A ATUAÇÃO DO TUTOR A DISTÂNCIA COM CURSISTA COM DEFICIÊNICA VISUAL NA ABORDAGEM CONSTRUCIONISTA, CONTEXTUALIZADA E SIGNIFICATIVA Soellyn Elene Bataliotti Gabriela Alias Rios Elisa Tomoe Moriya Schlünzen Universidade Estadual Paulista - Unesp Eixo Temático: Práticas pedagógicas inclusivas 1. Introdução O objetivo deste estudo é analisar a prática pedagógica inclusiva do tutor a distância com relação ao cursista com deficiência visual, de um curso construído na perspectiva da abordagem Construcionista, Contextualizada e Significativa. Esta pesquisa se faz necessária, tendo em vista que na educação a distância, assim como na presencial é preciso saber trabalhar diante de uma abordagem que contribua no processo de ensino e aprendizagem do público-alvo de forma inclusiva. Nesse sentido, ao relacionar a educação a distância e a relação da tutoria com cursistas com deficiência, indicamos como adequada a abordagem Construcionista, Contextualizada e Significativa, que, segundo Schlünzen (2000; 2005) possibilita ao estudante o interesse em explorar, pesquisar, descrever, refletir e depurar suas ideias. Esta abordagem provém dos estudos de Papert e Valente, nos quais definem duas formas de uso das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação que são a instrucionista e a construcionista (SCHLÜNZEN; SCHLÜNZEN JUNIOR; SANTOS, 2011). Dessa forma, o uso da abordagem Construcionista Contextualizada e Significativa no planejamento e construção de cursos a distância prevê uma outra postura do tutor, que não seja a instrucionista. Ainda, a abordagem Construcionista, Contextualizada e Significativa possibilita que o estudante, junto ao tutor, interaja de forma contextualizada à sua realidade. Nesse processo, o tutor tem papel principal para estimular essa participação, mediante as necessidades do cursistas e dificuldades pontuadas.
Além disso, a formação, ao ser contextualizada, é importante por fornecer subsídios para que os professores-cursistas pudessem construir o conhecimento sobre as situações problema vivenciadas [ ], transformando-se e transformando o seu contexto (SANTOS, 2015, 107). Com a escolha da abordagem, o tutor deve conscientizar-se do seu importante papel na formação do cursista, tendo em vista que ele; [ ] desempenha papel de fundamental importância no processo educacional de cursos superiores a distância, e compõem um quadro diferenciado no interior das instituições. O tutor deve ser compreendido como um dos sujeitos que participa ativamente da prática pedagógica. Suas atividades devem contribuir para o desenvolvimento dos processos de ensino e de aprendizagem, e para o acompanhamento e avaliação do projeto pedagógico (ALBUQUERQUE, 2014, p. 61-62). Moore e Kearsley (2013), ao comentarem sobre o papel do instrutor (chamado tutor, na realidade brasileira), pontuam que uma das responsabilidades desse profissional é promover a interação entre estudante e conteúdo. Além disso, esse profissional, na mediação, pode segundo os autores, auxiliar o estudante a aplicar em seu contexto o que está aprendendo. Na abordagem mencionada no estudo, as atividades são planejadas de forma que o aluno seja o protagonista do processo, em que a presença do tutor é fundamental [...] para acompanhar o processo de aprendizagem do aluno, mantendo diferentes graus de envolvimento no processo [...]. (MAURI; ONRUBIA, 2010, p. 123). Relacionando as atribuições do tutor e a abordagem Construcionista, Contextualizada e Significativa, frente aos diversos estudantes de um curso na modalidade a distância, reforçamos a importância das práticas pedagógicas desse profissional serem inclusivas, a fim de corroborar a aprendizagem do cursista. 2. Desenvolvimento Este trabalho teve como cenário um curso de formação de professores estaduais, na modalidade semipresencial, em que a formação dos professores era acompanhada semanalmente por um tutor online e ao final de cada duas ou três disciplinas um encontro presencial com um tutor presencial.
A turma do curso analisado continha cerca de 32 cursistas, sendo que um deles com deficiência visual, que participou ativamente das atividades do curso. Para a análise da atuação do tutor foi escolhido como amostra, um fórum de discussão de uma das disciplinas no curso, destinado a participação em grupo divididos em oito cursistas por grupo. O fórum analisado teve a participação de oito cursistas com 63 mensagens ao todo. Dentre as participações houve 16 interações do cursista com deficiência visual e três postagens do tutor, que apresenta não ser satisfatória, pois uma das funções do tutor segundo Albuquerque (2015) é a mediação e posicionamento quanto as dúvidas nas atividades. Porém, conforme as interações é perceptível a falta de mediação, como mostram as mensagens do cursista cego: Bom dia, querido TUTOR e queridas colegas do grupo 1: Por favor, alguém conseguiu baixar o arquivo do word com as situações problemas? Por aqui não consegui abrir. Por favor, se alguém conseguiu baixar poderia me enviar assim que puder para o meu e-mail pessoal? XXXXX@yahoo.com.br Fico imensamente grato. assim poderei iniciar o mais breve possível minha atividade 3. Abraços e obrigado. Em resposta a esta atividade quem o auxilia são os colegas da própria turma, que explicam que a orientação está no próprio fórum e que não há editor de texto para baixar, no entanto um deles diz ter enviado a comanda pelo email solicitado. No entanto, em certo momento de interação com o grupo, houve uma divergência de compreensão da atividade e a dúvida foi postada pelo cursista cego, em uma sexta feira às 6 horas da manhã: Olá, querido TUTOR e demais colegas cursistas do grupo 1: Por favor, TUTOR, pode nos tirar uma dúvida sobre o trabalho coletivo do grupo 1? Nós, do grupo 1, estamos com a seguinte dúvida e precisamos esclarecê-la o mais rápido possível: Eu entendi que cada componente do mesmo grupo deve ler os textos da atividade 2, ler as duas situações e responder às 4 perguntas propostas e postar a atividade 3 individualmente aqui no forum. Depois, cada um lê as respostas ou postagens do mesmo grupo colocadas aqui no forum e comenta-as com réplicas e tréplicas e mais se for necessário. Mas há outras colegas que entenderam de uma outra forma. Há uma colega que entendeu que temos que trocar as idéias e postar uma única resposta no forum.
