III Simpósio Nacional de Melhoramento Animal SELEÇÃO PARA A QUALIDADE E COMPOSIÇÃO DO LEITE. PALAVRAS E ATITUDES *



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Transcrição:

SELEÇÃO PARA A QUALIDADE E COMPOSIÇÃO DO LEITE. PALAVRAS E ATITUDES * João Walter Dürr 1, Paulo Roberto Nogara Rorato 2 1 Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de Passo Fundo Caixa Postal 611 99001-970-Passo Fundo-RS 2 Departamento de Zootecnia, Universidade Federal de Santa Maria, RS E-mail: rorato@ccr.ufsm.br Palavras... INTRODUÇÃO O leite é um complexo biológico fluído fundamental na dieta de muitas sociedades. Freqüentemente referido como sendo o alimento mais completo, o leite e sua síntese pelos ruminantes leiteiros tem sido tema de intensas investigações para intensificar sua produção e melhorar sua qualidade (COSTAS et al. 1997). A qualidade do leite pode ser classificada em duas categorias: composição e integridade (DÜRR, 1999). Um leite tem a sua integridade abalada quando sofre adição de elementos estranhos e quando é submetido a um ambiente desfavorável à sua conservação. Como elementos estranhos podemos citar a água, os conservantes, os redutores, os reconstituintes e os contaminantes. Já um ambiente desfavorável à conservação do leite é aquele que permite uma alta contaminação com microorganismos (falta de higiene) e uma alta taxa de proliferação dos mesmos (altas temperaturas e tempo prolongado de armazenamento). Uma doença em particular afeta tremendamente a integridade do leite em todos os rebanhos leiteiros: a mastite. Definida como a inflamação da glândula mamária, a mastite é uma doença com inúmeros graus de severidade e pode ser causada por centenas de agentes. O monitoramento da mastite na maioria dos países tem-se baseado no aumento de células inflamatórias no leite por ocasião da inflamação, característica conhecida como contagem de células somáticas no leite. A composição do leite, por sua vez, determina as características nutricionais do produto e, portanto, pode ser usada para diferenciar entre um leite de alto valor agregado e um leite de baixo valor agregado. Os componentes principais do leite são a água, a lactose, a gordura, as proteínas e os minerais. Destes, a gordura e as proteínas são os que estão mais diretamente relacionados com o rendimento industrial do leite, sendo utilizados como os critérios para a determinação do valor do leite em muitos países. A composição do leite, em termos de gordura e proteína, depende basicamente de duas componentes, uma genética, relacionada com a capacidade de produção destas características de qualidade e outra não genética, relacionada com o tipo e a quantidade de alimento que o * Palestra dedicada a memória da Melhorista Dra. Cláudia Helena Gadini. 237

animal ingere. Portanto, pode ser alterada pelo manejo nutricional ou através da exploração da variação genética existente entre os animais. No caso da gordura do leite, sua qualidade e composição são influenciadas pela interação de inúmeros fatores da dieta, incluindo a quantidade e a qualidade da fibra, a proporção de concentrado de forragem, do local e taxa de degradabilidade do amido, da composição dos ácidos graxos, da motilidade do rúmen e da digestibilidade da gordura. Vacas leiteiras com alto mérito genético necessitam nutrientes adicionais além daqueles produzidos pela fermentação ruminal para atingirem seu potencial e manterem a qualidade do leite. Suplementos alimentares proteicos e gordurosos devem ser fornecidos para otimizar a eficiência microbiana do rúmen e maximizar a digestibilidade e absorção dos ácidos graxos de cadeia longa e proteínas do intestino delgado (ASHES et al., 1996). O melhoramento genético dos bovinos leiteiros tem sido realizado historicamente pelo cruzamento, utilização da diferença genética entre raças; através da seleção, utilização da variação genética dentro de raça e, mais recentemente, via engenharia genética, geração de variação genética nova e diversa (GIBSON, 1989). Segundo COSTAS et al. 1997, o resultado da seleção tem sido o aumento contínuo na produção de leite, enquanto a