QUALIDADE DA ÁGUA NA PISCICULTURA: UM ESTUDO DE CASO EM COMUNIDADES RURAIS DO MUNICÍPIO DE FORMIGA MG



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Transcrição:

QUALIDADE DA ÁGUA NA PISCICULTURA: UM ESTUDO DE CASO EM COMUNIDADES RURAIS DO MUNICÍPIO DE FORMIGA MG Jéssika Pires de Morais 1 ; Kátia Daniela Ribeiro 2 *; Felipe Paim Coutinho 3 & Caroline Miranda de Oliveira 3 Resumo A produção de pescado no Brasil vem apresentando grande crescimento a ponto de torna-lo um dos maiores produtores mundial. Isso se deve às condições favoráveis do país, principalmente com relação ao fator água que se apresenta em grande abundância. O presente estudo vislumbra conhecer e analisar alguns sistemas produtivos de pisciculturas de micro e pequeno porte de quatro comunidades rurais do município de Formiga/MG. Para tanto, foram realizadas análises físico-químicas da água dos tanques de pisciculturas e registros fotográficos. Assim, pela análise dos resultados, inferiu-se que há a necessidade de se conhecer a qualidade da água dos viveiros e as características dos empreendimentos de modo a proporcionar uma maior produtividade e qualidade do peixe produzido nos tanques. Observou-se ainda que a qualidade da água dos tanques também pode acarretar impactos negativos decorrentes dessa atividade, pois, ao confrontar os resultados obtidos com a literatura e a legislação vigente, verificou-se uma não conformidade em relação ao ph. Palavras-chave: Peixe. Análise de água. Produção. WATER QUALITY IN AQUACULTURE: A CASE STUDY IN RURAL MUNICIPALITY OF COMMUNITIES FORMIGA MG Abstract The fish production in Brazil has shown great growth enough to make it one of the largest producers worldwide. This is due to the favorable conditions of the country, particularly with respect to factor water that is present in great abundance. This study intends to understand and analyze some production systems for micro fish farms at four rural communities in the municipality of Formiga, Minas Gerais, Brazil. Physical and chemical analyzes of water from fish farms tanks and photographic records were made. By analyzing the results, it was inferred that there is a need to know the water quality of ponds and characteristics of enterprises to provide increased productivity and quality of fish produced in the tanks. It was also observed that the tank water quality can also have negative impacts of this activity; therefore, the results were compared with literature and current legislation, verifying non-compliance with respect to ph. Keywords: Fish. Water analysis. Production. INTRODUÇÃO A piscicultura é considerada uma atividade milenar que vem ganhando espaço no cenário brasileiro devido às condições favoráveis, principalmente no que condiz ao fator água que possui 1 Engenheira Ambiental e Sanitarista. Formiga-MG. e-mail: jhessyka-morais@hotmail.com 2 Professora Titular I. Centro Universitário de Formiga UNIFOR-MG. Formiga-MG. e-mail: katiadr@bol.com.br 3 Graduando em Engenharia Ambiental e Sanitária. UNIFOR-MG. Formiga-MG. e-mail: felli_pe_coutinho@hotmail.com; ambientalcaroline@gmail.com XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1

