PERDAS ECONÔMICAS POR ABSCESSOS E HEMATOMAS EM CARCAÇAS DE BOVINOS



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Transcrição:

174 PERDAS ECONÔMICAS POR ABSCESSOS E HEMATOMAS EM CARCAÇAS DE BOVINOS Naiá Carla Marchi de Rezende-Lago 1 Carla Cristina D`Amato 2 Patrícia Gelli Feres de Marchi 3 (patrícia@univar.edu.br) RESUMO Este trabalho teve o objetivo analisar as perdas econômicas devido a abscessos e hematomas em carcaças de bovinos, através da colheita e pesagem das partes acometidas. O estudo foi realizado em um frigorífico de Barretos, SP, no qual foram avaliadas 13.000 carcaças. Os abscessos foram mais frequentes (36,3%), sendo encontrados mais na parte traseira, já hematomas (11,4%), foram encontrados no dianteiro. Em relação aos hematomas encontrados no traseiro, os cortes mais atingidos foram: costela do traseiro (37,99%), coração da alcatra (21,20%), picanha (17,15%), lagarto (22,05%). Os outros cortes, juntos, somaram 1,61%. Porém, em relação aos abscessos que acometeram o dianteiro das carcaças, os cortes mais atingidos foram: cupim (80,12%), acém (15,6%), costela do dianteiro (3,2%). Todos os outros cortes, juntos, somaram 1,08%. Sendo que o prejuízo no destino dos cortes chegam a R$ 15.164,12. O que determina que em grande escala o prejuízo se torna muito expressivo. PALAVRAS-CHAVE: Perdas econômicas, hematomas, abscessoss ABSTRACT This trial was performed to veriy This study was conducted to analyze the economic losses due to abscess and bruises in carcases of cattle, through sampling and weighing of seized parts. The study was conducted in a slaughterhouse of Barretos, São Paulo, which were assessed 13,000 carcasses. The abscesses were most often (36.3%), being found in hindquarter, already bruised (11.4%) were found on forequarter. In relation to the bruises found on the rear, the cuts most affected were: rib of hindquarters (37.99%), sirloin (21.20%), rump cap (17.15%), eye of round (22.05%). The other cuts together totaled 1.61%. However, in respect of which made the front abscesses of the carcasses, the cuts most affected were: hump (80.12%), chuck (15.6%), rib (3.2%). All other cuts together totaled 1.08%. Being that the injury to the target of the cuts reach R $ 15,164.12. What determines that large-scale injury becomes very expressive. KEY WORDS: Losses economics, bruises, abscesses 1. INTRODUÇÃO A carne é considerada um alimento nobre para o homem pela qualidade das proteínas, ácidos graxos e todos os outros nutrientes que possui. O Brasil tem sido um dos grandes produtores de carne bovina, sendo que, nos últimos cinco anos, se tornou o maior exportador mundial dessa carne. O rebanho brasileiro, atualmente, é maior do que a população humana. Com isso, a necessidade de comercialização aumentou muito nesses últimos anos (ALVIM et al., 2006). Com isso a necessidade da modernização veio acompanhando esse histórico da crescente população bovina. Atendendo as preocupações do governo nacional, bem como as exigências do rigoroso mercado europeu, criou-se o conceito de rastreabilidade (SISBOV - Sistema Brasileira de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina). A rastreabilidade é um sistema de controle que deve registrar desde o nascimento de um animal até o seu abate, incluindo todas as informações que envolvem o bovino abatido (BRASIL, 2002). Um dos principais problemas que prejudicam as exportações é a febre aftosa, que é uma doença altamente contagiosa, própria de animais biungulados e que preocupa todos os países do mundo. Em decorrência da sua fácil transmissão, pode ser difundida por todas as partes. Como essa doença debilita muito o animal, há grandes perdas econômicas ligadas a essa enfermidade (BEER, 1999). Então, a intensificação para o seu controle e sua prevenção vem aumentando muito, favorecendo inclusive uma melhora generalizada do rebanho. Tal fato traz um aumento da qualidade das carcaças que abastecem até mesmo o mercado interno. Assim, os próprios estabelecimentos de carnes e derivados vêm