CARACTERÍSTICAS CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICAS DE LESÕES BUCAIS DIAGNOSTICADAS EM CAMPANHA DE PREVENÇÃO EM JACAREÍ-SP



Documentos relacionados
Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo Coordenação da Atenção Básica ÁREA TÉCNICA DE SAÚDE BUCAL

Artigo Original / Original Article

Lesões e Condições Pré-neoplásicas da Cavidade Oral

resumo Joline Baroni 1 Soluete Oliveira da Silva 2 Bethânia Molin Giaretta De Carli 3 Maria Salete Linden 4 João Paulo De Carli 5

EDITAL DO VII ENCONTRO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E V JORNADA INTEGRADA DE ODONTOLOGIA E MEDICINA (JIOME) DA UNINCOR, CAMPUS BELO HORIZONTE

Artigo Original TUMORES DO PALATO DURO: ANÁLISE DE 130 CASOS HARD PALATE TUMORS: ANALISYS OF 130 CASES ANTONIO AZOUBEL ANTUNES 2

PREVALÊNCIA DAS LESÕES BUCAIS EM AÇÕES COMUNITÁRIAS ODONTOLÓGICAS

Epidemiologia das lesões na mucosa oral encontradas na clínica da Funorte

7. Hipertensão Arterial

Análise do perfil da Poliomielite no Brasil nos últimos 10 anos

HPV Vírus Papiloma Humano. Nome: Edilene Lopes Marlene Rezende

Prevalência de lesões bucais diagnosticadas pelo laboratório de patologia bucal da Faculdade de Odontologia da Funorte no período de 2005 a 2008

PREVENÇÃO E DIAGNÓSTICO DE MICOSES SUPERFICIAIS EM USUÁRIOS DO PROGRAMA ESTRATÉGIAS DE SAÚDE DA FAMÍLIA, JOÃO PESSOA-PB

12º FÓRUM DE EXTENSÃO E CULTURA DA UEM PAPILOMA ORAL E SUA RELAÇÃO COM A VACINA CONTRA O HPV

Conhecimentos dos acadêmicos de Odontologia sobre câncer de boca

CONDUTAS CLÍNICAS PARA ACOMPANHAMENTO DE ACORDO COM RESULTADO DO EXAME CITOPATOTÓGICO

MULHERES E TABAGISMO NO BRASIL, O QUE AS PESQUISAS REVELAM MICHELINE GOMES CAMPOS DA LUZ SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE MINISTÉRIO DA SAÚDE

Alterações bucais na terceira idade: uma realidade clínica do futuro cirurgião-dentista breves considerações1

ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DAS LESÕES BUCAIS NO PERÍODO DE 05 ANOS EPIDEMIOLOGICAL STUDY OF ORAL LESION IN THE PERIOD OF 05 YEARS

NEOPLASIAS MALIGNAS DE GLÂNDULAS SALIVARES ESTUDO RETROSPECTIVO*

AVALIAÇÃO DA ADESÃO MASCULINA AO EXAME DE PRÓSTATA EM SANTA CRUZ DO ESCALVADO-MG 1

Quadro 1 Idades e número de pacientes masculinos e femininos que participaram no rastreio da Colgate do Mês da Saúde Oral Todos os grupos Idades

A expectativa de vida do brasileiro, em 1900, era de apenas 33 anos. Essa realidade mudou radicalmente.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO LESÕES CANCERIZÁVEIS DA BOCA

Seminário Nacional Unimed de Medicina Preventiva- 2011

Doença de base 2. CARACTERIZAÇÃO DAS LESÕES

Acesso às Consultas Externas do Serviço de Estomatologia do Hospital de Santa Maria do Centro Hospitalar Lisboa Norte

Estilo de vida e fatores de risco para lesões bucais em pacientes atendidos em um ambulatório público.