composição deste alimento tem sido mais difícil de mudar. Incentivos para a mudança genética precisam ser considerados num mercado global em constante transformação os quais são ditados, antes de qualquer coisa, pelos preços que o produtor recebe pelos componentes do leite. A questão de quais mudanças genéticas promover para melhorar a composição do leite pode ser delineada pela comparação da oferta e da demanda para componentes do leite e as tendências econômicas atuais (COSTAS et al., 1997). CARACTERÍSTICAS DE QUALIDADE DO LEITE Vamos referir neste trabalho como características de qualidade do leite as produções de gordura e proteína e a contagem de células somáticas no leite. PRODUÇÃO DE GORDURA E PROTEÍNA COEFICIENTES DE HERDABILIDADE Os coeficientes de herdabilidade para a produção de gordura, em trabalhos da bibliografia, realizados no Brasil, variam de 0,18 a 0,58, com média de 0,312, significando que 31,2% das diferenças observadas na produção são transmissíveis de pais para filhos e, portanto, ganhos razoáveis podem ser esperados através da seleção para esta característica. Embora haja uma tendência mundial de redução no consumo de gordura e, conseqüentemente, de redução na porcentagem de gordura do leite, como há correlação genética positiva e próxima da unidade entre o total de leite e o total de gordura no leite, sempre que a seleção aumenta a produção de leite haverá um aumento correlacionado na produção de gordura. Segundo TEIXEIRA (1997), o teor de gordura pode influenciar no preço do leite, porém, esta característica por si só não tem valor. Para outros constituintes do leite (sólidos não gordurosos e proteína) não existe, 238

por enquanto, incentivo econômico no Brasil que justifiquem a sua consideração na seleção. Entretanto estes constituintes devem ser mantidos acima de um mínimo legal. Os coeficientes de herdabilidade para a produção de proteína em trabalhos da literatura variam de 0,08 a 0,30 com média de 0,208 significando que 20,8% das diferenças observadas na população são transmissíveis de pais para filhos e que ganhos significativos podem ser obtidos pela seleção para esta característica. CORRELAÇÕES GENÉTICAS A correlação genética mede a tendência para as características terem herança comum. Uma correlação positiva indica aumento em ambas as características ao mesmo tempo. Ao contrário, uma correlação negativa significa que a medida que uma característica melhora a outra piora. As características não correlacionadas têm correlação zero. Uma correlação perfeita de 1,0 (ou 100%) significa que o ganho em uma característica resultará em mudança equivalente na outra característica. A preocupação, sob o ponto de vista prático, é a decisão de um esquema ótimo para assegurar ganhos futuros, uma vez que poderão haver respostas correlacionadas, em outras características, para cada característica em seleção individual. Apesar de ser seleção para uma simples característica, outras características são afetadas por causa da correlação genética. Trabalhos observados na literatura tais como o de KENNEDY et al. (1981) estimaram a correlação genética entre a contagem de células somáticas e produção de leite, gordura e proteína de 0,14, 0,08 e 0,18, respectivamente e com as porcentagens de gordura e proteína de 0,08 e 0,04. WELPER & FREEMAN (1992) estimaram a correlação genética entre a porcentagem de lactose e produções de leite, gordura e proteína de 0,30, 0,16 e 0,21 e com as porcentagens de gordura e proteína de 0,10 e 0,29. SELEÇÃO PARA AS CARACTERÍSTICAS DE QUALIDADE A implementação de programas de melhoramento e critérios de seleção nunca devem ser utilizados na pratica se não levarem em consideração as percepções e desejos dos criadores para os quais eles forem construídos. Encontrar critérios de seleção que sejam amplamente aceitos e implementados e um desafio que requer um tempo considerável e uma interação completa entre os pesquisadores e a indústria. O objetivo do desenvolvimento de um índice de seleção sobre o mérito total e fornecer um guia para a seleção que maximize a seleção para todo um objetivo de melhoramento e