instituindo programas de controles de qualidade, a fim de melhorar a sua produção e garantir melhores mercados (FRANÇA FILHO et al.; 2006). Mesmo com todos os cuidados, as condenações parciais de carcaças devido a abscessos provenientes de vacinas e medicamentos, junto com os hematomas formados devido a mau manejo pré-abate, ainda são as principais causas de perdas econômicas em frigoríficos. Vacinas e medicamentos podem formar abscessos por várias razões. As mais comuns são a má refrigeração e erros na aplicação. Os materiais devem ser descartáveis (seringas e agulhas); caso contrário, têm que ser esterilizados e o local submetido à limpeza com álcool. Quando se faz uso de pistolas, essas devem ser desinfetadas. As pistolas são de grande eficiência, pois, armazenam várias doses de vacina ou medicamento, economizando tempo e mão de obra. Segundo Grandin (1997), a indústria perde a cada ano, milhões de dólares devido à presença de lesões que reduzem o valor da carcaça. Nos Estados Unidos calcula-se que as perdas anuais sejam de US$ 75 milhões. No programa de qualidade de Nova Iorque,

175 constatou-se em 1995, que 80% das carcaças apresentavam lesões, sendo, a maioria múltiplas. Na Austrália, calcula-se uma perda de aproximadamente US$ 20 milhões ao ano (BRAGGION E SILVA, 2004). No Brasil, verificaram-se a ocorrência e localização de lesões, por aplicações medicamentosas e/ou vacinas durante o processo de desossa das carcaças, após a inspeção na linha de abate e foi constatada uma perda anual de US$ 11,3 milhões (MORO E JUNQUEIRA, 1999). De acordo com a legislação brasileira (BRASIL, 1952), áreas de carcaças que apresentam formação de abscessos devem ser condenadas. Se houver contato de pus em outras partes ou até mesmo em partes de carcaças próximas àquela acometida, tais partes deverão ser descartadas, semelhantemente ao destino dado aos abscessos. Todas as áreas acometidas com hematomas também devem ser descartadas (BRASIL, 1952). Assim, este trabalho teve como objetivos quantificar as carcaças acometidas por abscessos e hematomas, bem como apontar sua localização nos cortes cárneos, além de estimar os prejuízos econômicos provenientes dessas perdas. Segundo França Filho et al.. (2006), os achados de lesões se restringiram ao quarto dianteiro, especificamente nas regiões do cupim (9,4%), pescoço (24%), acém/paleta (48%) e entrecorte (18,6%). Em média, retirou-se 0,213 Kg de material por carcaça em conseqüência de abscessos. De acordo com a legislação brasileira (BRASIL, 1952), áreas de carcaças que apresentam formação de abscessos devem ser condenadas. Se houver contato de pus em outras partes ou até mesmo em partes de carcaças próximas àquela acometida, tais partes deverão ser descartadas também. Em casos de hematomas, as principias causas são: agressões diretas, grande concentração de gado em um único local, instalações inadequadas, transporte inadequado incluindo estradas em más condições e gado agitado devido a manejo agressivo (PARANHOS DA COSTA, 2002). Semelhante ao destino dado aos abscessos, todas as áreas acometidas com hematomas devem ser descartadas (BRASIL, 1952). De acordo com França Filho et al. (2006) a constatação de elevadas perdas econômicas decorrente da presença de abscessos na musculatura das carnes dos bovinos impõe a necessidade de se refletir sobre o manejo dos animais a serem vacinados e/ou submetidos a tratamentos medicamentosos. Assim, a execução desse trabalho justifica-se pelo fato de se quantificar, em um grande Matadouro-Frigorífico da região de Barretos/SP, tais prejuízos, que serão divulgados para que se consiga um melhor manejo dos animais de abate e conseqüentemente, para que haja uma diminuição dessas alterações. E com isso, pode-se minimizar essas perdas econômicas sugerindo que um bom manejo é necessário para que essas lesões não ocorram. De acordo com o exposto, o presente trabalho tem como objetivos: Verificar a proporção de carcaças que apresentam alterações por abscessos e hematomas; Quantificar diariamente, em quilogramas, o volume de material descartado por conta das alterações referidas; Calcular, de acordo com o preço médio pago pela carcaça, quanto o produtor deixou de receber pelas alterações; Verificar as partes da carcaça que apresentam tais alterações; Calcular de acordo com o preço médio de cada parte, quanto o frigorífico deixou de lucrar com a perda pelas alterações; Verificar o destino dado às partes condenadas por abscessos e hematomas; Alertar os proprietários e os colaboradores industriais sobre os prejuízos. 