Conto tradicional: [A raposa e o lobo]



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Classificação: Assunto: Palavras-chave: Região: Contador: Vídeo: Transcrição: Versão Classificação: Conto de animais. Šƒ ƒ Ž ƒž ƒ ƒ ƒ Ž Conto tradicional: [A raposa e o lobo] Classificado segundo o sistema internacional de Aarne-Thompson: ATU 15 A Raposa Finge ir a um Baptizado. Paulo Correia (CEAO/ Universidade do Algarve) em Julho de 2007. Uma raposa consegue comer a manteiga do seu compadre lobo e escapa às culpas do seu acto enganando-o uma segunda vez. afilhado, animal, Alentejo, Brotas, compadre, Évora, enganar, lobo, manteiga, mato, mijo, mora, nome, panela, rabo, raposa, sapatos, soalheira, suar, velhaco Distrito: Évora Concelho: Mora Localidade: Brotas Nome: José Manuel Data de nascimento: 1920 Residência: Brotas Entrevista: José Barbieri Data de Recolha: Junho 2007 Filmagem: José Barbieri Duração: 0:5:05 minutos Transcritor: Maria de Lurdes Sousa Data de Transcrição: Outubro 2007 Palavras: 1187 literária: Execução: Maria de Lurdes Sousa Data de execução: Fevereiro 2010 Palavras: 710 lž ƒƒ ƒž œƒ ƒ

ƒ Ù Ž ƒ ƒ ƒ ƒ Ž [A raposa e o lobo] «A raposa foi sempre um bicho muita velhaco(1). A raposa é um, é um dos bichos mais velhacos que há é a raposa. E atão(2) tentou enganar o lobo. E o lobo foi, escondeu uma panela de manteiga lá no meio do mato, bem escondidinha, pa raposa na dar com ela. Mas a raposa, muita esperta, (e) foi [e] descobriu onde estava a panela. Descobriu onde estava a panela e atão, um dia, chega ao pé do lobo e diz assim: Ó compadre lobo! Tu emprestas-me os teus sapatinhos para ir ter um afilhado? E o lobo diz assim: Empresto! Emprestou-lhe os sapatinhos e a raposa foi lá à panela da manteiga. Destapou aquilo tudo e toca, toca, toca comeu. Encheu a barriga! Veio de lá e diz-lhe: Olha compadre lobo, cá tens os teus sapatinhos e obrigado! Diz-lhe o lobo assim: Ó comadre raposa, atão, e como é que se chama o teu afilhado? [Raposa:] Ora compadre lobo é um nome muito esquisito! Na se pode dizer, é muito esquisito! [Lobo:] Ah! Na me digas que na se pode dizer o nome que prantaste(3) ao teu afilhado! [Raposa:] Não! Olha(4) se eu te digo: Comecete. Bom, o lobo: Ai, que nome tão bonito! Comecete?! Um nome muita bonito! Bom, ao fim de uma temporada, outra vez, diz-lhe a raposa outra vez: Ó compadre lobo, emprestas-me os teus sapatinhos, que vieram-me fazer um convite pra ir ter um afilhado outra vez? [Lobo:] Empresto!

ƒ Ù Ž ƒ ƒ ƒ ƒ Ž Bom, ele lá lhe emprestou os sapatinhos. A raposa lá foi ter um afilhado outra vez Baptizar e coiso Vem de lá, diz-lhe o compadre lobo outra vez: Ó comadre raposa, atão como é que se chama o te afilhado?! [Raposa:] Ai, tem um nome muito esquisito! Um nome tão feio! [Lobo:] Atão, mas na se pode dizer?! [Raposa:] Pode! [Lobo:] Atão como é que se chama? [Raposa:] Meiete. Bom, o lobo: Ai que nome tão bonito que tu arranjaste para o teu afilhado! Ãh, aquilo passou outra vez! Ao fim de uma temporada, a raposa outra vez: Ó compadre lobo! Tens que me emprestar os sapatinhos! Atão vieram fazer-me outro convite pra ter outro afilhado! Ah, ah compadre lobo, você se calhar na tem nenhuns sapatos! [Lobo:] Não, eu empresto-lhe os sapatos! Lá foi a raposa. Chegou lá à panela da manteiga, comeu o resto! Bom, comeu o resto. Veio de lá e diz-lhe: Vá, toma lá os sapatinhos compadre, que eu já Agora já não me são precisos. [Lobo:] Atão como é que se chama? O nome do teu afilhado? Como é que se chama? [Qual é] o nome do teu afilhado? [Raposa:] Ai, compadre! Tem um nome tão feio! [Lobo:] Atão, mas como é que se chama? [Raposa:] Acabete!

Bom, o lobo: ƒ Ù Ž ƒ ƒ ƒ ƒ Ž Ai, que nome tão bonito que tu arranjaste para o afilhado! Bom, lá ao fim de uma temporada e diz-lhe o lobo assim pa raposa: Ó comadre raposa! Hoje vamos ter um jantar! [Raposa:] Ah, sim?! [Lobo:] Vamos! Abalaram os dois todos seletras(5), chegaram lá onde a panela estava escondida. O lobo tinha abalado, vai dar volta àquilo Já lá na tinha nada! E diz-lhe o lobo assim: Ah! Comadre raposa! Tu é que me vieste comer a manteiga! [Raposa:] Na! Na fui! Na fui, não! Óh compadre lobo, na fui não! [Lobo:] Foste, foste! Porque olha os afilhados: um era Comecete, outro era Meiete e outro era Acabete! E foste tu que comeste a manteiga! [Raposa:] Na fui! Na fui! Olha, vamos fazer um contrato: tá muito calor, vamos além p aquela soalheira(6) e deitamos além à soalheira. Esse que lhe suar o rabo é que comeu a manteiga! [Lobo:] Bom, tá bem! O lobo anuiu, aquilo muito bem! Chegou lá, deitou-se ali uma soalheira e a raposa também ali ao lado dele. Daqui a nada o lobo deixou-se dormir. Assim que se deixou dormir, a raposa foi, alçou a perna trás! mijou pò rabo do lobo! Assim, mijou pò rabo do lobo e diz-lhe assim: Ó compadre lobo! Ó compadre lobo, tu é que comeste a manteiga! [Raposa:] Foi! Vê lá se na tás todo suado! [Lobo:] Não!

ƒ Ù Ž ƒ ƒ ƒ ƒ Ž Ora o lobo foi ver, tava todo molhado! (Ela tinha-lhe mijado prò rabo!). Tava todo molhado, diz assim: É verdade! Atão mas Tu é que Atão! Mas atão Eu na comi a manteiga e tou todo suado! [Raposa:] Na sei! Olha, foste tu é que a comeste! Pronto, esta tá acabada!» José Manuel, 87 anos, Brotas (conc. Mora), Junho 2007 Glossário: (1) Velhaco: matreiro, traiçoeiro, que tem malícia sem a mostrar. (2) Atão: regionalismo de Portugal, de uso informal e coloquial que significa então. (3) Prantaste: colocaste, puseste. (4) Olha: Escuta! Ouve! Presta atenção. (5) Seletras: = seletas (feminino de seletos) distintos. (6) Soalheira: exposição ao sol; grande ardor de sol. Para execução deste glossário consultaram-se os websites: http://www.priberam.pt;http://www.ciberduvidas.com; http://www.infopedia.pt e o Dicionário de Expressões Populares Portuguesas de Simões, de Guilherme Augusto. (2000). 2ª. edição, Dicionários D. Quixote; 34. Lisboa: Publicações D. Quixote, p.478.