UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENFERMAGEM BRUNA BEUTLER



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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENFERMAGEM BRUNA BEUTLER RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR II - REDE DE ATENÇÃO BÁSICA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE PRIMEIRO DE MAIO PORTO ALEGRE 2015

2 BRUNA BEUTLER RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR II REDE DE ATENÇÃO BÁSICA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE PRIMEIRO DE MAIO Relatório de estágio final realizado na Unidade Básica de Saúde Primeiro de Maio, apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina Estágio curricular II do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Orientadora: Profª Draª Erica Duarte Enfermeiro supervisor: Carlos Fussiger Luz e Nora Beatriz Oliveira PORTO ALEGRE 2015

3 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...4 2 OBJETIVOS...5 2.1 Objetivo geral...5 2.2 Objetivo específico...5 3 METODOLOGIA...6 4 DESENVOLVIMENTO...7 4.1 Unidade Básica de Saúde...7 4.2 Unidade Básica de Saúde 1º de Maio...7 4.3 Atividades desenvolvidas...8 4.4 Situações vivenciadas durante a prática do estágio...9 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...11 REFERÊNCIAS...13

4 1 INTRODUÇÃO Este relatório foi elaborado a partir do Estágio Curricular II na Unidade Básica de Saúde (UBS) 1º de Maio e foi realizado entre março e maio de 2015, totalizando 290 horas, sob supervisão dos enfermeiros Carlos Fussiger Luz e Nora Beatriz Oliveira e orientação da professora Draª Erica Duarte. O estágio em questão teve como objetivo complementar a formação do aluno, proporcionando a este a oportunidade de realizar ações que demonstrem seu conhecimento nas competências e habilidades necessárias aos Enfermeiros da Rede Básica de Saúde. A equipe atuante na UBS 1º de maio exerce atividades na área de atenção básica, desenvolvendo ações de promoção, prevenção e tratamento de problemas de saúde em geral. A escolha pelo campo foi motivada pelo fato da UBS abranger uma área de vulnerabilidade social, o que acredito que me proporcionou uma experiência única. Ao longo da graduação em enfermagem nós, acadêmicos, agregamos conhecimentos teóricos e práticos, de forma gradual e cumulativa, mas é apenas nos estágios finais que assumimos integralmente o papel do enfermeiro, tendo que colocar em prática seus conhecimentos assistenciais, administrativos e como líder de uma equipe. Assim, este estágio proporciona aos alunos o acompanhamento e desenvolvimento de atividades realizadas pela equipe de enfermagem no âmbito da rede básica de saúde.

5 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral Cumprir o estágio na UBS 1º de Maio, realizando atividades relacionadas às funções de ensino, assistenciais e administrativas conforme legislação do exercício profissional do enfermeiro na atenção básica de saúde. 2.2 Objetivos específicos Desempenhar atividades de educação em saúde com a comunidade e acompanhar o enfermeiro em suas funções cotidianas.

6 3 METODOLOGIA Este relatório foi desenvolvido a partir das práticas assistenciais e administrativas de competência do enfermeiro e da equipe de saúde da atenção básica, realizadas sob supervisão dos enfermeiros Carlos Fussiger Luz e Nora Beatriz Oliveira

7 4 DESENVOLVIMENTO 4.1 Unidade Básica de Saúde A Atenção Básica à Saúde é desenvolvida pelas equipes de Atenção Básica, pelos Núcleos de Apoio as equipes de Saúde da Família (NASF), pelas equipes dos Consultórios na Rua e as de Atenção Domiciliar (Melhor em Casa). Tais equipes trabalham com uma população em um território pré-definido, e atuam como educadores de saúde, oferecendo tratamentos contínuos a pacientes portadores de doenças crônicas, bem como manejo das demandas e necessidades de maior relevância à demandas imediatas dos seus usuários. As equipes de saúde da APS são compostas basicamente por técnicos de enfermagem, enfermeiros e médicos (que podem ser médicos de família ou clínicos gerais, pediatras e gineco-obstetras). Se a equipe integra a Saúde da Família, também é composta pelos agentes comunitários de saúde (ACS). Além disso, a maioria das unidades contam com dentistas, técnicos em higiene bucal (THB) e auxiliares de gabinete odontológico (AGO). A Atenção Básica deve ser a porta de entrada das redes de atenção primária à saúde para os usuários do SUS e seguir os princípios da universalidade, da acessibilidade, do vínculo, da continuidade do cuidado, da integralidade da atenção, da responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social propostos pelo SUS. O objetivo das UBS s de todo país é atender a maior parte dos problemas de saúde da população, sem que haja a necessidade de encaminhamento para hospitais, descentralizando o cuidado e dando proximidade à população ao acesso aos serviços de saúde. 4.2 Unidade Básica de Saúde 1º de Maio A UBS 1º de Maio está localizada na Rua Professor Oscar Pereira, nº 6199, bairro Cascata, e funciona das 7 horas às 18 horas. Sua equipe é composta por dois médicos clínicogerais, dois médicos ginecologistas e obstetras, um médico pediatra (todos municipais), três enfermeiros (dois municipais e um pelo IMESF), dois técnicos de enfermagem (IMESF), oito auxiliares de saúde pública (três pelo IMESF e cinco pelo estado), dois auxiliares de enfermagem (estado), uma agente de combate a endemias, um dentista, dois auxiliares bucais (um pelo estado e outro pelo município), uma funcionária de higienização e um segurança. A equipe ainda conta com o auxílio de uma psicóloga e uma enfermeira, ambas residentes em saúde mental.