2. MATERIAL E MÉTODOS Durante o período de setembro a outubro de 2008, duas vezes por semana foram realizadas visitas em um frigorífico na cidade de Barretos/SP, apto à exportação, com capacidade de abate cerca de 1000 animais diários, para a colheita de material. No total, foram realizadas 12 visitas. Avaliou se 13.000 carcaças bovinas de animais, sem distinção de sexo e raça, para a presença de abscessos e hematomas. Foram feitas coletas e pesagem das porções cárneas excisadas de 26.000 hemi-carcaças de animais, devido a hematoma e/ou abscesso nas carcaças, de acordo com a legislação vigente. As amostras coletadas foram separadas de acordo com a localização do abscesso (carne correspondente) e hematomas, pesados separadamente, ambos analisados em hemi-carcaças dianteira e traseira. A localização na sala de abate para efetuar a coleta foi nas linhas de inspeção H (hemicarcaça traseira) e I (hemi-carcaça dianteira). Devido a impossibilidade de permanecer no SIF (Serviço de Inspeção Final), as apreensões descritas neste trabalho referem-se àquelas provenientes de carcaças não apreendidas, ou seja, que apresentaram abscessos menores ou que passaram despercebidos. Portanto, desde já, sabe-se que os prejuízos são ainda maiores do que aqui apresentados. A retirada das lesões era feita pelo funcionário do frigorífico, que destina as partes condenadas por abscesso/hematoma em bandejas vermelhas (que dentro do frigorífico significa destino a graxaria). Após, tais partes apreendidas eram colocadas em sacos plásticos, para esvaziar a bandeja quando ela se enche. Após a retirada, e a verificação do local, todos os abscessos foram pesados em uma balança de precisão estabelecida no frigorífico, descontando o peso do saco plástico. O preço da carne (por arroba, por corte e por área - dianteiro/traseiro) foi fornecido pelo frigorífico em questão, e as perdas econômicas são baseadas nesses valores.

176 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram avaliados 13000 animais. De maneira geral, os hematomas foram encontrados na parte traseira dos animais, e os abscessos, na dianteira. Em relação aos hematomas encontrados no traseiro, os cortes mais atingidos foram: costela do traseiro (37,99%), coração da alcatra (21,20%), picanha (17,15%), lagarto (22,05%). Os outros cortes, juntos, somaram 1,61%. Porém, em relação aos abscessos que acometeram o dianteiro das carcaças, os cortes mais atingidos foram: cupim (80,12%), Acém (15,6%), costela do dianteiro (3,2%). Todos os outros cortes, juntos, somaram 1,08%. Em relação ao peso total de descarte provocado por hematomas, somou-se 301,96 Kg de carne provenientes de 2017 partes descartadas, que, por sua vez, foram retiradas de 1.483 carcaças. Os abscessos foram responsáveis pelo descarte de 1.355,30 Kg de carne resultantes de 5.213 partes descartadas, cuja origem foram 4.713 carcaças. Estes resultados mostram que, das 13000 carcaças geradas pelo abate durante o período de estudo, 11,4% apresentaram hematomas, enquanto 36,3% delas apresentam abscessos. O valor da arroba (15 Kg) cotado na época estava por volta dos R$70,00. Assim, o pecuarista perde, somando hematomas e abscessos, cerca de R$7.733,88. Já o frigorífico perde, na venda para o varejo, em torno de R$7.452,05, sendo R$2.098,62 no traseiro (hematomas) e R$5.353,43 no dianteiro (abscessos), pois ao repassar para o varejo o frigorífico separa por cortes ou partes (dianteiro e traseiro) conforme a linha de produção. Como a parte traseira tem