TÍTULO: TECNOLOGIA E PRÁTICAS EDUCATIVAS NA PREVENÇÃO DO HIV/AIDS EM MULHERES AUTORES: Luciana Patrícia Zucco - Núcleo de Estudos e Ações em Saúde Reprodutiva e Trabalho Feminino da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro lpzucco@uol.com.br Ludmila Fontenele Cavalcanti - Núcleo de Estudos e Ações em Saúde Reprodutiva e Trabalho Feminino da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro ludmario@uol.com.br Ruth Floresta Mesquita - CEPIA Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação - Adriana Valle Mota - CEPIA Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação - Jeanne de Souza Lima - CEPIA Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação - ÁREA TEMÁTICA: SAÚDE O projeto Reprodução de vídeos educativos/ informativos, desenvolvido no período de maio de 2001 a abril de 2002, surgiu da constatação do aumento da incidência da AIDS entre mulheres para 11,8/ano, num total de 52.055 mulheres soropositivas, tornando a proporção homem/ mulher de 25/1 (1985) para 1/1 (2000). Esse aumento da morbimortalidade feminina caracteriza-se pelo crescimento da AIDS em mulheres em idade reprodutiva com parceiros sexuais fixos em relações monogâmicas. Objetivo O presente trabalho tem por objetivo apresentar a experiência do Núcleo de Estudos e Ações em Saúde Reprodutiva e Trabalho Feminino da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro, através do projeto Reprodução de vídeos educativos/ informativos (Projeto 914/BRA/59 UNESCO) do Ministério da Saúde (CNDST/AIDS) e da CEPIA Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação. O Projeto visou contribuir para o aumento da percepção, por parte das mulheres, em especial aquelas casadas ou em uniões estáveis, sobre a necessidade do uso do preservativo nas relações sexuais. O projeto se desenvolve junto às usuárias das unidades de saúde da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (Centro Municipal de Saúde Marcolino Candau, Centro Municipal de Saúde Milton Fontes Magarão, Hospital Maternidade Alexander Fleming, Hospital Maternidade Carmela
Dutra, Hospital Raphael de Paula e Souza, Instituto Municipal da Mulher Fernando Magalhães, Posto de Assistência Médica Carlos Alberto Nascimento e Posto de Saúde Dr. Pedro Nava). Metodologia A metodologia proposta consiste na realização de grupos de sala de espera voltados para a discussão da temática da feminização da AIDS, a partir da exibição de vídeos já produzidos pela CEPIA, como parte da atividade de estágio curricular obrigatória na formação profissional dos Assistentes Sociais. As etapas previstas nesse trabalho foram: 1) articulação das instituições parceiras, através de contatos, reuniões, e formulação de termos de cooperação; 2) reprodução do material educativo, através da copiagem dos vídeos; 3) seleção e treinamento da equipe envolvida na execução (15 estagiárias de Serviço Social), através de capacitação, acompanhada de leituras e realização de oficina; 4) realização das atividades nas unidades de saúde, ou seja, exibição dos vídeos, desenvolvimento das salas de espera e registro das informações coletadas; 5) monitoramento e avaliação, por meio de reuniões mensais de acompanhamento com as coordenadoras e com as professoras de Serviço Social e por meio de disciplina de graduação denominada Metodologia Aplicada ao Serviço Social (acompanhamento aos campos de estágio) 6) construção de instrumento de coleta de informações e de banco de dados. Resultados O projeto tornou-se um espaço educativo de construção da cidadania feminina 1 através da divulgação, informação e promoção de práticas de prevenção em DST/AIDS, onde são abordados temas dos cotidianos das mulheres. 1 Esta é entendida como um processo exigente e contínuo, porque implica em envolver-se no debate público e compartilhar a responsabilidade do auto-governo.
