.1 Classificação dos resíduos da construção civil...25 3.6.2 Destinação quanto sua classificação...26 3.6.3 A resolução 307 do CONAMA...27 3.7 A IMPORTANCIA DA RECICLAGEM DO RCD...28 3.7.1 Vantagens da reciclagem dos RCD...29 3.7.2 Reaproveitamento dos resíduos reciclados...31 3.7.3 Diferentes aplicações...32 3.7.4 Equipamento para reciclagem dos resíduos de construção...34 3.8 POTENCIALIDADES DO AGREGADO RECICLADO DE RCD...36 3.8.1 Controle da qualidade dos agregados de RCD reciclados para concreto...37 3.8.1.1 Considerações sobre amostragem...37
11 3.8.1.2 Insuficiência dos métodos de controle de qualidade...37 3.8.2 Vetos de uso de concreto com agregados reciclados...38 3.9 INFLUENCIA DOS AGREGADOS RECICLADOS NO CONCRETO...39 3.9.1 Durabilidade do concreto com agregados reciclados...39 4 METODOLOGIA APLICADA...41 4.1 COLETAS E PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS...41 4.2 CARACTERIZAÇÃO DOS AGREGADOS...42 4.2.1 Composição granulométrica...42 4.2.2 Massa específica...46 4.2.3 Material pulverulento...46 4.3 CARACTERIZAÇÃO DA AREIA...47 4.3.1 Granulometria dos agregados miúdos...47 4.3.2 Massa especifica da areia...50 4.3.3 Material pulverulento...51 4.4 CARACTERIZAÇÃO DO RCD...51 4.4.1 Absorção de água da brita de RCD...52 4.5 CIMENTO UTILIZADO PARA O ESTUDO...53 4.5.1 Aditivo utilizado...53 4.6 MÉTODOS DE DOSAGEM...55 4.7 ENSAIOS DO CONCRETO NO ESTADO FRESCO...56 4.7.1 Massa especifica do concreto...56 4.7.2 Ensaio de abatimento...56 4.8 PROPRIEDADES DO CONCRETO NO ESTADO ENDURECIDO...57 4.8.1 Resistência a compressão...57 5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS...59 5.1 ENSAIOS...59 5.1.1 Dosagens experimentais...59 5.1.2 Amassamento do concreto...60
12 5.1.3 Ensaio de abatimento...61 5.1.4 Moldagem dos corpos-de-prova...62 5.1.5 Resistência a compressão dos corpos-de-prova referencia...63 5.2 DOSAGENS DOS CONCRETOS COM AGREGADOS RECICLADOS DE CONCRETO...65 5.3 RESISTÊNCIA A COMPRESSÃO DOS CONCRETOS COM SUBSTITUIÇÃO PARCIAL DO AGREGADO NATURAL POR AGREGADO RECICLADO DE CONCRETO...69 6 CONCLUSÃO...76 7 REFERÊNCIAS...77 ANEXOS...81
13 1 INTRODUÇÃO A construção civil produz porcentagens expressivas de resíduos sólidos. Há muitos resíduos de construções, como o entulho, e pouca atividade de reutilização e reciclagem do mesmo. Um dos problemas mais críticos no setor é o volume de perdas de materiais em canteiro, acarretando impactos ao meio ambiente em duas pontas: má-exploração dos recursos da natureza e formação de entulho. A reutilização dos resíduos de construção e demolição é praticada desde a antiguidade e foi na 2ª guerra mundial a primeira aplicação relevante de entulhos reciclados resultantes dos escombros dos edifícios demolidos onde foram britados e transformados em agregados e posteriormente beneficiados como novos agregados. A destinação irregular do resíduo de construção e demolição (RCD) é um grande problema em todo o mundo. Essa destinação é uma das maiores causas de danos ambientais em áreas urbanas, sendo estes jogados em terrenos baldios, cursos d água ou beiras de estradas. O gerenciamento adequado dos materiais no canteiro, bem como a construção num todo, tem como propósito evitar desperdícios e reduzir o volume de resíduos sólidos e consequentemente resultando na diminuição dos impactos ambientais ao meio ambiente. Uma organização que une eficiência na produção e uma visão de responsabilidade ambiental torna-se mais competitiva aumentando à sua capacidade financeira, utilizando medidas preventivas proporcionando um custo menor. Sabe-se que no Brasil existe um grande desinteresse dos governantes na questão de incentivos para o setor de reciclagem e reutilização desse resíduo, bem como, a responsabilidade ambiental. Mesmo tímidas iniciativas nesse