cortes nobres ela se torna mais cara, mas como hematomas foram menos encontrados o valor total ficou menor. O preço por corte (TAB.1) mostra-se variável conforme os preços de varejo. Em relação ao preço de varejo, a estimativa de perda ficou em R$15.164,12. Esses preços foram fornecidos pelo próprio frigorífico. Percebe-se que são cerca de R$15.000,00 de prejuízos para 13.000 animais abatidos, ou seja, em média, R$1,15 por animal. Pensando no rebanho nacional, com cerca de 180 milhões de cabeças, haveria um prejuízo em torno de R$207.000.000, bastante significativos. Quanto ao destino dessas lesões, elas são encaminhadas para a graxaria. Os achados de lesões foram bastante encontrados, mesmo sabendo que as lesões maiores o SIF retirava antes de chegar à linha de inspeção de carcaça para abscessos e hematomas. Assim, os prejuízos aqui citados são menores do que os que realmente acontecem dentro do frigorífico. França Filho et al. (2006) encontraram dados semelhantes. Acém e pescoço foram os mais acometidos. Renner (2005) verificou em 20.000 carcaças avaliadas que 9.800 (49%) delas apresentavam algum tipo de contusão, onde 52% das contusões localizavamse no quarto traseiro, 19% no vazio, 13% nas costelas, 9% na paleta e 7% no lombo, valores acima dos encontrados neste estudo (4,9%). Dario (2008) observou 3112 carcaças de bovinos na região de Bauru, SP e observou a presença de hematomas em 66% (2054) das carcaças, valores esses bem acima dos encontrados no presente estudo, porém a região de maior prevalência foi o traseiro (80,9%) como observado neste trabalho. Em estudo semelhante realizado por Andrade et al. (2008), do total de 121 carcaças avaliadas na região do Pantanal (MS), 84,3% tiveram uma ou mais lesões, totalizando uma perda de 56,1 Kg de carne. A maior proporção de lesão foi encontrada em animais submetidos ao transporte rodoviário, por mais de uma hora de viagem e distâncias superiores a 70 Km, sendo a maior parte em estrada não pavimentada, diferindo das condições encontradas no presente trabalho onde a proporção de carcaças acometidas foi bem menor, apesar da distância de alguns lotes serem de até 450 Km do local de abate, visto que a estrada era pavimentada (rodovia). De fato, a região pantaneira muito difere da região de São Paulo, em termos de estrutura e acabamento da rodovia e é propícia a inundações constantes. De acordo com Joaquim (2002) as condições da estrada são fatores importantes sob o aspecto de bem estar animal, visto que animais transportados por longas distâncias apresentam, na prática, alta incidência de contusões, como resultado dos solavancos, freadas e desvios bruscos a que estão sujeitos os caminhões boiadeiros. A incidência de danos às carcaças pode ser um bom indicativo para avaliar as condições de bemestar no manejo pré-abate (GRANDIN, 2000; CHILE, 2001). A presença de hematomas revela indícios de manejo inadequado, que pode ter ocorrido em qualquer etapa do processo: na propriedade rural, durante o transporte, no desembarque e no próprio frigorífico (CIVEIRA et al., 2006). Almeida (2005) observou em estabelecimentos exportadores a falta de treinamento dos funcionários com relação às boas práticas de manejo no pré-abate relacionados ao bem-estar dos animais, gerando muitas perdas com contusões nas carcaças. Ressaltou a importância e a necessidade da reformulação e atualização dos conceitos dentro de toda a cadeia produtiva, de modo imperativo para a consolidação do país como exportador. As elevadas perdas constatadas neste trabalho decorrentes de abscessos na carne bovina leva a considerações sobre o manejo na aplicação de medicamentos e vacinas, devendo sempre utilizar agulhas limpas, aplicar medicamentos e vacinas nas regiões do corpo do animal recomendadas pelo fabricante. Os hematomas foram encontrados em menor quantidade que os abscessos, isso pode indicar que em termos de manejo medicamentoso, o cuidado está deixando a desejar comparado ao manejo de transportes ou aos maus tratos para a presença de hematomas.