para promover estratégias de seleção que minimizem o mau uso da informação. Embora o desenvolvimento de critérios de seleção sob o mérito total possa ser inteiramente fundamentado em princípios científicos conhecidos, a implementação do índice de seleção na indústria requer cuidadosa consideração da aceitação do índice pelo grupo de criadores para o qual se destina (DEKKERS & GIBSON, 1997). Existem muitas coisas que gostaríamos de incluir em um programa de melhoramento para criar uma vaca mais desejável. Todavia há três questões importantes que precisam ser respondidas sobre cada característica. Primeiro, a característica é economicamente 239

importante? Se a característica for melhorada reduzirá o custo de produção ou aumentará o valor do produto? Segundo, há variação genética suficiente para que se possa modificar a característica através da seleção? Deve haver diferenças genéticas entre os animais disponíveis para a seleção. Terceira, a característica pode ser medida em uma quantidade suficiente de animais para se fazer uma avaliação genética acurada? Além disto, altos diferenciais de seleção são economicamente viáveis? É possível se obter economicamente um número suficiente de pais diferentes da média? Quando se pensa em seleção, os objetivos e metas, de acordo com as características a serem melhoradas, devem estar bem definidos. As características a serem melhoradas deverão contribuir para a renda do produtor, isto é, deverão ser remuneradas de tal forma que o produtor se sinta compensado pelo investimento na melhoria da qualidade do produto. Outro fator importante a ser considerado é o grau de controle genético da característica fornecido pela herdabilidade e a correlação genética entre as características a serem melhoradas (TEIXEIRA, 1997). O desenvolvimento de objetivos de melhoramento e a derivação de valores econômicos devem considerar as condições futuras mais do que a economia e o mercado atuais por causa da demora na expressão dos genes selecionados. Dentro de um país a demanda relativa para gordura e proteína está continuamente mudando. A previsão de demandas e preços futuros para os componentes do leite é complicado pelas incertezas inerentes do mercado mas e necessária para a estimação dos valores econômicos. Além disso, a mudança genética ela própria, ira afetar o balanço entre oferta e demanda e portanto os preços relativos de mercado do leite e seus componentes (DEKKERS & GIBSON, 1997). WELPER & FREEMAN (1992) relataram que, por causa da superprodução, lactose e gordura são os principais problemas no mercado atual, o objetivo de melhoramento ideal seria aumentar a porcentagem de proteína mantendo as porcentagens de gordura e lactose constantes. Entretanto, a seleção para porcentagem resultaria em grandes sacrifícios no ganho genético para as características de produção. A seleção para as características de produção deve ser a mais econômica considerando as bonificações correntes nos atuais sistemas de pagamento. Por causa da correlação genética próxima da unidade entre a produção de proteína e as de gordura e lactose pequeno progresso ocorreria por este objetivo proposto. Há também a questão de quanto a porcentagem de lactose afeta o volume de leite produzido por afetar a pressão osmótica que regula o transporte de nutrientes para a glândula mamária. As correlações fenotípica e genética do volume de leite com a porcentagem de lactose são ambas negativas mas deve haver um ponto crítico abaixo do qual a produção de leite é bastante reduzida. Um aumento na concentração de sais pode compensar para decréscimos na lactose na regulação osmótica do leite mas não pode compensar por níveis muito baixos de lactose. O progresso genético resulta da escolha correta dos pais para cada nova geração de reposição do rebanho. A perda de bezerros, baixo desempenho reprodutivo e problemas de saúde do rebanho limitarão a seleção e o rendimento. Portanto, a melhoria destas deficiências é indispensável para melhorar o rebanho geneticamente. Os quatro fatores que afetam o ganho genético são: acurácia da seleção, intensidade de seleção, intervalo entre gerações e variabilidade genética. 240