sentido começam a ser realizadas no Brasil visando, além da preservação ambiental, ganhos de imagem e também financeiros. A reciclagem, além de proporcionar melhorias significativas do ponto de vista ambiental, introduz no mercado um novo material com grande potencialidade de uso, transformando o entulho, novamente, em matéria-prima. Para PATTO (2006), a principal contribuição, no entanto, é mostrar que a reciclagem dos resíduos de construção e demolição pode auxiliar na produção de materiais baixo custo, colaborando para a construção de habitações mais baratas. O uso do RCD é fundamental, pois é cada vez mais necessária a conscientização quanto ao fato de que o ganho com a reciclagem é geral, a partir do momento em
14 que existe um melhor aproveitamento de materiais que são descartados como lixo e que podem ser transformados em matéria-prima, passando de problema a solução. Segundo JONH (1996) e LEITE (2001), o mercado da construção civil se apresenta como uma das melhores alternativas para consumir materiais reciclados, pois a atividade de construção é realizada em qualquer região, o que já reduz custos como o de transporte. Na busca da reutilização parcial dos agregados reciclados, este trabalho apresentará as propriedades do concreto no estado endurecido, mostrando etapas do processo de produção e parâmetros de mistura.
15 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Este trabalho tem como objetivo geral avaliar a possível utilização dos agregados reciclados de concreto, com substituição parcial do agregado graúdo natural, frente à resistência à compressão não tendo função estrutural. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS caracterizar o agregado reciclado e avaliar o desempenho dos agregados reciclados para produção de concretos; analisar os traços dos concretos produzidos com agregados reciclados de concreto; Comparar a resistência à compressão dos concretos nas idades de 7 e 28 dias
16 2.3 JUSTIFICATIVA A justificativa para a elaboração deste trabalho de conclusão de curso está ligada basicamente a idéia de que, com o conhecimento adquirido durante a etapa do trabalho, será suficiente e importante para produzir um concreto de qualidade. Nossa região possui vasta área de morro o que facilita a exploração dos mesmos, só que esta exploração cada vez mais provoca um enorme problema, tanto no meio ambiente quanto nos próprios trabalhadores da mina. É provado que essa exploração indiscriminada tem causado sérios problemas ambientais. Existe, portanto, a necessidade de se minimizar estes impactos, buscando alternativas como a utilização de reciclagem de resíduos, para que venha a resultar na redução de custos e do volume de extração de matéria-prima, preservando os recursos naturais. Visando por esse lado tanto na nossa região quanto no Brasil inteiro existe um grande acúmulo de entulhos. Tem-se notado também que há um grande desperdício de material na construção civil. Culturalmente há dificuldade de ver o potencial do entulho, pois é um material que pode ser utilizado, sendo como agregados graúdo e miúdos em argamassas e concretos. Levando-se em conta essa idéia conclui-se que a reciclagem de resíduos na construção civil é fundamental e favorece ao destino final, a reutilização e o meio ambiente. No Brasil, pesquisas com agregados reciclados de resíduos de construção e demolição (RCD) mostram ser possíveis o aproveitamento em concreto, mas para isso é preciso conhecer o resíduo a ser utilizado. A utilização de resíduos como agregados para novas dosagens resultará na diminuição dos custos com a exploração dos agregados naturais. A fabricação dos concretos de resíduos reciclados pode proporcionar um baixo custo, já que os materiais utilizados provem de sobras de construções.