177 A presença de hematomas foi encontrada no traseiro em maior quantidade, já os abscessos no dianteiro. Como o preço do traseiro é maior do que o do dianteiro, uma baixa ocorrência de alterações chega a resultados significativos. Por outro lado, apesar do dianteiro ter menor valor comercial, a presença de abscesso foi alta, o que resultou em um prejuízo igualmente significativo. 4. CONCLUSÕES Nas condições em que o projeto foi realizado e sabendo-se que há subestimativa nos valores encontrados, pode-se concluir que: Os abscessos são mais freqüentemente encontrados em carcaças (36,3%) do que os hematomas (11,4%); Em média, por dia, foram descartados 162,5 gramas de hematomas por carcaça e 272 gramas de abscessos. O comércio deixou de receber R$ 15.164,12, em 13.000 cabeças de gado. As partes que mais tinham alterações foram: costela do traseiro, coração da alcatra, picanha, lagarto, cupim, acém, costela do dianteiro. O destino dado aos hematomas e abscessos foi a graxaria. TAB1. Preço perdido por tipo de corte no varejo Cortes Tipo da lesão Preço por KG Valor Perdido Acém Abscesso R$ 5,70 R$ 1.205,13 Alcatra Hematoma R$ 16,10 R$ 1.030,64 Costela (dianteira+traseira) Abscesso/Hematoma R$ 9,00 R$ 1.422,71 Cupim Abscesso R$ 8,99 R$ 9.761,93 Lagarto Hematoma R$ 8,30 R$ 552,63 Picanha Hematoma R$ 23,00 R$ 1.191,08 TOTAL R$ 15.164,12 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVIM, N.C.; LEITE, B.A.; FILADELPHO, A.L.; PENA, S.B. O mercado da carne bovina no Brasil. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, n. 7, 2006. Disponível em <http://www.revista.inf.br/veterinaria07/> acessado em 10/03/2008. ALMEIDA, L.A.M. Manejo no pré-abate de bovinos: aspectos comportamentais e perdas econômicas por contusões. 2005. 53f. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária Preventiva) Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal. ANDRADE, N.E; SILVA, S.M.R.; ROÇA, O.; SILVA, C.A.L.; GONÇALVES, C.H.; PINHEIRO, B.S.R. Ocorrência de lesões em carcaças de bovinos de corte no Pantanal em função do transporte. Ciência Rural, 3(7): 1991-1996, 2008. BEER, J.; Doenças infecciosas em animais domésticos. São Paulo: Roca, 1999. 2V. BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária DAS. Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal DIPOA. Divisão de Normas Técnicas DNT. Decreto Lei nº 30.691, de 29 de março de 1952, alterado pelos Decretos nº 1.255, de 25 de junho de 1962, nº 1.236, de 2 de setembro de 1994, nº 1.812, de 18 de fevereiro de 1996, e nº 2.244 de 4 de junho de 1997. Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal. Brasília, DF, 1997. 241 p. BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa no 1, de 9 de janeiro de 2002. Diário Oficial da União, 10 jan. 2002, seção 1, p. 1. Brasília, DF, 2002. BRAGGION M., SILVA R.A.M.S. Quantificações de lesões em carcaças de bovinos abatidos em frigoríficos no Pantanal Sul-Mato-Grossense. Corumbá: Embrapa. CPAP, Comunicado Técnico, 45: 1-4, 2004. CHILE. Universidad de Concepción. Curso de capacitacion de certificadores de carnes Ley 19.162. Chillan, Não paginado, 2001. CIVEIRA, M.P.; VARGAS R.E.S.; RODRIGUES, N.C.; RENNER, R.M. Avaliação do bem-estar animal em bovinos abatidos para consumo em frigorífico do Rio Grande do Sul. Revisa Veterinária em Foco, 4(1): 5-11, 2006. DARIO, R. Avaliação do bem-estar animal de bovinos abatidos em Frigorifico de Bauru-SP, 2008. Disponível em: www.dracena.unesp.br/eventos/sicud_2008/.../rafael_d ario.pdf. Acesso em 06/04/10. FRANÇA FILHO, A.T.; ALVES, G.G.; MESQUITA, A.J.; CHIQUETTO, C.E.; BUENO, C.P.; OLIVEIRA, A.S.C. Perdas econômicas por abscessos vacinais e/ou medicamentosos em carcaças de bovinos abatidos no

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