Discurso pronunciado pelo Deputado LUIZ CARLOS HAULY (PSDB - PR) na sessão de 21 de março de 2006. Senhor Presidente Senhoras Deputadas Senhores Deputados Venho me manifestar nessa Tribuna em relação aos absurdos aumentos do álcool combustível para o usuário final, que refletem com certeza a ausência de uma política de governo, essencial para suportar uma área submetida ao livre mercado, mas que ao mesmo tempo é estratégica. O mais grave é que ao primeiro sinal de turbulência nos preços, como é o caso dos estratosféricos aumentos das últimas semanas a culpa recai diretamente nos produtores de álcool, chamados de especuladores e gananciosos por obra da indução que o governo faz junto à mídia. **
Isso, no entanto, não reflete a realidade dos fatos. Há muito ouço os produtores alertarem que o seu produto é sazonal é fabricado em 6 meses e comercializado em 12 e sujeito a variações climáticas que influem na produtividade e no resultado final da safra. Mais que isso, tenho ouvido ao longo dos últimos anos - e mais precisamente desde a total liberação do setor para mercado em 1999 que sem um gerenciamento adequado da oferta (com mecanismos de regulação seja por intermédio de estoques reguladores privados, de financiamentos de estoques ou de contratos em bolsa e contratos de longo prazo com distribuidoras) é impossível impedir altas volatilidades do preço do produto: no início da safra o preço cai muito e no final da safra o preço sobe. Esse atual governo assumiu em 2002 em meio a uma crise semelhante àquela verificada hoje e, desde então, teve a oportunidade de tratar o problema de forma adequada e não o fez. E é bom lembrar que desde 2002 têm surgido fatores como os carros flexíveis surgidos em 2003, cuja participação já é de mais de 70% dos veículos novos vendidos - que contribuíram para aumentar a demanda de álcool e tornaram ainda mais urgentes mecanismos de aperfeiçoamento do livre mercado nessa área. **
O fato é que o governo só lembra que o problema existe quando o preço sobe. Quando o preço cai faz ouvidos de mercador aos reclamos da área produtiva. Quero registrar a didática explicação dada pelos produtores em artigo publicado recentemente no jornal Folha de S. Paulo e que refletem a verdade sobre o assunto: Diz o artigo que a impressão que se tenta passar é a de que um conjunto de produtores tem o poder de pré-determinar preços e informá-los ao consumidor, assim como faz a Petrobras quando delibera sobre o preço da gasolina na refinaria. (...) Não é assim que as coisas acontecem num mercado livre, tal como é o mercado de álcool, num país com mais de 320 unidades industriais que ofertam o produto e cerca de 100 distribuidoras autorizadas pela ANP a comprarem e revenderem aos 30.000 postos de combustíveis existentes no País estes encarregados de colocar o produto ao alcance do consumidor final. Nessa cadeia ainda interferem os impostos federais e estaduais diferenciados, que determinam preços distintos na bomba. (...) **
Se fosse possível ao produtor determinar preços, seria o caso de outorgar-lhe prêmio pelo gesto magnânimo de diminuí-los no início da safra. O fato é que existe uma Lei de mercado, impossível de ser revogada por deputado, senador ou mesmo ser modificada por Medidas Provisórias do Executivo. Trata-se da Lei da oferta e da procura. (...) Quando, no mercado, tem mais gente querendo comprar do que vender, o preço aumenta. Em caso inverso, o preço cai. E qual o preço justo? É exatamente aquele praticado pontualmente e que acaba guardando relação, em comparações analíticas periódicas, com uma série de outros indicadores econômicos. Embora concorde com esses argumentos irrefutáveis do setor privado, cabe a mim lembrar como representante da sociedade e dos consumidores, que o governo precisa zelar para que as flutuações deste mercado não sejam tão dramáticas e para que não se corra o risco de abastecimento do produto por conta de quebras de safra (episódio corriqueiro em agricultura) sem que se tenha ao mínimo estoques estratégicos para garantir o pleno suprimento do combustível. **
Desde setembro/outubro o governo sabia que a relação entre oferta e demanda estava desbalanceada a favor da demanda e que a escassez de produto era iminente. Nada fez para agir nos fundamentos de mercado e quando fez algo, fez errado. Insistiu num inútil acordo de preços, cujo único resultado foi retardar os efeitos do antídoto que o mercado livre dá em momentos semelhantes: os preços sobem, a demanda é reprimida (sobretudo agora quando se tem o carro flex que dá ao consumidor o direito de escolha), a oferta é estimulada e as coisas tendem a voltar ao normal. Em resumo o governo nem introduziu mecanismos para aperfeiçoar o mercado (necessário em produtos estratégicos) e nem deixou que o mercado funcionasse. E quem paga o pato é o consumidor: seja com preços altos, seja com riscos de abastecimento. E tudo isso comprometendo a imagem do etanol (o nosso álcool de cana) no mercado internacional, justamente num momento onde o mundo discute a inserção desse produto na matriz energética mundial. Espero, portanto senhoras deputadas e senhores deputados, que a lição do momento seja aprendida e que o governo, ao invés de arroubos intervencionistas, renda-se à necessidade de reunir todos os agentes de processo para **
** uma política estrutural equilibrada para o setor que ao mesmo tempo respeite o mercado e dê confiança aos usuários do produto. Muito obrigado.