17 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Os residuos de construção e demolição (RCD) são conhecidos também como entulhos. O termo entulho significa caliça, pedregullo, areia, terra, tudo que sirva para entupir, aterrar, nivelar depressão de terreno, escavação, fossa, vala, etc.; conjunto de fragmentos ou restos de tijolos, argamassa, madeira, etc.; provenientes da construção de um prédio; materiais inúteis resultantes de demolição; escombros, ruínas (FERREIRA, 1999). A reciclagem de residuos da construção e demolição (RCD) é um tema que, atualmente, está sendo abordado com mais frequência, porém, segundo Santos (2007) no Império Romano já se utilizava tijolos britados ou cacos de telha misturados à cal, areia e água para a realização de construções. A utilização dos RCD de maneira sistemática só se deu após o fim da Segunda Guerra Mundial, diante da urgência de reconstruir as cidades demolidas. Com aquelas montanhas de escombros, entre 400 e 600 milhões de m³, conforme cita Santos (2007), viu-se a necessidade do desenvolvimento de tecnologias voltadas para reciclagem dos RCD. Zordan (1997), Leite (2001), realizaram pesquisas sobre as propriedades mecânicas em concretos reciclados, avaliando propriedades do seu estado fresco (massa específica e trabalhabilidade), e no estado endurecido que tratam, na sua grande maioria, de sua resistência à compressão e, quase sempre, o resultado é o mesmo: a viabilidade técnica dos concretos com agregados reciclados devido ao seu bom desempenho diante dessa propriedade. Apenas algumas recomendações precisam ser feitas para que essa afirmação se confirme que é o tratamento dado ao agregado reciclado antes da concretagem. Chen et al (2003), desenvolveram concretos com agregados reciclados de tijolos e concretos, utilizando os agregados reciclados em lotes separados de agregados graúdos reciclados, lavados e não lavados. Os resultados mostraram que os concretos reciclados, obtidos a partir dos agregados graúdos lavados, obtiveram valores em torno de 90% da resistência à compressão e flexão dos concretos de referência. Enquanto que para os concretos de agregados reciclados não lavados, os valores não passaram de 75%. A alta taxa de absorção de água dos agregados é um ponto a ser discutido. Por ser um agregado mais poroso, obviamente irá precisar de mais água para ter a mesma trabalhabilidade que concretos com agregados convencionais. Baseados nessa
18 teoria, muitos autores realizam misturas de concretos variando a quantidade de água para que o abatimento e a trabalhabilidade sejam satisfeitos. Dessa forma, a relação a/c é alterada e a classe de resistência desses concretos também acaba se alterando. A figura 1 expõe um exemplo de artefato produzido com agregados reciclados. Figura 1 blocos de concreto reciclado Fonte: www.soparafusos.com.br 3.1 IMPACTO AMBIENTAL DA CONSTRUÇÃO CIVIL A construção civil no Brasil esta cada vez crescendo mais. Este crescimento reflete um papel gigantesco no setor, estando presente em todas as regiões do planeta ocupadas pelo homem, na cidade ou no campo. De maneira geral o impacto ambiental da construção civil é proporcional a sua tarefa social.
19 3.1.1 Consumo de recursos naturais Além de o setor ser um dos maiores da economia ele produz os bens de maiores dimensões físicas do planeta, sendo consequentemente o maior consumidor de recursos naturais de qualquer economia. Uma das maiores preocupações que são levantadas é o que será feito no momento que esses recursos naturais se tornarem escassos. Estimativas precisas são difíceis de serem realizadas. Para SJOSTROM (1996), a construção civil consome boa parte dos recursos naturais extraídos no planeta, lembrando que estes materiais compreendem somente os materiais que chegam até o local da obra. 3.1.2 Estudos no Brasil sobre a utilização do agregado de reciclados da construção civil e demolição Em outros lugares como a Europa o uso de resíduo da construção civil é muito comum devido à questões ambientais. Mas, já no Brasil isto vem ganhando êxito desde 2002, com a Resolução CONAMA nº 307 que estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. Atualmente existem pesquisas sobre a utilização do agregado reciclado de resíduos sólidos da construção civil e demolição na produção de componentes como blocos de pavimentação, blocos de alvenarias, concretos, na execução do concreto compactado com rolo (CCR) usando pavimento asfáltico ou de concreto. Embora as pesquisas apresentem um bom potencial para utilizar agregados reciclados em concretos das mais variadas classes de resistências, o emprego ainda é relativamente pequeno.