grande abundância no país. A piscicultura é uma modalidade da aquicultura e consiste na criação de peixes sob cativeiros, em água doce ou marinha, necessitando da ação humana para sua produção. Após a criação do Ministério da Pesca e Aquicultura em junho de 2009, houve grande incentivo para se realizar a criação de pescado em cativeiro e também medidas que passaram a estimular o seu consumo. O Brasil possui um grande potencial no ramo da piscicultura podendo se tornar um dos maiores produtores mundiais de pescado. Conforme o Ministério da Pesca e Aquicultura (2013), o Brasil produz cerca de 1,25 milhões de toneladas de pescado, sendo 38% cultivados. Este cultivo gera um Produto Interno Bruto- PIB pesqueiro de 5 bilhões de reais, mobiliza 800 mil profissionais entre pescadores e aquicultores e gera 3,5 milhões de empregos diretos e indiretos. Apesar da grande expansão e incentivo de órgãos especializados, nota-se ainda carência em relação a informações e ações sobre possíveis impactos ao meio ambiente devido a este tipo de atividade, visto que a água dos tanques de criação são provenientes de um curso d água e de maneira geral, retornam para esse mesmo curso d água. No entanto, nos tanques são adicionadas várias substâncias, necessárias ao sucesso da atividade, que alteram as características da água, podendo impactar o curso d água receptor. Partindo desta compreensão, este trabalho tem como finalidade caracterizar as águas dos tanques de criação da atividade da piscicultura, de modo a inferir sobre possíveis impactos oriundos de sua devolução ao corpo d água receptor. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi realizada em quatro comunidades rurais do município de Formiga MG que possui uma área de aproximadamente 1.501,915 km 2, com um índice pluviométrico anual de 1.272 mm, temperatura média anual de 21,8ºC, com máxima de 28,7ºC e mínima de 15,8ºC. Banhado pela bacia do Rio Grande e do Rio São Francisco, é bastante propício para atividades pesqueiras. (Prefeitura Municipal de Formiga, 2010). Foram realizadas coletas de amostras de água em 10 tanques de criação de peixe, os quais são utilizados pelos proprietários de diversas formas, como consumo próprio, recreação na área de pesque e pague e restaurante e comércio na região de Formiga/MG, na sua maioria tendo a produção de peixes da espécie Tilápia. A coleta das amostras foi realizada no período de 23 de setembro a 13 de outubro do ano de 2014, no período vespertino. As amostras foram coletadas com o auxílio de um frasco coletor, conforme recomendações do fabricante do kit produtor para água doce, ALFAKIT. Após a coleta, transferiu-se a amostra para um frasco. Quando a amostra apresentou sólidos dissolvidos, foi necessário filtrá-la antes de se iniciar as análises (a filtração da amostra foi dispensável na análise do oxigênio dissolvido). As análises para determinação dos parâmetros físico-químicos foram realizadas em local arejado, evitando expor os reagentes ao sol. As comparações com a cartela foram realizadas posicionando a cubeta no meio da cartela e visualizando-se sempre de cima para baixo, em local com boa iluminação, porém nunca exposto ao sol, obedecendo sempre ao tempo de reação. (ALFAKIT, 2000). XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 2

A temperatura foi averiguada através de um termômetro e sempre lida no momento da coleta. A cor foi estabelecida através de critérios visuais. Visibilidade e transparência foram averiguadas pelo uso de um equipamento chamado Disco de Secchi. Os parâmetros químicos como ph, alcalinidade, dureza, oxigênio dissolvido, amônia e nitrito, foram determinados seguindo a metodologia proposta por ALKAFIT (2000) assim como o parâmetro cor. De posse dos resultados, os mesmos foram comparados entre si, com dados da literatura e com a legislação pertinente. RESULTADOS E DISCUSSÃO As Figuras 1 e 2 apresentam os resultados de temperatura e transparência dos tanques analisados. Figura 1 Temperatura em ºC, nos diferentes tanques. Figura 2 Visibilidade e transparência. De acordo com Oliveira et al. (1995), um dos fatores de maior importância nos fenômenos biológicos no viveiro é a temperatura. Todas as atividades dos peixes como respiração, digestão, excreção, alimentação, movimentos, estão ligadas à temperatura da água. Oliveira et al. (1995) também descrevem que a temperatura ideal de sobrevivência do peixe varia de acordo com a estação do ano, devendo permanecer na faixa de 20 a 29 C. Nota-se que a temperatura do tanque E foi de 32 C; isso se deve, além da alta temperatura ambiente, também à baixa expressiva do nível de água dentro do tanque devido ao período de estiagem, o que não é um fator interessante para a sobrevivência dos peixes. Em Minas Gerais, a Deliberação Normativa DN 1/2008 do Conselho Estadual de Política Ambiental COPAM dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento. Estabelece normas e padrões para a qualidade das águas, lançamento de efluentes nas coleções de águas, e dá outras providências. Com relação ao retorno da água do tanque para o manancial, observa-se que a temperatura está de acordo com a legislação. Os tanques analisados possuem uma variação de cor entre verde claro e verde escuro (musgo). Apenas o tanque J encontra-se com cor de água mais clara e, de acordo com Mardini e Santos (1991), a água que apresenta coloração verde e verde azulada é mais indicada para a criação de peixe, pois ela demonstra presença de elementos básicos para a piscicultura. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 3