CÉLULAS SOMÁTICAS E A QUALIDADE DO LEITE As células somáticas são simplesmente células do corpo do animal presentes em baixos níveis no leite normal. A maioria das células no leite são de origem leucocitária, e estão envolvidas de alguma maneira na proteção do úbere contra microorganismos invasores. A inflamação da glândula mamária é seguida por uma drenagem intensa de neutrófilos sanguíneos para o leite, aumentando rapidamente o número de células somáticas no leite. Os programas de controle leiteiro de vários países realizam regularmente a contagem de células somáticas em amostras de leite coletadas das vacas leiteiras. Esta informação retorna ao criador para ser utilizada no monitoramento do estado de saúde da glândula mamária de cada vaca no rebanho. Estudos da Pennsylvania State University e da Cornell University compararam a contagem de células somáticas de amostras do tanque resfriador com o percentual de vacas infectadas, mostrando que a medida em que a contagem de células somáticas aumenta, a percentagem de vacas que apresentam mastite também aumenta (PHILPOT & NICKERSON, 1991). Contagem de células somáticas no leite do tanque resfriador são também usadas pela indústria de laticínios para penalizar os produtores com contagens excessivamente altas através de reduções no preço do leite. Este procedimento está fundamentado nas mudanças na composição do leite associadas com a elevação da contagem de células somáticas que reduzem a qualidade do leite para fins industriais. A composição dos queijos depende da composição do leite, e fatores afetando os constituintes do leite afetam a qualidade dos queijos, a sua composição, e o rendimento industrial na fabricação do produto (POLITIS & NG-KWAI-HANG, 1988). Altas contagens de células no leite causam uma redução nas concentrações de lactose, gordura, caseína, cálcio e potássio, e um simultâneo aumento nas concentrações de proteínas do soro, cloro e sódio (SCHULTZ, 1977). O percentual de proteína total permanece inalterado, uma vez que o aumento nas proteínas do soro compensam a redução no percentual de caseína (a qual é a matéria-prima nobre para a fabricação de queijos e outros lácteos). A mastite é a doença mais cara para o rebanho comercial americano causando perdas anuais superiores a dois bilhões de dólares, principalmente pela redução na produção de leite nas vacas infectadas (BLOSSER, 1979). Muito da variação observada nesta característica está relacionada ao meio ambiente, mas a variação genética também existe, apesar de apresentar uma baixa herdabilidade. Um indicador para a mastite é a contagem de células somáticas no leite por apresentar atributos desejáveis em uma característica para seleção. A herdabilidade para esta característica é maior do que aquela para a medida direta da mastite, reflete infecções subclínicas e a correlação genética entre a mastite e a contagem de células somáticas é moderadamente alta. GROSSMAN et al. (1991) relataram que para uma análise estatística e genética, a contagem de células somáticas tem algumas deficiências tais como: sua distribuição não é normal e sua correlação com a produção de leite não é linear, todavia, o escore para células somáticas, transformação para log 2, resolve estes problema e é aceito como uma escala padrão para a contagem de células somáticas (ALI & SHOOK, 1980). A análise de vários coeficientes de herdabilidade encontrados na literatura mostra que as estimativas variam de 0,02 a 0,39, com uma média de 0,13 e uma mediana de 0,10. Quando apenas as estimativas de herdabilidade das contagens de células após transformação 241