20 3.2 RESÍDUOS GERADOS PELA CONSTRUÇÃO CIVIL Resíduo é todo material ou substâncias restantes de qualquer atividade humana, que não se prestem para o uso, consumo ou reincorporação no circuito produtivo em seu estado original. (IBRACON, 2000, p.15). Normalmente, os resíduos gerados pela construção civil são considerados Classe lll (Resíduos Inertes), porque sua composição e características são conhecidas. Deste modo, as análises são dispensadas, já que são relativamente caras e desnecessárias para definição do tratamento e /ou disposição final desses resíduos. A composição básica do resíduo de obras de construção civil e de infraestrutura pode variar em função dos sistemas construtivos e da tecnologia que pode ser empregados na execução de uma obra. Os resíduos gerados pela construção civil possuem diversos materiais como: asfalto, vidro, concreto, argamassa, cal, material cerâmico, pedra brita, madeira, blocos e tijolos, papel, tintas e vernizes, etc. Apresentam potencial de reutilização de quase 100% além de ter características físicas que permitem seu emprego diretamente, ou com pequena intervenção, como moagem, mas sem a necessidade de processos envolvendo alta tecnologia e custo. Os resíduos oriundos de edificações derrubadas e outras estruturas são classificados como resíduos de demolição, enquanto os resíduos de construções novas, remodelagem e reformas de residências, edifícios comerciais e outras estruturas são classificados como resíduos de construção. (TCHOBANOGLOUS, 1997). A figura 2 mostra o percentual de resíduos gerados na construção civil.
21 Residencias Novas 20% Edificações novas(acima de 300m²)21% Reformas, Ampliações e Demolições 59% Figura 2 Resíduos gerados da construção civil. Fonte: www.webartigos.com Já o estudo de PINTO (1999) estimou que nas grandes cidades brasileiras as atividades do canteiro de obras são responsáveis por aproximadamente 50% dos resíduos de construção e demolição (RCD), enquanto que a atividade de demolição e manutenção é responsável pela outra metade. O RCD tem constituição variável, depende da fonte geradora construção ou reforma/demolição, fase de obra, tecnologia construtiva, natureza da obra, etc. Nessa constituição, podemos encontrar: solos, rochas, concreto (armado ou não), argamassas a base de cimento e cal, metais, madeira, plásticos diversos, materiais betuminosos, vidro, gesso (pasta e placa), tintas e adesivos, restos de embalagens, resíduos de cerâmica (tijolos e telhas), cerâmica branca, cimento amianto e produtos de limpeza de terrenos.
22 3.3 MANEJO E RECICLAGEM DO ENTULHO DA CONSTRUÇÃO CIVIL A prática de gestão de resíduos deve estar inserida adequadamente numa rede de fatores considerando os instrumentos da legislação, os procedimentos técnicos e operacionais, a inter-relação entre os diferentes órgãos da administração pública envolvidos, além da participação e o envolvimento da sociedade civil (LIMA e CHENNA, 2000). A NBR 12980 classifica a atividade de coleta de entulho como uma "coleta especial", citando o seguinte: "[...] A coleta especial contempla os resíduos não recolhidos pela coleta regular tais como entulho, animais mortos e podas de jardins. Pode ser programada para onde e quando houver resíduos a serem removidos [...]". 3.4 COLETA E TRANSPORTE DOS RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO Na maioria das vezes o entulho não se destina a um local apropriado, sendo descarregados em terrenos baldios, sendo que as prefeituras normalmente não possuem recursos o bastante para dar um destino final adequado. Todavia, existem empresas especializadas que, por meio de caçambas metálicas, estocam e transportam todos os resíduos produzidos até o local de disposição final. A coleta e o transporte do RCD para áreas de depósito cada vez mais afastadas das regiões centrais congestionam o tráfego. Além disso, o recolhimento do RCD depositado ilegalmente representa um custo significativo. As estimativas de PINTO (1999) variaram entre US$ 5,4 / ton e US$ 14,8 / ton de RCD recolhido para diferentes cidades e diferentes técnicas de recolhimento. Para que o problema seja resolvido é preciso organizar um sistema de coleta eficiente, onde seja de fácil acesso a todos que seja determinado pela prefeitura e estimular uma campanha de conscientização, onde a comunidade participe.
