Livro Analisado: Alguma Poesia Preparação: Prof. Menalton Braff. O Autor: Carlos Drummond de Andrade



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Transcrição:

Livro Analisado: Alguma Poesia Preparação: Prof. Menalton Braff O Autor: Carlos Drummond de Andrade Nasceu em 1902, no município de Itabira, região ferrífera de Minas Gerais. Filho de fazendeiro, cenas da infância na fazenda vão compor, mais tarde, alguns dos poemas do autor. Freqüentou a escola em sua cidade natal, transferindo-se, posteriormente, para Belo Horizonte, mas por causa da saúde fraca tem de voltar. Algum tempo toma aulas particulares, indo então para Nova Friburgo, como interno do colégio dos jesuítas. Expulso dessa escola, como diz CDA, perdeu a fé e a confiança naqueles que o julgavam. De volta a Minas Gerais, enquanto faz a Faculdade de Farmácia, dedica-se ao jornalismo. É nesse ambiente que entra em contato com jovens escritores de Minas e descobre o Modernismo. Com alguns amigos, funda A Revista, órgão de divulgação da estética modernista. Terminado o curso de farmácia, percebe que não tem vocação para o ramo e continua suas atividades jornalísticas, que vão até o cargo de Redator Chefe de um grande jornal de Belo Horizonte. Durante alguns anos, depois de casado, 1925, leciona Português e Geografia, atividade que divide seu tempo com o jornalismo e a poesia. Em 1930 publica seu primeiro livro: Alguma Poesia. Seu nome já tornara-se conhecido, pelo escândalo causado com a publicação, na Revista de Antropofagia, de seu poema No meio do caminho, espécie de paródia ao famoso Nel mezzo del camin, de Olavo Bilac. Segue-se uma série ininterrupta de livros de poesias, contos, e, sobretudo, de crônicas, com que Drummond vai marcando o espaço cultural brasileiro como um dos mais fecundos e importantes intelectuais deste século. Convidado por seu amigo Gustavo Capanema, ocupou a chefia do gabinete do Ministério da Cultura, e como funcionário público transfere-se para o Rio de Janeiro, onde deverá viver até o fim. Um dos mais importantes poetas de língua portuguesa de todos os tempos, estrela da poesia mundial, Drummond era tímido, não gostava de dar entrevistas e tinha grande apego à filha, Maria Julieta. Quando esta morre na Argentina, onde morava com o marido, um escritor daquele país, Drummond desiste de viver e parte com 85 anos de idade, no ano de 1987. A Obra Alguma Poesia foi o livro de estréia de seu autor. Publicado no ano de 1930, traz ainda fortes traços do espírito da fase heróica do Modernismo, influência do grupo de São Paulo, principalmente das idéias exaradas no Manifesto Pau-Brasil. A brincadeira irreverente, o espírito parodístico, principalmente em relação às tradições históricas e literárias de nosso país, a poesia epigramática (os poemas-minuto e poemas-piada, de Oswald de Andrade), os temas do quotidiano, a linguagem coloquial, o versilivrismo, a pontuação estilística, são parte dessa influência que enforma o primeiro livro de Drummond. Para o bom entendimento de Alguma Poesia, é útil enquadrar quarenta e dois, dos seus quarenta e nove poemas, naqueles nove temas fundamentais estabelecidos pelo próprio autor. Aliás, diga-se previamente que dos nove temas apenas oito