Cuidados com a saúde: como prevenir e diagnosticar o câncer

O GECCP. Grupo de Estudos Cancro de Cabeça e Pescoço

QUESTIONÁRIO SOBRE ATRIBUIÇÕES DOS PROFISSIONAIS. Denise Silveira, Fernando Siqueira, Elaine Tomasi, Anaclaudia Gastal Fassa, Luiz Augusto Facchini

RESUMO ABSTRACT 2. MATERIAL E MÉTODOS 1. INTRODUÇÃO

LESÕES ORAIS DIAGNOSTICADAS NA CLÍNICA DE ESTOMATOLOGIA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS/UNIMONTES

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO NÚCLEO DE ESTUDOS DE SAÚDE COLETIVA FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE SAÚDE DE NITERÓI PROGRAMA MÉDICO DE FAMÍLIA

Rio de Janeiro, Brasil

Ciência e prática. Catarina Martinho. Introdução

ESTA PALESTRA NÃO PODERÁ REFERÊNCIA DO AUTOR

A Epidemiologia e seu impacto nas práticas de Saúde Bucal no SUS: situação atual e perspectivas futuras

Assunto: Posicionamento do Ministério da Saúde acerca da integralidade da saúde dos homens no contexto do Novembro Azul.

Importância da associação do ELISA IgM e Soroaglutinação Microscópica para diagnóstico e epidemiologia da leptospirose humana

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE SAÚDE COMUNITÁRIA ESPECIALIZAÇÃO EM MEDICINA DO TRABALHO

POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE BUCAL

PREVALÊNCIA DO TABAGISMO NO BRASIL AO LONGO DA ÚLTIMA DÉCADA

Estudo do comportamento da Dengue na cidade de Araguari- MG por meio de séries temporais.

Análise sobre a participação de negras e negros no sistema científico

A SITUAÇÃO DA PRIMEIRA INFÂNCIA NAS REGIÕES PAULISTAS

LESÕES POTENCIALMENTE MALIGNAS: A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO PRECOCE NA PREVENÇÃO DO CÂNCER BUCAL

REVISTA GESTÃO & SAÚDE (ISSN )

Boletim eletrônico trimestral sobre a participação das mulheres no mercado de trabalho a partir dos dados da - Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE -

CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS EM UM FELINO

UNIMED JOINVILLE - SC

ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DE BIÓPSIAS REALIZADAS EM UMA CLÍNICA ODONTOLÓGICA UNIVERSITÁRIA NO PERÍODO ENTRE 2011 E 2018

Informe Epidemiológico Doenças Crônicas Não Transmissíveis

Cobertura do teste Papanicolaou e

Pesquisa de Avaliação dos Serviços Públicos de Florianópolis

O câncer de boca no Estado do Rio de Janeiro à luz dos Sistemas de Informação. por. Adriana Tavares de Moraes Atty

PREVALÊNCIA DO PAPILOMAVÍRUS HUMANO (HPV) EM MULHERES JOVENS APÓS O PRIMEIRO PARTO EM SÃO PAULO-BRASIL

ANÁLISE DO ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS EM UMA CRECHE PÚBLICA NO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA

Impacte da Lei de Prevenção do Tabagismo* na população de Portugal Continental

Concordância entre diagnóstico clínico e histopatológico de lesões bucais

USO DA ALOE VERA NA PROFILAXIA DAS RADIODERMITES EM PACIENTES PORTADORAS DE CÂNCER DE MAMA SUBMETIDAS À CIRURGIA E TRATADAS COM RADIOTERAPIA ADJUVANTE

MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL MPS Esplanada dos Ministérios, Bloco F, CEP Brasília, DF Brasil

Abaixo, reproduzimos de forma sintética as recomendações, facilitando então a leitura e futura procura pela informação.

Diagnóstico de Trânsito na Região. Hortênsias. Assessoria Técnica - Gestão e Planejamento Dados de 2007 a 2013 Fonte: Procergs

INDICADORES DE SAÚDE

Prevalência de perdas dentárias em pacientes com mais de 50 anos da clínica odontológica da Universidade Gama Filho

INDICADORES DE SAÚDE I

Comissão de Pós-Graduação

MONITORAMENTO DA ATENÇÃO BÁSICA E EQUIPES DE SAÚDE NO ESTADO DE SÃO PAULO

CURSO DE ODONTOLOGIA Autorizado plea Portaria nº 377 de 19/03/09 DOU de 20/03/09 Seção 1. Pág. 09

TABAGISMO EM UM GRUPO DE PACIENTES ESQUIZOFRÊNICOS

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA DEPARTAMENTO DE EPIDEMIOLOGIA DISCIPLINA - EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS 2006

[ESPOROTRICOSE]

INSTRUMENTALIZAÇÃO DE ACADÊMICOS E PROFISSIONAIS DA ÁREA DE SAÚDE PARA EXERCEREM ATIVIDADES EM AMBULATÓRIO DE FERIDAS.