8 O serviço de enfermagem inicia quando o usuário entra na UBS e é encaminhado, através de fichas, para o acolhimento, que é auxilia na identificação do melhor atendimento para a sua necessidade. Lá ele é ouvido e, conforme suas queixas, ou: -É encaminhado para a consulta com clínico geral, ou pediatra, ou ginecologista e obstetra, onde o paciente apresenta sintomas ou sinais para um atendimento de urgência, ou; -É encaminhado para avaliação do enfermeiro, para que ele tome uma decisão frente à situação vivenciada, ou; -É agendada uma consulta médica ou de enfermagem para que o paciente inicie ou siga um acompanhamento. São distribuídas também fichas específicas para vacinas, curativos, e realização ou renovação do cartão do SUS. No guichê da entrada também são encaminhados exames e se encontra a farmácia, para dispensação de medicamentos. A área física da UBS 1º de maio é composta pela recepção e sala de espera, sala de nebulização, sala de acolhimento e reuniões, farmácia, sala de coordenação da enfermagem, quatro consultórios, sendo eles: três médicos e um de enfermagem, sala de vacina, sala de curativos, sala de sinais vitais, sala da odontologia, sala da administração, duas salas de esterilização de materiais, dois banheiros para funcionários e um para pacientes, um vestiário e uma cozinha. 4.3 Atividades desenvolvidas Durante meu estágio tive a oportunidade de realizar atividades diversas: realização de visitas domiciliares, verificação de sinais vitais, realização do cartão SUS, acolhimento, agendamento de consultas para idosos por telefone, matriciamento, prá-nenê, curativos e retiradas de pontos, testes rápidos de HIV/ hepatites virais/ sífilis e de gravidez, programa de saúde na escola, participação de reuniões de equipe, atualização de pastas de gestantes, dispensação de medicamentos, capacitação de pré-natal de baixo risco e planejamento familiar. Apesar da realização de inúmeras tarefas, desenvolvi muitas atividades que não são de competência do enfermeiro de uma UBS, e acredito que isso muito se deve à organização do trabalho implantada nas UBS s. Infelizmente o enfermeiro se limita às consultas de prá-nenê, matriciamentos, processos administrativos burocráticos e resolução de problemas diversos, que envolvem desde o descontentamento do usuário com o serviço de saúde até a falta de materiais essenciais para a realização de um curativo simples.

9 O acolhimento foi a atividade que mais realizei no dia-a-dia, o que é extremamente desgastante, pois os usuários desejam um atendimento médico imediato, o que na maioria das vezes não é possível, já que as UBS s trabalham com marcação de consultas e as agendas médicas já estão lotadas até o mês seguinte se não, mais além. Assim, todas as reclamações sobre o sistema e o que eles chamam de falta de vontade da nossa parte, decaem sobre o profissional que se encontra no acolhimento. Muitas vezes, o enfermeiro é chamado para que resolva esse tipo de situação, o que me desanima, pois nesse momento ele é visto como um complicador pelo usuário, o que acaba enfraquecendo o vínculo entre eles. 4.4 Situação vivenciada durante a prática do estágio Optei por descrever aqui uma das situações que agregou ainda mais conhecimento à minha trajetória. Este caso foi durante o acolhimento, onde I. de 17 anos, com um filho com menos de um ano de idade procurara o posto para marcar consulta com a ginecologista, pois queria engravidar novamente. Seu companheiro era um usuário em acompanhamento pela saúde mental da UBS e ambos moravam com a sua mãe que, conforme relatos de I., a maltratava. Ela estava acompanhada de uma amiga, R. de 16 anos, que também desejava engravidar, mas não estava conseguindo, por isso também queria marcar uma consulta com a ginecologista. Perguntei a R. porque engravidar tão cedo e ela me respondeu que talvez assim ela seria aceita pelo pai, principalmente se fosse um menino. Marquei uma consulta com a ginecologista para as duas na semana seguinte, e após a consulta I. retornou ao acolhimento para marcar consulta para seu bebê. Então, questionei sobre como havia sido a consulta e ela contou-me que o companheiro havia tirado o seu DIU em casa para que ela pudesse engravidar logo, e que a doutora havia lhe dado pílula anticoncepcional, mas ela disse que tomaria falhado para engravidar. Perguntei sobre R., e I. contou-me que ela estava internada no hospital pois tinha se envolvido em uma briga no centro e foi esfaqueada. Este caso permaneceu na minha cabeça por alguns dias e me chocou por ter percebido as diferenças que existe entre elas e eu quanto aos princípios e as realidades diferentes. A primeira coisa que vem em minha mente é sobre o futuro dessas pessoas, tanto de I., quanto de seus filhos, que vão crescer em um ambiente de vulnerabilidade social e com muitas carências. Porém, não sou ninguém para julgar a decisão de outras pessoas sobre suas vidas, até porque, o que é o certo? Nascer, brincar, ir na escola, fazer uma faculdade, trabalhar para

