EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE JOVENS E ADULTOS NA UFMG: UMA EXPERIÊNCIA BEM SUCEDIDA



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Transcrição:

EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE JOVENS E ADULTOS NA UFMG: UMA EXPERIÊNCIA BEM SUCEDIDA Ludimila Corrêa Bastos Orientação: Profa. Dra. Carmem Lúcia Eiterer Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais Resumo: Este trabalho tem como objetivo principal relatar a experiência vivenciada no Projeto de Ensino Médio de Jovens e Adultos da UFMG (PEMJA), sediado no COLTEC, com a implantação dos cursos profissionalizantes de Produção Mecânica, Instalações Elétricas Residenciais e Informática, para alunos da modalidade de ensino da EJA. Com a publicação do decreto 5478/0 o Colégio Técnico da UFMG (COLTEC), passou a ofertar cursos profissionalizantes para seus alunos do período noturno, composto por jovens e adultos, abrangendo o curso de formação inicial e continuada dos trabalhadores alunos do Projeto. O presente trabalho pretende mostrar como funcionam estes cursos, analisando seus objetivos, suas bases legais, suas formas de avaliação e finalmente, qual é a aceitação por parte dos alunos, verificando se o curso atende ou não as expectativas dos alunos. PALAVRAS-CHAVE: EJA, COLTEC, Curso Profissionalizante, Bases Legais. 1. Considerações Iniciais A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), há cerca de 20 anos, desenvolve com recursos das Pró-Reitorias de Extensão (bolsas de extensão para monitores que atuam como professores) e Recursos Humanos (material de consumo e bolsas de trabalho) um Programa de Educação Básica de Jovens e Adultos. Esse Programa, solidificado no interior da Universidade, legitima e subsidia estudos e pesquisas na produção de conhecimentos para as diferentes ações necessárias nessa área. 1

A partir de 1998 o Programa passa a oferecer o Ensino Médio, como objetivo de favorecer a progressão dos estudos dos alunos que estavam ou já haviam concluído o Ensino Fundamental (funcionários da UFMG e comunidade externa). Desta forma, o Colégio Técnico da UFMG passa então a se responsabilizar através da elaboração e execução de um projeto pela oferta e certificação do Ensino Médio de Jovens e Adultos. O Projeto de Ensino Médio de Jovens e Adultos (PEMJA) tem como orientação a interdisciplinaridade, que proporciona ao aluno uma visão do mesmo objeto por ângulos diferentes. A interdisciplinaridade envolve a contextualização do conhecimento, o que proporciona ao aluno um maior envolvimento, identificação e interesse com o objeto estudado. O PEMJA possui cerca de 180 alunos, distribuídos em sete turmas. As idades dos alunos variam em média dos 20 aos 80 anos, e estes são distribuídos de forma heterogênea nas turmas existentes, pois acredita-se que a mistura de idades nas turmas têm muito a acrescentar nas discussões em sala de aula, já que são experiências de vida bastante diferenciadas. O Projeto de Ensino Médio de Jovens e Adultos tem como objetivo uma formação humana, crítica e autônoma dos alunos e para isso procura não encarar a Educação de Jovens e Adultos como uma educação compensatória, cujos principais fundamentos são a de recuperação de um tempo de escolaridade perdido no passado. A concepção de Educação de Jovens e Adultos deve levar educandos, e principalmente educadores, a uma ressignificação dos saberes na idade adulta. Nesta perspectiva é preciso buscar uma concepção mais ampla das dimensões tempo/espaço de aprendizagem, estabelecendo uma relação mais dinâmica com o entorno social e com as suas questões, considerando que a juventude e a vida adulta são também tempos de aprendizagem. É nesta concepção que o PEMJA está inserido, com o objetivo de favorecer a progressão dos estudos de seus alunos. 2

1.1. O Colégio Técnico O Colégio Técnico da UFMG (COLEC) foi criado em 1969, a partir de convênio celebrado entre o Conselho Britânico, a UFMG, o CNPq e o MEC, com a finalidade de atender à demanda de formação de profissionais de nível técnico nas áreas de patologia clínica, instrumentação, eletrônica e química. Desde a sua criação, o COLTEC tem investido na crescente qualificação de seu pessoal docente e técnico e no desenvolvimento de uma proposta pedagógica eu possibilite o estudante de nível médio e técnico adquirir uma sólida base científica, experimenta e humanística e um contato permanente com os instrumentos e técnicas atualizadas. A partir de 1998, além do Ensino Médio e Profissionalizante regular a escola tem investido na construção de uma proposta pedagógica adequada a um novo perfil de aluno, que é o Jovem e o Adulto. Atualmente no COLTEC, 667 alunos estão matriculados no Ensino Médio e Profissionalizante regular e 160 na modalidade Jovens e Adultos, Ensino Médio Profissionalizante. 2. Bases Legais para a implementação do curso de Educação Profissional ao Ensino Médio na modalidade de Educação de Jovens e Adultos O COLTEC, no ano letivo de 2005, expandiu o atendimento de seus cursos profissionalizantes também para os alunos da Educação de Jovens e Adultos em conformidade com o disposto no inciso I, do Art. 12 da Lei e Diretrizes e Bases da Educação Nacional Lei No 9394, de 20 de Dezembro de 1996 que determina: Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as de seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I- elaborar e executar a as proposta pedagógica, A sua proposta pedagógica, para estes cursos, foi elaborada com base na LDB e nas regulamentações subseqüentes, quais sejam: 3