comparecem neste primeiro livro. Está de fora o tema amigos, freqüente nos livros posteriores. a) o indivíduo - "um eu todo retorcido" - eu-lírico torturado, fragmentado, em estado de tenção consigo, com o outro, com o mundo) Poema das sete faces, Também já fui brasileiro, Europa, França e Bahia, Moça e soldado, Música, Explicação. Poema das sete faces, poema de abertura do livro, é um exemplo do "eu todo retorcido". São as diversas perspectivas de um quadro cubista, uma múltivisão do mundo, como proclamavam os cubistas. O poema aproxima-se mais do ridículo do que da grandiosidade; a idéia do herói modernista inaugura o anti-herói. A auto-ironia com que o narrador se define como "gauche" é um exemplo desta perspectiva. No segundo verso da terceira estrofe - pernas brancas pretas amarelas - ocorre uma das tendências modernistas: a ausência de vírgulas, na enumeração, cria a sensação de simultaneidade pela justaposição rápida das imagens - outra bandeira cubista. Deve-se notar ainda o diálogo intertextual da última estrofe com o belo verso de Tomás Antônio Gonzaga: "Eu tenho um coração maior que o mundo;" b) a terra natal - as relações do eu-lírico com o lugar de origem - Lanterna mágica, Igreja, Festa no Brejo, Jardim da Praça da Liberdade, Cidadezinha qualquer, Fuga, Cabaré mineiro, Romaria. Igreja, um dos poemas representativos deste tema, apresenta alguns dos principais traços da modernidade em CDA. O poema inicia com cinco versos constituídos de uma palavra só: Tijolo areia andaime... como blocos da construção da própria igreja, como numa metalinguagem cubista. A ausência de vírgulas, como em "O canto dos homens trabalhando trabalhando" cria a sensação de algo ininterrupto. Além disso, a ironia dos versos "O padre que fala do inferno/sem nunca ter ido lá." é característica da irreverência modernista. Enfim, este verso tão rico de imagens e sugestões: "Pernas de seda ajoelham mostrando geolhos." A metonímia inicial, tão domingueira na sua seda é seguida do arcaísmo geolhos como forma de amenizar o erotismo infantil enrustido nas espiadelas disfarçadas na missa de domingo. São aspectos da terra natal, da vida provinciana, comandada geralmente a partir da fé e dos hábitos religiosos.

c) a família - ( sem sentimentalismo, o indivíduo interroga e questiona as relações familiares, com seus mistérios, as marcas que deixa para a vida toda). Infância, Sweet home, Família, Sesta. Infância, um dos poemas mais conhecidos deste livro, pode-se relacionar também com o tema da terra natal. Mas o quadro que revela, sem qualquer exagero sentimental, como no romantismo, é o quadro familiar. O pai centauro ausente, nos fundos da fazenda. A mãe estática, assim como o irmãozinho, que dorme, e o eu-lírico, cercado desta maneira, é um ser sozinho, lendo sentado entre mangueiras. O único ser dinâmico e presente, a preta velha, dinamiza por instantes a cena, ao chamar para o café. Então a mãe se move - "- Psiu... Não acorde o menino." As tardes brancas, os dias morosos, pode-se dizer que um poema anti-epifânico, porque a descoberta que "minha história/era mais bonita que a de Robinson Crusoé" não acontece naquele momento, é coisa que só a maturidade vai fornecer ao eu-lírico. d) o choque social - (o espaço difícil em que se dão as relações do eu com os outros, com a sociedade, seus dramas quotidianos) - Política, Poema do jornal, Nota social, Coração numeroso, O sobrevivente, Anedota búlgara, Sociedade, Outubro 1930. Anedota búlgara é exemplo do poema de brevidade epigramática. Cinco versos de extensões diferentes, com um final inesperado: "e achou uma barbaridade" está de acordo com o programa modernista - valorização do humor, ironia. O choque social, que mais tarde, em livros futuros, assumirá um ar mais grave, aqui ainda faz parte do espírito brincalhão e irreverente que imperou na fase heróica do modernismo. e) o conhecimento amoroso - (amor amargo: nada romântico ou sentimental; amor como forma de conhecimento do outro, do mundo, de si). Casamento do céu e do inferno, Toada do amor, Cantiga de viúvo, Sentimental, Esperteza, Quadrilha, Iniciação amorosa, Balada do amor através das idades, Quero me casar. Balada do amor através das idades é um poema estruturado em cinco estrofes, apresentando, cada uma, uma fase da história da humanidade em que o amor é o objeto do desejo do narrador. Contudo, o poema constrói uma rede de oposições - positivo x negativo, que no decorrer da história impossibilitam a obtenção do prêmio. Na primeira, tem-se a antigüidade: ele (narrador) é grego; ela (amada) é troiana, o último verso apresenta o resultado: Matei, brigamos, morremos. A história prossegue e o narrador vira soldado romano. Ela é cristã, caída na areia do circo. O leão come os dois. Na terceira estrofe chega-se à Idade Média. O narrador é um pirata mouro, a amada é uma cristã. Quando ele a ia pegar para fazê-la escrava, ela rasga o peito a punhal. Ele suicida-se também. Na quarta estrofe, plena Idade Moderna, ele é cortesão de Versailles, ela é