logarítmica são levadas em consideração, a média dos coeficientes sobe para 0,14 (DÜRR, 1995). Trata-se, portanto, de uma característica de baixa herdabilidade. Os coeficientes de correlação genética entre a contagem de células somáticas e as características de produção e qualidade do leite apresentam uma grande variação entre os diferentes estudos. A única tendência comum é a de que CCS e produção de leite são positivamente correlacionadas (SHOOK, 1989). Isto indica que ocorreriam perdas no ganho genético para produção de leite se o critério de seleção de touros fosse o valor genético para contagem de células. ASPECTOS ECONÔMICOS DA SELEÇÃO PARA QUALIDADE O crescente aumento no nível de informação ao redor do mundo tem feito com que, nos países com quantidade e qualidade de alimentos adequada e suficiente, as pessoas se tornassem mais conscientes e conseqüentes em matéria de dieta. A classe médica e outras profissões relacionadas com a saúde da população, têm alertado que as gorduras de origem animal causam doenças do coração e outras. Concordando com isto, há uma percepção que a demanda para gorduras animais tem decrescido e que os cientistas devem voltar sua atenção para outros componentes da dieta que projetem uma imagem mais saudável. Como conseqüência a proteína de alta qualidade dos produtos de origem animal tem recebido maior ênfase no mercado. Segundo YOUNG et al. (1985), nos EUA, o consumo de produtos fluídos declinou de 1970 a 1983. Também a tendência de mudança do leite integral para o de menor teor de gordura continuou, como também a tendência de adicionar sólidos ao leite com teor de gordura reduzido e no desnatado. O consumo de leite desnatado, leites aromatizados e similares mudaram relativamente pouco no período estudado enquanto que os iogurtes e assemelhados tiveram seu consumo aumentado. O consumo de manteiga caiu levemente, o de queijo americano aumentou cerca de 60% e o de outros tipos de queijo quase que dobrou Concluíram que o desbalanceamento entre a produção e o consumo dos componentes do leite ocorre primeiramente porque é produzida muita lactose. Por causa da diferença na variabilidade dos componentes do leite este desbalanceamento poderia ser reduzido pelo aumento nas porcentagens de gordura e proteína na base nacional. O preço do leite deveria ser baseado na gordura e proteína (não nos sólidos não gordurosos). Os diferenciais de gordura e proteína no mercado dependeria de quanto leite e usado. Diferenciais para ambos são justificados em muitos mercados. As conseqüências econômicas da seleção de característica são estudadas sob dois esquemas de preços, no trabalho de SPIKE (1997). O primeiro esquema é essencialmente o valor de mercado de 1978 baseado em um preço composto por cada cem quiligramas mais um diferencial de gordura. O segundo esquema é baseado nos valores dos componentes de gordura e sólidos não gordurosos. Os resultados são semelhantes para o leite extra-cota correntemente em uso na Califórnia. Observando os sistemas de preços usados, a pressão de seleção aplicada para as características de produção forneceu a maior taxa de retorno. Sob os valores de mercado corrente a seleção para a produção de leite sozinha forneceu o retorno mais econômico. Na situação de avaliar o leite somente por sua gordura e conteúdo não gorduroso, a seleção para a produção de sólidos não gordurosos dá um retorno econômico 242

levemente maior do que a seleção para leite. Selecionando para as características de porcentagem o produtor pode esperar uma perda de dinheiro sob os dois esquemas de preço. O declínio na produção de leite é muito grande para ser compensado pelo aumento nas característica de porcentagem. A indústria leiteira brasileira está começando a se preocupar com a questão do pagamento pelo conteúdo de proteína do leite e é chegada a ora de se discutir, descobrir e testar alternativas que, por considerarem todos os segmentos da cadeia produtiva, sejam viáveis. Neste sentido, MADALENA (2000), ainda não publicado, estudou, por simulação, a determinação de valores econômicos para utilização em índices de seleção para proteína, gordura e leite sem gordura nem proteína (veículo) apropriados para os sistemas de pagamento de duas importantes empresas de laticínios do Paraná e de Minas Gerais. Sendo os custos de produção da gordura e da proteína maiores que os custos de produção do veículo, a sua baixa remuneração em Minas Gerais resulta em valores econômicos negativos, o que levaria a seleção para reduzir seu teor no leite, aumentando o teor de água, lactose e minerais, contrariando