- PARECER CEB- CNE No 15, de 01 de junho de 1998 que constitui a fundamentação para o estabelecimento das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio; - RESOLUÇÃO CEB- CNE No 3, de 26 de junho de 1998 que institui as Diretrizes Nacionais Curriculares para o Ensino Médio; - PARECERES CEB- CNE No 5-97 e No 12-97 que interpretam disposições contidas na Lei 9.394-96, relativas à Educação Básica; - DECRETO 5.478-05, que institui o Programa de Integração da Educação Profissional ao Ensino Médio na modalidade de Educação de Jovens e Adultos- PROEJA. 3. Proposta Pedagógica para o Ensino Profissional de Jovens e Adultos De acordo com o Projeto do Curso Profissional de Jovens e Adultos (2005), ao fazer as escolhas metodológicas, para um curso profissionalizante, se deve levar em conta duas concepções consensuais nas pedagogias contemporâneas. A primeira concepção é de que o aluno é o sujeito do processo educativo. Nessa perspectiva os conhecimentos e experiências que ele traz, suas condições de aprendizagem, seus interesses, suas necessidades constituirão ponto de partida para o estabelecimento do diálogo no cotidiano do espaço de ensino e aprendizagem. Utilizando os conhecimentos dos alunos, adquiridos em vivências dentro e fora da escola, e, em diferentes situações de vida, desenvolveremos uma prática conectada com situações singulares, visando conduzi-los, progressivamente, a situações de aprendizagem que exigirão reflexões cada vez mais complexas e diferenciadas para a identificação de respostas, reelaboração de concepções, e construção de conhecimento, numa dialética que favorece o crescimento tanto do aluno, quanto do professor. Com base nisto é que a proposta pedagógica para o curso profissionalizante oferecido aos Jovens e Adultos se diz estar inserida, procurando levar em conta, para uma formação completa e ampla de seus alunos, os seguintes pressupostos: a proposta pedagógica não se constitui em documento estático e acabado uma vez que concebe o aluno como sujeito do processo de ensino-aprendizagem, estando, portanto, em constante movimento de construção-reconstrução; 4

um ambiente favorável ao desenvolvimento do educando, implica a manutenção da relação saudável que existe entre professor e aluno, consubstanciada no reconhecimento da importância do diálogo e do vínculo afetivo no processo de ensino-aprendizagem; compromisso com o sucesso escolar do aluno, que exige a adoção de práticas pedagógicas que levem em consideração a história de vida dos alunos, as suas condições sociológicas, psicológicas e culturais, evitando reafirmar diferenças como as causas de insucesso ou de exclusão; a concepção de que a formação do educando não se limita apenas à aquisição de informações, mas principalmente, a apropriação dos processos, ou seja, da própria produção de conhecimentos; a importância do desenvolvimento de uma abordagem articulada das informações priorizando a compreensão crítica das relações dos fenômenos no contexto sócio-político e cultural em que ocorrem; a preparação para o trabalho na dimensão epistemológica, estética, política e ética, ultrapassando os limites estreitos da formação voltada apenas para a adoção de comportamentos desejáveis pelo mercado de trabalho; Desta maneira, o curso profissional de jovens e adultos oferecido pelo PEMJA, procura, além de trabalhar os conteúdos sistematizados, estabelecer linhas de ação para o Ensino Profissional de Jovens e Adultos em sintonia com as suas finalidades estabelecidas em lei, oferecer ao aluno um currículo qualitativamente diferenciado, com espaços pedagógicos propícios ao desenvolvimento progressivo de seu potencial cognitivo, físico e emocional e definir um modelo de currículo que favoreça o processo de construção de competências básicas necessárias ao aluno para a sua inserção na vida produtiva e seu efetivo comprometimento com as ações sociais, contribuindo para uma melhoria do desempenho social da escola. 4. Estrutura do Curso Profissional O Currículo Pleno do ensino profissional de Jovens e Adultos tem como características principais o fortalecimento de uma base de formação comum com aprofundamento em 5