Por favor, pode tirar nossas dúvidas sobre isso a fim de realizarmos a atividade 3 da forma que nos for solicitada? Muito obrigado. Forte abraço a todos. Porém, ao longo do dia não houve mensagens do tutor e as interações entre os cursistas continuaram, inclusive do cursista cego. No dia seguinte, no sábado, às 15 horas o cursista cego diz que o tutor respondeu a um e-mail particular tirando a dúvida postada no fórum: Boa tarde, querida CURSISTA S, tudo bem? Por favor, peço licença aqui ao TUTOR para colar um trecho de uma resposta que ele acabou de enviar ao meu e-mail pessoal em atendimento à pergunta que lhe fiz sobre nossas dúvidas em relação à atividade 3. A parte que copio aqui é a seguinte: Olá, CURSISTA D. Acredito que a comanda faltou mencionar que as postagens são individuais, apesar de o trabalho ser em grupo. Sim, cada um elabora e posta no fórum. Abraço e bom descanso. Bom, é isto. Acredito que com este trecho nossas dúvidas em relação à atividade 3 já estarão resolvidas. Beijos a todas. Ao analisar as interações do tutor é identificado que não houve nenhuma participação na discussão, mas postagens dos cursistas que lhe enviaram respostas por e-mail, o que não colabora com a mediação efetiva, considerando a abordagem Contrucionista, Contextualizada e Significativa, que, para Schlünzen, Schlünzen Junior e Santos (2011), é uma atuação que visa motivar o cursista a participar, que seria ação principal do tutor em qualquer uma das dúvidas ou interações entre os cursistas. Ainda conforme ressaltam Moore e Kearsley, um dos papéis do tutor é promover a interação e acompanhar de perto o processo de ensino e aprendizagem. Pensando em uma prática pedagógica inclusiva, observamos que a mediação foi falha, no sentido de auxiliar o estudante com deficiência visual no desenrolar do curso, o que poderia ter reflexos negativos para a aprendizagem. 3. Conclusões Para uma efetiva participação da tutoria, cuja prática pedagógica seja inclusiva, e atenda aos pressupostos da abordagem Construcionista, Contextualizada e Significativa, a atuação do tutor seria de fomentar a interação do grupo, sem que este necessitasse procurá-
lo por meios externos. No caso do cursista com deficiência visual a sua interação não foi prejudicada tendo em vista que o cursista apresentou-se frequente nas interações e com auxílios dos colegas, no entanto, o próprio cursista apresentou a iniciativa de procurar pelo tutor para obter respostas as suas dúvidas. Dentro de um ambiente Construcionista, Constextualizada e Significativa o tutor deveria fazer mediações significativas nas interações, trazendo discussões e reflexões para que a turma, junto com o cursista cego, pudesse refletir sobre o tema discutido. Referências ALBUQUERQUE, Denise Ivana de Paula. O Processo de Formação Permanente em Serviço e em exercício de Formadores para a Docência Virtual. Tese (Doutorado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho /Faculdade de Ciências e Tecnologia. Presidente Prudente, 2014. MAURI, T; ONRUBIA, J. O professor em ambientes virtuais: perfil, condições e competências. In: COLL, C; MONERO, C. (Org.). Psicologia da Educação Virtual: aprender e ensinar com as tecnologias da educação virtual. Porto Alegre: Artmed, 2010. MOORE, M. G.; KEARSLEY, G. Educação a distância: sistemas de aprendizagem on-line. São Paulo: Cengage Learning, 2013. SANTOS, Danielle Aparecida do Nascimento dos. A Abordagem CCS na Formação de Professores para uma Escola Inclusiva. Tese (Doutorado em Educação). Programa de Pós- Graduação em Educação da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho /Faculdade de Ciências e Tecnologia. Presidente Prudente, 2015. SCHLÜNZEN, Elisa Tomoe Moriya; SCHLÜNZEN JUNIOR, Klaus; SANTOS, Danielle Aparecida Nascimento. Formação de professores, uso de Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação e escola inclusiva: possibilidades de construção de uma abordagem de formação Construcionista, Contextualizada e Significativa. Revista Pedagógica - UNOCHAPECÓ - Ano 14 - n. 26 vol.01 - jan/jun 2011. SCHLÜNZEN, Elisa Tomoe Moriya. A Tecnologia para inclusão de Pessoas com Necessidades Especiais (PNE). In: Pellanda, Nize Maria Campos; Schlünzen, Elisa Tomoe Moriya; Schlünzen Junior, Klaus (Orgs.). Inclusão Digital: Tecendo Redes Afetivas/Cognitivas. 1. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. p. 195-210. v. 1. SCHLÜNZEN, Elisa Tomoe Moriya. Mudanças nas práticas pedagógicas do professor: criando um ambiente construcionista contextualizado e significativo para crianças com necessidades especiais físicas. Tese (Doutorado), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2000.