Avaliação dos serviços da Biblioteca Central da UEFS: pesquisa de satisfação do usuário

DESORDENS POTENCIALMENTE MALIGNAS

AVALIAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DE CÃES COM NEOPLASIAS ORAIS ATENDIDOS NO HOSPITAL DE CLÍNICAS VETERINÁRIAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

Incidência de Neoplasias Malignas de esôfago na população de Volta Redonda, Rio de Janeiro

PREVALÊNCIA DE LESÕES NA MUCOSA ORAL NO PERÍODO DE 5 ANOS

Levantamento Epidemiológico do Câncer Bucal: casuística de 30 anos Epidemiological Profile of Oral Cancer: casuistry of 30 years

Qual é a função do cólon e do reto?

HIV/AIDS NO ENTARDECER DA VIDA RESUMO

esperando que seja mais bem esclarecida para os cirurgiões-dentistas (BERNAL, 2002) 3.

Freqüência de tabagismo entre estudantes da FO-UFPEL-RS no ano de 2005

A ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO EM SAÚDE MENTAL. Coordenação Estadual de Saúde Mental Março 2014

Introdução à patologia. Profª. Thais de A. Almeida 06/05/13

Nº / ANO DA PROPOSTA: /2011 DADOS DO CONCEDENTE. OBJETO: Aquisição de equipamento para o Hospital Amaral Carvalho.

Levantamento epidemiológico das lesões bucais nos pacientes atendidos nas clínicas da Faculdade de Odontologia da Universidade de Passo Fundo

PREVALÊNCIA DE LESÕES EM ATLETAS DE FUTEBOL DO ROMA ESPORTE APUCARANA / APUCARANA-PR

PREVENINDO PROBLEMAS NA FALA PELO USO ADEQUADO DAS FUNÇÕES ORAIS

EDYLAMAR ALVES MENDONÇA DOENÇAS OCUPACIONAIS RELACIONADAS AO USO DE PRÓTESES SÃO JOSÉ DO RIO PRETO 2010

DERMATOSES OCUPACIONAIS (CID L 72.8)

Número de consultas médicas (SUS) por habitante F.1

INFLUENZA A (H1N1) Protocolo de Manejo Clínico e Vigilância Epidemiológica da

Transcrição:

1 CARACTERÍSTICAS CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICAS DE LESÕES BUCAIS DIAGNOSTICADAS EM CAMPANHA DE PREVENÇÃO EM JACAREÍ-SP Clinical and epidemiological characteristcs of oral lesions diagnosed in the prevention campaign in the city of Jacareí SP Luiza Gomes FURTADO 1 ; Andresa Costa PEREIRA 2 ; Lúcia Helena Denardi Roveroni FAVARETTO 3 ; Elaine Dias do CARMO 4 1 Acadêmica do curso de Odontologia das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) 2 Professora Doutora da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) 3 Mestre em Biopatologia Bucal Faculdade de Odontologia de São José dos Campos (FOSJC/UNESP) 4 Professora Doutora das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) Autor Responsável: Elaine Dias do Carmo Rua Barão de Jaceguai, 908 apto 192 torre B Campo Belo São Paulo SP CEP: 04606-001 Telefone: (11) 35640332/ (11) 97720602 e-mail: elaineddc@gmail.com