conteúdos e temas específicos da área profissional escolhida pelo alunos, além de uma articulação e interseção das áreas de conhecimento, coma realização de atividades multi e interdisciplinares. Os alunos cursam 1200 horas de disciplinas gerais do Ensino Médio e no curso profissional cursam uma carga horária de 400 horas, distribuídas em 3 anos e estruturado em 3 módulos, sendo 3 módulos a cada ano. Os estudantes possuem um currículo comum composto por conteúdos relacionados a formação geral e um currículo diferenciado, de acordo com as áreas profissionais (Produção Mecânica, Informática e Instalações Elétricas Residenciais) e as atividades envolvendo os conteúdos das áreas profissionais serão planejados de forma a permitir a aplicação direta dos contextos da formação geral. O curso profissionalizante, assim como o ensino Médio do PEMJA, tem como base a proposta de Paulo Freire, que baseia-se na realidade do educando, levando-se em conta suas experiências, suas opiniões e sua história de vida, a fim de que as informações fornecidas pelo curso, o conteúdo preparado para as aulas, a metodologia e o material utilizado sejam compatíveis e adequados às realidades presentes. Segundo Freire (1997), é importante que o aluno compreenda o que está sendo ensinado e que saiba aplicar em sua vida o conteúdo aprendido no curso. Para isso, no início do curso é realizado um diagnóstico da realidade dos educandos e do seu grau de desenvolvimento congnitivo, e a partir das informações adquiridas e da construção de seus próprios conhecimentos, objetiva-se propor novas formas de intervenções para os problemas vivenciados no seu dia a dia, procurando associar as informações do curso coma realidade dos alunos. Para que os alunos recebam seus certificados do curso profissionalizante, necessitam ter uma freqüência mínima de 75% do total da carga horária de cada módulo do curso. No final do curso ocorre uma avaliação prática para verificar se o aluno adquiriu os conhecimentos básicos. Os certificados dos cursos profissionalizantes para Jovens e Adultos do PEMJA, são expedidos pelo Colégio Técnico da UFMG, conforme a legislação vigente, com qualificação em Auxiliar em Informática, Auxiliar em Produção 6

Mecânica, e Auxiliar em Instalações Elétricas Residenciais, com o respectivo Histórico Escolar do educando. 5. Os alunos Jovens e Adultos do PEMJA e os Cursos Profissionalizantes Garantir o acesso das pessoas jovens e adultas à educação é, antes de tudo, respeitar um direito humano. Portanto, o acesso desse grupo populacional aos cursos profissionalizantes, deve se dar por meio de ações que tenham como ponto de partida as necessidades reais dos alunos. Para isso, deve-se, antes de tudo, conhecer o perfil do público com o qual se trabalha. A diversidade das vivências, que são patrimônio dos sujeitos, sejam jovens ou adultos, não impede que encontremos um modo de identificação para o público da EJA pela negação da condição infantil, e portanto, por seu não-pertencimento ao grupo etário para o qual aquele nível de ensino foi originalmente concebido. Aqui vale uma outra identificação que também encerra uma negação: grupo ou grupos sócio-culturais aos quais pertencem os alunos da EJA constituem parcelas da sociedade que só muito recentemente passaram a ser consideradas como público da Educação Escolar, afirma FONSECA (2005). Os alunos matriculados no PEMJA, de acordo com pesquisas internas realizadas pelo Projeto, apresentam um perfil bastante diversificado, entretanto com algumas características marcantes para quase todas eles. Sobre os motivos que levam esses jovens e adultos a pararem de estudar, o trabalho é o campeão, independente do gênero. A falta de oportunidade, a gravidez e o casamento pesam mais para os jovens e adultos do gênero feminino. No que se diz respeito aos objetivos após a conclusão do Ensino Médio, o vestibular está na frente, seguido dos cursos técnicos e dos cursos prévestibulares. São alunos que possuem pouco tempo para se dedicar aos estudos fora do horário de aulas, pois, grande maioria trabalhara fora e possui família para dar assistência. Buscam na escola uma forma de adquirir conhecimento para melhorarem de vida, se 7