As variações de cor podem ser explicadas devido às sobras de ração, as excretas dos peixes, além do volume baixo de água presente nos tanques. O aumento de cor ocasionará o aumento da turbidez, fator este que não é interessante. Quanto ao lançamento do efluente do tanque em corpos receptores, a legislação não impõe limites quanto à cor. A transparência é fator que diminui de acordo com a profundidade e a turbidez. Viveiros mais rasos também influenciam na redução da transparência da água. De acordo com Oliveira (2000), a transparência menor que 20 cm pode ocasionar problemas como baixas concentração de oxigênio dissolvido, porém em viveiros de Tilápias são admissíveis valores menores mas que não ultrapassem de 10 a 15 cm, pois pode ocasionar um estresse em relação ao oxigênio, levando à morte dos peixes. Pode-se observar, portanto, que os resultados obtidos no tanque C e J estão com uma faixa elevada de transparência, o que não é interessante na piscicultura, podendo ocasionar a mortandade dos peixes. Conforme legislação vigente, a transparência da água não é limitante para o lançamento do efluente do tanque de volta ao manancial. As análises químicas foram realizadas na entrada dos tanques e dentro dos mesmo. Porém, nos tanques D, E, F, I e J, não foi possível a averiguação de entrada devido à seca que assolava a região no período de estudo, secando os canais de alimentação dos tanques. O ph é um outro fator de muita importância na produção de peixe. Oliveira (2000) descreve que os valores indicados como ótimos para a piscicultura estão entre 7 e 8,3, podendo-se no entanto trabalhar com valores entre 6,5 e 9,0. Dentro dos tanques ocorreram resultados variados de ph (Figura 3), sendo o mais preocupante o tanque H, no qual o ph apresentou o valor de 5,5, valor este não recomendado para piscicultura. Esse valor também não se adéqua à legislação, pois a mesma estabelece que o ph do efluente deve permanecer entre 6 e 9. (COPAM, 2008). Oliveira (2000) afirma que os valores de alcalinidade (Figura 4) indicam a presença de sais minerais como bicarbonatos e carbonatos e que águas entre 20,0 e 300,0 mg /L de alcalinidade indica quantidade adequada de sais minerais para pisciculturas orgânica, além de ajudar na formação do plâncton. Figura 3 ph das águas dos tanques analisados. Figura 4 Alcalinidade da água dos tanques em mg/l -1. Todos os tanques analisados apresentam-se adequados quanto à alcalinidade de suas águas. Quanto ao lançamento do efluente do tanque em corpo receptor, a DN 1/2008 não estabelece limites para esse parâmetro. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 4

A dureza está ligada à presença de sais de cálcio e magnésio na água. A Figura 5 apresenta os resultados de dureza dos tanques. Segundo Oliveira (2000), a dureza entre 55 e 200 mg de Ca e Mg / L é uma água que contém a quantidade adequada de sais minerais; aquelas entre 201 e 500 mg de Ca e Mg / L já contém sais demais, considerada uma água dura; e valores menores que 20 mg de Ca e Mg / L é uma água com poucos sais, considerada uma água mole. Sendo assim, todos os tanques analisados estão com dureza abaixo de 55 mg/l. É de fundamental importância estar sempre medindo a dureza da água das pisciculturas, pois assim será garantida a sobrevivência de fitoplânctos, além de precaver caso haja necessidade de correção da água. Quanto ao lançamento do efluente do tanque em corpo receptor, a DN 1/2008 não estabelece limites para esse parâmetro. Os tanques apresentaram teores de oxigênio dissolvido (OD) na entrada de água variando entre 9 a 7 mg/l; já dentro dos tanques, os valores foram menores, ficando entre 5 a 7, sendo que apenas o último tanque alcançou teor de 9 mg/l (Figura 6). Figura 5 Dureza das águas dos tanques em mg.l -1 Figura 6 Oxigênio dissolvido nas águas dos tanques em mg.l -1 de O 2. De acordo com Medeiros (2002), a maioria dos peixes tropicais exigem concentrações de oxigênio dissolvido acima de 5 mg/l, e esse também é o valor mínimo estabelecido pela Resolução CONAMA nº 430/2011 quanto ao lançamento de efluentes em corpos d água. Devido ao baixo nível de água nos tanques e à não renovação da mesma por ocasião da estiagem intensa na região na época de execução desse trabalho, os piscicultores estão utilizando aeradores para ajudar na elevação deste parâmetro, sendo que apenas o tanque I não possui este sistema, nota-se então um nível de oxigenação de 5mg/l estando no nível mínimo. Baseando-se apenas no parâmetro OD, as águas dos tanques poderiam ser lançadas sem problemas em corpos receptores. De acordo com Oliveira (2000), o nitrogênio amoniacal deve ser averiguado frequentemente, pois ele é tóxico e, de acordo com o ph, sua toxicidade pode ser mais elevada. O nitrogênio amoniacal nas águas dos tanques de piscicultura é proveniente da decomposição da matéria orgânica. Nota-se que os tanques D, E e G apresentaram um teor alto de amônia (Figura 7), o que aumenta sua toxicidade de acordo com o ph. Quanto aos padrões de lançamento de efluentes em cursos d água, todos os tanques atendem à legislação quanto ao teor de amônia. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 5