2 RESUMO O Brasil carece de estudos epidemiológicos sobre as lesões bucais em relação ao gênero, a idade e a etnia do paciente, tanto quanto a localização anatômica e a classificação da lesão. O objetivo deste estudo foi identificar as lesões mais comumente encontradas na cavidade bucal de indivíduos residentes da cidade de Jacareí (SP), além de levantar dados relacionados ao gênero, idade e etnia dos indivíduos avaliados. O estudo de diagnóstico da situação de saúde foi realizado durante a 2ª Campanha de Prevenção e Diagnóstico Precoce de Câncer Bucal da cidade de Jacareí-SP. Foram avaliados clinicamente 730 indivíduos que responderam a um questionário contendo dados referentes ao gênero, etnia e idade, bem como hábitos de tabagismo e etilismo. Dos avaliados, 369 eram do gênero masculino (50,5%) e 361 do gênero feminino (49,5%). A faixa etária variou entre 20 e 90 anos, sendo que a quarta e quinta décadas de vida foram mais prevalentes (20,1% e 22,8%, respectivamente). Verificou-se 65,1% de leucodermas, 16,0% de melanodermas, 1,2% de xantodermas e em 17,7% não havia descrição da etnia na ficha clínica. As lesões bucais mais prevalentes foram candidose (31,9%), queilite actínica (28,9%), hiperplasia fibrosa inflamatória (11,8%) e a leucoplasia (10,6%) apresentando-se menos prevalente. Colhidos os dados da pesquisa concluiu-se que as campanhas de prevenção e diagnóstico precoce de lesões bucais são uma importante ferramenta para a realização de estudos epidemiológicos. Por meio destes estudos o cirurgião-dentista torna-se conhecedor das lesões bucais mais incidentes e do perfil dos indivíduos acometidos nas mais diversas regiões do país. Desta forma, assegura-se que medidas preventivas e curativas sejam planejadas e executadas. PALAVRAS-CHAVE: Epidemiologia; Mucosa bucal; Doenças da boca.

3 ABSTRACT Brazil lacks on epidemiological studies about oral lesions, including gender, age and ethnic group of the patient, as well as the anatomical location and classification of the lesion. The objective of this study was to identify the more frequent lesions occurring in oral cavity of individuals living in the city of Jacareí (SP, Brazil), besides collecting data related to gender, age and ethnic group of the evaluated individuals. The diagnostic study of the patient health condition was conducted during the second Campaign for Prevention and Early Diagnosis of Oral Cancer in the city of Jacareí-SP. During this campaign, a total of 730 individuals were clinically evaluated after answering a questionnaire containing data related to gender, age and ethnic group, as well as smoking habits and alcohol consumption. Among those, 369 were male (50,5%) and 361 females (49,5%). Their ages ranged between 20 and 90 years, and the fourth and fifth decades of life were more prevalent (20,1% and 22,8%, respectively). There was a total of 65,1% of Caucasian and the most prevalent lesions were oral candidiasis (31,9%), actinic cheilitis (28,9%), inflammatory fibrous hyperplasia (11,8%) and leukoplakia (10,6%). Based on this survey, it can be concluded that prevention campaigns and early diagnosis of oral lesions are an important tool for epidemiological studies. Through these studies, dentists may become more knowledgeable about the most frequent oral lesions and the profile of affected individuals in various regions of the country. This will ensure that preventive and curative measures are planned and executed. KEYWORDS: Epidemiology; Oral mucosa; Mouth diseases

4 INTRODUÇÃO A saúde bucal, na maioria dos municípios brasileiros constitui ainda um grande desafio aos princípios do Sistema Único de Saúde, principalmente no que se refere ao diagnóstico precoce de lesões bucais. Neste contexto, o levantamento epidemiológico é um recurso importante para conhecer a situação da saúde bucal de uma determinada população e adotar medidas preventivo-curativas. No Brasil, observa-se a escassez de informações epidemiológicas sobre as lesões bucais em relação ao gênero, a idade e a etnia do paciente, tanto quanto a localização anatômica e a classificação da lesão. Estes dados são de grande importância para o cirurgião dentista que deve ser conhecedor das lesões bucais mais incidentes no país e do perfil do indivíduo acometido. As campanhas de prevenção de lesões de boca são de grande valia para alertar e educar a população sobre os riscos destas lesões. Além disso, tal ação auxilia no diagnóstico precoce das lesões bucais e no encaminhamento do paciente ao tratamento adequado. A candidose, a queilite actínica, a hiperplasia fibrosa inflamatória e a leucoplasia figuram entre as lesões bucais mais frequentemente encontradas nos estudos epidemiológicos (Amadei et al., 2009; Silveira et al., 2009; Prado et al., 2010; Kniest et al., 2011). A candidose é uma infecção fúngica oportunista bastante comum em cavidade bucal causada principalmente pela Candida albicans. Pode se manifestar sob diversas formas clínicas, sendo as mais comuns a pseudomembranosa e a eritematosa. O diagnóstico costuma ser estabelecido pelos sinais clínicos. Áreas brancas podem ser usualmente raspadas pela pressão firme com uma espátula de madeira, deixando uma superfície cruenta, sangrante. O esfregaço do material, exame de citologia esfoliativa, ao ser examinado ao microscópio, revela a presença de hifas de Candida (Neville et al., 2004; Moreira et al., 2001).