23 3.5 A RECICLAGEM DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL O Brasil possui algumas experiências com usinas de reciclagem de RCD. Em novembro de 1991, foi inaugurada a primeira usina de reciclagem de entulho do Hemisfério Sul, localizada no bairro de Santo Amaro, zona sul de São Paulo: a Usina de Reciclagem de Entulho de Itatinga. Possui também as usinas de Santo André, Ribeirão Preto, São José dos Campos e Londrina, com bons resultados (NETO, 2005). O Projeto Entulho Bom, desenvolvido pela Universidade Federal da Bahia em parceria com a Caixa Econômica Federal, que teve como criador e coordenador o Prof. José Clodoaldo Silva Cassa (1946 1999), foi premiado pela ONU, no ano de 2000, como uma das 100 MELHORES PRÁTICAS para melhoria da qualidade de vida e pela Caixa Econômica Federal como uma das 10 MELHORES PRÁTICAS para o desenvolvimento urbano. O foco principal desse projeto é a reciclagem e o reaproveitamento de entulho para materiais de construção, buscando minimizar os impactos sócio-ambientais causados pelo descarte inadequado de resíduos, preservar recursos naturais e melhorar a qualidade de vida na Região Metropolitana de Salvador. Segundo pesquisa de Neto (2005), temos, também, em Belo Horizonte - MG a usina de reciclagem de RCD do bairro de Estoril, que processa cerca de 100 ton/dia de RCD e a usina do bairro da Pampulha, com reciclagem estimada de 8,8 mil ton/mês de RCD, produzindo cerca de 5.500 m³ de agregados reciclados. As informações a respeito da geração e destinação de RCD são escassas, segundo dados do Ministério das Cidades, porém, a participação no PIB do setor de atividade da qual se originam, é significativa. No Brasil, no ano de 2002, correspondeu a cerca de 8% PIB (CBIC 2003). Essa grande massa de resíduos gerenciada de uma forma inadequada degrada a qualidade da vida urbana, sobrecarrega os serviços municipais de limpeza pública e acentua a desigualdade social, já que muitos recursos são desviados para pagar a conta da coleta, transporte e disposição de resíduos depositados irregularmente em áreas públicas. Sendo a reciclagem uma solução para os impactos do RCD, por exemplo, redução da exploração contínua dos recursos naturais não renováveis e cada vez mais escassos e preservação de
24 áreas utilizadas como aterros de inertes, a idéia de aproveitar resíduos da construção civil ainda é vista com descaso em razão da falta de conhecimento técnico dos responsáveis da construção e de muitos que nelas operam. A figura 3 mostra o processo de triagem do RCD. Figura 3 Triagem dos RCD Fonte: www.agenciabrasil.gov.br 3.6 NORMAS VIGENTES NO PAÍS PARA PRODUÇÃO DE AGREGADOS O Brasil é um dos poucos países a ter aprovado normas específicas para utilização de agregados reciclados. A seguir encontram-se as normas relacionadas: NBR 15112/04 Resíduos de construção e resíduos volumosos: Área de transbordo e triagem; Diretrizes para projeto, implantação e operação. NBR 15113/04 Resíduo sólidos da construção civil e resíduos inertes: Aterros; Diretrizes para projeto, implantação e operação.