Após o primeiro ano de desenvolvimento do projeto pode-se observar a institucionalização de novas atividades educativas em algumas unidades de saúde, que passaram a incorporar as salas de espera como um espaço educativo estratégico. Nesse sentido, as ações de prevenção ao HIV/AIDS dirigidas às mulheres não se limitaram à prevenção da transmissão perinatal, que acaba tratando a mulher como meio, mas demonstraram o entendimento de que esta é o sujeito e a finalidade da assistência. Profissionais de saúde que, inicialmente, desconheciam e apresentavam dificuldade de incorporação da sala de espera ao cotidiano dos ambulatórios, passaram a participar ativamente. Como desdobramento, teve-se a inclusão dos familiares das usuárias internadas nas maternidades, com o aproveitamento do horário de visitação da unidade, na realização dessa prática educativa. Outro resultado observado foi a otimização da utilização de material educativo, sistematicamente exibido junto ao público alvo e solicitado por outras instituições, que tomaram conhecimento do projeto através das unidades onde o projeto foi desenvolvido. O aumento da demanda 2 pelo preservativo masculino, resultante do interesse das mulheres pelo seu uso, implicou num maior fornecimento pela Secretaria Municipal de Saúde às unidades envolvidas, ora através do Programa da Mulher (Ação do Planejamento Familiar), ora através do Programa de DST/ AIDS. Nesse sentido, podese inferir que houve um processo de sensibilização da população feminina para a prevenção das DST/AIDS, do mesmo modo que o projeto pode ter possibilitado uma ampliação da cobertura no que se refere à prevenção da AIDS. Isso exigiu, ainda, o reconhecimento e a abordagem, pelos profissionais de saúde e estagiários, do diferencial de poder existente entre homens e mulheres como fator determinante da transmissão do HIV/AIDS. Também foi observada a otimização do tempo de espera das usuárias no momento da utilização dos serviços nas unidades, assim como uma maior procura por alguns serviços das unidades, como por exemplo, o Planejamento Familiar; o que se 2 Cabe ressaltar, aqui, que a quantificação de preservativos masculinos distribuídos, bem como o número de salas de espera realizadas é uma alternativa para avaliar as ações desenvolvidas na prevenção do HIV/AIDS. No entanto, apesar da sua importância, outros indicadores devem ser utilizados, dadas as limitações que os números impõem.
entende como possibilidade de acesso das mulheres às ações do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM) e, conseqüentemente, a informações sobre direitos sexuais e reprodutivos. A contribuição para a formação profissional dos assistentes sociais é um dos resultados relevantes, uma vez que o estagiário teve a oportunidade de vivenciar em seu campo de estágio curricular o aprendizado de prática educativa 3, através da coordenação de grupos, a superação das dificuldades institucionais, a construção de práticas interdisciplinares, a sistematização da prática (dimensão investigativa), e a avaliação permanente das ações desenvolvidas. A participação dos assistentes sociais supervisores de estágio ocorreu no momento de implementação do projeto e no acompanhamento aos alunos nas unidades de saúde, garantindo a orientação necessária para a efetivação da atividade. Além das unidades de saúde, foram realizados grupos com adolescentes e pré-vestibulandos das escolas nas Áreas Programáticas das unidades de saúde que se interessaram pelo Projeto, bem com em empresas com quadro predominantemente feminino. Diante da demanda colocada pelo Projeto Cidadania das Mulheres, implementado na Comunidade da Maré, e, também, sob a coordenação da CEPIA, por capacitação acerca da temática da feminização da AIDS, foi realizada capacitação com a sua equipe e elaborada uma cartilha com o objetivo de sistematizar conteúdos para a capacitação de futuros multiplicadores. A Cartilha de Orientação para Multiplicadores(as) - Conhecendo e orientando sobre Mulher e AIDS - possibilita a ampliação das práticas educativas voltadas para a construção da cidadania feminina. O desenvolvimento do projeto implicou numa articulação de outras ações do PAISM (assistência pré-natal, ao parto e ao puerpério) com o Programa de DST/AIDS no âmbito da unidade de saúde. O escopo do projeto contribuiu para a articulação de diferentes instâncias do Sistema Único de Saúde (execução e planejamento), para a prática da intersetorialidade, 3 A prática educativa é entendida como ação conjunta transformadora nas instituições. Ação que, orientada pela busca de maior independência e autonomia das pessoas, possa transcender o plano das normas comportamentais para encontrar na saúde, como expressão da qualidade de vida, o seu sentido principal.(assis, 1998: 25).
integrando as áreas de saúde e educação, com a incorporação da visão ampliada de saúde e das dimensões fundamentais de uma universidade pública, quais sejam: pesquisa, ensino, extensão e assistência. Esse projeto configurou-se numa possibilidade de alteração no quadro de morbi-mortalidade da população feminina pelo vírus do HIV através de alternativa de baixo custo, que foi amplamente visibilizada através de apresentações e exposições em diferentes tipos de eventos locais, nacionais e internacionais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSIS, M., 1998. Educação em Saúde e qualidade de vida: para além dos modelos, a busca da comunicação. In: Estudos em Saúde Coletiva. Rio de Janeiro: IMS/UERJ, n o 169, nov. BURIOLLA, M. A. F. 1996. Supervisão em Serviço Social: o supervisor, sua relação e seus papéis. São Paulo: Cortez. BRASIL, Ministério da Saúde. 1999. Política Nacional de DST/AIDS. Princípios, diretrizes e estratégias. Brasília. PARKER, R., et. al. 1999. Saúde, Desenvolvimento e Política: respostas frente à AIDS no Brasil. Rio de Janeiro: Editora 34, ABIA.