5 A queilite actínica é uma alteração difusa e pré maligna do vermelhão do lábio inferior, que resulta da exposição excessiva ou a longo prazo ao componente ultravioleta da radiação solar, ocorrendo principalmente em homens acima de 45 anos. Clinicamente observa-se atrofia da borda do vermelhão do lábio inferior, posteriormente, nota-se a presença de áreas ásperas e leucoplásicas que com a progressão da lesão tornam-se ulceradas. Pode ocorrer também devido a traumas brandos por cigarro ou cachimbo (Neville et al., 2004; Corso et al., 2006). A hiperplasia fibrosa inflamatória caracteriza-se por um aumento do tecido conjuntivo fibroso em decorrência de traumas mecânicos crônicos causados por próteses totais ou parciais mal adaptadas (Neville et al., 2004). Clinicamente apresenta-se como única ou múltiplas pregas de tecido hiperplásico na região vestibular do rebordo alveolar. Ocorre em maxila e mandíbula com preferência pela região anterior e é mais prevalente em mulheres (Neville et al., 2004). A leucoplasia é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), como uma placa ou mancha branca que não pode ser caracterizada clinicamente ou patologicamente como qualquer outra doença. É associada principalmente ao hábito de tabagismo. Mais de 80% dos pacientes acometidos são fumantes. As regiões mais afetadas são lábio inferior, língua, assoalho bucal e mucosa jugal. Sua incidência se dá principalmente em pacientes de meia idade do gênero masculino (Neville et al., 2004). Considerando a importância dos levantamentos epidemiológicos, o presente estudo teve como objetivo identificar as lesões mais comumente encontradas na cavidade bucal de indivíduos residentes da cidade de Jacareí (SP), além de levantar dados relacionados ao gênero, idade e etnia dos indivíduos avaliados. METODOLOGIA O estudo foi realizado durante a 2ª Campanha de Prevenção e Diagnóstico Precoce de Câncer Bucal da cidade de Jacareí-SP. Foram submetidas ao exame clínico para avaliação das condições bucais, 730 pessoas. Além disso, os avaliados

6 responderam a um questionário contendo dados referentes ao gênero, etnia e idade, bem como hábitos de tabagismo e etilismo. Os dados obtidos foram tabulados, e logo após, submetidos à análise estatística descritiva, sendo apresentados por meio de gráficos. RESULTADOS Dos 730 indivíduos avaliados, 369 eram do gênero masculino (50,5%) e 361 do gênero feminino (49,5%) (Figura 1). A faixa etária variou entre 20 e 90 anos, sendo que a quarta e quinta décadas de vida foram as de maior prevalência (20,1% e 22,8%, respectivamente) (Figura 2).

7 Quanto à etnia verificou-se 475 (65,1%) leucodermas, 117 (16,0%) melanodermas 9 (1,2%) xantodermas e 129 (17,7%) deles não foram identificados quanto a etnia, pois esta informação não constava na ficha clínica (Figura 3).

8 Registrou-se 169 lesões, sendo que as mais prevalentes foram clinicamente compatíveis com candidose (54 casos 31,9%), queilite actínica (49 casos 28,9%), hiperplasia fibrosa inflamatória (20 casos 11,8%) e leucoplasia (18 casos 10,6%), como ilustra o gráfico abaixo (Figura 4).

9 As demais lesões diagnosticadas clinicamente somaram 28 casos (16,5%), sendo que algumas delas foram afta, herpes labial, queilite angular, leucoedema, mucocele, úlcera traumática, hiperplasia gengival medicamentosa, estomatite protética, hemangioma, fibroma e papiloma. Neste universo de lesões foram ainda diagnosticados 3 casos de carcinoma epidermóide, representando 1,7% do total de lesões clinicamente diagnosticadas. Os pacientes que apresentaram alterações compatíveis com lesões malignas e com potencial carcinogênico foram encaminhados para a realização de biópsia e de exame anatomopatológico para confirmação do diagnóstico.