a tendência mundial. Os valores econômicos da proteína e da gordura no Paraná, apesar de serem positivos, são menores que os de outros países. Desta forma, torna-se necessária uma discussão ampla que envolva os diversos setores da cadeia produtiva do leite, visando estabelecer objetivos a médio prazo para a produção de componentes do leite, com o fim de direcionar a seleção no sentido das tendências futuras do mercado. Em outro trabalho, também por simulação, MADALENA (2000), ainda não publicado, examinou a conveniência de se pagar pelo valor genético da proteína e gordura do leite no sêmen importado, utilizandose a técnica do fluxo genético descontado, com base em valores econômicos derivados num trabalho paralelo e parâmetros biológicos da literatura. Concluiu que, no Paraná, o sêmen de reprodutores melhoradores para proteína e gordura poderia dar lucro, dependendo do seu custo, enquanto que em Minas Gerais tais reprodutores dariam prejuízo. PESO DAS CARACTERÍSTICAS DE QUALIDADE NOS INDICES DE SELEÇÃO PARA GADO LEITEIRO EM DIFERENTES PAÍSES As características de maior importância econômica são geralmente reunidas em índices de seleção que são publicados juntamente com as avaliações genéticas de cada país. Estes índices refletem qual a ênfase que a cadeia produtiva do leite daquele país quer dar em seu processo de seleção. Apesar de produtores individuais continuarem a definir seus próprios critérios para a escolha dos reprodutores, os índices sinalizam o rumo que o mercado comprador está tomando e as recomendações da comunidade científica para que as necessidades deste mercado venham a ser supridas. O índice mais difundido no mundo é o TPI (typeproduction index) norte-americano (WIGGANS, 1997). As características incluídas no TPI são quantidade de proteína (peso 3), quantidade de gordura (peso 1), tipo (peso 0,7), composto de úbere (peso 0,65) e composto de pernas e pés (peso 0,35). Ou seja, 50% da ênfase é dada à proteína, 17% à gordura e 33% às características de conformação. Há uma tendência mundial de valorizar-se produção de proteína acima da produção de gordura nestes índices, dando-se mais ou menos ênfase a características de conformação. Na Nova Zelândia, a qual exporta de 85 a 90% de sua produção de sólidos do leite, a seleção para a gordura do leite começou na década de quarenta e a medição da proteína iniciou em 243

1987. O sistema de pagamento neste país procura refletir o valor médio de mercado dos componentes do leite ajustado para os custos de processamento e comercialização. O preço pago na estação 1995-1996 beneficiou a proteína (NZ$5,58/kg), a gordura (NZ$2,48/kg) e penalizou o volume (-NZ$0,041/L), SPELMAN & GARRICK (1997). Avaliações genéticas para contagem de células somáticas são publicadas em vários países, sendo que esta característica é referida como auxiliar, e não deve ser utilizada como critério principal na escolha dos reprodutores. Atitudes... VIABILIZAÇÃO DA QUALIDADE DO LEITE NO BRASIL A qualidade do leite tem merecido significativa atenção nos últimos anos no âmbito da agroindústria e dos meios técnico-científicos. Uma iniciativa concreta no sentido de melhorar a qualidade do leite no Brasil é a portaria do Ministério da Agricultura e do Abastecimento que irá fixar novos regulamentos técnicos para a produção, identidade e qualidade do leite cru resfriado, sua coleta e transporte a granel. A criação do Conselho Brasileiro da Qualidade do Leite também tem viabilizado ações mais abrangentes nesta área. Toda e qualquer iniciativa neste sentido, contudo, pressupõe uma estrutura laboratorial de monitoramento da qualidade do leite cru que seja capaz de realizar um grande número de análises com um baixo custo, rapidez e acurácia, bem como de gerenciar uma base de dados de qualidade que permita não apenas a implementação de políticas de aprimoramento da qualidade do leite, mas também forneça dados para as instituições de pesquisa. Este papel é cumprido com competência pelos DHIA (Dairy Herd Analysis Associations) na América do Norte e por estruturas congêneres na Europa e Oceania. No Brasil, temos hoje