PORTARIA N.º 03/07 O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, pelo Promotor de Justiça que esta subscreve, no exercício de suas funções nesta Comarca de Mara Rosa-GO, com fulcro nas atribuições conferidas pelos artigos 127, caput e 129, II e III, da Constituição Federal, artigos 25, IV e 26, I, da Lei n.º 8.652/93, artigos 46, VI e 47, I, da Lei Complementar Estadual n.º 25/98, artigos 8º, 1º e 21, da Lei n.º 7.347/85 e artigo 82, I, da Lei n.º 8.078/90; CONSIDERANDO que a defesa do consumidor é direito fundamental e princípio da ordem econômica art.5º, inciso XXXII, da Constituição Federal (arts.5º, inciso XXXII e 170, inciso V, ambos da Constituição Federal); CONSIDERANDO que tutela jurídica dos consumidores foi inaugurada, em sede infraconstitucional, sob o fundamento de validade da CF/1988, com a publicação da Lei n.º 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), estabelecendo normas de ordem pública e de interesse social voltados à proteção e defesa daqueles (art.1º, do CDC); CONSIDERANDO que consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final (art.2º, do CDC); CONSIDERANDO que fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços (art.3º, do CDC); imóvel, material ou imaterial (art.3º, 1º, do CDC); CONSIDERANDO que produto é qualquer bem, móvel ou CONSIDERANDO que serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista (art.3º, 2º, do CDC); CONSIDERANDO que o Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras (enunciado n.º 297, da Súmula do STJ); CONSIDERANDO que a Política Nacional das Relações de Consumo é regida pelo princípio da racionalização e melhoria dos serviços públicos (art.4º, VII, do CDC); CONSIDERANDO que é direito básico do consumidor a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos (art.6º, inciso VI, do CDC); CONSIDERANDO que é direito básico do consumidor a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral (art.6º, inciso X, do CDC); sobre assuntos de interesse local (art.30, inciso I, da CF); CONSIDERANDO que compete aos Municípios legislar CONSIDERANDO a orientação do Supremo Tribunal Federal, no sentido de que a competência para dispor sobre o tempo de atendimento de clientes no interior de agência bancária é do Município (Informativo n.º 426, STF); 2
estabelece no parágrafo único de seu artigo 2º caracterizar-se abuso ou infração dos estabelecimentos bancários os casos em que o usuário seja constrangido a um tempo de espera para atendimento superior a 20 (vinte) minutos; estabelece em seu art.1º a obrigação das agências bancárias de colocar à disposição dos usuários, pessoal suficiente no setor de caixas e cadeiras no setor de espera, para que o atendimento seja feito em prazo hábil, respeitando-se a dignidade da pessoa humana na prestação do serviço bancário; estabelece em seu art.3º determina que as instituições financeiras deverão entregar ao usuário um senha de atendimento, onde constará do impresso o horário de retirada e o horário de atendimento do cliente; estabelece no 1º, do citado art.3º, que os estabelecimentos bancários que ainda não fazem uso deste sistema de atendimento com senhas e cadeiras no setor de espera ficarão obrigados a fazê-los ato o dia 30 de março de 2006; CONSIDERANDO que a Resolução n.º 2.878/2001, do Banco Central do Brasil, em seu art.9º, inciso I, alínea c, estabelece que as instituições bancárias devem estabelecer em suas dependências, alternativas técnicas, físicas ou especiais que garantam o atendimento prioritário para pessoas portadoras de deficiência física ou com mobilidade reduzida, temporária ou definitiva, idosos com idade igual ou superior a sessenta e cinco anos, gestantes, lactantes e pessoas acompanhadas de crianças de colo, mediante guichê de caixa para atendimento exclusivo; CONSIDERANDO as reiteradas reclamações recebidas por esta Promotoria de Justiça, em exercício de atividade de atendimento ao público, 3
noticiando atendimentos superiores a quatro horas de espera, ausência de cadeiras, de sistema de senhas, de fila exclusiva para pessoas especiais, dentre outras irregularidades apontadas e devidamente colhidas sob Termos de Declaração; CONSIDERANDO que as irregularidades na prestação do serviço bancário foram certificadas pelo Oficial de Promotoria da Comarca de Mara Rosa, bem como foram colhidas mais de 100 (cem) assinaturas confirmando a existência daquelas; CONSIDERANDO que foi expedida recomendação ao Banco do Brasil, no dia 23 de outubro de 2007 (oficio n.º 311/07), para cumprimento em 30 (dias) e encaminhamento de resposta no prazo de 05 (cinco) dias; CONSIDERANDO que as justificativas apresentadas não possuem respaldo no Código de Defesa do Consumidor, direcionam na manutenção de um serviço comprovadamente deficitário, mantendo o consumidor em estado de vulnerabilidade, vítima de danos materiais e morais; CONSIDERANDO que foi expedido ofício ao Banco do Brasil, no dia 29 de outubro de 2007 (ofício n.º 316/07), para que a referida instituição informasse se havia interesse em celebrar um Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta com o Ministério Público, para fins de sanar as irregularidades apresentadas; CONSIDERANDO que em resposta encaminhada a esta Promotoria de Justiça, foi afirmado que tal ajuste não poderia ser feito por não estar previsto nas normas internas do Banco do Brasil; CONSIDERANDO que foi expedido ofício ao Prefeito do Município de Mara Rosa, Senhor Otávio Alves Neto, no dia 13 de novembro de 2007, para que execute a prerrogativa de fiscalizar o cumprimento da Lei Municipal n.º 841/2005, inclusive aplicando as penalidades apuradas em procedimento administrativo (ofício n.º 350/07); 4
RESOLVE instaurar INQUÉRITO CIVIL PÚBLICO para apurar os fatos narrados, determinando, inicialmente, as seguintes providências: 1) Autuação e registro da presente portaria em livro próprio; 2) Nomeação da Senhora Arleth Faria de Araújo Braz, servidora do Ministério Público, para secretariar os trabalhos, mediante termo de compromisso; 3) Juntada dos documentos, na ordem de expedição e recebimento; 4) Remessa de cópia desta ao Centro de Apoio Operacional de Defesa do Consumidor, nos termos do art. 27, da Resolução n.º 09/95, da Procuradoria Geral de Justiça do Estado de Goiás; posteriores deliberações. Cumpridas estas diligências, volvam-me os autos conclusos para Cumpra-se. Gabinete da Promotoria de Justiça de Mara Rosa, aos 27 de novembro de 2007. RAFAELLO BOSCHI ISAAC Promotor de Justiça 5