10 Os pacientes foram questionados quanto aos hábitos de tabagismo e etilismo. Dos 730 avaliados, 117 (16,0%) confirmaram o hábito de tabagismo e 108 (14,8%) o uso de álcool. Na ficha de avaliação não foi informado o uso de tabaco em 0,14% dos casos. (Figura 5). DISCUSSÃO O universo de 730 indivíduos avaliados na população de Jacareí-SP muito contribui para a pesquisa de dados clínico-epidemiológicos referente às lesões bucais. De maneira geral, o Brasil carece de estudos nesta área, e na Odontologia é muito importante o conhecimento de lesões que mais acometem a cavidade oral e do perfil da população mais atingida por tais lesões, para que se elabore estratégias de prevenção e tratamento. Em relação ao gênero o estudo mostra uma leve predileção pelo gênero masculino. Discordando dos trabalhos de Amadei et al. (2009) e Kniest et al. (2011) que observaram maior incidência de lesões em mulheres.

11 Quanto à etnia, foi observado maior número de leucodermas, seguidos por melanodermas, assim como encontrado na literatura (Prado et al., 2009; Silveira et al., 2009, Kniest et al., 2011). Avaliando a idade dos pacientes desta amostra, observou-se que as lesões de mucosa bucal apareceram em maior número entre a 4ª e a 5ª décadas de vida. Dados similares foram observados por Izidoro et al. (2007) onde a idade média dos avaliados foi de 51 anos. Rocha et al. (2006) avaliando 4592 indivíduos verificaram maior frequencia nas 3ª e 4ª décadas de vida. O estudo de Marin et al. (2007) mostra maior prevalência de lesões bucais entre 10 e 39 anos de idade. As lesões bucais mais encontradas neste estudo foram a candidose, seguida pela queilite actínica, hiperplasia fibrosa inflamatória e leucoplasia. O trabalho de Kniest et al. (2011) também mostra a candidose e a queilite actínica como as lesões mais freqüentes em cavidade bucal. A queilite actínica foi a segunda lesão mais diagnosticada neste estudo, corroborando com os relatos da literatura que mostram alta prevalência desta lesão (Alves et al., 2004; Corso et al., 2006; Silva et al., 2011). Silveira et al. (2009) realizaram um estudo onde avaliaram somente as lesões bucais com potencial de malignização e verificaram a leucoplasia, seguida da queilite actínica como lesões mais incidentes. A hiperplasia fibrosa inflamatória que é uma patologia relacionada a traumas, de baixa intensidade e longa duração, causados principalmente por próteses mal adaptadas é uma das mais frequentemente encontradas nos levantamentos epidemiológicos em diferentes estados do Brasil, como mostram os estudos de Moresco et al. (2003), Marin et al. (2007) e Izidoro et al. (2007). Segundo Bomfim et al. (2008), 42,5% dos pacientes examinados em seu estudo apresentaram hiperplasia fibrosa inflamatória relacionada às próteses totais. Já no trabalho de Feltrin et al. (1987) a lesão aparece em 31,4% dos casos. Nos estudos de França et al. (2003) a lesão aparece com 15% dos casos, no de Kniest et al. (2011) em 12,6%, e no de Esteves et al. (2005) em 7,3%.

12 De acordo com Neville et al. (2004) a leucoplasia é considerada como a lesão pré cancerizável mais freqüente na cavidade bucal, associada principalmente ao hábito de tabagismo. Neste estudo, apesar da maioria dos pacientes (83,9%) negarem o uso de tabaco, a leucoplasia apareceu em 27,1% dos casos. O trabalho de Prado et al. (2010) aponta a leucoplasia como segunda lesão mais frequente em cavidade bucal. Em contrapartida, a leucoplasia aparece com 1,6% de freqüência no estudo de Kniest et al. (2011). A mesma associada ao alcoolismo é observada em 1,08% dos casos no estudo de Fernandes et al. (2008). CONCLUSÃO As campanhas de prevenção e diagnóstico precoce de lesões bucais são uma importante ferramenta para a realização de estudos epidemiológicos. Por meio destes estudos o cirurgião dentista torna-se conhecedor das lesões bucais mais incidentes nas diversas regiões do país e do perfil dos indivíduos acometidos. Desta forma, assegura-se que medidas preventivas e curativas sejam planejadas e executadas. REFERÊNCIAS Alves PM, Gomes DQC, Pereira JV. Prevalência de Lesões Cancerizáveis na cavidade oral no Município de Campina Grande Paraíba Brasil. Rev Bras Cienc Saúde. 2004; 8 (3): 247-25. Amadei SU, Pereira AC, Silveira VAS, Carmo ED, Scherma, AP, Rosa LEB. Prevalência de processos proliferativos não neoplásicos na cavidade bucal: estudo retrospectivo de quarenta anos - Clínica e Pesquisa em Odontologia UNITAU. 2009; 1(1): 38-42. Bomfim IPR; Soares DG; Tavares GR; Santos RC; Araújo TP; Padilha WWN. Prevalência de Lesões de Mucosa Bucal em Pacientes Portadores de Prótese Dentária. Pesq Bras Odontoped Clin Integr. 2008; 8(1):117-121.