quatro laboratórios automatizados funcionando dentro deste modelo, o Serviço de Análise de Rebanhos Leiteiros da Univeridade de Passo Fundo, RS, o Programa de Análise de Rebanhos Leiteiros do Paraná, da Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa e da Universidade Federal do Paraná, O Programa de Análise de Rebanhos e da Qualidade do Leite da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz, Universidade de São Paulo, e o Laboratório de Qualidade do Leite do Centro Nacional de Pesquisa em Gado de Leite da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, em Minas Gerais. Em torno de 30 mil vacas são controladas mensalmente por estes quatro laboratórios, sendo analisada a qualidade do leite produzido pela determinação dos teores de gordura, proteína e lactose, bem como pela contagem de células somáticas. Esta base de dados ainda pouco representativa da população de vacas leiteiras no país é o embrião de um programa nacional de melhoramento genético de gado leiteiro e pode, entre outros estudos, viabilizar a seleção de touros e matrizes com vistas a aumentar o potencial de produção de gordura e proteína no leite do rebanho nacional. Alguns entraves terão que ser vencidos antes que este programa seja uma realidade: a. O controle leiteiro deve passar a ser entendido como a mais fundamental das ferramentas de manejo do rebanho, e não como uma garantia de preços para vacas ou como fornecedor de dados para o melhoramento genético. Se produtores e técnicos não se acostumarem a gerenciar seus rebanhos com base nos dados do controle leiteiro, dificilmente os níveis de adoção do programa aumentarão significativamente. 244

b. A cadeia produtiva do leite deverá amadurecer e profissionalizar-se ao ponto de que o preço do leite seja baseado em sua composição, a saber, nas quantidades de gordura e proteína, as quais são as matérias-primas básicas dos produtos lácteos. c. O governo deverá assumir o seu papel de facilitador e normatizador no processo de profissionalização da cadeia produtiva, criando instrumentos legais que priorizem o monitoramento da qualidade do leite ao invés de impor exigências de infraestrutura nas unidades produtoras, e mediando a busca dos recursos financeiros necessários para instrumentalizar produtores, laboratórios e instituições de pesquisa. NO CAMPO, ARREGAÇANDO AS MANGAS Afinal, vale a pena investir na qualidade do leite? Do ponto de vista imediatista, onde o único critério é o preço pago ao produtor, talvez a resposta afirmativa conte com certo descrédito naquelas regiões onde o pagamento por qualidade ainda não é uma realidade. Não se pode, contudo, traçar estratégias para a cadeia produtiva do leite partindo-se da premissa que a situação vai permanecer como está. Sendo o Brasil um dos maiores mercados consumidores de lácteos mundiais com real potencial de expansão, a pressão sobre a estrutura de produção no país está cada vez maior, e a profissionalização do setor é o único caminho para fazer frente à competição internacional. As unidades produtoras terão que aumentar sua escala de produção, investir e manter uma estrutura mínima de equipamentos e instalações, produzir com mais eficiência e comercializar seu produto coletivamente. Este estímulo não vai partir dos próprios criadores, mas das indústrias que exigirão do setor primário a quantidade e a qualidade de matéria-prima necessárias para satisfazer um mercado consumidor cada vez maior e mais exigente. É importante reduzir a contagem de células somáticas em nossos rebanhos? Certamente sim. Reduzindo o número e o grau das infecções intramamárias aumentamos a produção de leite, reduzimos os custos relacionados à doença e melhoramos a qualidade do leite produzido. O papel do melhoramento genético na redução da contagem de células somáticas no leite é, contudo, muito limitado. A ênfase deve estar no manejo da ordenha e na prevenção da mastite, e não na escolha de touros que gerem filhas com médias de células somáticas mais baixas. É importante aumentar a produção de proteína nos rebanhos leiteiros? Certamente sim. O mercado consumidor está cada vez mais