qualificando para o mercado de trabalho. Desta forma, alunos e alunas, matriculados no PEMJA, vêem os Cursos Profissionalizantes como uma forma de se qualificarem para o mercado de trabalho, em curto prazo. Segundo os alunos do PEMJA, os cursos profissionalizantes oferecidos aprimoram os conhecimentos daqueles que já exercem funções ligadas as áreas dos cursos, além de formalizar, através de um certificado no final do curso, o conhecimento construído. Os cursos capacitam, também, aqueles que ainda não possuíam conhecimentos dentro da área, pois trabalha desde os conteúdos básicos até os mais avançados, através de aulas teóricas e práticas. Como o curso profissionalizante é realizado juntamente com o Ensino Médio, os alunos, já formam aptos a apresentarem seus certificados e procurarem empregos com a habilitação oferecida pelo curso profissional. De acordo com a fala dos professores do Projeto, os alunos consideram isto uma vantagem, pois enquanto não cursam uma faculdade, já se consideram tendo uma profissão para exercer. Para os alunos, ter a oportunidade de optar em qual Curso Profissionalizante se matricular (Produção Mecânica, Informática e Instalações Elétricas Residenciais), independente da sua turma de origem do curso de Ensino Médio é de grande valia, pois assim, cada um estuda o que gosta. Desta forma a motivação com o curso é maior e talvez, relacionado a este fator, a porcentagem de infrequência nos cursos profissionalizantes é muito baixa, bem menor do que a encontrada nas aulas do Ensino Médio. Como finalidade para o conhecimento construído com à freqüência aos cursos profissionais, temos os mais diversos pareceres, aonde alguns alunos pretendem procurar empregos com o certificado em mãos; outros almejam utilizar o curso profissional como um impulso maior para um curso superior dentro da mesma área; outros pretendem realizar mais cursos para aprimorar o conhecimento e outros ainda, desejam oferecer cursos gratuitos sobre o que aprenderam em associações comunitárias de bairros e igrejas. 8

6. Considerações Finais A Educação Profissional de Jovens e Adultos é ainda algo recente. No COLTEC, somente surgiu no ano de 2005, em conformidade com o disposto no inciso I, do Art. 12 da Lei e Diretrizes e Bases da Educação Nacional Lei No 9394, de 20 de Dezembro de 1996. Muitos ajustes e modificações provavelmente ainda serão realizados. Mas de qualquer maneira, já apresenta, na estrutura atual, bons resultados perante os alunos, afinal, as taxas de evasão e infrequência são muito baixas. Como já mencionado anteriormente, garantir o acesso das pessoas jovens e adultas à educação é, antes de tudo, respeitar um direito humano. Portanto, o acesso aos cursos profissionalizantes, deve se dar por meio de ações que tenham como ponto de partida as necessidades reais dos alunos. E, esta proposta parece estar sendo atendida, já que segundo os alunos, os cursos profissionalizantes aprimoram os conhecimentos daqueles que já exercem funções ligadas as áreas dos cursos, além de formalizar, através de um certificado no final do curso, o conhecimento. Os cursos capacitam, também, aqueles que ainda não possuíam conhecimentos dentro da área, pois trabalha conteúdos básicos e mais avançados. A Educação de Jovens e Adultos deve ser destacada como uma modalidade específica da Educação Básica, que se propõe a atender um público ao qual foi negado o direito à educação, durante a infância e/ou adolescência, seja pela oferta irregular de vagas, seja pelas inadequações do sistema de ensino ou pelas condições socioeconômicas desfavoráveis, segundo CARVALHO e BASTOS (2004). Nesta mesma perspectiva, a concepção de Educação Profissional de Jovens e Adultos não pode ser restrita a uma educação compensatória. Deve ser considerada como um direito de todos os cidadãos que a requererem. E sendo assim, para se tornar realmente uma modalidade educativa inscrita no campo do direito, é necessário superar a concepção dita compensatória, cujos principais fundamentos são a de recuperação de um tempo de escolaridade perdido no passado. O curso profissional de jovens e adultos oferecido pelo PEMJA, procura trabalhar os conteúdos sistematizados, mas também oferecer um currículo que favoreça o processo de construção de competências básicas necessárias ao aluno para a sua inserção na vida 9

produtiva e no seu efetivo comprometimento com as ações sociais, contribuindo para uma melhoria do desempenho social da escola. Nisso consiste o grande desafio da educação, seja ela na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, no ensino regular ou em cursos profissionais, manter uma estrutura que propicie ao educando oportunidades de crescimento intelectual e cognitivo, assim como crescimento pessoal e como sujeito integrante de uma sociedade ampla e diversificada. Referências Bibliográficas: COLTEC, Projeto de Ensino Médio de Jovens e Adultos (PEMJA 2003) do Programa de Educação Básica de Jovens e Adultos. Realização do Colégio Técnico do Centro Pedagógico/UFMG, 2003. 12 p. COLTEC. Documento Base do Curso Profissional para Jovens e Adultos. Colégio Técnico do Centro Pedagógico/UFMG, 2004. 18 p. CARVALHO, A, BASTOS, L. Um olhar sobre a educação de Jovens e Adultos. Belo Horizonte: PEMJA, COLTEC, UFMG: 2004. 10 p. FONSECA, M. C. F. R. F. Educação Matemática de Jovens e Adultos- Especificidades, desafios e contribuições. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2005. 118p. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia - Saberes necessários à prática educativa. São Paulo, Brasil: Paz e Terra, 1997. 165 p. SOARES, L. Aprendendo com a diferença. Estudos e pesquisas em Educação de Jovens e Adultos. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2003. 141p. (org.) 10