10 depois formar uma família, criar os filhos e se aposentar? A sociedade cria padrões, acabamos fazendo deles verdades absolutas e nos tornando seus escravos. Nesta vila que estas duas adolescentes moram, filho é sinônimo de proteção porque enquanto grávidas elas não sofrem violência e ser mãe é status, demonstração de amor para seu parceiro, que a faz ser respeitada por sua família e pela comunidade. Por fim, não vi mais I. na UBS. O que ela me deixou foi a certeza de que como profissional de enfermagem e Enfermeira temos a obrigação de levar todas as informações sobre saúde e doença e as possibilidades de uma vida com qualidade, a partir da realidade de vida da usuária para que eles possam decidir a partir dessas informações os caminhos de sua vida, assim podemos dar caminhos as pessoas e não interferir nas suas decisões, porque nem sempre o que é melhor pra mim é melhor pro outro.

11 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Encerro meu estágio com a convicção de que a atenção básica é essencial para a educação em saúde e prevenção de doenças nas comunidades, entretanto, no aspecto de informação e acesso à população tem muito o que evoluir. A população do Brasil é privilegiada com um sistema de saúde que oferece todos os tipos de tratamento de saúde, o que falta é uma sistematização e aperfeiçoamento do processo de trabalho para facilitar a entrada e aproximação destes usuários à rede que deve lhes acolher. O Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro tem como princípios a universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; a integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema; a preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral; igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie; direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde; divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua utilização pelo usuário; utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orientação programática; participação da comunidade; descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de governo com ênfase na descentralização dos serviços para os municípios; regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde; integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento básico; conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de assistência à saúde da população; capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; e, organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idênticos (SUS, 1992). Entretanto a sua operacionalização exige um esforço nacional governamental e um empenho da sociedade civil. Essas duas atitudes necessitam de tempo, desenvolvimento cultural e educação. O acolhimento como ato ou efeito de acolher expressa, em suas várias definições, uma ação de aproximação, um estar com e um estar perto de, ou seja, uma atitude de inclusão. Essa atitude implica, por sua vez, estar em relação com algo ou alguém. É exatamente nesse sentido, de ação de estar com ou estar perto de, que queremos afirmar o acolhimento

12 como uma das diretrizes de maior relevância ética/estética/política da Política Nacional de Humanização do SUS (BRASIL, 2006) Entretanto os acolhimentos das UBS s ainda estão na etapa do acolher como marcação de consultas. O usuário precisa de atestado ou diagnóstico médico, de encaminhamento para especialistas, de receita de medicamentos, e assim os outros profissionais da atenção básica ficam reféns dessa demanda que só tende a crescer. Infelizmente, não são realizadas consultas de enfermagem, o que me desanima e me frustra como futura enfermeira. Além de não realizarmos atividades de nossa competência, nos dão a responsabilidade de resolver todos os problemas que aparecem no posto. Toda a equipe da UBS 1º de maio me acolheu muito bem e as técnicas e auxiliares de enfermagem agregaram muito à minha trajetória. Os enfermeiros são verdadeiros guerreiros que lutam dia a dia pra atender as demandas do posto e da comunidade, as solicitações da gerência e realizar todos os tipos de tarefas. Eles foram essenciais para meu crescimento profissional. Os recursos são poucos, mas todos os profissionais conseguem realizar muito bem seu trabalho com o que lhes é oferecido e é isso que quero levar como experiência na minha bagagem.

13 REFERÊNCIAS Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Porto Alegre, 2015. Disponível em: <www2.portoalegre.rs.gov.br/portal_pmpa_novo/> Acesso em 12 de maio de 2015. SISTEMA Único de Saúde: Constituição Federal Seção 11, Lei Orgânica da Saúde no. 8080,Lei nº. 8.142, Decreto nº. 99.438. 3. ed. Porto Alegre: CONASEMS, 1992. 24p. (Publicações Técnicas, n. 2.). BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Humanização (PNH): HumanizaSUS - Documento-Base. 3. ed. Brasília, 2006.