13 Corso FM, Wild C, Gouveia LO, Ribas MO. Queilite Actínica: Prevalência na Clínica Estomatológica da PUCPR. Clin Pesq Odontol. 2006; 2 (4): 277-81. Silva UH; Araújo DL; Santana EB. Ocorrência de estomatite protética e queilite actínica diagnosticadas no centro de especialidades odontológicas da faculdade ASCES, Caruaru PE. Odontol. Clín. Cient. (Online). 2011; 10(1):79-83. Esteves RA, Igarashi AB, Conceição CAF, Celestino Júnior AF, Athayde AL. Prevalência das lesões bucais em usuários de próteses removíveis. PCL 2005; 7(36):147-53. Feltrin PP, Zanetti AL, Marcucci G, Araújo VC. Prótese total muco-suportada. Lesões da mucosa bucal. Rev Assoc Paul Cir Dent 1987; 41(3):150-61. França BHS, Souza AM. Prevalência de manifestações estomatológicas originárias do uso de próteses totais. JBC: J. Bras. Clin. Odontol. Integrada 2003; 40 (7): 296-300. Izidoro FA, Izidoro ACSA, Semprebom M, Stramandinoli RT, Ávila LFC. Estudo epidemiológico de lesões bucais no ambulatório de estomatologia do hospital geral de Curitiba. Rev Dens. 2007; 15(2): 99. Kniest G, Stramandinoli RT, Ávila LFC, Izidoro ACAS. Frequência das lesões bucais diagnosticadas no Centro de Especialidades Odontológicas de Tubarão (SC). RSBO. 2011; 8(1):13-8. Fernandes JP; Brandão VSG; Lima AAS. Prevalência de lesões cancerizáveis bucais em indivíduos portadores de alcoolismo. Rev Bras Cancerol 2008; 54(3):239-244.

14 Marin HJI, Silveira MMF, Souza GFM, Pereira JRD. Lesões bucais: concordância diagnóstica na Faculdade de Odontologia de Pernambuco. Odontol Clín-Cient 2007; 6(4):315-18. Moreira et al. Estudo clínico e microbiológico de candidoses bucais. Rev. Fac. Odontol. Univ. Fed. Bahia 2001; 23:54-8. Moresco FC, Nora Filho MR, Balbinot MA. Levantamento epidemiológico dos diagnósticos histopatológicos da disciplina de estomatologia da faculdade de odontologia da ULBRA-Canoas/RS. Stomatos. 2003; 9(1): 29-34. Neville BW, Damm DD, Allen CM, Bouquot JE. Patologia oral & maxilofacial. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2004. Prado BN, Trevisan S, Passarelli DHC. Estudo epidemiológico das lesões bucais no período de 05 anos. Revista de Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo 2010; 22(1): 25-9. Rocha DAP, Oliveira LMM, Souza LB. Neoplasias benignas da cavidade oral: estudo epidemiológico de 21 anos (1982 a 2002). Rev Odontol UNICID. 2006; 18(1): 53-60. Silva FD, Daniel FI, Grando LJ, Calvo MC, Rath IBS, Fabro SML. Estudo da prevalência de alterações labiais em pescadores da ilha de Santa Catarina. Ver Odonto Ciência Fac. Odonto/PUCRS. 2006; 21(51): 37-42. Silveira EJD; Lopes MFF; Silva LMM; Ribeiro BF; Lima KC; Queiroz LMG. Lesões orais com potencial de malignização: análise clínica e morfológica de 205 casos. J Bras Patol Med Lab 2009; 45(3):233-238.