25 NBR 15114/04 Resíduos sólidos da construção civil: Área de reciclagem; Aterros; Diretrizes para projeto, implantação e operação. NBR 15115/04 Agregados reciclados e resíduos sólidos da construção civil: Execução de camadas de pavimentação; Procedimentos. NBR 15116/04 Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil: Utilização em pavimentação e preparo de concreto sem função estrutural; Requisitos. Agora fica a disposição da iniciativa privada seguir essas normas, tornando a partir daí a utilização de agregados reciclados em larga escala. Sendo que a norma holandesa prevê a substituição de 20% de agregados naturais por reciclados sendo que não altera as propriedades mecânicas do concreto dependendo da tipologia. 3.6.1 Classificação dos Resíduos da Construção Civil Classe A - Resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como: de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de infra-estrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem; de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto;
26 de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos, meios fios etc.) produzidas nos canteiros de obras. Classe B - Resíduos recicláveis para outras destinações, tais como plásticos, papel, papelão, metais, vidros, madeiras e outros. Classe C - Resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação, tais como os produtos oriundos do gesso. Classe D - São resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como tintas, solventes, óleos e outros ou aqueles contaminados ou prejudiciais à saúde oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros bem como telhas e demais objetos e materiais que contenham amianto ou outros produtos nocivos à saúde. 3.6.2 Destinação quanto à sua classificação: Classe A: Deverão ser reutilizados ou reciclados na forma de agregados, ou encaminhados a áreas de aterro de resíduos da construção civil, sendo dispostos de modo a permitir a sua utilização ou reciclagem futura. Classe B: Deverão ser reutilizados reciclados ou encaminhados a áreas de armazenamento temporário, dispostos de modo a permitir sua utilização ou reciclagem futura. Classe C: Deverão ser armazenados, transportados e destinados em conformidade com as normas técnicas específicas. Classe D: Deverão ser armazenados, transportados, reutilizados e destinados em conformidade com as normas técnicas específicas. A figura 4 mostra um exemplo de resíduo do tipo classe A.
27 Figura 4 Resíduo classe A Fonte: www.orbem.com.br 3.6.3 A Resolução 307 do Conselho Nacional do meio Ambiente (CONAMA) Em 2002, o poder público demonstrou a preocupação com a utilização dos resíduos de construção civil, e apresentaram a Resolução n. 307 do Conselho Nacional do meio Ambiente, que tem como objetivo a redução, reutilização, reciclagem e destinação final destes materiais para que diminua os impactos ambientais gerados por estes. Na prática, o órgão criou responsabilidades a toda cadeia envolvida; geradores transportadores, receptores e municípios, gerando um ciclo de novos procedimentos e atividades controladas para fazer valer a regra. Conforme a Resolução 307 todo município deve criar um Programa Municipal de Gerenciamento, a possibilidade de grande parcela dos municípios não estarem aptas a atender à resolução não desobriga os geradores de desenvolverem o projeto e a gestão de resíduos, pois o descumprimento da resolução prevê punições baseadas em leis ambientais. Sendo que os geradores de resíduos são responsáveis por resíduos de atividades da construção civil, reforma reparos, demolições de estruturas, remoção de vegetação.
28 3.7 IMPORTANCIA DA RECICLAGEM DOS RCD A reciclagem de resíduos de construção é uma atividade que garante muitas vantagens tanto ambientais como econômicas, e vem sendo implantadas no Brasil, usinas de reciclagem em cidades médias e de grande porte. Esse processo de reciclagem pode ser feito individualmente ou em parcerias com as prefeituras. Os usos dados ao entulho possuem vantagens ambientais, econômicas e sociais: Economia na matéria prima; Diminuição da poluição visual e ambiental gerada pelo entulho; Preservação das reservas minerais; Criação de alternativa para as mineradoras, pois cada vez estão mais sujeitas ás restrições ambientais; Diminuição do gasto de energia e de geração de CO2 na produção e no transporte desses materiais. As vantagens da reciclagem também ajudam de certa forma nos custos de limpeza urbana dos municípios, pois com as empresas de reciclagem retirando esse entulho, as prefeituras não gastariam nada com essa etapa. É muito comum observar entulhos depositados em terrenos e nas margens das estradas, como mostra a figura 5. Figura 5 Depósito irregular dos entulhos