Sperling (1996) cita que, em um corpo d água, a parcela predominante de nitrogênio pode fornecer informações sobre o estágio da poluição. Os compostos de nitrogênio, na forma orgânica ou de amônia, representam a poluição recente; já o nitrito e nitrato refletem a poluição mais remota. Foi encontrado indícios de nitrito no tanque D (Figura 8). Ressalta-se que, no dia da amostragem, havia presença de peixes mortos no tanque ocasionando um odor desagradável. Figura 7 Amônia em NH3 das águas dos tanques analisados em mg/l. Figura 8 Nitrito em NO2 das águas dos tanques em mg/l. A resolução CONAMA 430/2011 não estabelece valores máximos permitidos para a concentração de nitrito, referindo-se apenas ao nitrogênio total, que deve ser inferior a 20 mg/l. Como o nitrito corresponde a apenas uma parcela do nitrogênio total, pode-se inferir que seu valor não comprometerá o corpo receptor se as águas dos tanques forem lançadas no mesmo. CONCLUSÕES Através dos estudos realizados, observou-se a necessidade de se conhecer a qualidade da água dos viveiros e as características dos empreendimentos, de modo a inferir sobre possíveis impactos oriundos de sua devolução ao corpo d água receptor e sua interferência na qualidade de vida dos peixes. Com relação à contaminação ou poluição do corpo receptor, ao confrontar com a legislação vigente, observou-se que a maioria dos parâmetros analisados estão em conformidade, com exceção do parâmetro ph no tanque H. Uma vez que o tanque D apresentou indícios de nitrito, sugere-se o dimensionamento de um biofiltro para a remoção do mesmo, assim como também sugere-se para todos os tanques analisados a correção do meio através de calagem por apresentar dureza abaixo de 55 mg/l. REFERÊNCIAS ALFAKIT. Manual de instruções. Florianópolis: [s.n.], [2000?]. BRASIL. Ministério da Pesca e Aquicultura. Consumo de pescado no Brasil aumenta 23,7% em dois anos. 2013. Disponível em: <http://www.mpa.gov.br/index.php/imprensa/noticias/2226- consumo-de-pescado-no-brasil-aumenta-237-em-dois-anos>. Acesso em: 23 abr. 2014. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 6

CONSELHO ESTADUAL DE POLÍTICA AMBIENTAL COPAM. Deliberação Normativa nº 1. 2008. Disponível em: <http://www.siam.mg.gov.br/sla/download.pdf?idnorma=8151>. Acesso em: 12 de novembro de 2014. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE CONAMA. Resolução n 430. 2011. Dispõe sobre condições e padrões de lançamento de efluentes, complementa e altera a Resolução 357, de 17 de março de 2005. MARDINI, C. V.; SANTOS, G. O. Criação de peixes em tanques e açudes. 2. ed. Porto Alegre: Sagra, 1991. MEDEIROS, F. C. Tanque-rede: mais tecnologia e lucro na piscicultura. Cuiabá, [s.n.], 2002. OLIVEIRA, C. S. et al. Recomendações técnicas para o cultivo de peixe no Estado de Mato Grosso. Empaer: [s.n.], 1995. OLIVEIRA, L. de. Manual de qualidade da água para aquicultura. Florianópolis: [s.n.], 2000. PREFEITURA MUNICIPAL DE FORMIGA. Dados geográficos. 2010. Disponível em: <http://www.formiga.mg.gov.br/?pg=14&id_busca=31>. Acesso em: 28 abr. 2014. SPERLING, M. von. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. 2. ed. Belo Horizonte: UFMG, 1996. 243 p. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 7