ávido por queijos e outros lácteos cujo rendimento industrial depende essencialmente da caseína do leite, além destes produtos possuírem naturalmente um valor agregado maior. Se no Brasil esta tendência ainda não é evidente do ponto de vista do produtor, certamente já chamou a atenção do setor varejista e da indústria laticinista. A sinalização ao produtor é uma questão de tempo. Nesta perspectiva, o melhoramento genético é uma ferramenta poderosa para que se eleve a média de produção de proteína das vacas brasileiras. Os ganhos trazidos pelos ajustes na alimentação são imediatos, porém os ganhos genéticos são permanentes. Um dos fatores que dificulta a seleção dos reprodutores com vistas ao aumento da produção de proteína do leite é a ausência de avaliações genéticas das populações brasileiras. A melhor opção, no caso das raças européias, ainda é o uso de sêmen importado e das respectivas avaliações genéticas no país de origem. Questões relativas à interação genótipo-ambiente e à comparação entre touros de diferentes origens somente serão respondidas quando um número expressivo de filhas brasileiras dos 245

touros estrangeiros forem controladas para componentes do leite. Tendo em vista que a produção de leite e de proteína são positivamente correlacionadas e que os resultados da seleção são obtidos a longo prazo, o produtor brasileiro não deve ignorar este componente do leite em seu plano de acasalamentos. É importante aumentar a produção de gordura no leite? Provavelmente sim. Apesar de ter perdido seu valor de mercado para a proteína, a gordura ainda é razoavelmente valorizada em mercados como o Brasil, onde o déficit nutricional da população é significativo. O melhoramento genético para a produção de gordura depende dos mesmos fatores que para a produção de proteína. O melhoramento da qualidade do leite requer uma transformação radical na mentalidade e na estrutura da cadeia produtiva. Os programas de melhoramento genético certamente deverão fazer parte das mudanças. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALI, A.K.A.; SHOOK, G.E. An optimum transformation for somatic cell concentration in milk. J. Dairy Sci. v.63, p.487-90, 1980. ASHES, J.R., GULATI, S.K., SCOTT, T.W. Potential to Alter the Content and Composition of Milk Fat Through Nutrition. J. Dairy Sci. v.80, n.9. p.2204-2212, 1997. BLOSSER, T.H. Economic losses from and the National Research Program on Mastitis in the United States. J. Dairy Sci. v.63, p.119-27, 1979. BOETCHER, P.J., HANSEN, L.B., VAN RADEN, P.M. et al. Genetic Evaluation of Holstein Bulls for Somatic Cells in Milk Doughters. J. Dairy Sci., v.75, n.4, p.1127-1137, 1991. COSTAS, N.K. & TURNER, J.D. Toward Altering Milk Composition by Genetic Manipulation: Current Status and Challenges. J. Dairy Sci. v. 80, n. 9, p. 2225-2232, 1997. DEKKERS, J.C.M. & GIBSON J.P. Applying Breeding Objectives to Dairy Cattle Improvemente J. Dairy Sci. V. 81, n. 2, p.19-35, 1997. DÜRR, J.W. Associations between neutrophil potential phagocytic capacity in proven bulls and traits of economic importance in their daughters. Montreal: McGill University, M.Sc. Thesis, 1995. 75 p. DÜRR, J.W. Manual da Qualidade do Leite. Porto Alegre: Senar-RS, 1999. 69 p. GIBSON, J.P. Altering Milk Composition Through Genetic Selection. J. Dairy Sci. v.72, n.9, p.2225-2232, 1997. GROSSMAN, Y. DA, M., MISZTAL, I., WIGGANS, G.R. Estimation of Genetic Parameters for Somatic Cell Score in Holstein. J. Dairy Sci. V. 75, n. 8, p.2265-2271, 1991. KENNEDY, B. W., SETHAR, M.S., MOXLEY, J.E. et al. Heritability of Somatic Cell Count and First Relationship with Milk Yield and Composition in Holsteins. J. Dairy Sci. v. 65, n. 5, p.843-847, 1981. MADALENA, F. E. Conseqüências da Seleção para Gordura e Proteína do Leite. Rev. Soc. Bras. Zoot. Prelo, 2000. MADALENA, F. E. Valores Econômicos para a Seleção de Gordura e Proteína do Leite. Rev. Soc. Bras. Zoot. Prelo, 2000. PHILPOT, W.N.; NICKERSON, S.C. Mastitis: Counter Attack - A Strategy to Combat Mastitis. Napierville: Babson Bros. Co., 1991. 150 p. 246

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