freira. Os dois acabam sendo levados à guilhotina. Através da história, o narrador encontra-se em disjunção com a amada. Na quinta estrofe ele é "moço moderno" e ela é "loira notável". Acabam-se as oposições, os impedimentos ao amor, apenas o pai dela "não faz gosto", mas ele é um herói da Paramount (Hollywood) e finaliza: te abraço, beijo e casamos. Por fim, quando acabam-se os desencontros amorosos, entra-se no universo da ficção - o amor virou fita de cinema. f) a própria poesia - (poemas sobre o quê e o como da poesia). Poesia, Poema que aconteceu. Poesia é um poema metalingüístico em que a visão do fato poético de Drummond se revela: a poesia como substância que independe das palavras que podem ou não expressá-la. Gastei uma hora pensando em um verso que a pena não quer escrever. No entanto ele está cá dentro inquieto, vivo. Ele está cá dentro e não quer sair. Mas a poesia deste momento inunda minha vida inteira. g) exercícios lúdicos - (jogos com as palavras) - Construção, Política literária, Sinal de apito. Política literária está entre os poemas que Drummond considera brincadeiras ou jogos com as palavras. POLÍTICA LITERÁRIA O poeta municipal discute com o poeta estadual qual deles é capaz de bater o poeta federal. Enquanto isso o poeta federal Tira ouro do nariz. "Mais um esplêndido poema-piada. Agora, a sátira mordaz volta-se para os costumes literários do país - o ciúme, o desejo de poder, a mesquinharia provinciana e ridícula daquele grupo que o grande poeta

romano Horácio (século I a C.) chamou de 'a irascível raça dos vates'. (Anote-se, a propósito, que Drummond sempre teve grande desprezo pela chamada 'vida literária' e sempre evitou as corriolas intelectuais, como comprova, por exemplo, o fato de ele nunca ter aceito entrar para a Academia Brasileira de Letras.)" Objetivo - Os livros da Fuvest I h) uma visão (ou tentativa de) da existência - (tentativa de exploração e de interpretação do estar-no-mundo, questões e conjeturas sobre a existência). No meio do caminho, Cota zero. Cota zero, segundo o próprio autor, versa uma temática existencial. COTA ZERO Stop. A vida parou ou foi o automóvel. Exemplo de concisão (poema-pílula ou poema-minuto) e simplicidade, "Cota zero" coloca à nossa reflexão uma questão central de nossa civilização: a dependência cada vez maior da vida em relação aos artefatos tecnológicos, com que se caracteriza o mundo moderno. O emprego da primeira palavra (primeiro verso?), nesse sentido, é a propósito, uma vez que o fornecedor contemporâneo de tecnologia não prescinde da língua inglesa. Nota final: Não se quis aqui esgotar os temas e subtemas que percorrem este primeiro livro de Drummond. Além disso, alguns poemas poderiam ser classificados em mais de um tema. A classificação dada acima (proposta pelo próprio autor), parece-nos de utilidade didática, tratandose apenas de ponto de partida para o estudo de um dos mais ricos poetas de nossa língua.